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“A nossa estratégia é a longo prazo, a pensar na próxima década”

Bobby O’Reilly, cofundador e sales & marketing director da Dynasty Homes, é o rosto da promotora em Portugal. Ao CONSTRUIR, falou sobre os próximos investimentos, as novas localizações onde estão a apostar, mas também, sobre o difícil caminho que o nosso País atravessa em termos de estabilidade política e legislativa. Além dos custos de construção… Continue reading “A nossa estratégia é a longo prazo, a pensar na próxima década”

Cidália Lopes
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“A nossa estratégia é a longo prazo, a pensar na próxima década”

Bobby O’Reilly, cofundador e sales & marketing director da Dynasty Homes, é o rosto da promotora em Portugal. Ao CONSTRUIR, falou sobre os próximos investimentos, as novas localizações onde estão a apostar, mas também, sobre o difícil caminho que o nosso País atravessa em termos de estabilidade política e legislativa. Além dos custos de construção… Continue reading “A nossa estratégia é a longo prazo, a pensar na próxima década”

Cidália Lopes
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Bobby O’Reilly, cofundador e sales & marketing director da Dynasty Homes, é o rosto da promotora em Portugal. Ao CONSTRUIR, falou sobre os próximos investimentos, as novas localizações onde estão a apostar, mas também, sobre o difícil caminho que o nosso País atravessa em termos de estabilidade política e legislativa. Além dos custos de construção e impostos elevados, o responsável receia que as recentes políticas nacionais possam assustar os investidores e levá-los a direccionar os seus projectos para outros países.

O empreendimento ‘Herdade do Meio’ é o primeiro investimento de maior dimensão em Portugal. Porque a aposta neste tipo de produto e porquê a escolha deste local?

Até agora, é o nosso maior investimento. É um produto diferenciado, pelo número de soluções inovadoras que aplica, como a qualidade dos materiais ou o sistema KNX, neste caso, o protocolo mundial para todas as aplicações de controlo de residências e edifícios. Sem esquecer a implementação de conceitos de eficiência energética, algo que o mercado exige cada vez mais, e que visa a produção de electricidade através de painéis solares e a integração de baterias acumuladoras, com o objectivo de realmente aproveitar a energia produzida.

Sentimos que a dimensão da Herdade do Meio responde àquilo que desejamos. Já estamos em Portugal há algum tempo e temos desenvolvido projectos mais pequenos. Mas aqui encontramo-nos em posição de fazer algo que vai mais ao encontro das nossas expectativas, por exemplo, através da criação de zonas de lazer ou áreas com dimensões superiores, nomeadamente, nas caves e garagens.

Por outro lado, acreditamos que esta é a localização perfeita. Desde logo, pela sua centralidade, por estar próximo da estação de comboios e de Lisboa. Mas também por ser uma ligação que não se cinge à cidade, pois está a apenas 10 minutos da praia. É também uma zona tranquila, próxima de escolas, supermercados e espaços comerciais. E, refira-se, em Portugal não é fácil encontrar uma localização com este perfil, já com um plano municipal para o espaço que não exija estarmos à espera mais de três anos.

Anunciaram outros dois novos projetos muito perto da ‘Herdade do Meio’. Trata-se também de empreendimentos pensados para o segmento alto?

Os próximos dois projectos serão reconhecidos pelos seus acabamentos de alto nível, com elevados índices de eficiência energética. E falo de um produto que não existe na área.

Acredito que quem queira viver nestas localizações, pelo seu valor de mercado e pelo perfil de construção, com um standard mais elevado, procure as nossas ofertas. O projecto na Aroeira divide-se em dois lotes. O primeiro, com um total de 7.800 m2 e um investimento de sete milhões de euros, integra 12 moradias geminadas e uma individual, as quais incluem cave piscina privada e jardim, sistema de casa inteligente. Pretendemos iniciar a construção e venda a partir de Outubro deste ano.

Já o segundo lote, num terreno de 5.050 m2, exige um investimento de 5 milhões de euros, em 8 moradias, todas geminadas, com 160 m2, cada. Tal como no outro lote, inclui cave, piscina privada e jardim, para além do sistema casa inteligente, e iniciará a respetiva edificação em Outubro.

Gostaríamos muito de apostar em habitações com preços a partir dos 350 mil euros. Mas o Governo também terá que dar sinais nesse sentido, através de incentivos ao sector. Ao aumentar os impostos, o IVA e os custos da construção, o Estado está a incrementar uma espiral inflaccionista no mercado

Anunciaram um montante de 82 M€ de investimentos em Portugal. Sendo que a ‘Herdade do Meio’ e os outros dois anunciados totalizam cerca de 42 M€ há ainda um valor considerável previsto para outros projetos. Quais as principais apostas da Dynasty Homes para os próximos anos?

O valor que aponta refere-se apenas ao que já temos em pipeline, entre lotes, apartamentos e prédios, seja em Lisboa, seja na Margem Sul. Além da Herdade do Meio e da Aroeira, por exemplo, em Lisboa, estamos a renovar um edifício na zona de S. Bento, que integra 11 apartamentos, num mix entre estúdios e apartamentos de um quarto. Já no Pátio do Tijolo encontramo-nos a trabalhar num edifício clássico, com oito apartamentos. Na Margem Sul destaco, ainda, uma casa que se encontra em fase de renovação, a Aroeira Beach & Golf Villa, com três pisos, um espaçoso piso térreo aberto no interior e jardim envolvente.

A curto prazo, temos em mente apostar na zona do Seixal, numa localização, uma vez mais, com boas acessibilidades, constituída por 127 villas e cerca de 200 apartamentos. Também estamos à procura de espaços com características similares em Fernão Ferro.

E além de Lisboa e margem sul que outras localizações poderão suscitar interesse?

Estamos interessados em analisar todas as zonas que façam sentido. Adoramos Lisboa e a Margem Sul, mas estamos abertos a outras zonas.

Porém, na verdade, ainda não pesquisámos a fundo a Margem Norte. Isto, pois os valores de construção são mais elevados, com repercussões nos preços das habitações. O que leva a que as localizações onde nos encontramos actualmente sejam mais interessantes para investidores como nós, que queremos construir habitações com determinadas características e valores que possam ir ao encontro de determinado perfil.

Por exemplo, estamos agora especialmente atentos a alguns locais do concelho do Montijo, com o objectivo de respondermos a várias exigências do mercado nacional. Desde apartamentos a villas, a qualidade é fundamental para os projectos da Dynasty Homes, bem como a implementação de soluções de eficiência energética, numa óptica da maior rentabilidade possível para os compradores.

Sentimos que a dimensão da Herdade do Meio responde àquilo que desejamos. Aqui encontramo-nos em posição de fazer algo que vai mais ao encontro das nossas expectativas, por exemplo, através da criação de zonas de lazer ou áreas com dimensões superiores, nomeadamente, nas caves e garagens

Gostaria ou ponderam apostar, também, em projetos para outros segmentos, nomeadamente, para a chamada classe média, sendo um tipo de habitação com muita procura também?

Gostaríamos muito de apostar em habitações com preços a partir dos 350 mil euros. Mas o Governo também terá que dar sinais nesse sentido, através de incentivos ao sector. Por aquilo que verificamos, ao aumentar os impostos, o IVA e os custos da construção, o Estado está a incrementar uma espiral inflacionista no mercado, com as consequências que daí advêm.

Há que criar condições para que as pessoas adquiram casas. Claro que não é obrigar os bancos a dar empréstimos, antes a criar programas que facilitem todo o processo. Na Irlanda, por exemplo, estão a ser desenvolvidos incentivos que visam a diminuição dos impostos no decorrer da construção das casas, o que resulta em melhores oportunidades de aquisição junto dos compradores finais.

Em Portugal, os custos de construção e os impostos são elevadíssimos, o que torna quase impossível dinamizar o mercado local. Nesse sentido, os municípios também podem ajudar. Quando falam com os construtores e investidores, podem colocar em cima da mesa as suas necessidades, podem identificar zonas estratégicas para integrar no mercado de habitação. Têm muitas propriedades municipais, para as quais necessitam de um plano. Então, pode-se lançar uma parceria, na qual, os concelhos têm o espaço, enquanto os promotores constroem nesse espaço, com a possibilidade de vender a um determinado preço.

Não faltam ideias, e as pessoas, se se sentarem à mesa, poderão falar sobre isso. Actualmente, todos tentam atirar as culpar para outros, ao invés de encontrar soluções.

Portugal está em competição com Espanha, Grécia, Chipre ou Malta, outros países vistos como espaços de crescimento dentro do cenário europeu. E, estejamos cientes disso, eles preocupam-se acima de tudo em saber onde é que o seu dinheiro estará mais seguro. E as últimas medidas políticas assustaram-nos. Estão a desincentivar os grandes investidores a apostar em Portugal, em detrimento de outros locais

De que forma a instabilidade legislativa e as novas medidas anunciadas para a habitação poderão refletir-se ou levar a alterar a vossa estratégia em Portugal?

A nossa estratégia é a longo prazo, a pensar na próxima década. Mas tememos que, nos próximos dois anos, as medidas políticas deste Governo assustem investidores, com o inevitável aumento dos valores de mercado em algumas áreas. E quem sofrerá serão as pessoas, não esses investidores, que irão para outro sítio.

Portugal está em competição com Espanha, Grécia, Chipre ou Malta, outros países vistos como espaços de crescimento dentro do cenário europeu. E, estejamos cientes disso, eles preocupam-se acima de tudo em saber onde é que o seu dinheiro estará mais seguro.

E as últimas medidas políticas assustaram-nos. Estão a desincentivar os grandes investidores a apostar em Portugal, em detrimento de outros locais. Aquilo que mais procuram é estabilidade política, bem como um pensamento estruturado quanto ao seu papel no país. Actualmente, o que se verifica é que ninguém sabe o que fazer, com resultados muito maus. Ainda esta semana uma empresa anunciou que vai deixar cair um projecto de 495 milhões de euros, com a perda de 550 empresas, em face dos recentes anúncios. E acho que esta é só a ponta do icebergue.

Há uma tendência crescente na integração da construção modular ou de madeira em muitos projetos, em parte para ‘acelerar’ o tempo de obra e de forma a minimizar o impacto da mesma no local. Como encaram esta possibilidade nos vossos empreendimentos?

Procuramos conjugar o tradicional betão com a construção modular. Em todos os nossos projectos apresentamos as melhores e mais sustentáveis soluções. Por isso, sim, estamos sempre abertos a investir em novas soluções.

Mas tudo depende dos custos. Actualmente, a logística e o fornecimento passam por um período difícil em qualquer parte do mundo. Assim, temos de estar certos do que podemos realmente entregar, ao invés de tentarmos reformular conceitos, sem totais garantias. Ou seja, damos prioridade à preparação de um plano de construção que possamos cumprir, com o nosso estilo tradicional de cimento com módulos. No entanto, saliento não fechamos a porta a novas soluções.

Sobre o autorCidália Lopes

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Miguel Souza, Adriana Scartatis e Tiago Rodrigues

Arquitectura

A “vila criativa” que explora o potencial do metaverso

Fundado pelo empresário português, Paulo André, e a artista e empresária brasileira, Adriana Scartaris, o Coletivo 284 é o denominador comum da parceria responsável pela criação do “284 Village”, um projecto co-desenvolvido em consórcio com a Ambits e Metaphoric e teve na génese a criação de um espaço que fosse familiar, mas com algum “design”

Cidália Lopes

No “284 Village”, além do espaço “284 Meta”, que é o ponto de partida da imersão e funciona como o centro de cultura, grandes eventos, exposições e congressos, já estão instaladas as empresas titulares Ambits Arquitetura e Metaphoric, responsáveis pela concepção arquitectónica e pela implantação técnica do projecto. Somam-se as empresas Madremedia, a P55, a Traços Interiores e o artista David Reis Pinto. Cada qual tem o seu espaço onde apresenta as suas valências, produtos ou serviços, sempre numa lógica de interacção e evolução contínua.

O “284 Village” resulta também da reflexão e implementação de iniciativas por parte do Coletivo 284 em torno da inovação e de uma visão partilhada sobre o papel da arte, do património artístico e da cultura na vida das empresas e organizações e enquanto pilar de desenvolvimento económico e social.

Numa entrevista a “três vozes”, os responsáveis pelo projecto explicaram ao CONSTRUIR a importância deste tipo de abordagem e de que forma o metaverso possibilita o crescimento das empresas

Como surgiu a ideia e a necessidade de criar este projecto?

Adriana Scartaris (AS)- Há dois anos que venho a investigar as possibilidades de criar um projecto com as características que agora se revelam. Era imperativo alargar o âmbito de acção da empresa 284, tal como se costuma dizer no Brasil, “escalar”, dentro do universo empresarial. É impossível conceber a escalada de um projecto, de uma empresa ou de um conceito, sem uma presença consistente no mundo digital. O metaverso representa um terreno novo e fértil e isso é profundamente motivador, uma vez que a inovação está enraizada no nosso ADN e é um dos nossos pilares. Contudo, o espaço virtual não poderia ser apenas um espaço para o 284. Tínhamos de reproduzir o nosso lema “Se queres ir rápido, vai sozinho; se queres ir longe, vai em grupo”. Por isso, a ideia evoluiu para uma vila criativa. A excelente notícia é que, no metaverso, podemos ir longe e rápido em grupo.

