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O cluster do mobiliário e afins bateu, no ano de 2019, o valor recorde de exportações, atingindo os 1,83 mil milhões de euros em vendas ao exterior. O ano de 2020 iniciou-se ao mesmo ritmo, com um crescimento médio de 5%, face ao ano anterior. Contudo, o eclodir da pandemia da Covid-19 viria a inviabilizar a manutenção desta tendência.
Em Março, o decréscimo registado nas exportações foi de 32% e, em abril, a fileira, que integra um conjunto de sectores tradicionais da economia portuguesa, como o mobiliário, a colchoaria, a decoração, a tapeçaria e a iluminação, registou mesmo um dos piores meses da última década, com apenas 38 milhões de euros gerados em vendas ao estrangeiro. Uma descida de 75%, face a igual período em 2019.
O fim do confinamento e a retoma económica, aliados à tradicional resiliência destes sectores, abrem boas perspectivas para a recuperação da vocação exportadora. Se em Maio a queda registada foi de 52%, em Junho a descida foi de apenas 7%, em comparação com os mesmos meses do ano anterior. Já no mês de Julho, houve mesmo lugar para um ligeiro aumento, de 166 milhões de euros arrecadados em exportações de produtos deste cluster, em 2019, para 167 milhões, em 2020.
Os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) permitem aferir que, mesmo perante um dos anos mais desafiantes da história recente, o cluster do mobiliário e afins registou uma subida das exportações em três dos sete meses contabilizados. A média é, ainda, negativa, com uma descida de 23% das receitas oriundas de exportações, entre Janeiro e Julho, face a igual período do ano de 2019, mas a tendência levanta algum optimismo entre as empresas.
Importa, contudo, destacar que um inquérito recente da Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (APIMA), levado a cabo no mês de Julho, revelou que 70% das empresas tinham planeamento produtivo até ao mês de Setembro, mas que o último quadrimestre se apresentava com bastantes incertezas, face às dúvidas relativamente ao comportamento dos principais mercados. No mesmo estudo, 60% das empresas previa retomar o volume de negócios anterior à pandemia apenas no ano de 2021.
França mantém-se como o principal destino dos produtos nacionais, com uma quota de 30%. Este mercado explica boa parte dos resultados registados pela fileira neste período, com um decréscimo de 32% face aos primeiros sete meses do ano anterior. Já no mercado espanhol, o segundo mais importante para as empresas nacionais, a queda foi menos significativa, com uma descida de 11% na importação de bens portugueses. Seguem-se, no top 5 dos destinos mais relevantes do cluster do mobiliário e afins nacional, a Alemanha, os E.U.A. e o Reino Unido, com descidas de 31%, 14% e 30%, respectivamente, face ao período homólogo.
“Os dados divulgados são, efetivamente, preocupantes. Correspondem às expetativas que tínhamos, nomeadamente no contacto diário com os vários setores da fileira, bem como nas iniciativas que temos dinamizado”, introduz Gualter Morgado, director-executivo da APIMA. “Tenho, contudo, de ressalvar a resiliência que caracteriza este cluster. Rapidamente, encontraram novas plataformas comerciais, com um grande enfoque no digital, e procuraram novos clientes, mercados e oportunidades. Assim se explica que, mesmo perante as enormes contingências e dificuldades, o ritmo de recuperação esteja a ser mais célere do que o de outros sectores da economia nacional”, completa.
O cluster do mobiliário e afins é um dos mais exportadores da economia nacional, com cerca de 90% da produção a ser destinada aos mercados estrangeiros. O saldo da balança comercial nos primeiros sete meses do ano mantém-se muito positivo, cifrado nos 377 milhões de euros, com uma taxa de cobertura das importações pelas exportações de 180%.