“A revalorização da imagem da Ordem é de extrema importância, sobretudo a nível nacional”
Em entrevista ao CONSTRUIR, o candidato a bastonário da Ordem dos Engenheiros pela Lista B, Fernando Branco, assume que entre as suas prioridades para o triénio 2022-2025 está o objectivo de trazer “os jovens engenheiros para dentro da Ordem, envolvendo-os nas actividades e oferecendo-lhes apoios de formação e de regalias sociais” e, sobretudo, pugnar pela valorização da profissão. “Os engenheiros têm vindo a perder a sua imagem. Deixaram de ser reconhecidos como o principal motor das realizações e no entanto são-no. E porquê? Porque os engenheiros não são devidamente valorizados nos projectos, sendo muitas vezes silenciados”, garante
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O CONSTRUIR antecipa, nesta edição as principais propostas das duas listas candidatas aos Órgãos Nacionais da Ordem dos Engenheiros para o triénio 2022-2025. Para tal, convidou os candidatos a bastonário a responder às mesmas questões. No caso da Lista B, Fernando Branco considera que “não podemos adjudicar obras públicas à ‘loja do chinês’. Temos de mudar isso e começar a colocar o factor ‘qualidade’ nas adjudicações” e essas alterações passam pela introdução de critérios de valorização do projecto em fase de concurso
Que radiografia traça da Ordem, do seu papel na sociedade e da Engenharia em Portugal neste momento?
Creio que uma das principais conclusões que podemos retirar é a de que a Ordem é um órgão que necessita ser rejuvenescido e que há muitos engenheiros que exercem a profissão sem estar nela inscritos. Neste momento há globalmente uma boa oferta de emprego, mas os engenheiros portugueses são mal pagos. Uma problemática que, quando comparada com outros países da Europa não se verifica. E é exactamente por isso que, nos últimos tempos, temos vindo a assistir a um êxodo cada vez maior dos nossos profissionais, que, diga-se, têm uma elevada formação académica, das melhores na Europa, como mostram os rankings internacionais.
Uma das características que me tem acompanhado ao longo de todo o meu percurso profissional – e que preso em manter – é a capacidade estratégica de analisar e identificar quais os problemas que têm de ser resolvidos. E essa análise foi inclusivamente feita, em primeira instância, enquanto membro da OE, onde procurei identificar os principais problemas com que nos deparamos internamente, mas também enquanto candidato a Bastonário, desenhando um conjunto de soluções para as principais questões.
A base do programa que apresento na minha candidatura parte exactamente desta análise intensiva e da troca de ideias que fui tendo com muitos colegas, culminando naquilo que podemos denominar do programa dos “5R”. Desta forma, desenhámos um programa com o objectivo de Reorganizar, Resolver e Rejuvenescer internamente a OE– os três vectores principais – e, Revalorizar a imagem nacional e Reposicionar internacionalmente a Ordem.
Como referi inicialmente, rejuvenescer a OE é, para nós, um pilar fundamental. Uma das principais medidas que pretendo tomar no curto prazo é voltar a trazer os jovens engenheiros para dentro da Ordem, envolvendo-os nas actividades e oferecendo-lhes apoios de formação e de regalias sociais. A reorganização passa essencialmente por resolver os problemas que estão pendentes, como a revitalização da actuação dos Colégios, o envolvimento dos Membros Conselheiros e a valorização dos Especialistas – aumentando uma vez mais as regalias para todos os membros – e a formação contínua. Mas pretendemos também renovar a imagem da OE e evoluir para novos paradigmas, modernizando e implementando a transformação digital dentro da Ordem.
A revalorização da imagem da Ordem é de extrema importância, sobretudo a nível nacional, na medida em que, através desta revalorização, estaremos a valorizar o papel do engenheiro. Já o reposicionamento da OE deverá estar intrinsecamente ligado à internacionalização da Engenharia portuguesa, assumindo as ligações e interesses internacionais, com evidente primazia ao universo da lusofonia. Não nos esqueçamos que hoje em dia, muitos dos nossos engenheiros estão no estrangeiro e a Ordem deverá estreitar e fortalecer a sua relação com estes profissionais, que são nossos embaixadores, podendo inclusivamente retirar dividendos.
Pretendemos mudar o actual enquadramento e papel da Ordem – e também dos profissionais – perante a sociedade. Creio que os objectivos delineados neste programa são reflexo de qual o rumo que pretendemos seguir e do reconhecimento sustentado que queremos voltar a dar à Ordem dos Engenheiros, quer a nível nacional como internacional.
Importa sublinhar que apenas com uma acção independente, interventiva, presente e construtiva é possível fazer da OE uma Associação Profissional capaz de potenciar uma audição mais eficaz e influente junto dos principais decisores e profissionais do sector.
É também fundamental que a actuação da OE se paute por uma estreita ligação com as Escolas de Engenharia e com as Associações dos diferentes ramos de actividade onde os Engenheiros se inserem, sendo percepcionada como uma referência e unidade profissional, de exigência e rigor, essencial para o continuado reconhecimento da Engenharia pela sociedade portuguesa.
O que o levou a avançar com esta candidatura a bastonário da Ordem dos Engenheiros?
