“Investimento no CCL representa uma enorme melhoria no desempenho ambiental da Fábrica”
Em entrevista ao CONSTRUIR, o presidente executivo da Secil Portugal fala do investimento na melhoria tecnológica na fábrica do Outão que vai permitir a abolição do recurso a combustíveis fósseis primários
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No entender de Manuel de Sousa Martins, o presidente executivo da Secil Portugal , o investimento, avaliado em 86 milhões de euros, vai permitir tornar a unidade fabril da Arrábida numa das mais avançadas fábricas mundiais de produção de cimento
O projecto de modernização da fábrica da Secil, localizada no Outão em Setúbal e que a transformará numa das mais avançadas fábricas de cimento da Europa e do Mundo. Trata-se de um inovador projecto em matéria de sustentabilidade que implicará um investimento de €86 milhões e que se traduzirá na abolição dos combustíveis fósseis primários, na redução das emissões de CO2 em 20%, num aumento da eficiência energética em igual percentagem e na geração de 30% de electricidade a partir de fonte renovável. Valores que reflectem a aposta clara da Secil para a redução da pegada carbónica do sector (a indústria cimenteira é responsável por cerca de 5% das emissões mundiais de CO2), em claro alinhamento com as metas impostas pelo Acordo de Paris e que permitirão posicionar a unidade fabril como benchmark europeu do sector.
Que implicações terá este investimento no processo industrial propriamente dito e em que medida é que o que resultar desse processo poderá ser, igualmente, uma solução mais sustentável do ponto de vista ecológico?
Este novo projecto CCL- Clean Cement Line representa uma grande evolução no processo de fabrico de cimento pois alia, de forma inovadora, várias tecnologias já existentes, com outras tecnologias recentes ligadas “em série” nos equipamentos de produção de clínquer e cimento. A principal consequência desta inovadora solução é uma maior sustentabilidade do processo de fabrico, com menor emissão de CO2, maior eficiência energética e produção de energia própria a partir do processo. O cimento produzido mantém as suas obrigatórias características técnicas e a sua elevada qualidade, mas com muito menor pegada carbónica. Não utilizaremos combustíveis fósseis, teremos aproveitamento de energia solar, recuperação de calor do próprio forno, injecção de Gás de Brown que melhorará a combustão no forno e produção de clínquer de baixo carbono com incorporação de matérias-primas secundárias tal como argilas.
De um ponto de vista um tanto simplista, cimento não deixa de ser cimento. Contudo, um olhar mais ‘profissional’ permite perceber que não é necessariamente assim. Nesse capítulo, em que inovações está a Secil a trabalhar e que podem ser encaradas como inovadoras face ao que existe no mercado?
Existem vários tipos de cimento, consoante o fim a que se destina o seu uso. Mas, apenas com cimento, nada se faz. O cimento é o elemento ligante do betão, o material mais produzido pela humanidade, com o qual se fazem todas as estruturas indispensáveis à segurança, conforto e património das populações. Prevê-se a introdução no mercado de novos tipos de cimento produzidos a partir de um clínquer (rocha artificial produzida no interior do forno e que após moagem origina o cimento) de mais baixo carbono que difere na sua constituição por possuir mais uma nova fase mineralógica do que o habitual clínquer Portland, o que confere uma maior resistência química e cuja calcinação, já na fase final do forno, não liberta emissões de CO2. Os cimentos produzidos com este novo tipo de clínquer apresentam reactividade em tudo semelhante, melhorando ainda a durabilidade em ambientes agressivos, tendo a vantagem de apresentarem uma pegada carbónica consideravelmente mais baixa. No que respeita ao betão, estamos a trabalhar na Secil em inúmeras aplicações inovadoras que confiram mais sustentabilidade, tecnologia e versatilidade aos vários tipos de betão. Muito recentemente o nosso betão com cortiça, aplicado na Obra do Terminal de Cruzeiros de Lisboa, de autoria do arquitecto Carrilho da Graça, recebeu o Prémio Sustentabilidade Negócios Descarbonização, por ser um produto que contribui para a descarbonização da construção de edifícios, aproveitando-se uma matéria prima natural – resíduos de cortiça – para incorporação no betão, com excelentes resultados a nível da redução de matérias primas naturais, isolamento térmico e acústico ao longo do ciclo de vida. Nesta óptica de economia circular mencionamos também a gama E-Crk, de argamassas com cortiça, que tem vindo a registar crescente procura pelo seu desempenho na melhoria da eficiência energética de edifícios.
