“Ganhar dimensão é importante para o mercado internacional”
A NRV – Norvia adquiriu a Elsamex Portugal e a LCW Consult. Em entrevista ao CONSTRUIR, Tomás Espírito Santo, CEO da NRV, sublinha o impacto que este crescimento terá num grupo cujo 50% do volume de negócio já é garantido no exterior
Manuela Sousa Guerreiro
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Elsamex e LCW são as duas mais recentes entidades do universo NRV. Com estas aquisições permitiram ao grupo somar 3,5 milhões de euros em volume de negócios e integrar 50 postos de trabalho. O grupo fechará as contas de 2021 com um resultado consolidado na ordem dos 15 milhões de euros e cerca de 220 colaboradores, 20% dos quais distribuídos pelos escritórios das várias participadas no grupo no mercado internacional.
Recentemente a empresa anunciou a aquisição de duas empresas – Elsamex e LCW – o que motivou esta aquisição? Como será feita a integração destas empresas no universo do grupo/empresa NRV?
As duas operações foram concluídas em Junho, mas estavam a ser preparadas há mais de um ano. Na verdade, prefiro falar de integração mais do que aquisição. Nestas operações, como nas anteriores, trata-se de integrar empresas que conhecíamos bem, com quem já colaborávamos, e que tinham especialização em áreas complementares às nossas. Por motivos vários, tinham fragilidades no seu projecto de futuro e nós sabíamos do know-how que dispunham e da qualidade das suas equipas – ou seja, eram valor acrescentado para a nossa estrutura. Mais: os valores eram os mesmos, a vontade de aprender igual à nossa e o modelo de gestão compatível. No fundo, havia condições para fazerem parte do nosso projecto.
Em que medida e que áreas saíram reforçadas na NRV?
Com a LCW trouxemos as Estruturas Especiais e com a Elsamex Portugal a Geologia e Geotecnica. Pontes, viadutos, barragens, obras subterrâneas, túneis, pavimentos rodoviários e aeroportuários, laboratórios de ensaio e controlo de qualidade: são todas áreas acrescentadas ou reforçadas dentro do grupo. As empresas mantêm-se autónomas sendo que a Elsamex Portugal altera a sua designação para Geovia.
Aquisições para crescer e agregar valor
Este é já o segundo processo de aquisição do grupo nos últimos dois anos. A expansão por aquisição é a forma mais rápida de crescer no mercado?
É verdade, este é um segundo processo que levamos a cabo nos últimos anos. Em 2018 já tínhamos integrado uma empresa na área do Ordenamento do Território, a LR-Plural, que ficou na estrutura da NRV, e uma outra na área das Obras Marítimas e Portuárias, a MSW, que se mantém autónoma – tal como a LCW e a GEOVIA. Ganhar dimensão e pluridisciplinaridade é importante, sobretudo para o mercado internacional.
Antevêem novas aquisições?
Não vemos nas aquisições o veículo para sustentar o nosso crescimento ou a diversificação das áreas de actuação. Fomos sempre crescendo e diversificando sem precisar de adquirir ou integrar outras empresas. Dito isto, é verdade que as aquisições permitem saltos mais rápidos. Mas não o fazemos de ânimo leve: têm de acrescentar valor ao nosso projecto e ter estruturas que conheçamos bem, como aconteceu até agora. Se aparecerem oportunidades deste tipo podemos sempre estudá-las.
Qual o volume da vossa carteira de obras no mercado nacional? Perspectivas de crescimento?
O mercado nacional corresponde a cerca de 60 a 65% do nosso volume de negócios. O mercado internacional caiu nestes dois últimos anos, em consequência da pandemia. É de esperar que volte a ganhar mais significado e, aliás, essa retoma já se está a sentir em 2021 ao nível das contratações. E não se poderá deixar de ter presente que o programa de recuperação a implementar a nível nacional trará também por certo um crescimento da actividade no nosso sector.
O peso da África Ocidental e a atracção pelo Oriente
A nível internacional têm presença em alguns países, com a NRV Cabo verde, Angola, Moçambique e a NRV West Africa. Estas participadas têm capital local ou são empresas detidas na totalidade pela NRV?
Todas as participadas na área internacional têm capital local. A maioria qualificada é da NRV mas tivemos sempre presente a necessidade de dispor de um parceiro local. Estar num país novo é sempre um desafio em termos de aprendizagem. Integrámos sempre quadros locais nas nossas estruturas e procurámos dessa forma aprender a estar no mercado. Vemos a nossa presença como uma forma de levar e acrescentar valor e conhecimento, potenciando as capacidades existentes.
