Prédio Coutinho foi oportunidade perdida?
De acordo com o Portal da Construção Sustentável, “nada de inovador, nada de exemplar em termos de sustentabilidade. Tratou-se apenas de mais uma empreitada de demolição, quando deveria/poderia ter sido um desmonte exemplar”
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Previstos desde o ano 2000, os trabalhos de demolição do vulgarmente designado Prédio Coutinho, em Viana do Castelo só no início deste ano arrancaram. Construído na década de 70 por Fernando Coutinho, antigo emigrante no Congo belga, que morreu em 2010, em plena luta dos moradores contra a demolição, o Edifício Jardim foi construído no centro histórico da cidade de Viana e está há 21 anos a aguardar desenvolvimentos sobre o seu processo de desmantelamento. Inicialmente, o projecto da sociedade VianaPolis previa a implosão do prédio, mas a partir de 2018 a demolição foi a alternativa escolhida dada a complexidade da obra, em plena malha urbana, com edifícios históricos na envolvente, e por prever o aproveitamento e a reutilização dos materiais, e causar menos impacto ambiental.
Críticas à obra
Há, no entanto, críticas à forma como estão a se feitos os trabalhos, mais especificamente o destino conferido aos resíduos que resultam da demolição do edifício. Essa é, pelo menos, a leitura do Portal da Construção Sustentável, para quem “a desconstrução do edifício Jardim, mais conhecido como Prédio Coutinho, de onde foram retirados centenas de materiais aptos a serem reutilizados, aparentemente, não passou de mais uma empreitada de demolição, licenciada de forma a triar os resíduos gerados como já é, de resto, obrigatório em Portugal há mais de uma década”.
Segundo a plataforma liderada por Aline Guerreiro, “foi possível perceber que todos os materiais retirados, apesar de se encontrarem em bom estado, foram tratados como RCD comum”. “Nada de inovador, nada de exemplar em termos de sustentabilidade. Tratou-se apenas de mais uma empreitada de demolição, quando deveria/poderia ter sido um desmonte exemplar do que é a desconstrução selectiva e a reutilização de materiais, estimulando a poupança de recursos e a recolocação de materiais em 2ª mão, não passou de uma comum demolição”, acrescenta.
Empreitada concluída em Março
A demolição vai custar cerca de 1,2 milhões de euros e vai estar concluída em Março de 2022. Cláudio Costa, da Baltor, empresa responsável pela empreitada, disse ser a primeira obra do género realizada em plena malha urbana em Portugal, destacando que “90% do material que for retirado do edifício” será para reciclagem e posterior utilização na construção de vias de comunicação, ou até no novo mercado municipal de Viana do Castelo, à qual a empresa vai concorrer. Em Outubro, durante uma visita às obras de “desfardamento” [remoção de todos os materiais não inertes, madeiras, alumínios, vidros, metais, para serem reutilizados ou reciclados] do edifício, o vice-presidente da VianaPolis, Tiago Delgado, explicou que, com a demolição dos 13 andares, vão ser retiradas 11.200 toneladas de betão, 2.800 de tijolo, 115 de produtos cerâmicos, 360 de aço, 110 de madeira, 56 de vidro e 32 de alumínio.
Recomendações feitas em estudo
Segundo o Portal da Construção Sustentável, o Fundo Ambiental, tutelado pelo Governo, financiou em 2018 um estudo de desconstrução selectiva do Prédio Coutinho, elaborado pelo Portal, que o finalizou e entregou à Viana Polis, responsável pela empreitada. Neste estudo eram feitas recomendações de desconstrução selectiva por forma a reutilizar os materiais em bom estado. “Uma vez que foram investidas verbas europeias num estudo que se poderia ter tornado num caso prático exemplar, questionamos, porque afinal o Prédio Coutinho não teve qualquer mais-valia no que se refere a um exemplo de sustentabilidade”, pode ler-se em comunicado. “Separar e britar os RCD e encaminhá-los para uma gestora de resíduos, já é obrigatório em Portugal há mais de 10 anos! O que ainda não se faz em Portugal, e que já é prática comum nos países mais evoluídos da Europa, como Dinamarca, Holanda ou Alemanha, é reutilizar os materiais em bom estado em vez de os britar, de forma a poupar energia, consumo de recursos e de extracção de novas matérias-primas para produzir novos materiais.” refere Aline Guerreiro, arquitecta e CEO do PCS.
“Sem dúvida que o betão retirado não teria outra hipótese senão a britagem, contudo outros materiais de construção, aptos a uma nova vida, possuem uma energia incorporada (energia consumida desde a extracção da matéria-prima, até ao produto final) extremamente elevada, e poderiam/deveriam ter sido encaminhados para reutilização” prossegue. “No fabrico de sanitários, por exemplo, grandes quantidades de CO2 são libertadas, bem como na queima de combustíveis fósseis em fornos. Se acrescentarmos a esta questão a extracção de matérias-primas e o transporte necessários, podemos compreender o impacto sobre o ambiente. Além destes, outros materiais presentes no Prédio Coutinho e que estavam em perfeito estado para novas utilizações, requerem igualmente grandes quantidades de energia para serem fabricados de novo, uma vez que a matéria-prima neles utilizados, é extraída e tratada em processos intensivos de energia”, pode ainda ler-se na mensagem desenvolvida pelo Portal.
Economia por confirmar
“O PCS concluiu que seria possível reutilizar 1885 portas de madeira maciça (incluindo as portas de roupeiro) e, apesar do responsável pela empreitada a quem a Viana Polis entregou o trabalho ter referido que as portas entraram novamente no mercado, não foi capaz de informar qual a economia gerada pela sua venda, nem a quem foram vendidas e onde poderão vir a ser reutilizadas. O que seria um óptimo exemplo para divulgar e estimular o início de um mercado de materiais de construção em 2ª mão, que como o próprio refere, é um mercado ainda embrionário, mas que deve ser especulado”, asseguram os responsáveis do Portal da Construção Sustentável. De acordo com o PCS, os Resíduos de Construção e Demolição (RCD) estão ainda longe de ser um modelo de transição ecológica particularmente porque uma percentagem significativa dos resíduos provenientes de áreas de construção e obras não recebem o destino adequado, que deverá passar, obrigatoriamente, pela reutilização. “A directiva europeia 2008/98/EC, impôs uma taxa de 70% para a valorização de RCD até 2020. Mas, dar uma segunda vida a estes materiais é o verdadeiro contributo para a descarbonização e transição energética”, conclui.