Especial Eleições na OA. Lista C: “Não podemos continuar a cultivar enquadramentos imobilistas”
“Isto só lá vai com todos” é o mote da Lista C, liderada por Gonçalo Byrne e, fazendo jus à denominação escolhida, visa a construção de uma Ordem que, “à imagem da cidade, deve ser aberta, diversa, inclusiva e incluidora”. Só assim, consideram, poderá ter “força e representatividade” e “reafirmar-se perante a sociedade”
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O CONSTRUIR VAI PUBLICAR, NOS PRÓXIMOS DIAS, UM CONJUNTO DE ENTREVISTAS AOS CABEÇA-DE-LISTA DAS QUATRO CANDIDATURAS ÀS ELEIÇÕES NA ORDEM DOS ARQUITECTOS.
Gonçalo Byrne, encabeça a candidatura e, em entrevista ao CONSTRUIR, aborda as propostas apresentada na candidatura e considera que a “nova” Ordem deverá ser diferente em muitos aspectos a começar por representar “todos os arquitectos, sem distinções”. Entre os vários detalhes do seu programa, o arquitecto destaca, ainda, a importância da profissão no caminho para “um Mundo mais solidário, mais social e mais ecológico”
Tem sido uma voz crítica no que diz respeito ao rumo da Ordem. Em que aspetos?
Pensamos que a nova Ordem dos Arquitectos deverá ser, em muitos aspectos, diferente. Ela deverá tender para representar o Mundo dos arquitectos, e quando se diz todos são mesmo todos, sem distinções, sem clientelas preferidas sobre outras. Não aceitamos distinções entre consagrados ou não consagrados, mais ou menos dos nossos, etc. Todos são mesmo todos. Ela deverá reconhecer e repensar que o mundo da arquitectura (à semelhança do nosso próprio mundo) está em contínua transformação. Não podemos continuar a cultivar enquadramentos imobilistas e demissionários das mais variadas presenças do arquitecto e da arquitectura num mundo em transformação, abrindo portas e derrubando muros entre nós e entre nós e as outras formas de conhecimento convocadas na transformação do mundo da casa, às cidades, ao território e à paisagem.
Nesta busca de partilha, temos o dever de aprofundar e executar o campo específico da Arquitectura. O “mundo da arquitectura” é tão importante quanto a “arquitectura do mundo”.
Encarar o próximo mandato como uma oportunidade única e preciosa para refundar a presença da arquitectura no mundo que se está a desenhar com a assinatura do tratado de Paris, de que Portugal foi signatário e se auto-vinculou. As consequências e os compromissos assumidos têm enormes implicações sobre a arquitectura desse outro mundo de reacção à destruição do planeta.
A crise do COVID-19 veio destapar a “miragem” desse outro mundo resultante da suspensão e paragem temporária desses paradigmas. A crise sanitária é terrível e a económica devastadora. As transformações almejadas na sua saída já estavam na mira e em progressiva aplicação (como será a saída da crise).
A nova OA vai ter que gerir esse atravessamento muito atenta ao papel incontornável da arquitectura, num enquadramento de sustentabilidade, pegada ecológica, aumento do ciclo de vida dos edifícios e cidade mais abertas e inclusivas.
É uma janela de oportunidade para a reafirmação da arquitectura e dos arquitectos.
Concorda com a ideia de que a Ordem vive de costas voltadas para os arquitetos e vice-versa?
A questão é outra, ou seja, quem são hoje os arquitectos, onde estão, o que fazem e como, para a Ordem se aproximar deles e assim os poder representar. Para isso é preciso provar que a Ordem diz e faz alguma coisa a todo esse universo cada vez mais diversificado. Estamos longe do arquipélago do arquitectos apenas projectistas, desde o “atelier vão de escada” até às poucas empresas já com ambição global.
Embora esse sector seja dominante, calculamos que entre 4000 a 5000 arquitectos estarão na administração pública, muitos deles fora da Ordem que não fez nada para deles se aproximar, reconhecer e apoiar a sua acção, por vezes tão difícil e altamente meritória. Mas há muitos mais arquitectos “deserdados” da OA. Dos jovens explorados na contratação dos seus serviços por entidades públicas e privadas ou na precaridade de emprego, aos que estão na grande diáspora desencadeada pela crise, quer no estrangeiro, quer na silenciosa e difícil diáspora interna e que nem sabem que há uma ordem que os ignora. E outros sectores se podiam nomear.
De que forma será possível aproximar mais a Ordem dos arquitetos?
Convocando, ouvindo, dialogando. Auscultar estes outros sectores ausentes é apenas o início duma Ordem que, à imagem da cidade, deve ser aberta, diversa, inclusiva e incluidora para poder ganhar força, representatividade e, com todos, reafirmar-se perante a sociedade civil, os promotores, as entidades decisoras na polis e na civitas.
Uma das críticas que tem feito tem sido, também, relativamente à estrutura orgânica da organização. O que propõe a vossa candidatura?
Esta questão é importante. Mas diria de importância relativa. Muita coisa pode ser feita dentro da orgânica existente. Mas também é verdade que não há orgânicas estáticas, e menos definitivas, dentro dos objectivos das Ordens. As ordens profissionais, e não só a dos arquitectos, têm muitos desafios de actualização, adaptação, ou mesmo reciclagem, e se não o fizerem, repito, cada vez mais se vão fechando em si mesmas e em relação ao mundo que não espera por elas.
No tempo em que vivemos actualmente, que acabou por ditar o adiamento das eleições da Ordem, sentiram necessidade de fazer algum ajuste aos objetivos do programa ou até repensar/incluir pontos que não estariam previstos?
A crise do COVID 19 está a ter, desde que se declarou, efeitos devastadores como se disse. No entanto, ao contrário da crise sem fim à vista de 2008/2009, que se arrastou por quase 10 anos, esta tem um fim provável num horizonte muito curto de 1.5 a 2 anos.
Os ajustes introduzidos têm sobretudo a ver com como gerir essa travessia temporal, certamente muito difícil, e consequências muito provavelmente duras, sobretudo nos sectores mais vulneráveis do universo heterogéneo dos arquitectos.
O essencial dos programas apresentados, quer nacional quer regionais, procuram apontar a mais médio e longo prazo dado o enorme desafio/ oportunidade que a abrangência desta candidatura apresenta.
Tendo em conta o papel dos arquitectos na construção das cidades, como acha que estas serão depois do Coronavírus?
Sejamos realistas. Há muito “wishful thinking” nos mundos sonhados do “pós-corona vírus”. É normal, embora à medida que o tempo de confinamento aumenta, como uma mola em compressão do retorno à normalidade. E suspeito que a erosão provocada por esta longa espera vá reforçando o “bom que era antes da crise”.
Muito provavelmente não haverá “novos paraísos”, mas já não seria mau que se confirmassem e aprofundassem as tendências de evolução, em progressão mesmo lenta durante a própria crise, porque afinal, e como disse o Emilio Tuñon, “é um vírus com ideologia, como já foi o VIH. O corona vírus não vai vencer o capitalismo, apenas o vai transformar”. Mas a arquitectura cada vez mais enfrenta o mundo das desigualdades, da concorrência desregulada, do câmbio climático, etc. As transformações na cidade e na arquitectura são lentas e fruto da convergência de muitos decisores.
Se conseguirmos contribuir na parte que nos toca, para um mundo mais solidário, mais social e mais ecológico, já evitamos o pior, mas isto só lá vai com todos.
PRÓXIMA ENTREVISTA:
1 de Junho: LISTA D -Arquitectura Perto (Célia Gomes)