A BARRAGEM DO PISÃO. INVESTIMENTO ESTRUTURANTE PARA O ALTO ALENTEJO
Mário Samora, TPF Consultores de Engenharia e Arquitetura
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Hoje, todos sabemos o impacto que a construção da barragem do Alqueva teve em todo o Baixo Alentejo, o qual, antes da construção do empreendimento em questão, se encontrava numa situação de depressão económica e social acentuada.
Ninguém disputa, hoje, que o impacto do empreendimento de Alqueva foi fortemente positivo (eu diria mesmo revolucionário) dos pontos de vista económico, social, e não só. Não passaria hoje pela cabeça de alguém reivindicar o desmantelamento do empreendimento de Alqueva, para devolver o Alentejo ao seu “estado natural”. Mas muitos ter-se-ão já esquecido das resistências e das oposições que foi preciso vencer na altura (movimento da cota X, etc., etc., de que eu próprio já não me recordo com precisão).
O empreendimento de Alqueva beneficiou o Alentejo, mas não todo. No Alto Alentejo, na zona que abrange a bacia superior do Rio Sorraia, permaneceram por desenvolver vários municípios que não foram abrangidos por Alqueva, mas que também têm um potencial agrícola considerável, ainda por desenvolver.
Tendo consciência disto, os municípios de Alter do Chão, Arronches, Avis, Campo Maior, Castelo de Vide, Crato, Elvas, Fronteira, Gavião, Marvão, Monforte, Nisa, Ponte de Sor, Portalegre e Sousel juntaram-se na CIMAA (Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo), para promover o Projeto do Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato, com os seguintes componentes:
• Barragem do Pisão (infraestrutura central do Projeto).
• Infraestruturas de regadio de cerca de 5000 ha.
• Reforço do abastecimento de água às populações servidas pela ETA da Póvoa.
• Produção de energia hidroelétrica no pé da barragem, mediante uma central hidroelétrica que aproveita os caudais sobrantes (0,5 MW).
• Produção de energia mediante uma central de painéis solares, parte flutuantes (10 MW) e parte terrestres (140 MW).
A barragem de aterro terá 54 m de altura máxima acima da fundação e será implantada na ribeira da Seda (afluente do Sorraia), dominando uma bacia hidrográfica com aproximadamente 245 Km2. A albufeira criada pela barragem terá 110 Mm3 de armazenamento útil e inundará uma área máxima de 726 ha.
O Projeto de Execução da barragem foi recentemente concluído pela TPF, em consórcio com a AQUALOGUS, e obteve Declaração de Impacte Ambiental favorável.
Trata-se de um investimento vultoso, que se torna possível graças ao PRR e que, graças também a esse programa, teve agora avanços significativos em tempo record, depois de anos e anos de indecisão, obstrução e protelamento.
Mesmo assim, ainda há forças que continuam apostadas em impedir a realização do projeto, alegando razões “ambientais”. Enfim! Mais do mesmo!
Estou confiante que, desta vez, o projeto vingará, para bem do Alto Alentejo e do país em geral, mas não há dúvida de que a realização de investimentos estruturantes em Portugal tende a ser penosa e exige muita coragem e determinação por parte dos seus proponentes, nem sempre bem-sucedidos.
Se o Projeto do Aproveitamento Hidráulico de Fins Múltiplos do Crato se tornar uma realidade, será, acima de tudo, porque um conjunto de municípios se decidiu unir na CIMAA e lutar resolutamente pelo desenvolvimento económico e social dos seus territórios.