Pelo terceiro ano consecutivo a conjuntura internacional está a condicionar, e muito, a vida às empresas nacionais pondo em risco o seu crescimento e o investimento realizado. O disparar do preço dos combustíveis fez aumentar os custos com o transporte, agravando ainda mais os problemas logísticos.
Com mais de 45% da sua facturação dependente dos mercados externos A Cimenteira do Louro (ACL) tem visto a situação agravar-se nos últimos meses. Actualmente, por falta de transporte a empresa tem em armazém mais de 450 camiões de produtos que não consegue fazer chegar aquele que é o seu principal mercado de exportação, a França. “O mercado da bricolagem, do DIY, francês é um importante mercado, onde conquistámos uma importante presença. Por ano exportamos cerca de três mil camiões para França”, refere Dinis Silva, administrador da ACL em declarações ao CONSTRUIR.
De acordo com o responsável, os constrangimentos estão a afectar as vendas naquela que é a época do ano mais forte para a ACL. “Este é um mercado muito sazonal sendo que as campanhas lançadas no início da Primavera são as mais importantes para os nossos produtos neste mercado. O que está a acontecer agora é que nos preparámos, produzimos, fizemos o stock da mercadoria para conseguirmos responder a essa procura sazonal e não estamos a conseguir fazer chegar a mercadoria ao seu local de destino”, explica Dinis Silva.
Nos armazéns da ACL estão a aguardar transporte mercadoria no valor a dois milhões de euros e a situação agrava-se a cada semana que passa, uma vez que “o ritmo de escoamento dos produtos é muito lento, apesar de trabalharmos com todas as grandes empresas logísticas nacionais. São 450 camiões em atraso, com mercadoria que deveria estar nas lojas e que está a acumular-se semana após semana”.
A falta de resposta por parte da logística é explicada pelo disparo dos custos de combustível, pela falta de mão-de-obra e pelas dificuldades de garantir o transporte de mercadorias no regresso dos camiões a Portugal. Sob pena de ficarem com os motoristas retidos no estrangeiro à espera de carga, muitas preferem nem efectuar o serviço. A alternativa é aumentar ainda mais os custos para o exportador, duplicando a factura com o transporte.
Do betão à inovação: a estratégia para conquistar mercados
“Temos uma forte ligação ao saber técnico, ao design inovador, e apostamos na qualidade, na performance e na resistência dos nossos materiais e soluções”, sublinha o administrador. Esta é a segunda geração da família ao leme da ACL, uma empresa fundada na freguesia do Louro, Vila Nova de Famalicão, por Manuel Leitão, em 1975. De empresa especializada na produção de blocos em betão e canalizações em betão para infraestruturas, a empresa foi-se especializando e apostando na inovação e design.
“Temos um percurso de duas décadas de exportação, o que não é fácil porque estamos a falar de produtos em betão para construção que são pesados, pelo que o factor transporte tem uma grande componente na formação do preço. O mercado mais explorado é, sem dúvida, o francês graças ao mercado de bricolage, que tem já uma grande tradição neste país. Sendo que actualmente exportamos para mais de 40 países”, conta Dinis Silva.
A entrada em mercados maduros como o Reino Unido, Itália (onde detém uma presença física) ou os Estados Unidos foi favorecida pela aposta na diferenciação e na inovação. As suas linhas exclusivas de revestimentos e pavimentos em betão têm conquistado os mercados mais exigentes, o que não é alheio à aproximação de um público profissional composto por arquitectos e designers internacionais.
“Temos produtos únicos, desenvolvidos por nós como o Marmocim, um pavimento mono betão que hoje está presente no nosso parque escolar, na rede do metro em Portugal e no Panamá. Os nossos produtos inovadores estão em mercado distintos e é um dos factores que nos faz crescer no exterior face à concorrência nacional que tem níveis mais baixos de exportação”, explica Dinis Silva.
O ano passado a ACL facturou 22 milhões de euros, tendo crescido, pelo segundo ano consecutivo, cerca de 20%, consolidando a sua já forte posição na produção de pavimentos, revestimentos e outros produtos em betão, produzindo marcas próprias para alguns dos seus produtos exclusivos.
O Médio-Oriente é outro dos mercados de aposta do grupo, responsável por cerca de 25 milhões de facturação. “São empresas distintas que seguem linhas estratégicas diferentes. Em Omã temos duas unidades produtivas que produzem o que denominamos de commodities, os blocos de betão, os produtos para saneamentos, os lancis para as estradas, enfim tudo o que é mais tradicional e que tem uma forte procura graças ao desenvolvimento e crescimento das infraestruturas que esta região conhece”, explica o administrador.