Conferência CONSTRUIR: “As crises criam novas oportunidades”
Optimismo q.b., capacidade de adaptação, análise do mercado e procura de novas oportunidades são os factores chave que poderão ajudar o sector imobiliário a recuperar de uma crise inesperada. Em conversa com alguns dos principais players em Portugal, a Web Conferência “O Futuro (imediato) do Investimento”, promovida pelo CONSTRUIR, permitiu revelar algumas pistas e que estão a chamar a atenção dos investidores para os próximos meses, ainda que se avizinhe uma recuperação lenta
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Portugal e a imagem do País saíram reforçados pela forma como esta crise foi gerida. A perspectiva não nos ajuda a resolver os problemas imediatos, mas servem de alento para que os investidores, empresários e analistas olhem com confiança se não para o futuro imediato, pelo menos para o médio e longo prazo. Pese embora as incertezas e a retracção forçada na economia, os argumentos que serviram para “vender” o turismo e o imobiliário nos últimos anos estão vivos, não desapareceram com esta crise que paralisou Portugal e o Mundo, e a eles junta-se agora uma imagem positiva, de segurança, pela forma como as Autoridades responderam à crise. Se, por um lado, o segmento hoteleiro pode demorar mais tempo a recuperar, há também novas perspectivas de investimento e, até, tendências ao nível da procura nos escritórios e na habitação que poderão acentuar-se durante esta fase.
Estas foram algumas das conclusões da conferência organizada pelo CONSTRUIR, que juntou, via web, um painel de investidores e especialistas do qual fizeram parte Paulo Silva, head of country da Savills, José Cardoso Botelho, Executive director da Vanguard Properties, Pedro Vicente, administrador da Habitat Invest, Gonçalo Almeida, administrador do grupo Vila Galé, José Luis Pinto Bastos, CEO the Edge Group e José Gil Duarte, CEO da Essentia.
Com os hotéis fechados, os investidores em casa e o País a meio gás, a imagem que se traça hoje não é positiva mas esta não é uma crise igual a outras. “Não estamos sozinhos. O que se passa em Portugal passa-se noutros países e, ao contrário de outras crises onde havia uma certa aversão em investir em alguns mercados, isso hoje não se coloca. Também temos uma noção de quando será o seu fim, pese embora a hipótese de algum retrocesso e, depois, existe liquidez para investir e os investidores estão desejosos de o fazer”, referiu Paulo Silva.
O optimismo e a certeza de uma recuperação no futuro são contrariados pelo tempo que esta “normalização” irá demorar. “Os mercados não estão a funcionar. Os investidores não estão cá e tudo isto levará o seu tempo a retomar aos níveis pré-crise. Olhando como exemplo o mercado de escritórios, nós demorámos 6 ou 7 anos a chegar aos níveis registados em Fevereiro e, de repente, fomos confrontados com uma travagem brusca que nos fez parar e que trouxe insegurança e incerteza. Claramente teremos contracção na procura de escritórios”. Esta contracção não irá significar uma diminuição nos preços do metro quadrado mas irá ter impacto na desaceleração na subida de preços, em especial nas cidades de Lisboa e Porto. Até porque, sublinhou o head of country da Savills, “continua por resolver a enorme carência do lado da oferta”.
Já no mercado de habitação, em especial, poderemos assistir nos próximos tempos a um braço de ferro entre compradores e investidores, com os primeiros à espera que haja uma eventual correcção dos preços, “à semelhança, aliás, do que irá verificar-se noutros palcos europeus”, e os segundos que irão resistir e querer manter os seus níveis de rendabilidade.
“Novas oportunidades”
Pese embora as incertezas e a retracção forçada na economia e, em particular, no sector imobiliário, os investidores e os promotores continuam a trabalhar e a dar continuidade aos projectos que têm em carteira, mas é também é uma oportunidade para olhar para novos negócios, fruto de uma adaptação natural ao mercado a uma situação de pós-pandemia.
“As crises também trazem momentos de reflexão, são transformadoras da sociedade, criam novas oportunidades, ajudam a relembrar as regras fundamentais de uma boa gestão, como ter projectos em diferentes áreas e em diferentes ciclos de desenvolvimento”, afirmou José Luís Pinto Basto, CEO do The Edge Group, que confirmou estarem a “olhar activamente para o mercado”. A ideia, confirma, passa por se tornarem “parceiros em novos projectos cujas estruturas estejam com o capital desequilibrado, eventualmente com excesso de financiamento, e que irão necessitar de se recapitalizar para fazer face a eventuais atrasos nos projectos.