Miguel Souza (MS) – A ideia foi o resultado evolutivo de vários encontros entre as três partes criadoras do projecto. Inicialmente, a primeira ideia era ter apenas o espaço do ‘Coletivo 284’ representado no mundo digital, mas facilmente percebeu-se que era possível expandir essa ideia e criar algo inovador e único em Portugal. Percebeu-se que era uma oportunidade não só para nós como autores do projecto, mas também para os futuros envolvidos no projecto, termos a possibilidade de ter um espaço acessível e imersivo que está disponível 24 horas, isto permite tanto a grandes empresas como novos artistas de partilharem o mesmo espaço e dar conhecimento e visão dos seus trabalhos e produtos. Não pretendemos com o projecto substituir a experiência física, mas sim criar uma extensão do mundo físico para o mundo digital e estes coexistirem em harmonia.

Tiago Rodrigues (TR) – A ideia surgiu devido ao sucesso dos eventos no ‘Coletivo 284’. Ver artistas a interagir com potenciais clientes e a passar a mensagem das suas obras aos mesmo, motivou-nos a criar algo parecido em formato digital. Apesar de nunca ir substituir a experiência real, esta dá a oportunidade, de forma semelhante, ao artista de estar a vender uma obra a um potencial comprador, à distância, mantendo o factor humano activo, ao contrário de uma página de internet.

Além das empresas que constam no ‘284 Village’ têm como objetivo aumentar a ‘aldeia’ com mais empresas? Qual o objetivo?

AS – Com efeito, temos objectivos ambiciosos e dedicamo-nos a superá-los antecipadamente. O ‘284 Village’ surge com grande potencial para se tornar um espaço altamente produtivo, repleto de partilha de informações, activação de marcas, exposições de arte, eventos culturais, sinergias e oportunidades para a economia criativa. Além disso, estamos a trazer muitas empresas, um processo já em curso e acelerado, e a preparar uma programação de grandes eventos culturais e artísticos, que terão lugar a partir do segundo semestre e ocuparão todo o espaço do Village.

MS – Pretendemos criar uma comunidade criativa e empreendedora, onde é possível expor trabalhos, produtos e arte com maior facilidade e com menor logística que seria no mundo físico. Não só é interessante para os potenciais clientes/curiosos terem tudo num só espaço, também o é para quem reside na vila. Os participantes da ‘284 Village’ podem estabelecer novos contactos aumentando o seu networking, criar novas perspectivas de negócios através de outros residentes e aumentar a sua exposição e alcance do seu trabalho/produto.

TR – Somos três empresas a desenvolver este projecto com o mesmo foco. Tornar este espaço vivo, prático e ir aumento consoante a necessidade. Apesar de o centro ser focado em arte, idealmente no futuro o objectivo será ter várias indústrias de forma a gerar visualização para todo o tipo de empresas. Sendo que, se uma empresa de construção convidar um cliente a ir ao local, durante a deslocação, o cliente pudera ver outras lojas/empresas de diferentes indústrias e visitar as mesmas.

Falam num espaço “familiar”, mas que tem por base a “identidade 284”. De que forma esta identidade se torna perceptível?

AS – A nossa essência está presente em cada pormenor. A partilha é um valor que começa por estar inscrito no ‘284 Village’, situado em pleno Oceano, o que sugere o que se “vive” por lá. É possível passear pelas ruas, sentar num dos bancos sob uma árvore e realizar uma reunião, ao som do mar e das gaivotas. A sensação é profundamente agradável e reconfortante. A geometria que envolve todo o projecto é circular, e o círculo, na minha opinião, é a forma mais perfeita, pois todos os pontos são equidistantes do centro. Basta percorrer o ‘284 Village’ para sentir-se em casa, num ambiente acolhedor e amistoso. Esta é a essência do 284.

MS – A identidade 284 está ligada à essência do que é o ‘Coletivo 284’. Um espaço alternativo que se distingue pela diferença de como funciona uma galeria e a sua relação com os artistas e empresas. Houve uma preocupação de transpor essa identidade no espaço físico e no 284 Village de modo a ambos os espaços reflectirem essa identidade.

TR – Facilmente o projecto é identificado como o Coletivo 284, sendo que ao entrar no espaço irá sempre iniciar na galeria, que contem o nome em grande do 284, bem como as obras, e adicionalmente, serão feitos eventos ao vivo dentro do espaço com anúncios ao 284.

A arquitectura é provavelmente uma das indústrias que beneficiará mais em projectos de metaverso, porque permite ao cliente/investidor/empresa, experienciar o projecto final, escolher materiais com um simples toque e estar no local com um equipamento de realidade virtual, dando a sensação de espaço real e tudo isto acompanhado por uma ou várias pessoas” (Tiago Rodrigues, CEO da Metaphoric, responsável técnico pelo projecto)

Do ponto de vista da arquitectura como pode esta disciplina tirar partido desta ferramenta?

AS – Na minha perspectiva, a arquitectura, assim como as artes e o design de interiores, revelam-se como importantes vantagens desta tecnologia. No metaverso, é possível transcender as expectativas e proporcionar uma experiência quase realista, permitindo antever as sensações que o cliente irá experienciar ao habitar o espaço. O potencial de maximizar projectos arquitectónicos através de experiências no metaverso é, sem dúvida, uma revolução para a área. A possibilidade de atingir um índice de percepção do projecto muito próximo dos 100%, algo que outras ferramentas não permitem, é realmente notável. Os utilizadores podem imergir no espaço e descobrir como se sentem, antes mesmo de este ser construído, o que é extraordinário. Além disso, esta tecnologia abre novas oportunidades de negócios para profissionais da arquitectura, construtoras e outros intervenientes no sector.

MS – Em arquitectura é uma ferramenta que já está a ser usada entre arquitectos e clientes, onde os mesmos poderão experienciar os seus projectos de uma forma imersiva e ter uma maior noção da sua escala, volumetria, materiais e espaço antes de serem construídos. Esta ferramenta permite testar opções e fazer alterações em real-time no 3D, de modo a encontrar a solução ideal para o cliente, que, por conseguinte, acaba por tornar o processo entre arquitectos e clientes mais imersivo e colaborativo.

TR – A arquitectura é provavelmente uma das indústrias que beneficiará mais em projectos de metaverso, porque permite ao cliente/investidor/empresa, experienciar o projecto final, escolher materiais com um simples toque e estar no local com um equipamento de realidade virtual, dando a sensação de espaço real e tudo isto acompanhado por uma ou varias pessoas.

 

Pode esta ser uma forma de fomentar o crescimento de algumas empresas que de outra forma não o conseguiriam fazer?

AS – De facto, acredito que a entrada no metaverso traz inúmeras vantagens para a empresa, entre elas a oportunidade de consolidar a presença da marca em um ambiente virtual que perdura além das fronteiras físicas. A possibilidade de actuar em diferentes mercados simultaneamente, sem se preocupar com questões geográficas, amplia as oportunidades de negócio e de expansão da marca.

Além disso, estar no metaverso permite a criação de um vínculo mais próximo com os consumidores do futuro, influenciando o comportamento de consumo e moldando a visão de mundo desses potenciais clientes. É uma forma de preparar-se para o futuro, criando um público fiel que estará sempre presente nas iniciativas da empresa, seja no mundo físico ou virtual.

Assim, acredito que a inserção da empresa no metaverso é uma estratégia inteligente e eficaz para garantir a perenidade do negócio, pois ao criar novos modelos de negócio e interagir com o público de forma inovadora, estaremos a consolidarmo-nos como líderes de mercado e referência no sector em que actuamos.

 MS – Esta foi uma das principais razões para a criação deste projecto. O ‘284 Village’ permite fortalecer, e noutros casos aumentar, a exposição e alcance de empresas, marcas e artistas. Um artista que se tenha lançado há relativamente pouco tempo pode ter um espaço dentro do ‘284 Village’ e encaminhar futuros clientes para verem as suas obras e até apresentar amostras de futuros trabalhos. Uma marca, por exemplo, de mobiliário, pode lançar a sua nova colecção no espaço onde se poderá ver todas as peças em 3D e as opções disponíveis. Os residentes desta comunidade poderão ver o seu trabalho a ser exposto de uma forma única, imersiva e inovadora que aliando à realização de concursos, exposições, eventos e publicidade, aumentar a exposição e alcance desse mesmo trabalho.

TR – Sem duvida! E dou um exemplo: Se eu sou convidado por uma empresa construtora a visitar o seu espaço na ‘284 Village’, pelo caminho, eu posso passar por uma loja de automóveis e necessitar de um, acabando por visitar a mesma ou passar por um anúncio de take-away e aceder ao serviço, sendo que nenhum destes eram objectivos da minha adesão ao espaço. Conseguimos assim chamar a atenção de vários clientes para os diferentes tipos de negócios.

Sobre o autorCidália Lopes

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Diogo Pinto Gonçalves, ceo da Westport International

Imobiliário

“O que saiu deste pacote ‘Mais Habitação’ foi um pacote ‘Menos Habitação’”

Com uma mão cheia de projectos imobiliários, entre os que estão lançados e os que vão iniciar, e outros tantos em análise, Diogo Pinto Gonçalves, CEO da Westport International lança duras críticas ao programa lançado pelo Governo, não obstante a promotora mantém a intenção de reforçar o investimento no país, ainda que vá dirigi-lo para outras geografias que não Lisboa

Em entrevista ao CONSTRUIR o responsável da Westport Internacional teceu duras críticas ao Governo e ao programa “Mais Habitação”, o qual classifica de “verdadeiro desastre”. “Considero mesmo uma vergonha! E não tenho qualquer receio de o dizer”, diz. Para o empresário, uma vez mais, os governos demonstram uma incapacidade total de resolver os problemas, e agravam-nos ainda mais ao tomarem decisões sem ouvir quem efectivamente está no terreno”. Apesar das críticas, a promotora está a analisar novos investimento, em Lisboa, Melides e Cascais, “projectos de maior dimensão, com mais massa critica”

Que projectos imobiliários está a desenvolver neste momento? E o que pensam lançar nos próximos tempos?

Terminámos o Solar de Santana, estamos a terminar o Alvares Cabral 27 (AC27), que foi também um sucesso em termos comerciais e ficará concluído em Julho. Estamos a preparar o projecto da Vieira da Silva, em Alcântara (Lisboa) e o Frederico Arouca (em Cascais). São ambos projectos de habitação, de reabilitação de imoveis obsoletos, e que acreditamos virem a ser projectos importantes na regeneração dos bairros onde se inserem.

A conjuntura que se viveu nos últimos dois anos provocou alterações no plano de investimento traçado então?

Efectivamente a pandemia, e depois a guerra da Ucrânia, fizeram atrasar estes projectos. Não só pelo atraso no seu licenciamento, como também, com a escalada de preços, pela necessidade de esperar pela estabilização dos custos de construção.

A Guerra da Ucrânia trouxe aos projectos um novo paradigma de custos, e fomos forçados a revê-los e a esperar que houvesse uma estabilização dos preços para que fosse possível lança-los para o mercado. O da AC 27 já estava em fase avançada e foi lançado, não obstante o custo ser mais elevado do que tínhamos no nosso business plan. Os demais, ficaram a ser revistos e a aguardar melhores dias. No caso da Vieira da Silva, como já referido, estamos agora em fase de concurso de construção, para o lançarmos para o mercado no 3º trimestre deste ano.

Concentram a vossa atenção em Lisboa ou pensam alargar a vossa área de actuação e com diversificação de produtos/segmentos?

Mantemos a estratégia de produto, mas alargada agora na sua área de actuação. Queremos continuar a desenvolver projectos de qualidade, para uma gama alta e média/alta de mercado. O mercado está muito activo nestes segmentos, quer o nacional quer o internacional. Infelizmente é difícil em Portugal, quer pela demora nos licenciamentos quer pela carga fiscal ou ainda pelo preço dos terrenos, acrescido do aumento das taxas de juro, desenvolver projectos noutros segmentos de mercado que estejam dependentes de crédito à habitação.

Mantemos, por isso, o segmento de mercado onde temos vindo a trabalhar, alargando, no entanto, o espectro geográfico. O mercado tem vindo a crescer para outras geografias, e nós estamos naturalmente a acompanhar esses movimentos.

Por outro lado, a cidade de Lisboa, onde temos trabalhado, está muito saturada e o processo de licenciamento é muito demorado, pelo que estamos a alargar as nossas áreas de procura, na região de Lisboa, nomeadamente Cascais, Estoril, Oeiras, etc. Uma vez estabilizados os projectos nesta região, olharemos para o Algarve, para a Costa Alentejana e para o Porto, sempre que haja oportunidades que se enquadrem na nossa estratégia de desenvolvimento.

Queremos continuar a desenvolver projectos de qualidade, para uma gama alta e média/alta de mercado. Infelizmente é difícil em Portugal, quer pela demora nos licenciamentos quer pela carga fiscal ou ainda pelo preço dos terrenos, acrescido do aumento das taxas de juro, desenvolver projectos noutros segmentos de mercado que estejam dependentes de crédito à habitação

Estes novos cenários obrigam a repensar estratégias e o plano de investimento para este mercado?

O mercado está sempre a evoluir e em mutação constante. Temos por isso que estar atentos às alterações. O aumento das taxas de juro, o aumento dos custos de construção, as exigências ambientais ou alterações de programa Golden Visa, obrigam-nos a estar atentos e a ir adaptando a cada momento os business plan. Estes são cada vez mais dinâmicos, em função da rapidez com que o mercado vai mudando e das alterações políticas que vamos vivendo. Mas mantendo sempre a linha de orientação: projectos que acrescentem valor às cidades, e que mantenham um cunho de sustentabilidade, para bem da sociedade.

