“A grande razão que me faz ser candidato a Bastonário: a necessidade urgente de encetar grandes reformas na profissão”
Em entrevista ao CONSTRUIR, o candidato a bastonário da Ordem dos Engenheiros pela Lista A, Fernando Santos, garante que a Ordem “não precisa de alguém que venha para a conhecer, fazer diagnósticos e depois actuar”, assegurando que a necessidade de intervir é urgente e assumindo que alguém deixou na ‘gaveta’ o muito trabalho, estruturante para os engenheiros portugueses, desenvolvido nos últimos anos pelos Colégios de Especialidade
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O CONSTRUIR antecipa, nesta edição as principais propostas das duas listas candidatas aos Órgãos Nacionais da Ordem dos Engenheiros para o triénio 2022-2025. Para tal, convidou os candidatos a bastonário a responder às mesmas questões. No caso da Lista A, Fernando de Almeida Santos assegura que a sua lista representa uma candidatura para “fazer acontecer” e assume que a Ordem terá uma forte intervenção enquanto “parceiro do Estado”. Sobre os principais desafios, o candidato da Lista A garante que as prioridades não são diferentes das que enfrenta o País: “criar riqueza através de competência”
Que radiografia traça da Ordem, do seu papel na sociedade e da Engenharia em Portugal neste momento?
A Ordem dos Engenheiros é a Associação Profissional de referência dos engenheiros portugueses, com um prestígio e afirmação na sociedade muito importante atendendo à engenharia de excelência existente em Portugal. O engenheiro é um recurso qualificado estratégico para qualquer país. Como representante dos engenheiros, a Ordem dos Engenheiros deve ter como escopo fundamental o serviço público, o bem servir o país e contribuir para o desenvolvimento de Portugal. Nem sempre tem sido assim nos últimos tempos, pois que a Ordem dos Engenheiros tende a agir em reacção e não em proatividade, o que desafortunadamente provoca um défice negocial com o decisor publico que urge inverter. Um exemplo claro no sector da construção é a cada vez mais evidente falta de mão de obra a todos os níveis, incluindo engenheiros se atendermos aos investimentos públicos que se aproximam na conjugação do ainda por realizar do PNI2020, do PRR em fase de arranque e do futuro PNI2030. Os investimentos cifram-se nas infraestruturas, mobilidade, coesão, transição digital, energia e acção climática, envolvendo uma forte componente de engenharia. A Ordem dos Engenheiros terá aqui uma forte intervenção como parceiro do Estado perante todos estes desafios do país e eu como Bastonário estarei na dianteira da projecção da Ordem dos Engenheiros no seu contributo para o bem comum e para o desenvolvimento de Portugal.
O que o levou a avançar com esta candidatura a bastonário da Ordem dos Engenheiros?
Sou actualmente vice-presidente da Ordem dos Engenheiros. Conheço muito bem esta Associação Profissional e sei o que é necessário pôr em prática (baseado no muito que está realizado nestes últimos mandatos por muitos intervenientes dos Colégios de Especialidade da Ordem dos Engenheiros, coordenados por mim) e inexplicavelmente ainda por aplicar, mesmo depois de aprovado em todos os órgãos executivos internos. Alguém deixou esse trabalho, estruturante para os engenheiros portugueses, na “gaveta”. Sinto que deixei mais legado como presidente regional do que como vice-presidente. Para tornar realidade esses desafios, terei obrigatoriamente que ascender à liderança. Sou um homem para trabalhar em equipa e saber delegar. Também sou “do terreno”, empregador e simultaneamente engenheiro. Ou seja, sou prático e empreendedor. Não me baseio em conceitos teóricos ou conceptualizações. A Ordem dos Engenheiros, neste momento de viragem e fortes desafios no futuro imediato, não precisa de alguém que venha para a conhecer, fazer diagnósticos e depois actuar. Com isso passa-se um mandato e fica tudo na mesma. A Ordem dos Engenheiros precisa de actuação imediata. Essa é a grande razão que me faz ser candidato a Bastonário: a necessidade urgente de encetar grandes reformas na profissão. É uma decisão própria para aplicar em equipa ideias partilhadas com quem me candidato em conjunto com muitos membros da Ordem dos Engenheiros que se revêm nessa dinâmica. Nesse sentido, a minha candidatura não representa uma escolha de terceiros para actuar sob orientações num modus operandi idêntico ao actual “dolce far niente”, mas sim uma escolha para “fazer acontecer”.
Quais são as principais linhas orientadoras da sua candidatura?
A nossa candidatura baseia-se em 9 Eixos de Engenharia: contributo à sociedade; Portugal 2030; equidade de género; acção climática e preservação do ambiente; transição digital; sustentabilidade e resiliência; inovação, desenvolvimento e conhecimento; cooperação internacional; prestígio da engenharia e excelência profissional.
Estes Eixos interligam-se com os 17 objectivos de Desenvolvimento Sustentável definidos pelas Nações Unidas e identificam-se 25 ideias chave distribuídas nos 9 Eixos, das quais, não sendo exaustivo, destaco cinco, nomeadamente a criação de um verdadeiro PRÉMIO NACIONAL DE ENGENHARIA; a criação do Fórum Engenharia e Construção, com parceiros da fileira da construção portuguesa, desde associações empresariais, profissionais de engenharia, consultoras, gestoras, projectistas e construtores, potenciando um verdadeiro “think tank”; a criação de novos colégios de especialidade e criação de novas especializações já em 2022; o desenvolvimento do PEPE – Plano Estratégico da Profissão de Engenheiros, congregando a revisão dos Atos de Engenharia, a Graduação de Atos por N1, N2 e Sénior, o estabelecimento do VALORE – Sistema de Desenvolvimento Profissional do Engenheiro e o reconhecimento do Curriculum Vitae Certificado; ou a criação de Gabinete Técnico da Profissão, assessorado por engenheiros e outros profissionais com forte experiência na especificidade dos assuntos profissionais a promover em proatividade e não em reacção.
