Museu do Tesouro Real: Conjugar o presente e preservar o antigo
Inaugurado recentemente o novo Museu do Tesouro Real é o culminar de dois grandes desafios: concluir o Palácio Nacional da Ajuda e instalar nesse remate um museu para o tesouro real. Entre a necessidade de preservar o antigo e dar relevância ao novo assim nasceu um projecto assinado pelo arquitecto João Carlos Santos e que contou com uma equipa de 150 profissionais
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O novo Museu do Tesouro Real é a nova morada permanente das jóias da coroa e das peças da ourivesaria real portuguesa. O novo equipamento cultural da capital portuguesa representou um duplo desafio. Por um lado, concluir o Palácio Nacional da Ajuda, com o remate da sua ala poente que esteve inacabada durante 226 anos e instalar nesse remate um museu para o tesouro real, tendo em conta todas as medidas de segurança necessárias para proteger um património de valor inestimável e que é constituído por raras e valiosas jóias, insígnias e condecorações, moedas e peças de ourivesaria civil e religiosa, como é disso exemplo a coroa e a laça de esmeraldas de D. Mariana, aquela que se pensa ser a maior pepita de ouro do mundo ou a caixa de tabaco encomendada por D. José ao ourives do Rei de França no século XVIII e que a amante de Luís XV não queria deixar sair de Paris.
Mas antes de pensar na protecção de todas estas jóias para o arquitecto João Carlos Santos, impôs-se desde o início a protecção do próprio monumento nacional.
“O primeiro desafio foi pensarmos como materializar este remate junto do edifício que é uma pré-existência e que tem um valor patrimonial como é o Palácio Nacional da Ajuda. Depois foi como é que se remata um palácio que era para ter o triplo da dimensão que tem hoje e nunca chegou a ser concluído. Muitas pessoas olhavam para esta parte do alçado poente do palácio e pensavam que o palácio tinha tido um problema com o próprio terramoto, mas isso não é verdade o palácio foi construído precisamente por causa do terramoto porque o antigo Paço Real na ribeira, naquilo que é hoje conhecido como a Praça do Comércio, ficou danificado com o terramoto”, explica João Carlos Santos. “Como esta estrutura para ter o triplo da dimensão, tudo o resto não foi construído e a Calçada da Ajuda não era para existir aqui”, continua o responsável, “e, portanto, conciliar estas pré-existências todas foi efectivamente um outro desafio. Esta questão da calçada parece uma questão menor, mas não o é porque nós não podíamos avançar simplesmente por cima da Calçada da Ajuda”, refere João Carlos Santos que é simultaneamente o director geral da Direcção Geral do Património Cultural, DGPC, entidade que foi a responsável pelo projecto museológico.
Na realidade, a solução para o projecto final acabou por ocupar uma parte da Calçada, “ainda que o seu traçado tenha sido mantido houve uma alteração nos perfis e traineis da mesma de modo a fazer a concordância com as quotas do projecto”, conta o arquitecto.
Imperceptível, é o facto da nova estrutura, o remate, não tocar o Palácio Nacional da Ajuda. Como nos conta João Carlos Santos “os dois edifícios não estão ligados por questões estruturais e de segurança”, como se de uma grande junta de dilatação em todo o perímetro que une os dois edifícios se tratasse. O mesmo princípio, o da separação, foi seguido nas arcadas em pedra pré-existentes, não havendo contacto físico entre estas e o edifício em betão que, aparentemente, se ergue por cima dessa estrutura pré-existente. “Mais uma vez colocou-se a necessidade de protecção estrutural, o que levou à solução de construção de uma ponte por cima das arcadas, ao longo dos 26 metros de vão, e que não toca nessa estrutura que queremos salvaguardar e preservar”.
Num projecto com inúmeras particularidades, o arquitecto ressalva outro aspecto construtivo do projecto: este está “simplesmente” pousado no chão. Ao invés das fundações habituais, a solução construtiva adoptada passou pela utilização de estacas de grande dimensão, com um metro de largura, por sete metros de profundidade, tendo sido criado um ensoleiramento geral, uma espécie de tabuleiro, onde todo o edifício assenta.
Particularidades de uma estrutura ambígua que preserva e assume a entidade cultural e histórica do monumento nacional do qual faz parte, mas ao mesmo tempo assume uma identidade própria e moderna, imediatamente perceptível para quem nela entra pelo lado da Calçada da Ajuda e olha para a sua fachada moderna, rasgada por inúmeras janelas.
Um cofre no interior
O Museu do Tesouro Real, o segundo grande desafio proposto, é ele próprio uma caixa-forte. Uma solução eficaz reforçada pela sua cobertura em espuma de alumínio pintada de ouro, visível para quem entra ao nível do piso 1. Com 40 metros de comprimento, 10 metros de largura e 10 metros de altura, esta é uma das maiores caixas-fortes do mundo, com três pisos, munida com sofisticados equipamentos de segurança e videovigilância, portas blindadas de 5 toneladas. A segurança das peças é ainda reforçada por vitrines com controlo de temperatura e humidade e vidros à prova de bala.
O museu, em si, ocupa uma pequena parte dos cerca de 12 mil m2 de área, a maior parte da qual ocupada por áreas técnicas de grande dimensão e que estão vedadas ao público.
O projecto custou 31 milhões de euros, 18 milhões de euros do Fundo de Desenvolvimento Turístico de Lisboa, 4,8 milhões de euros da DGPC e 9 milhões de euros financiados pela Associação Turismo de Lisboa