Como vê as recentes alterações na política de Habitação em Portugal? E que impacto estas têm na atractividade do mercado?

A bom rigor, um verdadeiro desastre! Considero mesmo uma vergonha! E não tenho qualquer receio de o dizer. Mais uma vez, os governos demonstram uma incapacidade total de resolver os problemas, e agravam-nos ainda mais. Tomam decisões sem ouvir quem efectivamente está no terreno. Deveríamos estar todos do mesmo lado, Governo e agentes do mercado, a concorrer para o mesmo desígnio nacional. Infelizmente o Governo, reconhecendo o mesmo problema, foi fazer o contrário do que deve ser feito.

A resolução dos problemas da habitação passa por intervir na oferta, e não na procura. O que saiu deste pacote “Mais Habitação” foi um pacote “Menos Habitação”! Obras e arrendamentos coercivos; a morte anunciada do alojamento local, que muito tem feito pelo turismo; mais intervenção do estado, a comprar, a vender e a arrendar o que não é seu e a colocar um ónus nos municípios, sem os ouvir; acabar com os golden visa, que trouxeram à economia cerca de 6,9 biliões de euros de investimento nos últimos anos, sem contar com o investimento paralelo efectuado. Como é que o estado quer que os proprietários confiem nele, se o próprio estado não é confiável e muda regras a meio do jogo, penalizando mais uma vez os proprietários, que vão perder dinheiro com a limitação de aumento de rendas? Os proprietários não têm que fazer a função social do Estado. É mais um congelamento de rendas! São medidas não pensadas, efectuadas em cima do joelho. O Estado devia começar por olhar para o seu Património, mal gerido e ao abandono, e começar por aí. O problema é que o Estado gere mal tudo o que é seu.

Que alternativas propõe?

Há muito que reclamo, nomeadamente no fórum da Associação Portuguesa de Promotores e Investidores Imobiliários, várias medidas: disponibilização de solos; é necessário alterar a política de gestão que até agora tem vindo a ser desenvolvida criando mais solos urbanos nas periferias das grandes cidades. Sem terrenos para construir, não há construção.

Nos últimos 10 anos construímos apenas 20% da produção normal de habitação, pelo que agora não há produto. E, naturalmente, o pouco que há, pela escassez, torna-se caro.

É necessário facilitar a mobilidade e acessibilidade aos novos projectos a desenvolver nesses solos, para que se tornem vendáveis. É aqui que o Estado tem obrigação de intervir, concertado com os municípios.

É preciso que haja um choque fiscal na habitação. Não se justifica a quantidade de impostos que o imobiliário paga, mormente na habitação. É necessário acabar com o imposto de transacção, com o IMI, com o AIMI e reduzir o IVA a 6% (ou torná-lo dedutível). Na compra de uma habitação estão incluídos cerca de 40% a 50% de impostos, pelo que, com esta carga fiscal, não se consegue ter habitação mais acessível. A Habitação é o único sector que tem um imposto adicional. O AIMI. Não faz qualquer sentido.

É urgente a criação de um código do imobiliário, em substituição de cerca de 2000 leis, decretos-lei e regulamentos que existem em Portugal. A substituição de um RGEU de 1951 e de um RJUE, totalmente desajustados às necessidades da vida actual e à realidade dos métodos construtivos e da tecnologia existente, e que muito encarece o custo da habitação. Por cada ano de atraso no licenciamento, estimam-se cerca de 500€/m2 de aumento no custo da habitação. E com tanta lei e regulamento, alguns desajustados e desnecessários, não se consegue celeridade no licenciamento, ou em qualquer acto administrativo, nem se consegue o cumprimento de regras de sustentabilidade, tão desejadas para bem da humanidade.

Acabar com os Vistos Gold vai travar o investimento?

Acabar com os Vistos Gold, que representam uma ínfima parte das transacções, mas que directa e indirectamente, trouxeram a Portugal muito investimento, é um erro gravíssimo. Esta medida, ao contrário do que o governo entende, já está a travar o investimento em Portugal.

Sei de casos de pessoas que compraram casa em Portugal através do programa Golden Visa, e já investiram em hotéis, projectos de habitação ou fabricas, mais de mil milhões de euros, cada um. Que segurança damos a estes investidores com este tipo de políticas? Um desastre!

As medidas agora apresentadas, só nos vão trazer mais Estado, que por si só já é suficientemente ineficiente, e vão afastar o investimento de que tanto este país necessita.

Estas medidas não vão trazer mais habitação, a preços acessíveis, para o mercado. Vão sim, a médio prazo, trazer mais custos ao Estado, o que significará mais impostos e, consequentemente, mais pobreza. Confesso que estou triste com o país.

O que falta ao mercado imobiliário português?

Em primeiro lugar, falta visão estratégica de longo prazo. Andamos sempre a legislar como quem põe pensos rápidos para sarar o problema, em vez de olhar para os problemas de fundo, a longo prazo, e fazer pactos de regime para que o país possa crescer. O paradigma do investimento, quer seja imobiliário, quer seja de outra natureza qualquer, mudou. Hoje vivemos um mundo cada vez mais globalizado. Concorremos com muitos outros países do mundo, e somos comparados com os outros países, que dão maior segurança financeira, maior estabilidade legislativa, menos burocracia e maior retorno.

O que se segue no plano de investimento da Westport Internacional?

Para além dos projectos da Vieira da Silva, em Lisboa, e da Frederico Arouca em Cascais, que serão lançados em breve, estamos a analisar diversos projectos, em Lisboa, Melides e Cascais. Projectos de maior dimensão, com mais massa critica. Estamos em fase de análise, pelo que não é oportuno ainda estar a falar deles. Mas acredito que em breve poderemos vir anunciá-los.

Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

Manuela Sousa Guerreiro

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Zonas escritórios Lisboa (Fonte: JLL)

Imobiliário

Escritórios: ESG e sustentabilidade ‘ditam as regras’ para os próximos anos

Mercado de Lisboa abranda no primeiro trimestre de 2023, mas esta situação não é propriamente uma novidade para quem trabalha no sector, depois de um 2022 com um número recorde de pré-arrendamentos e que terá “inflacionado” os números de take-up. Além disso, não é de descartar, também, que o sentimento de insegurança económica que se vive possa influenciar no tempo de decisão das empresas. O CONSTRUIR foi tentar perceber junto das principais consultoras qual o retrato actual do mercado de escritórios e quais as principais tendências

Cidália Lopes

Tem sido um dos mercados mais dinâmicos dos últimos anos, não só pela elevada rotatividade que verifica, como pelas alterações nas tendências destes espaços, que se acentuaram com a pandemia de covid-19 e à qual os promotores rapidamente souberam responder. Num mercado onde nem sempre é possível adequar a oferta existente às exigências das empresas, a entrada de oferta nova no mercado é fundamental para manter níveis procura

No final do primeiro trimestre de 2023, o mercado de escritórios de Lisboa contabilizou um volume de absorção total de aproximadamente 20 mil metros quadrados (m2), revelando uma descida acentuada de 69% face ao período homólogo do ano 2022. Comparativamente, com a média dos primeiros trimestres dos últimos anos cinco anos, o resultado ficou igualmente 55% abaixo da média cifrada nos 43 mil m2.

Não obstante, o número de operações fechadas observou um aumento de 20% relativamente ao primeiro trimestre de 2022. Contudo, estas forma direccionadas para áreas de menor dimensão, com uma média por operação a rondar os 500 m2, o que se traduz num menor take-up.

Segundo Frederico Leitão de Sousa, head of Corporate Solutions da Savills Portugal, estes resultados “naturais e expectáveis” e que “devem ser analisadas com o devido enquadramento”. “A quebra mais acentuada deve ter em consideração a base comparativa que é bastante elevada, já que 2022 foi o ano dos pré-arrendamentos que inflacionaram ao longo de todos os trimestres o volume de absorção, colocando maior pressão nos números de 2023”, reforça.

Uma opinião partilhada, também, por António Almeida Ribeiro, director de AT&T Offices da CBRE, que destaca, contudo, os actuais “tempos de incerteza” devido ao aumento das taxas de juro e dos custos de energia.

“A crise das tecnológicas e dos bancos nos estados Unidos poderão ter impacto na Europa e nos respectivos desfechos”, refere.

Mariana Rosa, head of Markets Advisors da JLL

Edifícios com pouca iluminação, falta de preocupação com a sustentabilidade e baixo nível de conforto já não são considerados nas novas procuras por escritórios” (Mariana Rosa, head of Markets Advisory da JLL)

 

Já Mariana Rosa, head of Markets Advisory da JLL, recorda que este “desaceleramento” é transversal a várias cidades europeias, tais como Paris, Berlim e Londres e que, “historicamente”, o primeiro trimestre sempre apresentou baixa absorção. “E em anos de incertezas devido às decisões de redução de custos das empresas, já era esperado que houvesse menos actividade do que em anos anteriores”, afirma.

Também Bernardo Zammit e Vasconcelos, head of Agency da Worx, considera que o actual cenário era “expectável” dado que a área média em 2022 estava “inflacionada” por transacções de grande dimensão. “Este ano, a área média transaccionada deverá aproximar-se mais à realidade dos últimos anos, que ronda os 1100 m2. Ainda assim, antecipamos uma taxa de absorção superior à média dos últimos cinco anos”, indica.

Oferta para 2023 com mais de 60% de ocupação

Entretanto, o mercado está já a “sentir os efeitos do pipeline de projectos em desenvolvimento”. A maioria dos edifícios concluídos em 2022 (World Trade Center, EXEO, ALLO e DP11), foram arrendados através de negócios de pré-arrendamento. Da mesma forma, “os edifícios que serão finalizados este ano e nos próximos são vistos como soluções para as empresas que procuram escritórios e espera-se que sejam ocupados rapidamente”, indica Mariana Rosa.

Também a Worx antecipa que “praticamente a totalidade” do activos com entrega prevista ainda este ano já têm contratos de pré-arrendamento, o que demonstra “a capacidade do mercado em absorver produtos novos ou totalmente reabilitados”.

Antonio Almeida Ribeiro, director de A&T Offices da CBRE

Quem procurar um edifício novo ou reabilitado continuará com uma enorme limitação de opções, pelo que acreditamos que os pré-arrendamentos poderão ter um peso considerável na absorção total de 2023. Continuaremos indiscutivelmente com uma escassez de oferta de qualidade, os chamados edifícios de escritório grade A” (António Almeida Ribeiro, director de A&T Offices na CBRE)

Uma realidade que, de acordo com a CBRE, vai perpetuar a “escassez de oferta de qualidade”, na medida que “quem procurar um edifício novo ou reabilitado continuará com uma enorme limitação de opções, pelo que acreditamos que os pré-arrendamentos poderão ter um peso considerável na absorção total de 2023”. António Almeida Ribeiro ressalva, ainda, que “toda esta nova oferta está comprometida à excepção de um edifício de quatro mil m2 no CBD1 e de um projecto de 40 mil m2 na zona norte de Lisboa”.

Frederico Leitão de Sousa destaca, ainda, a necessidade de uma aposta numa reabilitação “profunda e pensada”, sobretudo do ponto de vista da sustentabilidade. “No centro da cidade é necessário repensar o existente de forma inteligente, preservar a nossa identidade, mas agora também com um olhar no futuro e nas metas de sustentabilidade que vamos todos, obrigatoriamente, ter de atingir no curto prazo”, acrescenta.

Zona 6 com maior área disponível

As zonas 3 (Nova Zona de Escritórios), que inclui áreas como a Praça de Espanha e a 2ª Circular, e a zona 6 (Corredor Oeste), ao longo da A5 Lisboa / Cascais, com 3794 m2 e 3729 m2, respectivamente, verificaram os volumes de absorção mais altos dos primeiros três meses do trimestre, ao contrário do que se verificou durante o ano de 2022, em que a zona do corredor oeste apresentou menos actividade.

Contudo, uma maior procura nesta zona também pode ser explicado pela necessidade das empresas precisarem responder a políticas internas de redução de custos, devido aos “preços mais competitivos que esta zona apresenta e à disponibilidade de produtos para uso”, indica Mariana Rosa.

Uma tendência que se irá acentuar, considera Bernardo Zammit e Vasconcelos, tendo em conta a “falta de oferta nas zonas mais centrais de Lisboa”, assim como pela esperada “descida da vacancy na Prime CBD e CBD”. “Há que ter em conta que também existe oferta de escritórios novos e de grande qualidade no Corredor Oeste, como, por exemplo, o World Trade Center, que podem, por si, motivar a mudança para instalações mais modernas e sustentáveis”.

Numa analise mais abrangente, Frederico Leitão de Sousa, refere que, ainda que a zona 6 conte com 167 mil m2 disponíveis, “a grande percentagem destes espaços são datados e não cumprem critérios básicos de eficiência”. Neste sentido, a oferta “real”, apta ao cumprimento dos actuais requisitos de ocupação das empresas, “é na verdade menor”. Ainda assim, “os valores de renda mais acessíveis face aos praticados noutras zonas da cidade justificam a elevada dinâmica de take-up”, indica o responsável da Savills.

 

Frederico Leitão Sousa, head of Corporate Solutions da Savills Portugal

Dos 114 mil m2 de novos espaços de escritórios previstos, mais de 60% já está pré-arrendado. “O que evidencia, não só a actual dinâmica do mercado, como a escassez de espaços de qualidade superior” (Frederico Leitão de Sousa, head of Corporate Solutions da Savills Portugal)

Oferta “desajustada”

Qualidade, sustentabilidade, conforto e inovação, assim como espaços amplos são os principais requisitos que estão na base da procura de escritórios actualmente. No entanto, verifica-se, ainda, “uma grande escassez de produtos com essa qualidade no mercado”, afirma Mariana Rosa.