Com vários anos de experiência ao nível da promoção de escritórios e na gestão de private offices e coworking, José Luís Pinto Basto considera que será necessário reavaliar os produtos que se encontram em carteira já que os escritórios irão passar por transformações, nomeadamente um maior espaçamento nos espaços de trabalho e utilização alternada entre escritórios e teletrabalho.
“Normalização só em 2022”
Habituados a trabalhar com investidores orientados para a “criação de valor e de longo prazo”, José Gil Duarte, CEO da Essentia, referiu que “depois de uma primeira fase de apreensão a tentativa é manter o alinhamento estratégico que já estava previsto para os restantes projectos”.
Se 2020 será um ano de reavaliação da estratégia dos investidores e, eventualmente, na procura de alguma oportunidade, José Gil Duarte considera que “2021 será um ano de recuperação lenta e em 2022 podemos voltar a uma certa normalização pós-Covid”.
E é neste caminho que se tem estado a fazer para a “normalização” que Portugal está a dar “sinais positivos” aos investidores estrangeiros e José Gil Duarte destaca três aspectos: a forma como o Governo e o Presidente da República têm vindo a tratar esta questão, a “resposta cabal” por parte do SNS e o facto de Portugal estar já a ser apontado como “um Pais mais seguro e pacifico para ser visitado no pós-pandemia”.
José Gil Duarte indicou que estão a olhar “de forma muito atenta” para a integração de pequenas cidades dentro da cidade, permitindo criar novos centros, em particular em projectos de maior dimensão, “tanto na sua dimensão habitacional, como na criação de espaços exteriores ou dentro da própria casa, onde seja possível conjugar o trabalho”.
A avaliação de oportunidades está também a ser equacionado, avança José Gil Duarte que têm sentido por parte dos investidores um “forte interesse” em adquirir unidades hoteleiras a preços mais normalizados para reinvestimento e reposicionamento e prepara-las para a reabertura do mercado. “Há aqui um espaço de actuação natural que está a ser equacionado, onde estamos a avalisar algumas oportunidades nesse sentido e onde a correcção de preços poderá permitir a entrada de investidores qualificados e por esta via requalificar a oferta e reposicioná-la”.
“Recuperação será longa”
Com uma recuperação que se espera longa, também Gonçalo Rebelo de Almeida acredita que a economia vai entrar numa “recessão que se irá prolongar no tempo”. Com um ano de 2020 “para esquecer” em que “pela primeira vez na história do Grupo” não registamos qualquer facturação, Gonçalo Rebelo de Almeida destaca o facto de terem feito um forte investimento no último ano em diferentes produtos pelo que este ano já não estavam previstos novos investimentos. Mas destaca que o Grupo têm intenção de analisar novos produtos e novas possibilidades de investimento mas só para 2021.
“Vamos sair desta crise mais fortes”
“Depois de um período mais calmo considero que vamos sair desta crise mais fortes, até nos permitiu concretizar dois importantes negócios na Grande Lisboa, mantendo o nosso de produzir para portugueses”. Foi assim que Pedro Vicente, administrador da Habitat Invest encara o actual período que a empresa está a viver. A nível particular a promotora garantiu a continuidade de todas as suas obras, tendo inclusive dado início à segunda fase de comercialização do Valrio, empreendimento desenvolvido em conjunto com a Solyd, em plena quarentena e que consta já com “90% dos apartamentos reservados”. Além disso, realizaram dois novos negócios durante este período. Trata-se de “habitação para os portugueses na Grande Lisboa”, revelou ao CONSTRUIR Pedro Vicente.
É um facto de que “provavelmente vamos continuar a privilegiar o trabalho a partir de casa e que irá haver a adaptação de alguns produtos”. Mas será, também, “um exercício interessante e desafiador de criatividade” a que vamos assistir nos próximos tempos. Quanto às consequências da Pandemia, Pedro Vicente acredita que só “daqui a um ano” será possível avaliar. E deixa a resposta para uma nova conferência “onde seremos todos capazes de perceber o verdadeiro impacto de tudo isto”. Desafio aceite!