Olhando para a Ordem, enquanto instituição, quais vão ser as suas prioridades de actuação?
Definimos 3 prioridades de actuação: contributo à sociedade; trazer a Ordem para o século XXI;
valorizar os engenheiros. Estando neste caso a responder a perguntas que interessam eminentemente ao sector da construção, focar-me-ei aí.
O contributo à sociedade pode ser dado com a forte intervenção da Ordem dos Engenheiros como parceiro do Estado participando em soluções ou em estratégias que permitam a salvaguarda do interesse nacional através de adequada contratação publica, estabelecendo preços base de acordo com a potenciação de criação e conservação de riqueza em Portugal, ao invés de provocar a fuga de contratos para o estrangeiro, a degradação de empresas através do único factor competitivo baseado no preço ou mesmo o “dumping salarial” dos engenheiros, sempre responsabilizando socialmente as empresas e os empregadores. Propomos um debate alargado com todos os intervenientes na fileira da construção, onde nos inserimos e como equidistantes podemos liderar processos, propondo inúmeras soluções como por exemplo a responsabilização técnica da definição do preço base, a definição de cadernos de encargos que permitam a intervenção prioritária da engenharia e da economia nacional a exemplo de outros países da União Europeia, sempre tendo como bandeira a transparência e livre mercado ou mesmo a criação de “dispute centres” para agilizar as resoluções de litigâncias na construção por forma a Portugal não ficar refém das decisões judiciais demoradas e com isso perder fundos estruturais importantes. Queremos também criar um Barómetro e um Observatório do Engenheiro para através de dados, inquéritos ou interacções no terreno perceber as melhores formas de actuação nas dinâmicas de decisão e apoio à sociedade.
No que concerne à vontade de trazer a Ordem dos Engenheiros para o século XXI, estamos a centrar a necessidade da nossa Associação Profissional em se adaptar aos tempos modernos e acompanhar o forte desenvolvimento do conhecimento tecnológico. As novas áreas de engenharia ainda não estão consagradas como especialidades na Ordem dos Engenheiros, pelo que queremos criar de imediato, pelo menos, os Colégios de Engenharia Aeronáutica, Alimentar, Gestão Industrial, Biomédica e Sistemas de Gestão. Também criaremos as Especializações de Ensino de Engenharia de Análise de Riscos e Catástrofes Naturais. A Ordem dos Engenheiros não pode ficar parada no tempo.
Quanto a Valorização do Engenheiro, apostamos na distinção de competências ao longo da vida através do reconhecimento e nivelamento de actos de engenharia, para uma posterior creditação do engenheiro ao longo da vida através da sua formação escolar, experiência continuada e detalhada através de exercício profissional, formação continua e outras práticas profissionais, permitindo assim a criação de um Curriculum Vitae individual certificado pela sua Associação Profissional. Esta dimensão cria transparência na contratualização, credibilidade do processo e da Ordem e confiança publica inerente. A valorização dos engenheiros, valoriza Portugal.
Quais são os grandes desafios que se colocam, hoje em dia, à Engenharia e que medidas defende para responder a esses desafios?
O grande desafio que se coloca à engenharia portuguesa é o mesmo que se coloca a Portugal. Criar riqueza através de competência. Não se cria riqueza nem desenvolvimento sem engenheiros. Queremos contribuir para o crescimento de Portugal através da nossa actuação prática, mas também com a intervenção dos engenheiros nas decisões públicas. Não aceitamos ser meros executores. Queremos ajudar nas estratégias e soluções para o país. Os engenheiros podem estar em muitos centros de decisão.
Dou um exemplo: se Portugal aplicar na integra o PRR e o PNI2030 num prazo de 10 anos, estaremos a falar de investimentos médios anuais de mais de 5 mil milhões de euros. Mais do dobro dos investimentos médios anuais dos últimos 2 anos. Corremos o risco de não ter dimensão técnica para tal desafio orçamental. Faltarão engenheiros na construção. Mesmo com fortes incentivos ao regresso da diáspora qualificada portuguesa (poucos regressarão) e grande aposta na formação técnica que só se reflectirá ao fim de alguns anos (se se conseguir contornar a falta de procura de cursos de engenharia civil em Portugal e na Europa), tal não será suficiente para o suprimento da falta de engenheiros. Se associarmos que Portugal tem um problema crescente de défice demográfico e de envelhecimento da população, verificamos que a população activa pode vir a não dar as respostas que Portugal necessita a médio prazo. A Ordem dos Engenheiros pode aqui ser um parceiro do Estado na definição de políticas de apoio no combate ao défice demográfico através de estratégias que permitam, no sector da construção, a liderança da engenharia portuguesa (é de excelência) complementada com apoio a essa mesma liderança importando qualificações, dando respostas ao sector e à dimensão populacional, conservando em Portugal a riqueza e contribuindo para o aumento da competitividade nacional. A intervenção da Ordem dos Engenheiros pode ser estrutural em muitas matérias. Estamos disponíveis para fazer parte do desenvolvimento. É importante eleger a lista A.