Esta situação tem levado as empresas a fecharem negócios de pré-arrendamento, para garantir tanto a qualidade futuro do edifício, como a sua localização. Talvez por isso, dos 114 mil m2 de novos espaços de escritórios previstos, mais de 60% já está pré-arrendado. “O que evidencia, não só a actual dinâmica do mercado, como a escassez de espaços de qualidade superior”, indica, ainda, Frederico Leitão de Sousa.

Também António Almeida Ribeiro, acredita que a carência de “oferta nova e de qualidade” se irá manter durante ao ano de 2024., “levando a que muitas empresas adiem a sua mudança de escritórios”.

Já Bernardo Zammit e Vasconcelos antecipa que “a crescente preocupação com a sustentabilidade e respectivas certificações terão um papel decisivo nesta matéria pois vão elevar a fasquia da qualidade dos edifícios”.

Um caminho que se fará em dois sentidos. Por um lado, através da “reabilitação de edifícios existentes” no centro da cidade e, por outro, com edifícios totalmente novos, em particular nas zonas 5 (Parque das Nações) e 6 (Corredor Oeste).

 

Bernardo Zammit e Vasconcelos, head of Agency da Worx

Renovações e melhorias dos activos, dotando-os de infraestruturas mais modernas e eficientes, adequados aos critérios de certificações como a BREEAM ou a LEED” são o caminho para “manterem o seu activo comercialmente mais apelativo, assim como potenciar o upside na renda futura” (Bernardo Zammit e Vasconcelos, head of Agency da Worx)

Oportunidade para melhorar espaços

Com a deslocação das empresas de um espaço para outros, muitos serão os que ficarão vazios. Não obstante ser um processo do ciclo imobiliário normal, a procura existente ará com que estes espaços sejam novamente ocupados. “Há sempre empresas que procuram espaços mais acessíveis financeiramente ou apenas um espaço temporário para o arranque da sua actividade”, afirma Frederico Leitão de Sousa.

Por outro lado, esta dinâmica é, também, uma oportunidade para os proprietários investirem nos seus espaços. “Edifícios com pouca iluminação, falta de preocupação com a sustentabilidade e baixo nível de conforto já não são considerados nas novas procuras por escritórios”, refere Mariana Rosa.

Efectivamente, as actuais exigências dos edifícios assim o ditam. “Renovações e melhorias dos activos, dotando-os de infraestruturas mais modernas e eficientes, adequados aos critérios de certificações como a BREEAM ou a LEED” são o caminho para “manterem o seu activo comercialmente mais apelativo, assim como potenciar o upside na renda futura”, indica Bernardo Zammit e Vasconcelos.

Sobre o autorCidália Lopes

Cidália Lopes

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Construção

Central Park Oeiras com investimento de 350M€

Com o Plano de Pormenor do território quase concluído, o empreendimento da CSCEC – China Construction Portugal, sociedade de direito português integrada no Grupo liderado pela “China State Construction Engineering Corporation”, e da Teixeira Duarte, em Oeiras, deverá avançar ainda este ano. O empreendimento de uso misto – escritórios, residencial e comercial – denominado Central Park Oeiras irá nascer em Caxias e tem um investimento estimado de 350 milhões de euros

A parceria entre a construtora Teixeira Duarte e a CSCEC – China Construction Portugal, a sociedade de direito português integrada no Grupo liderado pela China State Construction Engineering Corporation, nasceu há quase quatro anos, quando a segunda adquiriu à construtora portuguesa 50% de uma participada do grupo Teixeira Duarte há muito detentora dos terrenos localizados na zona das Pedregueiras, em Caxias norte, no concelho de Oeiras. Na altura em comunicação ao mercado, o grupo português deixou já bem claro a intenção de desenvolvimento de um projecto imobiliário “A Teixeira Duarte informa sobre parceria com o Grupo “China State Construction Engineering Corporation” para desenvolvimento de projecto imobiliário, em Oeiras, através de venda de 50% de uma sua participada pelo montante de 31,1 milhões de euros. (…) O empreendimento será constituído por diversos edifícios de escritórios, habitação e comércio, integrados num grande parque verde, num modelo que se pretende que seja uma referência de inovação e sustentabilidade”, avançou na altura a construtora. Esta alienação teve um impacto nos resultados da “Teixeira Duarte, S.A.” de cerca de 22,2 milhões de euros, como reportou o Grupo.

Desde então o projecto tem estado em desenvolvimento à espera de que o Plano de Pormenor daquele território, que abrange um total de 42 hectares, esteja concluído. Ao CONSTRUIR fonte ligada ao processo sublinha que esse passo parece estar já ultrapassado, uma vez que o documento está pronto e deverá ser apresentado e discutido publicamente nos próximos meses, reunindo, assim as condições para o investimento avançar ainda este ano.

350 M€ numa nova centralidade
Com um investimento orçado em 350 milhões de euros, valor que consta na listagem de projectos em desenvolvimento da CSCEC, o Central Park Oeiras pretende criar uma nova centralidade num município que, ao longo das últimas duas décadas, tem conseguido atrair um conjunto de empresas internacionais com forte potencial de inovação tecnológica. E esse parece ser um dos desígnios do Central Park já que, de acordo com os termos de referência do Plano de Pormenor, 51% da área de construção, 115 833 m2, será destinada à instalação de actividades económicas, escritórios. Outros 49%, cerca de 111 290 m2, será para habitação (40%) e comércio/serviços (9%). O projecto, que abrange uma área total 420 600 m2, deverá reservar cerca de 20 a 25% da sua área, para uso municipal.

O conceito de “sustentável” assume-se também, desde a primeira hora, como uma referência para o projecto “enquanto potenciadora de cenários urbanísticos valorizadores do espaço urbano e que represente um contributo significativo face às estratégias de requalificação urbana que se pretendem introduzir na presente área de intervenção”.
“A diversificação e qualificação do sector dos serviços, associado ao incremento das acessibilidades permitem definir um quadro favorável à instalação de empresas e indústrias na área criativa, biotecnológica e de energias renováveis, que integradas, e em articulação com os restantes usos complementares, promovem o desenvolvimento da cidade sustentável”.

Ainda que a Teixeira Duarte dispense apresentações em Portugal, o seu parceiro chinês tem ainda uma presença tímida no mercado nacional, contrastando com o peso e dimensão do Grupo “China State Construction Engineering Corporation”, no palco internacional, sendo um dos dez maiores conglomerados de investimento e construção a nível mundial, (número 9 no ranking “Fortune Global 500” de 2022).

Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

Manuela Sousa Guerreiro

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Arquitectura

Aires Mateus assina futura estação do Metro em Alcântara

Das quatro novas estações de metro, previstas no plano de expansão da Linha Vermelha, em Lisboa, apenas a de Alcântara será em viaduto e à superfície. A sua construção prevê tornar-se um interface para futuras ligações ao LIOS e à futura estação de comboio do Alvito. Com um investimento total superior a 405 M€, cerca de 304 M€ corresponde a fundos europeus

Cidália Lopes

Além de integrar o Plano de Expansão da Linha Vermelha do Metropolitano de Lisboa, numa óptica de reorganização da mobilidade urbana e incrementar as alternativas ao automóvel, a localização escolhida para receber a estrutura à superfície da nova estação vai, também, alterar por completo a forma de aceder àquele local, assim como estabelecer uma nova ligação entre o bairro de Alcântara e o bairro do Alvito que, desde a construção da Ponte 25 de Abril, em 1966, se viram separados geograficamente.

Neste sentido, passa a existir apenas duas faixas de rodagem, uma no sentido descendente e outra no sentido ascendente apenas para transportes público, sendo que será criado um novo acesso ao bairro do Alvito, no mesmo sentido. O actual acesso pedonal que liga os dois bairros vai ser retirado e essa ligação será feita através de uma plataforma pedonal que passará por baixo da estrutura criada para receber a nova estação e que ficará à cota de superfície.

O corpo principal da estação – com implantação retangular de 120mx21,19m – apresenta-se alinhado no sentido nascente / poente e que irá permitir a ligação com toda a sua envolvente através da abertura de acessos exteriores.
O projecto é assinado pelo atelier Aires Mateus e sua construção terá uma duração prevista de 25 meses, cuja obras deverão dar início no final deste ano ou até ao primeiro trimestre de 2024. O investimento total é superior a 405 milhões de euros, dos quais cerca de 304 milhões de euros correspondem a fundos europeus

Viaduto recupera memória das estações antigas
O projecto pretende relacionar-se com a envolvente nas suas várias frentes, evocando a espacialidade iconográfica inerente às estações ferroviárias históricas do século XIX e início do século XX. A sua grande escala advém das limitações impostas pelas condicionantes urbanas e viárias, assim como das necessidades funcionais internas da estação. A estação encontra-se parcialmente enterrada, com os três pisos interiores ocultos pelo terreno e por uma grande concha de proteção.

“Será inevitavelmente um marco urbano excepcional na sua função, mas também na sua forma. No seu interior propõe-se um espaço amplo que recebe o tráfego das carruagens de metro, oferecendo a condição única de uma espacialidade generosa e de grandes dimensões”. A estrutura metálica que compõe os pisos interiores permite uma eventual adaptação e evolução programática futura.

Para o troço de linha compreendido entre a Estação e o Baluarte do Livramento é proposto um viaduto em treliça com secção de 9,70m x 6,30m e apoiado em quatro conjuntos de pilares. O viaduto proposto cumpre todas as definições técnicas de cotas e de traçados recebidas de projectos mais abrangentes na cidade.

“Uma vez que passará a fazer parte da paisagem urbana, pretende-se que o viaduto seja o mais transparente possível de forma a não introduzir mais informação e ruído ao contexto urbano. Consequentemente, é desenhado tendo como referência a ligeireza, adaptabilidade e rapidez de construção presente em viadutos históricos”, indica o atelier.

Ligação à futura LIOS e apeadeiro do Alvito
A implantação dos seus pilares foi cuidadosamente analisada de maneira a respeitar as diferentes condicionantes impostas: a situação existente, o traçado viário proposto, a possível rotunda de Alcântara, o subsolo – caneiro e via-férrea, e ainda a possibilidade de prolongamento do LIOS.
O interface desenvolve-se em três níveis: nível do cais ML à cota +15.85m, nível do átrio à cota +10.35m e nível do cais LIOS à cota +5.30m e é composta por um sistema de acessos verticais de ligação cais/átrio. A solução proposta permite que os dois níveis dos cais funcionem de forma independente, garantindo a possibilidade de fechar parcialmente a estação sem comprometer o seu funcionamento.

No piso 1 – Metro Lisboa – localizam-se os cais laterais de acesso ao veículo, com um comprimento de 116.40m. Os acessos ao cais situam-se nos topos e centro, existindo três escadas mecânicas, uma escada fixa e um elevador em cada cais. Sob o nível das plataformas dos cais ML haverá ainda um sub-cais destinado ao encaminhamento das infraestruturas.

O piso 0 – Átrio – permite ligar todos os acessos da estação, facilitando o atravessamento entre a encosta do Alvito, as zonas de Alcântara Sul e Alcântara Nascente. É também neste piso que é feita a distribuição dos acessos verticais ao cais do metro e cais do LIOS, através de escadas mecânicas, escadas fixas e dois conjuntos de elevadores. Neste nível estão localizadas as bilheteiras e máquinas de validação de bilhetes e constitui passagem obrigatória para todos os passageiros que pretendam aceder à plataforma do metro.

Por último, o piso -1 – LIOS – desenvolve-se em cais laterais com comprimento de 45m. Os acessos exteriores situam-se nos extremos e no centro e os acessos verticais para o átrio encontram-se ao centro e são compostos por uma escada mecânica, uma escada fixa e um elevador em cada cais. Uma vez que o LIOS apenas ocupa 45m dos 117m de comprimento do cais da Estação, o topo Poente é ocupado por dois volumes independentes que contêm as áreas técnicas necessárias para o funcionamento do Lios. Todas as áreas técnicas necessárias ao funcionamento do Metro encontram-se enterradas ao nível do cais do metro e do átrio no topo poente da estação. A Norte estão também enterradas as instalações de pessoal ML e pessoal externo, a sala de limpeza e sala de lixo com acesso direto a partir da zona não controlada do átrio.

Além da ligação ao LIOS, o novo interface vai também ligar ao Apeadeiro do Alvito, como primeira paragem da Fertagus na margem Norte. Esta estrutura foi pensada logo aquando da construção do comboio da Ponte mas nunca chegou a ser utilizada. A mesma será alvo de uma requalificação e construção das devidas infraestruturas para possa servir de ponto de ligação com a nova estação de Alcântara.

Demolição e valorização do espaço público
Durante a fase de construção do viaduto e túnel a guarita do Baluarte do Livramento será desmontada e posteriormente será recolocada. Esta medida deve-se à necessidade de garantir a integridade da guarita durante os trabalhos no interior e exterior do Baluarte. A memória dos edifícios que se propõem demolir na Rua da Costa e na Travessa do Livramento é mantida através da reconstrução das suas fachadas simplificadas e com diminuição das suas alturas e da representação no pavimento das paredes existentes.