Há, há muitos anos, uma discussão sobre os efeitos da exploração dos recursos na Arrábida. Em que medida é que este investimento agora anunciado é, também, uma resposta a quem reclama uma maior protecção paisagística e dos recursos naturais da zona?
Este projecto CCL representa uma melhoria ambiental para Setúbal, para o Pais e para o Mundo. Tal como em todas as outras localizações, o Homem sempre usou os recursos da serra da Arrábida, para se alimentar, para se proteger ou para se aquecer. Por exemplo, os romanos usaram pedra da Arrábida na construção das salgas de peixe em Tróia e existem inúmeros monumentos em Setúbal decorados com a nobre brecha da Arrábida. A Secil acredita, e demonstra na prática, que é perfeitamente possível compatibilizar actividade industrial com protecção ambiental. Quando o Parque Natural da Arrábida foi criado, em 1976, a Secil já operava a Fábrica há mais de 50 anos, e não foi isso que impediu a classificação da zona. De então para cá fizemos um intenso trabalho de melhoria das condições ambientais de operação, da recuperação ambiental das pedreiras à instalação de filtros para controlar a emissão de poeiras. Naturalmente que um investimento da magnitude do CCL representa sempre uma enorme melhoria no desempenho ambiental da Fábrica, com menor emissão de CO2 e melhor eficiência energética. Por se tratar de equipamentos novos e mais digitais, a monitorização e controlo vão ser ainda mais rigorosos. Além disso, vamos continuar a trabalhar para melhorar o nosso desempenho ambiental noutras frentes de trabalho, como na promoção da biodiversidade, na gestão sustentável das pedreiras ou na melhoria da logística e sustentabilidade do transporte de cimento, privilegiando as vias marítima e ferroviária, que têm menor impacto ambiental.
Olhando para o mercado nacional num plano mais alargado, que radiografia traça sobre o consumo de cimento, clima concorrencial e que estratégia têm para crescer no mercado?
O mercado da construção não se ressentiu com a situação pandémica que estamos a viver, mantendo um nível de actividade bastante dinâmico, antevendo-se a continuação do crescimentos, em especial no que diz respeito a produtos inovadores que garantam a diminuição de recursos naturais e demonstrem a sustentabilidade das soluções apresentadas.
No entanto, a indústria apresenta ainda uma capacidade de oferta superior à procura, o que origina um forte clima concorrencial, considerando que este espectro não se pode centrar apenas no cimento, mas em todas as suas aplicações, que cada vez mais servem outros propósitos que não só a estrutura e a alvenaria. O crescimento da SECIL no mercado deverá passar pelo acompanhamento da perspectiva de um aumento na construção de infraestruturas e parque habitacional, mas também apostando na inovação de produtos, de serviços e de novas aplicações. A digitalização de processos, a melhoria da eficiência operacional, a simplificação da jornada do Cliente e a grande aposta na vertente de sustentabilidade constituirão os grandes focos de desenvolvimento durante estes próximos anos.
Quais são os grandes desafios que se colocam hoje em dia à empresa?
Os principais desafios são de ordem estratégica, exógenos à Empresa: a Sustentabilidade e a adaptação às alterações climáticas, com crescente regulação por parte das autoridades; o risco de dumping ambiental, pela chamada “fuga de carbono” das actividades industriais para fora do espaço europeu e das suas estritas regras ambientais e de concorrência, e também as exigências da construção sustentável ao longo de todo o ciclo de vida que vão requerer aos nossos clientes e fornecedores uma grande capacidade adaptativa do ponto de vista da concepção de projectos com eco-design, abordagem modular e, na medida do possível offsite, e mais incorporação tecnológica e digital. Felizmente, a Secil já se encontra a trabalhar em muitos destes aspectos para antecipar as suas soluções no mercado e mitigar os impactos supervenientes. Estamos preparados para o futuro!
O projecto “inovador” da Secil
O projecto de modernização da fábrica da Secil, localizada no Outão em Setúbal e que a transformará numa das mais avançadas fábricas de cimento da Europa e do Mundo. Trata-se de um inovador projecto em matéria de sustentabilidade que implicará um investimento de €86 milhões e que se traduzirá na abolição dos combustíveis fósseis primários, na redução das emissões de CO2 em 20%, num aumento da eficiência energética em igual percentagem e na geração de 30% de electricidade a partir de fonte renovável. Valores que reflectem a aposta clara da Secil para a redução da pegada carbónica do sector (a indústria cimenteira é responsável por cerca de 5% das emissões mundiais de CO2), em claro alinhamento com as metas impostas pelo Acordo de Paris e que permitirão posicionar a unidade fabril como benchmark europeu do sector.