Qual o peso das participadas no volume de negócios do grupo?
Em termos globais a NRV garante cerca de 50% do volume de negócios do grupo, estando os restantes 50% distribuídos pelas participadas.
São mercados distintos como caracterizam a vossa actividade em cada um deles?
Cada mercado tem as suas especificidades e é preciso ter uma capacidade grande de adaptação na maneira de estar. Creio que nos temos adaptado e temos sabido estar. Em cada país somos reconhecidos com uma consultora nacional e é esse modo de estar que nos caracteriza.
Qual a vossa carteira de obras nestes países? E quais os principais projectos em curso?
Em Cabo Verde estamos hoje nos Portos do Mindelo e do Maio. No Senegal, num projecto de construção de 24 pontes em vários pontos do país e, ainda, em projectos de auto-estradas com mais de 200 km. Na Gâmbia estamos a estudar um novo projecto rodoviário. Na Costa de Marfim temos o projecto do Mercado de Bouaké, um dos maiores de África, e vários projectos de edifícios e infraestruturas urbanas. Estamos no projecto da primeira secção da auto-estrada Abidjan – Lagos, entre Abidjan e Takoradi no Gana. É também no Gana que estamos com um projecto rodoviário de alargamento de uma secção de auto-estrada. Em Angola estamos no Novo Aeroporto Internacional de Luanda e no Abastecimento de Água ao Kuito. Em Moçambique no projecto da Academia Agha-Khan.
Prevêem a expansão para outros mercados?
Já tivemos várias actuações no Médio Oriente e Ásia, regiões onde continuamos a procurar oportunidades. Trabalhámos num projecto de um resort turístico no Egipto e fizemos dois projectos de aeroportos na Jordânia. Estávamos a trabalhar num projecto de aeroportos no Sri Lanka que parou com a pandemia. Tivemos um escritório em São Paulo – que foi a nossa primeira experiência internacional – e mantemos alguns trabalhos pontuais na América do Sul. Mantemos, no entanto, o nosso foco em África onde queremos ser uma consultora de referência. O crescimento recente com novos trabalhos na Gâmbia, na Costa de Marfim e no Gana são a concretização dessa estratégia.
Mercado internacional com projecção
A designação Norvia serve hoje de chapéu às várias empresas que integram o grupo, mas foi esta que esteve na origem do grupo empresarial em 1987. “A empresa mãe teve a designação Norvia, alterada mais tarde para NRV. Procurou-se com esta alteração destacar o âmbito nacional e a multidisciplinaridade em termos de áreas de actuação. Somos uma consultora de engenharia que desenvolve a sua actividade a vários níveis, desde estudos multidisciplinares de engenharia até supervisão e gestão global de projectos. Conservou-se a marca Norvia, usada para a designação “Grupo Norvia” que engloba a NRV e as suas participadas”, conta Tomás Espírito Santo, CEO da NRV.
Hoje o grupo multiplica-se por uma série de entidades, consoante sua área de actuação e localização geográfica. “No mercado nacional temos na Madeira a NRV Madeira, nos Açores a MSW, que garante também a especialização na área das obras marítimas e portuárias, e agora a LCW e a GEOVIA com especialização nas estruturas especiais e na geologia e geotecnia”.
No mercado internacional o grupo actua através das suas participadas locais em cada um dos mercados onde está presente. Entidades cujo capital é detido, em parte, por sócios também eles locais. Uma actuação que faz parte da estratégia e do posicionamento do grupo. Assim, “temos a NRV Cabo Verde, com sede na Praia, a NRV | Norvia West Africa no Senegal, com sede em Dakar, que é a base da nossa operação na África Ocidental, a NRV em Angola, com sede em Luanda e a NRV Moçambique, com sede na capital Maputo”, inúmera Tomás Espírito Santo.
Na carteira de clientes do grupo surgem tanto entidades privadas como públicas. Entre os privados contam-se as concessionárias rodoviárias, a ANA (Aeroportos de Portugal), a REN (Redes Energéticas Nacionais), e as principais construtoras portuguesas, “estas com maior relevo no mercado internacional”. Entre os clientes públicos estão a Infraestruturas de Portugal, as Administrações dos Portos no Continente e Regiões Autónomas, o Governo Regional da Madeira, e várias câmaras municipais um pouco por todo o país.