Desta forma, “aproveita-se a oportunidade para criar novos espaços públicos encerráveis, através de gradeamento, e de carácter comunitário, cujo programa será definido pela CML nas próximas fases de projecto. Propõe-se ainda a criação de novas ligações pedonais, em colaboração com a CML, entre a cota alta e a cota baixa melhorando a fluidez, o arejamento e a acessibilidade desta área urbana”.

Consequentemente é desenhado um circuito urbano que interliga a cota superior da Calçada da Tapada, à cota do muro avançado do Baluarte, à cota intermédia da Tv. do Livramento e às cotas mais baixas da e Rua da Costa e Rua Maria Pia. Este projecto constitui uma oportunidade de transformação e requalificação das áreas abrangidas pela estação e viaduto, através do desenho de novos percursos viários e pedonais, da requalificação do Baluarte do Livramento e ainda da criação de zonas verdes e tratadas paisagisticamente.

Sobre o autorCidália Lopes

Cidália Lopes

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Arquitectura

“Vive-se hoje um novo paradigma da Arquitectura”

A sustentabilidade, a transição energética e a digitalização estão a mudar o paradigma da profissão. Quem o afirma é a arquitecta Marlene Roque, perita e formadora responsável na Ordem dos Arquitectos pelas áreas térmica e acústica. Apaixonada pela arquitectura bioclimática, não tem receio de apontar o dedo à classe para os muitos erros que continuamos a ver no edificado português. “Os muitos anos e as muitas horas de formação que já leccionei fazem-me crer, sem querer ofender ninguém, que há muitos arquitectos que se focaram no exercício do objecto, da estética e se foram despindo das outras áreas que compunham a ideia do arquitecto, do mestre arquitecto renascentista, que dominava tudo”, afirma

A sustentabilidade é cada vez mais um factor decisivo e a regulamentação que a exige está aí. Como é que estas alterações, que agora são obrigatórias, muda a Arquitectura?
Eu costumo dizer aos meus alunos que temos o privilégio de viver a mudança do paradigma do acto da profissão. Eu equiparo estas mudanças às mudanças que vivemos há uns 40 anos quando se abandonou o desenho feito em estirador, à mão, e passámos a usar o ‘rato’ e o computador para o fazer.
Estão a acontecer muitas coisas em paralelo. Desde logo, estamos em plena transição energética e isso espelha-se na nossa profissão, o que faz todo o sentido. Nós [arquitectos] somos os decisores, se construímos uma casa com um determinado sistema construtivo, com mais ou menor maior menor pegada carbónica, a emitir mais ou menos CO2, a decisão é nossa. Se a construção é pobre energeticamente, esta é, primeiramente, uma decisão do arquitecto. O que eu penso é que em Portugal nós não temos esta tradição, até pedagógica, de pensar o edifício como uma máquina que consome energia.

Este é, então, um problema de base, de formação?
Temos uma formação muito trabalhada pelos arquitectos da ‘velha-guarda’ de trabalhar o objecto como uma peça estética que se vai esculpir e polir. Mas a Arquitectura não é só arte. A Arquitectura é técnica e tecnologia. Este é o paradigma que temos de mudar. Temos que inverter este processo, que não tem que ser propriamente uma inversão, mas é repensar o edifício com esta matéria-prima, em vez de ser só a estética. Porque cada vez mais o conceito que o edifício é apenas um abrigo está a mudar. Já não é o abrigo do homem primitivo queremos que esse abrigo tenha Wi-Fi, conforto, queremos comer e que as refeições sejam feitas rapidamente… o nosso estilo de vida, as nossas necessidades vão além do conforto térmico, queremos tecnologia. E tudo isto obriga a um maior gasto de energia… e por enquanto continuamos muito dependentes da energia fóssil.

Como é que a arquitectura bioclimática pode fazer a diferença?
Quando o arquitecto que projecta o edifício dá mais importância a outras premissas, que não ao sol, ao vento, à humidade… Quando constrói e projecta da mesma forma seja para Faro ou para Bragança, seja para o Alasca ou para a Suécia, só por sorte é que o resultado é bom. Nos meus 16 anos como consultora e projectista em eficiência energética concluo que hoje a forma como se constrói, não é bem o resultado da globalização, mas queremos imitar o que se faz bem pelo resto da Europa e do mundo e esquecemo-nos do clima.
Tenho uma espécie de bíblia, e que é de facto a minha bíblia quando ensino e quando formo arquitectos, que é de um autor italiano que se chama “Projectar para o clima”, isso é a arquitectura bioclimática e isso é o que a União Europeia nos está a dizer, a todos os arquitectos, que temos que fazer obrigatoriamente.

O que é que se exige hoje ao Arquitecto?
O Arquitecto tem de ser um maestro de uma orquestra. Pode não saber tocar os instrumentos todos, mas tem de pôr aquilo a funcionar. Os muitos anos e as muitas horas de formação que já leccionei fazem-me crer, sem querer ofender ninguém, que há muitos arquitectos que se focaram no exercício do objecto, da estética e se foram despindo das outras áreas que compunham a ideia do arquitecto, do mestre arquitecto renascentista, que dominava tudo. Com a especialização foram abandonando essas componentes mais técnicas, até certo ponto tudo bem mas não ao ponto de não conseguirem espelhar a informação que lhes é fornecida pelos consultores e especialistas nos seus projectos. E isso os arquitectos não fazem.

E isso é culpa da formação… ou da falta dela?
Acho que em Portugal foi-se adquirindo esta ideia de que “isso é para o engenheiro pensar” e eu vejo este desinteresse dos alunos por tudo o que é esta componente mais técnica. Porquê? Porque eles vêm, de alguma maneira, já formatados para a ideia de que o objecto, o conceito, a ideia, isso é que é fazer arquitectura, mas isso já não chega e eles ainda não o estão a perceber. Acaba por ser um choque quando começam a actividade profissional num atelier e depois percebem que estão um pouco despidos de informação e acabam por fazer formações na Ordem dos Arquitectos ou noutros locais para se poderem munir dessas ferramentas.
Mas a legislação é clara é preciso saber projectar edifícios eficientes e os atelieres que o não souberem fazê-lo correm o risco de deixar de ser competitivos.

É isso que nos diz o Decreto-Lei 101-D, de 2020, que entrou em vigor em Julho último?

Esta legislação responsabiliza o arquitecto e os engenheiros autores de projecto das especialidades onde há recurso de energia a cumprirem os requisitos de eficiência energética, logo no início do processo de licenciamento camarário. isto um perito qualificado quando faz a avaliação do desempenho energético do edifício e não obtém uma classificação de que o edifício é bastante eficiente e se não demonstra que produz, pelo menos, 50% das necessidades de energia do edifício, então não há licenciamento camarário e em minha opinião muito bem.
Até aceito que aos arquitectos não queiram aprofundar estas questões, mas então têm de respeitar muito bem o seu consultor nesta área e espelhar os seus inputs nos projectos.

O impacto da digitalização
O que é que efectivamente muda na forma de pensar um projecto quando estamos a projectar para o clima?

Quando fazemos um primeiro esquisso e temos uma parcela de terreno e podemos implantá-lo A primeiro coisa a fazer é olhar ao sol e ao vento naquele local. Portanto é conhecer os dados climáticos do local e tem de se conhecer a humidade relativa do ar, que não é igual em Sintra ou em Beja ou, por exemplo, em Montalegre. Temos a influência das montanhas, dos rios, do mar, até a situação de vale ou uma altitude mais elevada, portanto o tema da humidade e que gera as patologias de que as pessoas depois se queixam, deriva de um desconhecimento, da falta de um olhar para esses parâmetros climáticos. Um exemplo máximo disto é casa Jacobs, projectada pelo arquitecto Frank Lloyd Wright há 100 anos.
Hoje pedem-nos para fazer isto, mas primeiro o arquitecto tem de conhecer bem os dados climáticos do local, tem que começar a desenhar as paredes, as coberturas, os pavimentos, aquilo que nós chamamos os sistemas opacos de acordo com a necessidade do local. Ou seja, se estou no Algarve o meu problema é o Verão, mas se estiver em Bragança o meu problema é o Inverno. E o que é que eu quero dizer com isto é olhar às temperaturas, é olhar a orientação dos ventos e aos níveis de humidade e, com esses dados, eu decido então a espessura do isolamento, que tipo de isolamento, se o coloco pelo interior ou exterior, se coloco preenchendo as duas camadas de um material que pode ser tijolo, betão, pedra, a posição do isolamento, em toda esta envolvente. E isto dá trabalho porque o arquitecto tem que conhecer física das construções, tem que conhecer os materiais e a sua performance.

As empresas de materiais de construção têm apresentado novidades nesse sentido e estão mais conscientes para as novas exigências…
Porque estão sob pressão de ter de produzir produto neutro em carbono. A indústria está a adaptar-se. Porque paralelamente temos os grandes consumidores – hospitais, centros comerciais, edifício de escritórios e outros – a apostarem na bandeira da certificação da sustentabilidade, seja por via do sistema americano LEED (Leadership in Energy & Environmental Design), ou pelo britânico BREEAM (Building Research Establishment).
Ainda neste contexto de mudança da indústria há um outro factor que irá acelerar a mudança que é o BIM e a legislação que está a ser preparada para tornar a sua utilização obrigatória.

Como é que o BIM e a digitalização da construção influenciam este processo?
O projecto de lei está em cima da mesa, em discussão, e prevê a obrigação de todo sistema que gera construção, desde arquitectos e engenheiros, ao empreiteiro, até ao gestor do edifício, ter de trabalhar com a ferramenta BIM. Em conjunto a digitalização e a transição energética estão, de facto, a mudar e muito o acto da profissão.

“É errada a noção que o NZEB é mais caro”
Como é que a Arquitectura Bioclimática se tornou central no trabalho que desenvolve?

Não foi ao acaso porque eu sou muito consciente do que faço, mas não foi planeado. Quando terminei o meu curso de arquitectura terminei com mérito e achei que não valia esse mérito muito honestamente.
Tive a vantagem de ter vivido em diferentes países por conta das opções profissionais dos meus pais o que me permitiu ir comparando. Tenho uma história gira que conta aos meus alunos. Quando era pequena dizia que gostava muito de vir a Portugal em Agosto porque vinha à praia, mas que a casa dos meus avós era fria no Inverno o que eu detestava. Os meus avós viviam em Óbidos e no Verão não entendia porque é que a minha avó tinha sempre a casa às escuras. A minha avó tinha um conhecimento que todas as nossas avós tinham daquilo que é viver os edifícios da arquitectura popular. Ela percebia que se fechasse as portadas na hora de maior calor, a casa era fresca, quando atirava um balde de água para o chão de baldosa de barro era para arrefecer e nós dormíamos a sesta e o chão não estava tão quente. Hoje valorizo isto. Tínhamos hábitos de utilização da casa que fomos perdendo e depois é o fruto da evolução da arquitectura. As paredes deixaram de ser estruturais e já podemos abrir mais vidro. O vidro é caro, então optamos por vidros menos eficientes e hoje temos um problema que as casas aquecem demais no Verão e depois temos que as arrefecer. Eu senti, terminada a licenciatura, que a arquitectura tinha de facto um papel a dizer, mas faltava-me perceber mais. Não conseguia desenhar, detalhar, sem saber o porquê das coisas então a minha opção foi trabalhar para uma construtora e fui trabalhar para a Mota Engil e posso dizer que chorei todos os dias do primeiro mês de trabalho.

Quando é que nasceu o seu atelier? E há algum projecto que a tenha marcado mais?
Tenho formalmente empresa desde 2010, mas desde 2003 que faço projectos. Hoje somos quatro arquitectas e em breve irá entra uma outra. É difícil escolher um projecto porque todos tiveram os seus desafios. Este último que foi apresentado há poucas semanas, localizado em Sintra foi bastante desafiante. O lote era muito pequenino, que tinha tudo para correr mal: orientado a norte, com edifício sul a fazer sombra localizado em Sintra com a particularidade de ficar localizado numa freguesia muito húmida e ventosa e, no entanto, conseguimos fazer. O Cliente também não tinha muito dinheiro e isso quebra desde logo um mito, não é preciso ter muito dinheiro para construir NZEB. O custo maior está nos equipamentos e não nos materiais. O estudo que apresentámos mostramos isso, mas podia a presentar o mesmo estudo em todos os projectos. Em média o investimento acrescido para torná-lo eficiente não representa mais que 10%, sendo que, e esta é a parte mais interessante, é amortizado ao fim de três a quatro anos, porque depois não tenho que gastar energia para repor os níveis de conforto. Passados esses três anos de amortização estamos a poupar dinheiro, não estamos a gastar dinheiro para manter estes níveis. Eu posso provar isto fazendo as contas de uma forma muito aberta e transparente. Isto é real e as pessoas sentem isto depois de viver nas suas casas e esse é o melhor feedback

Isso quebra um mito de que é caro ser eficiente, ser NZEB
E o mais interessante é que não se aplica apenas à construção nova, também o podemos fazer para os edifícios existentes. Temos em curso um projecto de umas ruínas em Óbidos e estamos a transformá-las numa casa que será altamente eficiente. As ruínas já lá estão implantadas no terreno, mas há formas de nós pensarmos o edifício para ir buscar o Sol para o proteger do vento, mesmo os edifícios existentes. Para isso acontecer é preciso fazer um estudo, o que acontece é que as pessoas saltam essa etapa e “auto medicam-se”, o que pode correr bastante mal. Se tomarmos em conta que o ciclo de vida de um edifício que pode ser bastante longo e durante esse tempo todo vai se estar a pagar energia basta fazer umas contas para se perceber que vamos estar a gastar muito mais do que se fizermos este esforço inicial. Há quem prefira investir em equipamentos ao invés da arquitectura passiva, o que é tão errado porque depois investem no equipamento e, o resto da vida, na energia para alimentar esse equipamento.

