Imagem panorâmica de Lisboa
Built to Rent é mais do que uma tendência
Em Portugal oferta actual no mercado de arrendamento não corresponde à forte e crescente procura e apresenta preços demasiado elevados para a qualidade do produto apresentado.
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Apenas 26% dos portugueses residem em habitações alugadas, de acordo com dados de 2019 do Eurostat. O número evidencia a fortemente enraizada cultura de propriedade em Portugal. No entanto, uma análise da consultora imobiliária internacional Savills sugere que a porção da população portuguesa no mercado de arrendamento poderá vir a crescer, fruto dos efeitos negativos lançados pela pandemia de COVID-19 sobre as fontes de rendimento e de uma maior dificuldade de acesso ao crédito habitação.
Mas para dar razão a este sentimento do mercado muita coisa terá que mudar no arrendamento em Portugal. O relatório “Built-to-Rent: More than a trend”, da Savills, avança que a oferta actual no mercado de arrendamento não corresponde à forte e crescente procura e apresenta preços demasiado elevados para a qualidade do produto apresentado.
No quadro europeu, as famílias portuguesas são as que mais contraem dívidas para a aquisição de habitação, estimando-se que, em média, aloquem cerca de 40% dos seus rendimentos todos os meses para o pagamento das prestações de empréstimo contraídos.
Os dados evidenciam também que existe um desequilíbrio entre a evolução dos rendimentos dos portugueses e os preços de compra de habitação, com um mercado que fica aquém da capacidade financeira de muitos. Assim, o arrendamento apresenta-se, segundo a Savills, como uma necessidade, mais do que como uma tendência ou escolha, para os segmentos demográficos mais jovens e para várias famílias, designadamente as monoparentais, que tenham dificuldades no acesso a créditos à habitação.
Uma solução para colmatar a escassez da oferta no mercado de arrendamento, e dar resposta a uma procura cada vez mais intensa, é o modelo “Build-to-Rent” (BTR), no contexto do qual se desenvolvem projetos multifamily (várias unidades residenciais inseridas num só edifício, ou repartidas num complexo de edifícios que se inserem numa mesma contiguidade), um segmento que tem registado um crescimento significativo na Europa no decorrer dos últimos anos.
Constituem-se como factores de potenciação da atractividade do modelo BTR a sua resiliência e impermeabilidade face aos ciclos económicos, a sua estabilidade e a possibilidade de estabelecimento de rendimentos a longo-prazo e de diversificação das carteiras de investimento.
Em Portugal, os projectos de BTR surgem como resposta à escassez da oferta no mercado habitacional de arrendamento, e à crescente procura, que deverá continuar a ser evidente nos próximos tempos. Para restituir alguma vitalidade ao mercado de arrendamento, o Governo português activou os programas de habitações de custos controlados e de renda acessível, com o principal objectivo de adequar os preços das habitações às capacidades financeiras dos portugueses.
Para Lisboa, existe um pipeline estimado de 10 mil fogos, fruto de projectos BTR, quer inteiramente desenvolvidos por iniciativa privada, quer no âmbito dos programas públicos de apoio à habitação acessível.
“Mais do que uma tendência, investir no desenvolvimento de uma oferta de arrendamento de qualidade, acessível a vários intervalos salariais, torna-se imprescindível no contexto de uma procura crescente e como parte essencial da resolução de um problema social”, explica Alexandra Gomes, Head of Research da Savills Portugal.
Em Portugal o BTR encontra ainda múltiplos obstáculos, desde logo os custos de construção, a pesada carga fiscal e a delonga nos prazos de aprovação de licenças para nomear apenas alguns dos problemas que se levantam ao desenvolvimento do segmento de BTR em Portugal.