Fórum Itecons: A emergência de ser melhor fazendo diferente
Projectos, produtos ou procedimentos. Os próximos programas de financiamento comunitário tornam claro o afunilamento em relação ao tipo de apoios que serão distribuídos e, invariavelmente, passam pela inovação. O Itecons juntou especialistas, em Coimbra, que analisaram os desafios emergentes que a Construção, como um todo, tem pela frente. O CONSTRUIR foi parceiro desta iniciativa

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Alguém, a seu tempo, terá dito que “não podemos fazer as mesmas coisas e esperar obter resultados diferentes”. Numa altura em que parece evidente a importância de trilhar novos caminhos na forma como se projecta, como se constrói, como de produz e como se planeia, importa analisar em que ponto estamos para se perceber que caminhos seguir. Salta à vista, desde logo, uma evidência: há, hoje, mecanismos de apoio a esta mudança, restando saber se os agentes estão despertos para esta necessidade. Ou, em última instância, se na prática há retorno evidente desta aposta em novos paradigmas. Para discutir esta temática– e outras análogas – o Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade (Itecons) reuniu, em Coimbra, um conjunto de especialistas que apresentaram um espectro alargado de perspectivas em torno dos desafios emergentes que a Construção, enquanto fileira, tem pela frente.
Jorge Brandão, vogal da Comissão Directiva do Programa Operacional Regional do Centro (CCDRC) assume, desde logo, que os próximos quadros comunitários de apoios estão fortemente orientados para apoiar e fomentar a inovação, num espectro alargado. Falando, mais concretamente, sobre a região que está sob a sua tutela, Jorge Brandão salienta que “os desafios para a economia da região Centro são enormes, bastando remeter o foco, desde logo, para o domínio da habitação, cuja discussão está na ordem do dia”. Para o vogal da CCDRC, “a falta de casas é, logo à partida, um forte constrangimento ao desenvolvimento económico da região, mais não seja porque é um entrave à fixação de massa crítica que possa representar uma verdadeira mais-valia para o crescimento das empresas aqui localizadas”. “As cidades e as regiões precisam que trabalhemos na refuncionalização dos seus centros históricos”, acrescenta Jorge Brandão, que recorda que o PT2030, por exemplo, está fortemente vocacionado para o financiamento de projectos inovadores. Aquele responsável acrescenta, igualmente, que a dimensão estrutural do programa assenta não apenas na inovação empresarial como também ao nível de projectos, produtos ou procedimentos, “ou seja, na forma como actuamos”.
O primeiro concurso da inovação produtiva nas PME, no âmbito do Portugal 2030, deverá abrir ainda no mês de Abril, destinando-se a responder às mais de 900 intenções com um potencial de investimento na ordem dos 2000 milhões de euros apresentadas no pré-registo de candidaturas. O concurso terá quatro fases de candidatura até ao final deste ano e vai mobilizar 400 milhões de euros, financiados com fundos europeus pelo Programa de Inovação e Transição Digital e pelos Programas Regionais do Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve. Este primeiro programa destina-se a projectos inovadores suportados em novos produtos ou novos processos e conta com uma dotação que representa um acréscimo de 25% face ao último concurso da Inovação Produtiva do Portugal 2020. São inúmeras as empresas afectas ao Sector da Construção sedeadas na região Centro. Considerando essa evidência, Jorge Brandão recordou o percurso que tem sido seguido ao nível da aplicação de fundos europeus, nomeadamente o apoio à criação de conhecimento científico e tecnológico, “conhecimento relevante para a actividade económica e investigação aplicada”. No entender do vogal da CCDRC, “espera-se uma mudança do perfil da economia regional, cujo futuro passará por um perfil mais inteligente e coeso”. A neutralidade carbónica e a transição digital e climática estão igualmente entre as prioridades.