Lá fora, como é que se vive esta revolução?
Estamos a par do que está a acontecer em Itália onde o custo da electricidade e do gás triplicou. A pressão é grande, em especial no norte de Itália onde as temperaturas no Inverno são baixas. Os arquitectos estão a sentir esta pressão impressão para de facto pensar de uma forma diferente, à semelhança do que se passa na Europa do Norte. Espanha estão um pouquinho mais frente que nós, a França está noutro campeonato e na Alemanha já estão a exigir os 70% de produção de energia. Também é preciso ver que há muito mais financiamento e muito mais apoio a incentivar a sustentabilidade e a eficiência energética. Esse apoio existe em Portugal, mas é pouco e chego a muito poucos. Também por culpa dos arquitectos que fazem mal, e não informam os seus clientes ou potenciais clientes. É preciso tocar na ferida, os arquitectos não estão a fazer este papel, que eu até acho que é de cidadania. O arquitecto tem um código ético e deontológico e não devem esconder essa informação e deve usar o conhecimento para promover o conceito NZEB junto dos clientes, mas só o pode fazer se o souber e, portanto, o que eu acho é que ainda não sabe o suficiente.

Essa é uma crítica forte.
Que estou à vontade para a fazer. No trabalho de formação que tenho feito na Ordem, tenho esta noção, mas não critico por criticar. Partilho tudo o que tenho e gostaria muito que houvesse uma mudança porque quando isto acontecer vamos sentir o impacto. E aí vamos deixar de ter este discurso de pobreza energética em Portugal que a mim pessoalmente já me cansa ouvir. É preciso olhar para o copo meio cheio, fazer mais formação e queiramo-nos comparar aos alemães e não estar sempre a vender a imagem de “coitadinhos”. A desculpa do dinheiro não é desculpa porque eu consigo provar que o acréscimo no custo da obra é insignificante, face a um retorno que é rápido.

Portugal tem uma história da arquitectura popular que é bastante sábia. Perdemos alguns dos ensinamentos do passado?
A arquitectura popular portuguesa é super sábia. Quando no Alentejo se caiam as paredes de branco, quando decidimos fazer terraços planos para captar as águas e reutilizá-las, quando se construía paredes de taipa com a espessura certa que, por saber popular se foi aprimorando, não por uma questão de resistência estrutural mas para que o calor não entrasse, com vão pequeninos, protegidos, hábitos como o que a minha avó tinha em Óbidos. Quando na Guarda construíamos em pedra, com a pedra local, construíamos sustentável e construíamos eficiente. É curioso e ao mesmo tempo estranho, não é? Hoje nós importamos e pedimos que uma transportadora faça quilómetros para trazer o material. Ao não usamos o material local a sustentabilidade é zero que estamos a gastar combustível e estamos a gastar recursos para transportar o material para o qual depois não há know-how. Depois com a globalização imitamos o que se faz em Amesterdão ou em Nova Iorque e imitamos mal porque não ajustamos ao clima. Foram publicados dois livros sobre Arquitectura Popular Portuguesa, que acho que todos os arquitectos deveriam conhecer. Esta arquitectura popular era ajustada às necessidades e à capacidade financeira, mas era feita de uma forma muito sustentável, com a matéria local por isso é que em Óbidos se construía com calcário, na Guarda com o granito e no Alentejo com a taipa. Dominava-se a técnica e o material e a espessura das paredes resultava daquilo que se necessitava ali no Inverno e no Verão. Quando hoje construímos de uma maneira indiferenciada para o clima e para os materiais locais é difícil fazer arquitectura passiva, bioclimática, eficiente … não é passiva porque é às custas de equipamentos, não é bioclimática porque não olhamos para o clima e não é passiva porque não é eficiente pois não conseguimos a temperatura de conforto de uma forma natural e económica. Era muito importante voltarmos aos princípios porque em Portugal já se fez bem e perdemos…

Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

Manuela Sousa Guerreiro

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Bruno Soares, presidente do Conselho de Administração da Teixeira, Pinto e Soares (TPS)

Construção

A eficiência é, hoje em dia, um fio condutor”

Ao CONSTRUIR, o presidente do Conselho de Administração da Teixeira, Pinto e Soares (TPS) explica por onde passa o caminho da construtora que quer facturar, até 2025, 100 M€ apenas no mercado nacional. Bruno Soares explica, no entanto, que o caminho é sinuoso e os desafios são grandes. Desde a forma como são concebidos os projectos aos materiais escolhidos, a eficiência operacional das empresas deveria ser uma preocupação maior

Ricardo Batista

Em entrevista ao CONSTRUIR, o presidente da TPS, fala dos desafios que a empresa tem pela frente, da forma como encontrou soluções para os desafios que passaram e lamenta que haja poucas empresas, no sector, com mais de 25 anos de actividade. Bruno Soares assegura que esse é o reflexo de empresas pouco sustentáveis e operacionalmente desequilibradas. E aponta soluções

Os números de 2022 apontam para um volume de negócios na ordem dos 46 milhões de euros, um crescimento de 28% face aos 34,5 milhões de euros de 2021. O que representam estes números para a administração da TPS?

O ano de 2022 foi um ano melhor que 2021. Nesse ano, facturámos cerca de 34,5 milhões de euros e no último ano fechámos o ano com 46,8 milhões de euros, números que estão dentro do que tínhamos estimado. Foi um ano difícil, cheio de vicissitudes. Foi um ano em que tivemos de nos reinventar, tomar decisões muito rápidas e, muitas vezes, de risco elevado. No entanto, soubemos adaptar-nos ao que estava a ser o ano e acabou por ser o nosso melhor ano desde que somos TPS, não apenas em termos de facturação. Foi um crescimento significativo. Conseguimos aliar a esse crescimento e os resultados a um EBITDA de 7%, o que demonstra que o trabalho foi bem feito. Conseguimos produzir mais e sermos mais eficientes, o que acaba por ser o nosso grande desafio.

Que decisões foram essas que diz que tiveram de ser tomadas?

No início deste ano, os efeitos da pandemia ainda se fizeram sentir de forma significativa. Basta lembrar, por exemplo, que as cadeias de distribuição não estão ainda plenamente restabelecidas. E se este ano ainda se sentem estes efeitos, podemos perceber qual era a realidade no ano passado. Estes problemas obrigaram-nos a comprar com mais antecedência e a planear com maior antecedência, além de uma disponibilidade financeira muito maior do que a que tínhamos anteriormente. Avançar com aquisições de matérias-primas, muitas vezes ainda com muita incerteza sobre o projecto, era a única solução para assegurar que conseguíamos cumprir prazos. Chegámos a ter de ir ao estrangeiro levantar mercadoria, uma prática pouco habitual mas que, dadas as circunstâncias, se tornou por vezes necessário. Este contexto motivou também que trabalhássemos mais próximos dos nossos parceiros, quer fornecedores ou mesmo donos de obra. Aliado a isto, deparámo-nos com uma subida vertiginosa dos preços, um problema sentido logo no início de 2022. Em meados do ano passado, observámos um pico dos valores e, no fundo, ninguém sabia bem como agir. As obras eram planeadas e ‘vendidas’ a um determinado preço, algumas com valores de 2021 ou 2020 e, de repente, somos confrontados com uma vertiginosa subida dos preços praticados nos materiais. Não tivemos tempo para pensar nas decisões, mas tivemos de as tomar.

Como se consegue contornar este problema? Estamos a falar de um Sector que tem um ciclo de produção longo, desde a compra do terreno à própria obra, licenciamento… 

A aquisição antecipada de materiais conseguiu resolver parte dos problemas. Depois, podemos olhar para tudo isto de duas formas distintas: pela óptica dos clientes particulares e pela dos clientes públicos. No caso dos particulares, que representam uma parte significativa do nosso negócio, cerca de 40%, falámos com os nossos clientes, com todos aqueles que entendemos que fazia sentido este tipo de conversa e transmitimos o que estava a acontecer. E que eles sabiam. No fundo, o interesse de todas as partes era concluir os projectos. Em todos eles, sublinho, foi possível encontrar soluções para colmatar a adversidade dos preços dos materiais prescritos, fosse encontrando alternativas ou comprando materiais com alguma antecipação. Temos noção de que esta era uma situação difícil atendendo a que alguns dos projectos estavam já no mercado, boa parte deles vendidos e havia expectativas de quem comprou que não podíamos defraudar, além da necessidade de concluir os projectos nos devidos timings. No caso dos clientes públicos, houve um problema adicional relacionado com as datas. Muitas vezes orçamentámos obras em 2020 e a obra foi-nos adjudicada no final de 2021, por exemplo. Estamos a falar de prazos muito mais longos. Neste caso, o diálogo era mais complexo pois entendemos que os clientes públicos, não raras vezes e pelas suas características, querem tomar decisões mas estão mais limitados. Aqui, recorremos ao mecanismo da revisão de preços. Além de recorrermos igualmente à compra antecipada de produtos, tínhamos a revisão de preços ordinária. Contudo, esta figura não respondia cabalmente às subidas de preços que estávamos a verificar nas matérias-primas. Felizmente, em Maio foi lançado o decreto da revisão de preços extraordinária, mecanismo que nos ajudou significativamente a repor o equilíbrio dos nossos contratos. Estas foram ferramentas que, trabalhadas conjuntamente com os donos de obra, nos permitiram ir contornando as dificuldades. Em alguns casos, esta implementação era complexa atendendo a que estamos a falar de obras muito particulares, nomeadamente a construção de escolas, hospitais, centros de saúde, no fundo equipamentos que tinham necessariamente de estar em funcionamento dentro dos prazos estipulados.

Referiu que neste momento as cadeias de distribuição ainda não estão regularizadas. Quais são os grandes desafios que as empresas têm pela frente?

Relativamente aos preços, os valores das matérias-primas ainda estão altos mas estão estáveis. Se nós olharmos para os índices do IMPIC e analisarmos os dados mais recentes, que remontam a Janeiro deste ano e Dezembro de 2022, percebemos que há já uma notória estabilização. Já não temos propriamente problemas como os que identificámos no pico da crise, pelos quais recebemos orçamentos com prazos de validade de 12 e 24 horas. Isso acabou, os preços estão altos mas estáveis, o que nos permite olhar para o mercado e pensar: se estes são os preços que nós temos, esta é a nossa realidade. Assim sendo, trabalhemos, pois, a nossa realidade. Relativamente às cadeias de fornecimento, elas não estão todas restabelecidas. A pandemia veio destruir muitos postos de trabalho e fazer com que muita indústria fechasse. Isso causa dificuldades, seguramente. A juntar a isto, perceber que estes foram problemas que se fizeram sentir não apenas em Portugal como um pouco por toda a Europa, o que agudizou o problema e o dimensionou para uma escala global. Tudo isto obriga a planear com mais antecedência e é esse o trabalho que temos feito.

Como se consegue trabalhar com essa antecedência, atendendo a que, sobretudo ao nível dos clientes públicos, os prazos praticados não deixam, em muitos casos, grande margem de resposta?

Efectivamente, é verdade que os processos públicos são morosos, arrastam-se e depois é tudo ‘para amanhã’. Essa é a realidade que nos temos. Para isso, só há uma forma de trabalhar, pelo menos para nós: reforçando as equipas. Reforçámos a nossa equipa comercial, as equipas que elaboram as propostas e preparam os concursos, e as equipas produtivas. E tomámos algumas decisões adicionais. Num concurso público, não é certo que um relatório preliminar que nos seja favorável signifique que uma obra nos vá ser entregue, até porque depois ainda decorrem os prazos para contestações, etc, e mesmo entre o relatório preliminar e o relatório público decorre muito tempo. Até determinada altura, nós só preparávamos a obra quando esta nos era efectivamente adjudicada. Agora, sobretudo em obras de grande envergadura e complexas, alocamos meios a esses trabalhos logo a partir do relatório preliminar, desde que esse documento nos seja favorável. Claro que pode haver reclamações ou a obra não avançar e nós perdemos alguns recursos a trabalhar, mas esse é o risco que corremos. De outro modo torna-se mais difícil.

Como olha para os programas de investimentos que ora estão já no terreno, como é o caso do PRR, como o que se espera que sejam as intervenções decorrentes dos programas de habitação?

As empresas em Portugal estão preparadas para executar essas obras. A TPS, naturalmente, está preparada e interessada. Há, contudo, uma realidade à qual não podemos fugir e torna-se evidente que as construtoras deveriam ser consultadas e ser uma parte mais interveniente neste tipo de obras. Todos tínhamos muito mais a ganhar se as empresas de Construção Civil não fossem encaradas apenas como entidades executantes e fossem encaradas como parceiros para executar as empreitadas. Acho que seria vantajoso. Haveria grandes vantagens se as empresas trabalhassem quase tudo em concepção construção. No limite, se não nos dessem a arquitectura, que nos entregassem as especialidades, que nos atribuíssem a responsabilidade pelas especialidades. Todos teríamos a ganhar, projectos melhor elaborados, menos problemas no futuro e, seguramente, projectos mais económicos. Continuamos, infelizmente, a ser encarados apenas como alguém que executa e, como tal, temos de estar preparados para o que aí vem. Acreditamos que vem aí muito trabalho. Só em habitação, há imensos milhões para aplicar e num prazo já bastante apertado. No caso do PRR, por exemplo, caso não haja alguma prorrogação dos prazos, estamos a falar de um horizonte que vai até 2026, num montante muito elevado de investimentos. Temos de estar preparados para a escassez de materiais e de matérias-primas, que vai ser mais agressiva. Os prazos vão ser igualmente mais complicados e a juntar a isto o problema dos recursos humanos. Vai haver muito trabalho e temos de estar preparados para o fazer. Vai ser difícil, mas é a nossa vida.

