Carmo Wood: depois da Agricultura, a Construção é a forte aposta para os próximos anos
Jorge Milne e Carmo, presidente do Conselho de Administração da Carmo Wood é o fundador e estratega do grupo português. Em entrevista ao CONSTRUIR fala sobre as apostas do grupo, sobre o investimento realizado e os planos para o futuro
Manuela Sousa Guerreiro
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No final deste ano o grupo Carmo Wood prevê registar uma facturação de 90 milhões de euros de facturação, o que representa um crescimento global de 35%, face a 2020. Um crescimento assente no desenvolvimento da actividade da agricultura, na explosão da bricolage, na aposta nas diferentes linhas de mobiliário de exterior e, sobretudo, na construção.
Recentemente a Carmo Wood comunicou a previsão de facturação da área agrícola, em França, em torno dos 20 milhões de euros. A operação em França é o vosso caso de sucesso?
Essa comunicação tem a ver com o sucesso que temos em França. Fomos com bagagem às costas e, literalmente, começámos do nada num mercado maduro, muito proteccionista das suas empresas e com uma opinião nada favorável sobre Portugal e sobre as suas empresas. Hoje estamos estabelecidos em todo o território francês, somos líderes de mercado no nosso segmento e a nossa marca conquistou o mercado. Prevemos que a Carmo France tenha no final deste ano uma facturação superior a 20 milhões de euros, o que representa um crescimento de 40% face a 2020. Esta empresa representa cerca de 20% do nosso negócio global que prevemos chegue aos 90 milhões de euros no final de 2021.
A operação em França é meramente comercial ou têm alguma indústria instalada?
Basicamente é uma operação comercial na área da agricultura. Temos obra na área agrícola em Portugal, em Espanha e também em Marrocos, mas em França não. Onde temos obra em França é na vertente da construção em madeira.
A agricultura continua a ser a área principal de actuação da Carmo Wood?
O grupo é hoje constituído por dez empresas, incluindo a holding, mas a área agrícola é a que tem maior peso. De um total de 70 milhões de euros consolidados, 40 milhões de euros vêm da área agrícola. Estamos em 40 geografias diferentes e na agricultura estamos em 30. Para 2022 prevemos que esta área continue a crescer, em torno dos 25%. A baixo do crescimento registado este ano (41%), é certo, mas ainda assim com um forte crescimento. O crescimento do grupo em 2022 deverá rondar os 38%, de acordo com as nossas projecções.
Que áreas irão impulsionar esse crescimento de 38% no próximo ano?
Pelas encomendas que nós temos, as áreas que vão crescer mais são a construção em madeira, que este ano devera crescer cerca de 35%, face a 2020, mas que prevemos que cresça mais em 2022 e nos materiais de construção. Repare, a Construção na Carmo Wood abrange três grandes áreas: a de grandes estruturas, onde incluímos as áreas de projecto e construção de grandes estruturas para a indústria, turismo, comércio, etc., restaurantes, pontes, passadiços e outras grandes estruturas em madeira. Temos uma equipa de projectistas e de arquitectos, a intervenção da Carmo Wood vai muito além do que simplesmente fornecer a madeira, uma vez que o grupo está habilitado para a execução de projectos de arquitectura, de estabilidade e a preparação nesta vertente.
Uma segunda área na Construção são as pequenas construções que são tudo o que é mobiliário de ar livre, decks, pérgulas, garagens, são pequenas estruturas ou pequenas obras, ciclovias, etc… E depois temos uma terceira área que são os materiais de construção, puro e duro e sem obra, só venda de materiais de construção. E esta é uma das vertentes que mais tem crescido.
Madeira para o sector da Construção?
Madeiras de todo o tipo. A grande maioria tratadas e de exterior que nós transformamos e modificamos e depois entregamos à distribuição, por um lado a distribuição profissional que as encaminha para as empresas do sector da construção e depois uma segunda vertente de distribuição que são as constituídas pelas lojas comerciais de bricolagem. Esta última registou um forte crescimento. Este ano vamos fechar com uma facturação de 6,2 milhões de euros, o que representa um crescimento 80%, que prevemos que se venha a manter também em 2022, impulsionado pelo crescimento do mercado de DIY. É sabido que esta foi uma área que cresceu fortemente durante a pandemia, mas em Portugal, Itália, Espanha e também em França, era uma área que estava em crescimento antes e que prevemos que continuará a crescer em 2022. Mas, de uma forma geral, assistimos a uma maior utilização de madeira e de madeira tratada em detrimento de outros produtos na construção.
Construção elege madeira
À semelhança dos materiais de construção a madeira também registou um forte crescimento do seu preço ao longo deste ano?
