Os planos da ferrovia
Linhas de alta velocidade, uma nova ponte sobre o Tejo e a melhoria do transporte urbano com mais linhas e serviços são algumas das propostas em estudo e que pretendem definir o desenvolvimento a médio e longo prazo da rede ferroviária nacional

Manuela Sousa Guerreiro
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A olhar a 2050, o Plano Ferroviário Nacional é o documento estratégico para o desenvolvimento a médio e longo prazo da rede ferroviária. O documento está desde o dia 17 de Novembro em discussão pública. “Precisamos de ter um Plano Ferroviário Nacional que sabemos levará décadas a executar, mas que deve ser uma bússola comum para sabermos o norte em matéria de investimento ferroviário”, justificou o Primeiro-Ministro, António Costa, na apresentação do plano.
António Costa sublinhou que “é fundamental que o país fique dotado de um desenho da ferrovia e, consoante as disponibilidades, a evolução do conhecido, a dinâmica de reinvenção do sector, o país vá adaptando, ao longo do tempo, a sua execução”, um desenho que transcenda o programa Ferrovia 2020, “em velocidade de cruzeiro”, e o próprio Programa Nacional de Investimentos 2030.
“O que aqui apresentamos não é uma proposta fechada”, afirmou, convidando todos a participar na sua discussão “para que tenhamos um plano mais reflectido, mais ponderado, mais consensualizado, o melhor passo para que possamos chegar à obra”.
Olhando a 2050, o Plano estabelece como objectivo atingir os 20% de quota modal no serviço de passageiros e os 40% nos transportes de mercadoria, o que, segundo as contas do coordenador do grupo de trabalho para o PFN, Frederico Francisco, significa que este plano irá multiplicar por seis o volume actual de tráfego ferroviário. Mas mais significativo que o seu volume é os efeitos na acessibilidade do território, para além de cobrir todas as 18 capitais de distritos, das quais quatro actualmente não têm cobertura ferroviária ou têm uma fraca ligação, o plano identifica 28 centros urbanos regionais, onde se incluem por exemplo as cidades de Sines, Elvas, Covilhã e Torres Vedras, onde a melhoria da cobertura ferroviária será melhorada, ou inaugurada, com as intervenções previstas no PFN.
Investimentos em curso
O documento está em linha com os planos já assumidos para a próxima década, para além da Linha de Alta Velocidade Porto-Lisboa, destaque para a nova Linha Évora-Elvas, que será determinante no transporte de mercadorias, mas que servirá também o transporte de passageiros e que permitirá prolongar o serviço de Intercidades de Évora a Elvas e criar novos serviços entre Lisboa e Madrid, com uma redução substancial do tempo de viagem, face ao que hoje existe. Ou, a norte a concordância da Mealhada, um pequeno troço com um forte impacto, que irá permitir, pela primeira vez, serviços directos do Porto para a Beira Alta, e a Linha Porto-Vigo. Uma vez estruturado o eixo atlântico onde se concentra a maior parte da população portuguesa e onde se concentra, também, a maior procura por serviços ferroviários o próximo passo é a cobertura do território. E uma das peças “mais importantes” é a construção de uma nova Linha de Alta Velocidade (LAV) entre Aveiro e Vilar Formoso, passando em Viseu e na Guarda. A primeira “é a maior das cidades do país que não tem actualmente serviço ferroviário” e, provavelmente, uma das maiores cidades da Europa sem serviço ferroviário e “faz todo o sentido que ela esteja coberta com uma nova linha”. Esta nova linha irá permitir que o tempo de viagem de Lisboa a Viseu seja de de 1 hora e 20 e o tempo de viagem entre o Porto e Viseu será de cerca de 40 a 45 minutos. “Com a continuação desta linha até Vilar Formoso, passando na Guarda aproximamos todo o litoral centro/norte do país a Espanha e facilitamos as ligações internacionais a Espanha, ligando toda a nossa zona de maior concentração de população e de actividade económica a Espanha”, justifica Frederico Francisco.
Ainda no Norte, destaque para a nova linha que irá servir Vila Real e Bragança, em Trás-os-Montes. Duas capitais de distrito que deixaram de ter serviço ferroviário, no caso de Bragança, há 30 anos, e, no caso de vila real, há cerca de 10/12 anos. “Não faria sentido retomar as ligações anteriores devido aos tempos de viagem, Vila real ao Porto demoraria 3 horas e viagens entre Bragança e Porto levariam quase 5 horas, o que não é atractivo. A única forma que faz sentido para ligar estas duas capitais de distrito com uma linha nova que garanta tempos de viagem competitivos com a rodovia e isso significa que a viagem de Vila Real-Porto deve demorar menos de 1 hora, a viagem Bragança-Porto deve demorar menos de 2 horas”, referiu o coordenador do grupo de trabalho.
Plano recupera eixo Chelas-Barreiro
Olhando para o Sul, a primeira grande infraestrutura estratégica que surge recupera um eixo já falado no passado que é o corredor Chelas-Barreiro com a criação de uma nova ponte ferroviária sobre o Rio Tejo. “o que permitirá ligar Lisboa a Évora em uma hora, Lisboa a Beja em menos hora e meia e Lisboa-Elvas em menos de 2 horas. Conseguindo ainda uma ligação ao Algarve num tempo de viagem que será claramente competitivo à rodovia, o que hoje não acontece”.
Mas para fazer do comboio um meio de transporte de eleição a sul do Tejo será preciso ligar Faro a Lisboa na ordem das 2 horas de tempo de percurso e, para além da nova ponte, isso pode ser conseguido de duas formas: com a modernização da linha actual, em particular no troço mais a sul, ou com a construção de uma nova linha, ou pelo pelos menos parcialmente nova “que poderia aproveitar partes importantes da Linha do Alentejo”. Ambas as opções estão em estudo.
Aposta no litoral centro e nas áreas metropolitanas
Outra das novidades apresentadas surge na região centro litoral, com um novo acesso da Linha do Oeste a Lisboa, em resposta às dificuldades actuais que colocam a ligação de cidades como Torres Vedras e Caldas da Rainha a Lisboa com tempos de viagem demasiado longos e pouco competitivos. “Esta linha poderia ser importante para reduzir cerca de meia hora em todas as viagens com destino à região Oeste e pode também ser importante para a área metropolitana de Lisboa”, servindo os concelhos de loures e Odivelas e permitindo ligar Loures ao centro de Lisboa em menos de 15 minutos. Mas esta é apenas uma peça de um conjunto de alterações que estão a ser pensadas para a Área Metropolitana de Lisboa, onde anualmente são feitas cerca de 135 milhões de viagens de comboios, de um total de 175 milhões anuais, e onde o desafio será passar de uma estrutura “radial” que torna difícil ligações que não tenham como destino Lisboa, para uma estrutura diametral com a criação do Eixo Sintra – Setúbal e Lisboa-Azambuja e ligação Torres Vedras – Setúbal, a partir da nova ligação à região Oeste.
O documento em consulta pública foi redigido por um grupo de trabalho, que recolheu um total de 318 contributos entre 18 de Abril e 30 de Setembro de 2021. Além de membros do Ministério das Infraestruturas, o grupo de trabalho conta com a participação de representantes do Instituto da Mobilidade e dos Transportes, Infraestruturas de Portugal, CP, Direcção-Geral do Território e Associação Portuguesa de Empresas Ferroviárias.