Respondendo a essa questão dos recursos humanos, falou do reforço das equipas de trabalho. Em que condições foi feito esse reforço, considerando também que há uma escassez significativa de mão de obra num plano transversal na Construção?

Esse problema da mão de obra existe e vai agudizar-se. Nós não conseguimos formar gente para trabalhar no sector, não estamos a conseguir. Não podemos esquecer, igualmente, que estamos a falar de um Sector muito volátil. Ou seja: antecipamos que até 2030 temos boas perspectivas de trabalho, primeiro com os fundos afectos ao PRR e depois os investimentos previstos na ferrovia ou os planos de habitação que há para executar. Há, de facto, boas perspectivas para os próximos anos, mas a história diz-nos que depois de um período de franco crescimento, há uma quebra significativa. E não sabemos de que ordem de grandeza será a quebra do mercado. Os recursos humanos  acabam, com legitimidade, por se afastar, atendendo a que apostam numa determinada actividade e esperam exercê-la por muitos anos. Como estamos a contornar a situação? Para ter uma ideia, neste momento 35% dos nossos recursos humanos são estrangeiros. O departamento de prospecção fez um trabalho aprofundado junto de várias entidades no Brasil, Cabo Verde, Moçambique…tudo o que seja País lusófono foi trabalhado, graças a muitas viagens, muitas reuniões. Tudo foi feito para captar recursos e foi desta forma que conseguimos colmatar boa parte das nossas necessidades. É suficiente? Não é. Mas fazemos o que conseguimos.

Por onde passa a diferenciação da TPS?

O grande critério que pode diferenciar uma empresa neste sector é a estratégia que definimos. Nós temos o nosso caminho muito bem traçado na TPS e aliada a essa estratégia contamos com Recursos Humanos que materializam essa estratégia e respeitar o caminho traçado. Nós não somos grandes. Somos uma média empresa. A administração acompanha muito a actividade dos seus departamentos, de perto. Temos recursos humanos com muitos anos de casa, o que acaba por ser importante, gente que nos ajuda imenso. Não nos esquecemos das pessoas que trabalham connosco pois são elas que nos ajudam a atingir os objectivos. Felizmente, nas diversas áreas, temos gente que nos ajuda todos os dias. Mais do que a estratégia ou da formação das pessoas, uma das grandes lutas passa por tornar a empresa mais eficiente. Essa é a nossa preocupação, através de meios informáticos, por exemplo. Fizemos um grande investimento em sistemas de controlo de produção e outras áreas, o que reflecte as nossas preocupações. A eficiência é, hoje em dia, um fio condutor.

Estamos a falar de um sector que, caminhando a um ritmo considerável para a digitalização de processos, ainda tem muito caminho a percorrer. Como olha para os desafios que as empresas têm rumo à tal ‘Construção 4.0’? O que tem sido feito na TPS?

Existem muitos desafios na Construção, alguns deles nós encaramos como fundamentais. Um desses desafios é conseguirmos consolidar as empresas no mercado, torná-las também mais eficientes. Infelizmente, a realidade em Portugal aponta para EBITDAs extremamente baixos na nossa actividade. Há dias, olhando para um conjunto de dados, percebemos que empresas, em Portugal, acima de 25 anos são uma percentagem muito pequena. Empresas com mais de 50 anos de actividade são muito residuais. Isso é sinal de que há qualquer coisa errada e prova de que as empresas, de um modo geral, têm sérias dificuldades em se consolidar e não estão a conseguir ser eficientes. Esse, para mim, é um grande desafio que a TPS tem pela frente. Temos de caminhar no sentido dessa consolidação e ter presente a necessidade de sermos mais eficientes. Eu concordo ao máximo com as novas tendências, a construção modular, novos materiais, etc e estamos de braços abertos para receber essas novas ferramentas. Tudo o que seja para ajudar, é bem-vindo. No entanto, eu acho que antes de tudo isso, devíamos repensar e alterar a forma de projectar as construções. Esse é, a meu ver, um ponto fundamental. É importante pensar na forma como concebemos os projectos, tornando-os mais simples, que recorram a materiais de fácil manuseamento e aplicação, para que a execução seja mais rápida, para que exija menos mão-de-obra e, tão importante quanto tudo isto, que possa ser mais apelativa para a captação de novos recursos humanos. Para mim, estes são aspectos fundamentais aos quais damos ainda pouca importância. Há países e mercados mais desenvolvidos que o nosso que já deram estes passos e os resultados foram muitíssimo interessantes. Na maioria dos projectos era possível simplificar. A juntar a isto, era importante voltar a apostar na formação de recursos humanos, depois de longos anos em que essa não foi a prioridade. Àqueles que já estão a trabalhar temos, necessariamente, de continuar a formar, seja internamente nas empresas, ou mesmo académica. É fundamental aproximar as empresas das Universidades e institutos. Quanto melhor for a formação das pessoas, melhor será o ambiente para reter trabalhadores e maior a capacidade das empresas para responder a desafios mais exigentes.

Essa maior atractividade passa também pela modernização dos próprios processos construtivos?

Tem de passar por aí. O tradicional processo construtivo ao qual recorremos hoje em dia já não faz sentido neste momento. Não conseguimos atrair recursos humanos dizendo que vão andar de sol a sol, à chuva e lama a carregar baldes e com botas de água a encher uma laje de betão. Não conseguimos. Daí a importância de alterar as nossas construções. Isso não implica necessariamente que seja construção mais cara. Pelo contrário. Se pensarmos bem os projectos até podem ficar bastante mais baratos, além de que isso faria com que mais gente viesse para a Construção Civil. A Construção não é a mesma de há 20 anos, não é comparável e ainda bem. Mas temos obrigação de fazer melhor. A União Europeia, no global, está mais avançada que nós e há muito que podemos aproveitar com estes bons exemplos.

Nessa lógica de fazer melhor, de fazer diferente, definiram um patamar até 2025 de atingir os 100 milhões de euros de facturação. Como esperam lá chegar? Olham para a internacionalização ou será graças ao mercado nacional?

A internacionalização não faz parte dos nossos objectivos. Não temos dimensão para internacionalizar a empresa. Internacionalizar uma empresa, sobretudo neste sector, é um processo complexo, demorado e que assenta num orçamento muito forte. Além do mais, teríamos de estar dispostos a esperar vários anos pelo retorno, para não falar da importância de um mercado interno que sustente a operação externa. Nada disso está nos nossos horizontes. Entendemos que as metas que traçámos são alcançáveis, temos a noção do trabalho que temos nos próximos 10 anos. Até 2030, teremos bastante trabalho e acreditamos que é possível alcançar uma facturação de 100 milhões de euros em Portugal. Mais complexo será, no entanto, superar estes patamares atendendo à reduzida dimensão do mercado. Somos pequenos. Para se ter uma ideia, neste momento temos uma carteira de obras na ordem dos 150 milhões de euros, a maior de sempre na história da TPS, composta maioritariamente (60%) por obras públicas. As restantes serão particulares. Este cenário dá-nos conforto, segurança de trabalho, temos margem para trabalhar mais à vontade e as metas que propomos resultam de ponderações realistas.

Sobre o autorRicardo Batista

Ricardo Batista

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MUDA RESERVE

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Arquitectura

“A sustentabilidade pode ser um selo ou pode ser muito mais do que isso”

Apesar de contar apenas com quase dois anos, o AO-LX tem já a sua assinatura num vasto leque de projectos que irão marcar o panorama imobiliário nacional nos próximos anos, onde se destaca o Terras da Comporta ou o Muda Reserve. Acredita que estes dois empreendimentos serão dois exemplos de uma mudança de paradigma para uma construção cada vez mais sustentável

Cidália Lopes

A pandemia trocou-lhe as voltas. E ainda bem! A trabalhar no Brasil, João Vieira Costa acabou por regressar a Lisboa durante os confinamentos. Em teletrabalho a partir de Lisboa o trabalho ia se fazendo á distância. Inicialmente os projectos eram para clientes no Brasil, mas rapidamente houve necessidade de encontrar mais pessoas para se juntarem ao arquitecto. Em menos de dois anos são já 45 pessoas (prestes a chegar às 50) e, embora continuem a trabalhar em projectos do outro lado do Atlântico, cerca de 70% são hoje em Portugal. Um crescimento que João Vieira Costa atribuiu a uma forma de trabalhar muito pensada e estruturada e em que pesa a experiência e o contacto com a arquitectura brasileira. Por cá, entre outros em que estão envolvidos, a equipa do AO-LX está à frente dos projectos Muda Reserve e Terras da Comporta, cuja arquitectura é partilhada com a Saraiva + Associados. Um projecto que acredita vai mudar o paradigma da construção sustentável em Portugal

Texto: Cidália Lopes

João Vieira Costa, sócio fundador do AO-LX

Como surgiu a vontade de trazer o Architect Office (AO) para Lisboa?

Na realidade o nosso escritório surgiu com a pandemia. Eu estava no escritório no Brasil, que conta já com 100 pessoas, e como estava em teletrabalho acabei por vir para Lisboa. Entretanto surgiu a oportunidade de contratar algumas pessoas para poderem trabalhar em projectos para o Brasil. Começamos com três pessoas na altura e hoje já somos 45.

Esse crescimento foi num curto espaço de tempo…

Sim, faz agora em Maio dois anos. E quando estava em Portugal a trabalhar para o Brasil surgiram várias oportunidades de projectos aqui e foi quando começamos a estruturar a equipa. Hoje cerca de 70% dos nossos projectos são para Portugal e os restantes 30% são para o Brasil. Apesar de continuarmos a trabalhar para o Brasil, o nosso foco são, actualmente, os projectos em Portugal.

O atelier tende a escolher os seus projectos de acordo com uma determinada linha de orientação. Neste sentido, o que vos motiva na escolha dos vossos trabalhos?

Sim, é verdade. No escritório de Lisboa estamos a trabalhar em projectos específicos e o que tentamos é encontrar projectos com que nos identifiquemos e, acima de tudo, projectos que nós vemos como sustentabilidade processual. Ou seja, que tenham um impacto significativo, que sejam interessantes como exercício de arquitectura e como oportunidade de negócio. A conjugação destes três elementos é para nós muito importante.

Em que projectos estão actualmente a trabalhar?

Continuamos a trabalhar para projectos no Brasil a partir de Lisboa. São projectos em grande escala, cerca de 250 mil metros quadrados em quatro projectos no Brasil, de uso misto e de masterplan.

Em Portugal também começam a aparecer este tipo de projectos, de grande escala, em que, naturalmente, também queremos estar envolvidos. Por isso continuamos a fazer estes projectos para o Brasil, porque essa expertise, essa sincronização com diferentes equipas e com equipas de projecto são uma forma de preparação para quando tivermos envolvidos nos projectos de grande escala.

Outro tipo de trabalhos que temos tido em Portugal são projectos com construção em madeira. Este é um tipo de projectos que também nos interessa muito. Actualmente trabalhamos com um conceito mais horizontal – r/c e 1º piso – ou seja edificações de baixa altura, mas em grande escala, nomeadamente na Comporta, desde o residencial, o comercial, o desportivo, cultural. Todos eles em construção em madeira, portanto, em woodframe com CLT.

Tendo eu vivido cerca de seis anos na Escandinávia, tenho um interesse particular nesse tipo de construção mais sustentável e com outras preocupações que vão além da construção tradicional. Acho que, neste aspecto, Portugal está numa fase em que realmente é necessário começar a reverter o seu conceito de construção, de mudança de paradigma.

Considera que a construção em madeira veio para ficar? Em particular quando falamos de projectos em grande escala como é o caso?

Acho que antes de mais existe um paradigma que a construção modular é pejorativa e que tem uma conotação de ‘low cost’. Aquilo que está a mudar em Portugal é efectivamente a especialização de uma área dentro da arquitectura. Em Portugal a arquitectura tende a ser muito eclética, os arquitectos sabem de tudo e não sabem de nada e têm interesse em todos os programas e escalas e localizações.

Mas no caso específico destes projectos, em que estamos a trabalhar, nós estamos a investir muito, em conjunto com o nosso cliente, em criar realmente uma especialização. Ou seja, este processo, que inicia num conceito, evolui como um design que melhor responda às necessidades do programa e da localização, até à sua construção, até ao envolvimento dos órgãos municipais.

Toda esta arquitectura de processo é pensada muito cuidadosamente para que todos entendam qual é o propósito do projecto e qual é o objectivo  de desenvolver um projecto com esta ambição sustentável.

A sustentabilidade pode ser um selo ou pode ser muito mais do que isso. No caso destes que estão localizados em áreas com densidade muito reduzida, os projectos tem também uma vertente social muito importante, com a possibilidade de envolver a população local e melhorar significativamente a qualidade de uma região. Outra responsabilidade é a de modificar a utilização e a ocupação desta região do País para anual e não só sazonal.

Temos muitos exemplos desde o Algarve ao Norte de Portugal em que existem muitos empreendimentos que ficam numa ‘corda bamba’ exactamente pela sua ocupação sazonal. O turismo é uma âncora, mas por si só não funciona, não é suficiente porque não consegue manter a sustentabilidade económica deste tipo de projectos.