Recursos disponíveis
A intervenção de Jorge Brandão vai ao encontro dos pressupostos estabelecidos pela própria organização, nomeadamente no que respeita aos recursos à disposição das empresas para que possam reforçar as suas operações (também) em torno da inovação. Ao CONSTRUIR, a coordenadora Executiva da Unidade de Avaliação Técnica do Itecons admite que “um dos problemas que a indústria vai encontrando prende-se com a necessidade de fazer investimentos, por vezes avultados, para conseguir inovar”. Andreia Gil recorda que “estando em fase de publicação os primeiros Avisos do Portugal 2030 e consequentemente do Centro 2030” foi importante para a organização deste evento promover a reflexão sobre os recursos à disposição da indústria. “No Itecons, já estivemos envolvidos em inúmeros projectos com a Indústria, e acabamos por ter a percepção que a falta de projectos financiados retrai a indústria no que diz respeito a novos desenvolvimentos”, acrescenta Andreia Gil, que abordou, na sua apresentação, a preparação da versão final do Regulamento de Produtos da Construção. Para a coordenadora Executiva da Unidade de Avaliação Técnica do Itecons, é expectável que esta regulamentação possa provocar “um grande impacto no sector dada a complexidade do seu conteúdo”. Se, por um lado, estes diplomas vão representar uma “maior harmonização de regras no contexto dos vários estados membros, por exemplo, ao nível de algumas das características essenciais dos materiais e produtos – como a resistência ao fogo – a introdução desta regulamentação vai igualmente mitigar os efeitos da fragmentação de um mercado único”. Importa, por isso, que as empresas estejam atentas ao potencial desta nova realidade e aos desafios a que importa dar resposta. Segundo Andreia Gil, com a introdução de uma nova regulamentação, “é importante que os fabricantes de produtos se preparem para as alterações que aí vêm”. Para a responsável do Itecons, “a proposta de Regulamento pretende contribuir para a digitalização do sector da construção, prevendo a disponibilização da documentação associada à marcação CE dos produtos na base de dados que a Comissão deverá criar”, factor que vai representar um conjunto adicional de responsabilidades às empresas fabricantes. Disso deu conta José de Matos por ocasião da sua intervenção.
Exigência aumenta
O secretário-geral da Associação Portuguesa de Comerciantes de Materiais de Construção (APCMC) assegura que “as exigências que resultam da maior expressão da digitalização do sector são cada vez maiores, seja no acesso ou no uso da informação, exigência que igualmente aumenta para quem a usa”. José de Matos sublinha, igualmente, que há um evidente caminho a percorrer na comunicação entre os agentes do Sector. Para o responsável da APCMC, essa comunicação deve ser mais ágil e valorizar a interoperacionalidade, conceitos que estão longe de estar consolidados. “Em Portugal, a digitalização dos processos ainda não está tão implementada se compararmos com a realidade europeia”, aponta José de Matos, que defende a necessidade de ser mais eficiente e eficaz nos processos fiscais, logísticos ou na partilha de informação comercial que se quer, igualmente, mais técnica”. “Esta digitalização requer informação mais adequada e actual e, por conseguinte, uma clara evolução na forma como é encarada a própria digitalização”, acrescenta.
O secretário-geral da APCMC vai, inclusivamente, mais longe, ao apontar que os “fabricantes não estão preparados para comunicar de uma forma mais detalhada as suas soluções”. José de Matos, que tem sido o rosto visível da APCMC Datacheck, plataforma desenvolvida pela associação onde, de forma gratuita, todos os fabricantes podem partilhar com os seus clientes o acesso a toda a informação sobre os respectivos produtos, permitindo que esta chegue também aos construtores, projectistas e clientes finais. No fundo, uma ferramenta que responde aos desafios da digitalização. Que são muitos. José de Matos acentua a tónica em torno da necessidade de se fazer a transição de um modelo tradicional de construção em obra, para um modelo mais industrial e moderno com recurso à pré-fabricação e à construção modular, com uso mais intensivo das novas tecnologias da informação a todos os níveis, desde a produção, logística, projecto e gestão da obra. Isto é, temos que digitalizar a construção, ou de forma mais compreensiva, os diversos processos que são assegurados pelos diferentes agentes da fileira”.