Os preços subiram loucamente. Nos EUA chegaram a subir 400% e agora baixaram, mas mantiveram-se 50% acima dos preços praticados 2019. A grande fatia das madeiras consumidas na Europa vem do Báltico, Estónia e Lituânia, Suécia, Finlândia e Bielorrússia. Os preços subiram mais de 100%, baixaram um pouco e estabilizaram. Em Portugal e Espanha continuam com tendência de subida dos preços, embora por motivos diferentes. Em Portugal porque não temos floresta e o que produzimos é sobretudo madeira para paletes, que registam um forte crescimento devido ao crescimento dos transportes. Espanha tem visto a sua área florestal crescer muito, mas tem falta de empresas que tratem essas madeiras.
De que forma esse aumento de preços vos afectou?
Não afectou porque sempre trabalhamos com muitos stocks. Além disso os fornecedores estão connosco. Sempre fomos muito sólidos em termos financeiros. Pagamos bem e somos os primeiros a ter mercadoria. Por outro lado, compramos no futuro pelo que o nosso preço médio continuou bastante razoável e subimos pouco os preços aos nossos clientes e continuamos, por essa via, muito competitivos mesmo que durante o ano de 2021
A madeira está a conquistar a Construção?
É evidente na Construção que a madeira tem vindo a crescer e a ganhar um maior protagonismo, muito por culpa da sustentabilidade e da necessidade em baixar a energia gasta com as edificações. A madeira tem essa particularidade é carbono, é a única matéria-prima 100% renovável e em relação aos seus outros concorrentes, seja o aço seja o betão, a energia gasta na transformação é muito menor. Diria que a madeira é a matéria de construção do século XXI. Aqui no sul da europa estamos pouco habitados a isso, mas em muitos países a madeira já é o principal material da construção. Estamos a assistir a um maior input também porque antes não era possível fazer edifícios em altura em madeira, mas agora já o é. E exactamente com o mesmo sistema: coluna, viga e placa. Podemos fazer as resistências e grossuras que quisermos. Na Áustria foi inaugurado há dias um prédio, em madeira, com 34 andares.
Mas Portugal é, por tradição, um país do betão?
É verdade, até porque existem poucas empresas como a nossa com alguma dimensão e que tenham capacidade para lidar com projectos de dimensão. E esse é exactamente um dos problemas que se colocam no futuro imediato, há vontade para construir em madeira o que vai obrigar as empresas a adaptarem-se. Hoje utilizar-se-ia mais madeira na construção se o tecido empresarial estivesse à altura do que o mercado pede. Mas as coisas estão a evoluir. Por exemplo aqui em Lisboa já construímos quatro grandes pontes totalmente em madeira, estamos a construir um edifício de dois andares e já fizemos o projecto e iremos entrar no concurso para a construção pedonal sobre o rio Trancão. Depois temos outras obras, estamos a fazer o restaurante do Gigi, na Quinta do Lago, estamos a trabalhar com Filipe Starck na Herdade da Comporta, fizemos vários passadiços em Portugal. Em França estamos a trabalhar com as grandes construtoras como a Vinci, Bouygues, Eiffage em alguns dos seus projectos, entre outros.
Qual o peso da Construção na Carmo Wood?
São cerca de 30%. No final de 2021 deverá corresponder a cerca de 30 milhões de euros, do total da nossa facturação que, como já lhe disse, deverá rondar os 90 milhões de euros. Ou 36% se a ela somarmos as madeiras de construção. No próximo ano prevemos crescer na agricultura, que é ainda a nossa maior área, mas sobretudo na Construção e em todas as suas vertentes: nas estruturas (40%), nas madeiras de construção (70%) e nas pequenas construções e mobiliário (100%).
A aposta na indústria 4.0
Em linhas gerais, qual será a estratégia da empresa nos próximos dois anos?
Nos últimos anos investimos fortemente no reforço e modernização da nossa capacidade industrial. O capex que tínhamos previsto para os anos de 2021 / 2022, já foi todo executado este ano. Investimos cerca de três milhões de euros para aumentar a capacidade de produção da nossa fábrica de Oliveira de Frades e vamos construir um novo pavilhão com cerca de 6 mil m2 para criar uma nova carpintaria. O que nos permite aumentar a capacidade de produção de mobiliário urbano e de jardim, triplicar a capacidade de produção de madeiras de construção e dar resposta ao crescimento expectável do negócio com investimento em diversas máquinas e automatismos. O investimento previsto de 5 milhões de euros para os dois anos já foi executado,
Isto depois dos investimentos que realizaram na reconstrução das unidades que arderem em 2017?
Nos incêndios florestais de 2017 arderam-nos duas grandes operações e nessa altura, enquanto presidente executivo e com a ajuda da equipa que aqui trabalha, decidimos investir tudo para refazer as operações, expandido as áreas, refazendo os layouts. Apostámos na indústria 4.0, o que significa automatização, robótica, software de suporte, inteligência artificial. Preparámo-nos para crescer três vezes mais em praticamente todas as áreas. Mesmo assim já tivemos necessidade de reforçar esse investimento inicial de 2017 a 2020, e que rondou os 30 milhões de euros. Estes são volumes muito grandes para a nossa facturação, mas serviram para preparar a empresa para responder a demanda. Nós não andamos a reboque do crescimento.