Foi uma decisão bastante ponderada. Já há mais de dois anos que andava a ser desafiado para me candidatar a este cargo e a oportunidade surgiu este ano, coincidindo também com o facto de me ter aposentado no início de 2021.
Uma das principais razões que me leva a candidatar como Bastonário da OE prende-se com o facto de existirem vários problemas que acho que posso ajudar a resolver. E eu quero trabalhar nesse sentido, usando a experiência que tive na presidência das Organizações Internacionais a que estive ligado.
Creio que, juntando ao facto de ter agora mais tempo disponível, posso dedicar-me inteiramente a todas as questões que se impõem e que são prementes para a restituição do bom funcionamento e bom posicionamento da Ordem dos Engenheiros.
Uma das primeiras coisas que fiz foi falar com muitos colegas e ler toda a documentação existente sobre o assunto.
Identifiquei os principais problemas que deviam ser melhorados e parti deste pressuposto para construir aquele que é o meu programa de acção, o programa dos “5R” (anteriormente mencionado).
Quais são as principais linhas orientadoras da sua candidatura? Olhando para a Ordem, enquanto instituição, quais vão ser as suas prioridades de actuação?
O programa que apresento pretende dar uma resposta eficaz e resolver os principais problemas com que a Ordem se depara num período de três anos, que será o período de actuação como eventual Bastonário, caso os meus colegas assim o decidam.
As principais linhas da minha candidatura têm como objectivo devolver aos engenheiros a relevância da profissão e alterar a forma como estes são percepcionados.
Repare que, ao longo dos anos, os engenheiros têm vindo a perder a sua imagem. Deixaram de ser reconhecidos como o principal motor das realizações e no entanto são-no. E porquê? Porque os engenheiros não são devidamente valorizados nos projectos, sendo muitas vezes silenciados.
É por isso que defendo que esta percepção deve ser alterada. A Ordem tem um sistema cruzado, com regiões – que correspondem à parte administrativa -, e, depois, tem os colégios, que são secundarizados. E esse é um dos aspectos em que sou bastante crítico. Os colégios são a verdadeira alma da Ordem. É precisamente aqui que encontramos o know-how. É nestes colégios que os problemas devem ser identificados e apresentadas propostas para a sua resolução, através de Comissões Técnicas que envolvam todos os colegas que pretendam contribuir para melhorar a OE.
E é precisamente aqui onde pretendo começar. A primeira acção a realizar será essa, a de revalorizar os colégios e valorizar as suas ideias, valorizando a sua posição na ordem, tornando-os como “mini ordens” dentro da OE. A parte administrativa deve ser o suporte dos colégios. E não o oposto.
Pretendo, inclusivamente, trazer a debate as propostas nascidas nos colégios para dentro do Conselho Directivo Nacional.
Como referi, queremos construir uma Ordem dos Engenheiros tendo como grandes linhas de acção um Programa que designámos de “5R” – Reorganizar, Resolver e Rejuvenescer o funcionamento interno, mas ainda Revalorizar a importância nacional e Reposicionar o papel internacional da OE.
Quais são os grandes desafios que se colocam, hoje em dia, à Engenharia e que medidas defende para responder a esses desafios?
A próxima década será um enorme desafio para os profissionais da Engenharia, sobretudo numa fase pós-pandémica, em que são previstos inúmeros investimentos destinados a alavancar a recuperação económica e desenvolver o país. O PRR vai representar uma rampa de crescimento no país, mas para se concretizar necessita do forte envolvimento dos engenheiros pois são eles que sabem controlar os prazos de execução, controlar os custos, por equipas pluridisciplinares a produzir e acima de tudo são eles que sabem como é que as coisas se fazem. Penso que sem o forte envolvimento dos engenheiros o PRR se pode transformar num “flop”.
Há ainda uma outra questão, não menos importante, que se traduz na valorização da profissão do engenheiro. Hoje em dia, muitos dos nossos jovens engenheiros ganham menos de 1000 euros mensais de ordenado, o que os leva a imigrar. O meu programa apresenta algumas soluções para melhorar algumas situações envolvendo empresas e empreendedorismo, mas a base do problema reside sobretudo na economia do país: tudo quanto são concursos públicos são adjudicados a preços baixíssimos, anormalmente baixos.
Este é um dos motes da minha campanha. Não podemos adjudicar obras públicas à “loja do chinês”. Temos de mudar isso e começar a colocar o factor ‘qualidade’ nas adjudicações.
Quando se entrega uma proposta, deve entregar-se em duas partes independentes e sigilosas: uma com a qualidade e outra com o custo. E só depois de considerada a primeira, deve ser então analisada a proposta de custo. Se não, os decisores, com medo de serem recriminados, vão sempre pelo preço mais baixo e isso leva as empresas a trabalhar no limite, na corda bamba, e sem poderem pagar melhor.
Poder-se-á pensar: Se subirmos os preços na adjudicação, começará a faltar investimento. Mas isso é porque não se pensa que as obras não são feitas para a inauguração, mas para durar 50 anos, tendo custos da manutenção. Se se considerar este aspecto na qualidade inicial das propostas, pouparemos a longo prazo. O custo global da obra nem vai aumentar.