Por isso, a ideia passa por modificar essa utilização. Acreditamos que tendo em conta toda a pesquisa e as alterações na forma como as pessoas vivem hoje, nomeadamente o quanto valorizam trabalhar, mas também, usufruir ou divertir-se neste tipo de localizações, este projecto tem realmente essa responsabilidade de modificar essa utilização para anual e que é muito interessante.

Quais as principais características desse projecto que nos está a falar?

O perfil de residencial abrange um leque muito alargado de opções e também de diferentes perfis ao nível do comprador, desde T1 a T5, o que significa que pode receber pessoas que estejam em teletrabalho, pessoas que podem morar ou ter uma experiência durante alguns períodos ou então pessoas que querem mudar-se e passar a residir naquela região.

Além da componente residencial, o projecto conta, ainda, com duas áreas desportivas, de academias de ténis, com capacidade de competir com as principais academias europeias e com quem temos estado a colaborar. Por isso, a ambição de colocar Portugal como uma referência no ténis está a acontecer. Não é uma ideia, não é uma possibilidade apenas, porque estamos já a desenvolver o projecto para isso.

Além do desportivo, temos também áreas comerciais, onde grandes marcas nacionais e internacionais querem participar neste processo. Reforço que não se trata apenas de uma área comercial, é na verdade uma micro-cidade.

Além destas que eu falei, vamos também ter áreas de saúde, com a marca CUF, assim como espaços culturais e de bibliotecas, com alguns parceiros também já confirmados.

Equipa atelier AO-LX

Vocês fazem parte integrante do projecto é isso? Há um acompanhamento constante?

É isso mesmo. Mais do que arquitecturar um projecto, nós arquitecturamos o processo. Portanto, desde as especialidades, sendo que os próprios engenheiros têm a especialização na componente de madeira, desde a reconstrução e a fábrica, com a qual fazemos a ponte, até à ambição do cliente, até à comunicação com as câmaras de Grândola e de Alcácer do Sal. Todos estão comprometidos com o processo.

Ainda sobre este processo construtivo, quais as principais diferenças que destaca e os principais desafios? Será apenas uma mudança de mentalidade?

Também é uma questão de mudança de mentalidade, mas não só. Ou seja, normalmente a estrutura é feita com aço, madeira ou betão. São estas as três possibilidades que existem. O betão, sendo muito tradicional e cultural em Portugal o que nos torna excelentes a trabalhar com este material, tem diversas exigências, não só de estrutura como de espaço, já que toda a construção tem que ser feita no local e isso tem uma exigência altíssima não só de mão de obra, mas também de empresas disponíveis para construir nestas zonas mais isoladas. Depois temos o aço e a madeira, que permitem uma maior flexibilidade, com a preparação de toda a estrutura e de toda a construção em fábrica e a montagem no local. E aqui existe uma competição muito saudável entre estes dois materiais, só que a madeira tem, naturalmente, um perfil sustentável muito alto.

Além disso hoje, e cada vez mais, quem compra quer saber, não só como é que é o acabamento das casas, mas também como é que funciona o esqueleto das casas e como é que estas se comportam em termos térmicos e ambientais. Acho que hoje o interesse vai à raiz das questões e a arquitectura tem de responder.

Quais são os principais desafios?

Há que ter em conta que a madeira na construção é tratada e que precisa obedecer a um ciclo para poder ser utilizada. Em Portugal, que ainda utilizou muito pouco este tipo de solução e importa toda a madeira, o próximo passo é utilizar a técnica para expandir pelo território nacional.

Outro passo paralelo é começar a preparar este processo de produzir a própria madeira que possa ser utilizada. Isso tem um ciclo de vários anos, mas é preciso começar e só se começando é que se vai chegar lá. Se estivermos sempre à espera para ver se vai funcionar ou não isso nunca vai acontecer. Felizmente o nosso cliente já tomou essa iniciativa e já está a começar esse ciclo para que daqui a uns possamos utilizar, também, madeira portuguesa.

Portugal conseguirá acompanhar o crescimento e a necessidade deste tipo de construção?

Ela já está a acontecer de certa forma, exactamente porque que os projectos em grande escala assim o exigem, embora ainda com um volume de construção muito simples, na medida em que se trata de edifícios no máximo com um ou dois pisos. Quando nós começarmos a verticalizar, a complicar, no bom sentido da palavra, vamos precisar de mais projectos, de mais referências e de mais pessoas especializadas para poderem dar respostas a esse mercado. Acho que esse será o próximo passo, ou seja, a verticalização da construção em madeira.

Isso será num futuro ainda longínquo?

Não sei se demorará assim tanto tempo, até porque Portugal também tem de responder, tal como o resto da União Europeia, as algumas exigências de forma a contribuir para a redução das emissões de CO2. Por exemplo, actualmente em França, 50% dos edifícios públicos já têm que ser construídos obrigatoriamente em madeira, independentemente da sua altura. Temos também os exemplos de países como a Holanda ou a Escandinávia onde este tipo de construção já é comum e onde já vemos edifícios com seis, sete, oito pisos em madeira. Estes princípios construtivos podem ser facilmente readaptados ao nosso território, até porque, comparando com outros países que têm amplitudes térmicas muito mais severas e mais exigentes, as nossas necessidades construtivas são bastante mais simples.

Considera que a vossa experiência no Brasil contribui para facilitar o vosso trabalho em Portugal e naquilo que são os novos conceitos?

Acho que contribui muito. Acho que Portugal e o Brasil tem uma sinergia muito interessante em vários pontos e um deles é no residencial. Esta é uma componente muito forte no Brasil, que tem uma forma muito inteligente de pensar nas expectativas de cada projecto, a partir do qual conseguimos perceber qual é a tipologia especifica e esperada tendo em conta o tipo de ocupante. Portugal tem de aprender um pouco com esta pesquisa e com esta análise, porque quanto mais nós conseguirmos criar as fórmulas e as receitas que melhor se enquadrem e que melhor vão ao encontro do que é que é a expectativa, melhor produto e melhor arquitectura nós vamos ter.

Além do projecto na Comporta, em que outros estão a trabalhar?

Estamos a participar em alguns ‘edifícios urbanos’. É um tipo de projecto que gostamos porque queremos participar no desenho das cidades e perceber quais são as vantagens e as qualidades e as condicionantes que podemos tirar destas intervenções.

Neste sentido, estamos também a trabalhar em projectos de habitação multifamiliar, em Vilamoura, no Algarve e de habitação colectiva com algum comércio e serviços no Porto, mas que ainda se encontram numa fase de desenvolvimento. Caracterizam-se ambos por se encontrarem em localizações privilegiadas e com um impacto interessante na forma como se adaptam à localização em que estão inseridos. Mas são projectos mais tradicionais de habitação, em betão e em altura, com tipologias que vão desde os T1 até T4, que têm a responsabilidade de desenvolver alguns polos interessantes das cidades.

Estamos também a trabalhar no desenvolvimento de um conceito melhorado de residências sénior em parceria com um cliente nosso. O primeiro destes projectos arranca este mês de Março, em Sintra, sendo que o objectivo é alargar o conceito para outras cidades, mas ainda está em fase de estudo essa viabilidade.

Além dos projectos que já referi, estamos também a trabalhar em moradias, não só pequenos condomínios, de cinco a 10 casas, mas também casas individuais, nomeadamente em Cascais, Estoril e Sesimbra. Este é um projecto muito português e que nós gostamos muito de fazer.

Entretanto estamos também a começar a nossa internacionalização a partir de Lisboa, nomeadamente em parceria com a Finlândia e com os Emirados Árabes Unidos. Existem algumas coisas interessantes em pipeline que podem tornar-se uma realidade.

Tendo em conta o número de projectos que estão a desenvolver ponderam crescer durante os próximos anos ou até expandir para outra cidade?

Já em Março vamos passar a 50 pessoas com novas contratações, o que já é uma dimensão considerável para dois anos de trabalho. Além disso, também os projectos previstos no estrangeiro vai nos permitir crescer um pouco.

Existe, ainda, a possibilidade de abrirmos um escritório no Porto. Tendo em conta as negociações que estão a decorrer para um projecto de dimensões consideráveis naquela cidade poderá fazer sentido termos uma equipa mais próxima.

João Vieira Costa, sócio fundador do AO-LX

Que marca é que o AO-LX gostaria de deixar nos projectos que está a desenvolver?

Neste momento já estamos e queremos participar e desenvolver mais projectos dentro da sustentabilidade social e construtiva das mais diversas escalas. Nós queremos realmente ajudar neste processo de transição dos métodos construtivos, tanto a nível horizontal como vertical.

E, por último, queremos efectivamente aprimorar a internacionalização do nosso escritório, porque acho que cidades como Lisboa, Porto e o próprio território todo ele, tem uma ambição e uma responsabilidade muito internacional. Hoje já não somos apenas um Pais simpático para passar férias no Verão. Hoje temos uma grande ambição tecnológica, com uma grande ambição cultural e profissional. Temos que, cada vez mais, seduzir e impulsionar os nossos profissionais da arquitectura e das engenharias a estarem envolvidos com projectos signicativos tanto na Europa, como no resto do Mundo. E nós queremos também fazer parte desse leque de escritórios possa trazer esse know-how para Portugal e possa exportar também o trabalho que desenvolvemos em Portugal.

Falar de habitação é também falar de um dos maiores problemas que Portugal está a enfrentar. Como vê esta questão à luz das mais recentes medidas anunciadas pelo Governo?

Julgo que toda esta questão da habitação vai mudar muito nos próximos tempos. Temos algumas políticas que fazem sentido, outras não tanto, mas acho que aquilo que é necessário é evoluir. E acho que vão surgir muitas oportunidades interessantes para nós arquitectos e projectistas entendermos melhores quais são as tipologias mais interessantes e mais eficientes do modo de viver, de diferentes classes e em diferentes localizações de Portugal.

Acho que a racionalização da arquitectura vai ser algo muito interessante que se vai desenvolver nos próximos tempos em Portugal. E a racionalização está associada a duas coisas fundamentais: a tecnologia, na forma como se constrói e como esta permite preparar os projectos e a pesquisa, para que esta racionalidade seja uma resposta e não uma imposição. Quando a racionalidade é a resposta de uma pesquisa, de análise inteligente e de uma expectativa concreta, tem um papel fundamental. Quando a racionalização é uma imposição por questões de tempo ou de orçamento temos a possibilidade de ela não encontrar resposta.

Tendo em conta as questões urbanísticas que Portugal tem vindo a enfrentar considera que haverá o risco de esta racionalização ser obrigatória?

Eu acho que é preciso começar por algum lado. A racionalização pode ser colocada como uma premissa, mas pode ser desenvolvida em paralelo e não como uma necessidade. O masterplan desse processo é que terá de ser feito de uma forma muito inteligente e cuidadoso, não só com órgãos públicos, mas também pelos próprios promotores, pelos próprios investidores para encontrar um propósito válido para esta racionalização fazer sentido. Caso contrário será insustentável. Mas o optimismo é o que nos move diariamente e acredito que as energias vão convergir na orientação e na direcção correcta para que realmente isto possa ser um movimento que faça sentido. E nós temos muitos exemplos disso. A reabilitação é um deles. A reabilitação não era feita convenientemente há 10 anos como é feita hoje. Há um caminho a percorrer. E houve um movimento incrível de reabilitação nacional e o resultado está aí. É preciso fazer, é preciso errar.

BIO

Architects Office é a agência de arquitectura e design de interiores liderada por Greg Bousquet, um dos fundadores da Triptyque Architecture. Tendo a sua sede em São Paulo, no Brasil, a agência conta com o Architects Office SP (AO-SP) e, desde 2021, com a Architects Office Lisboa (AO-LX) liderada por João Costa Vieira.

Com formação em arquitectura pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Lusíada do Porto, João Costa Vieira passou por diversos ateliers no Norte da Europa, nomeadamente Dinamarca, Holanda e Noruega, tendo, também, sido professor na Escola de Arquitectura e Design de Oslo. Passou ainda por Nova Iorque, nos EUA e por São Paulo, no Brasil, onde é associado e director geral de Arquitectura no AO-SP e sócio fundador do AO-LX, em conjunto com Greg Bousquet.

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“Vazio, Construção, Edifício e Ruína”: Os quatro estados que estruturam e desenham a cidade

Cristina de Mendonça, Nuno Griff e Paulo Albuquerque Goinhas são o rosto do atelier Embaixada. Juntos estão a ‘desenhar’ os percursos da próxima Open House Lisboa, com data marcada para os dias 13 e 14 de Maio. Apresentar “as diferentes fases de vida dos edifícios” é o objectivo desta edição, que nos vai permitir conhecer não só as obras concluídas, mas também visitar outras ainda em fase de construção ou em estado de ruína

Cidália Lopes

Livre ou acompanhada, a 12ª edição da Open House propõe a visita a mais de 50 projectos onde, pela primeira vez, é dado a conhecer um outro lado da cidade, enquanto “entidade viva, com um antes e um depois”. Ou seja, é possível visitar edifícios que estão em pleno uso, como percorrer todo o seu ciclo de vida. Ao CONSTRUIR, os Embaixada fazem uma antevisão do que podemos encontrar.

Qual a ideia subjacente ao conceito da edição deste ano?

Paulo Albuquerque Goinhas (PAG) – A edição de 2023 propõe olhar para as arquitecturas que nos rodeiam enquanto entidades vivas, com um antes e depois. Poderemos visitar edifícios que estão em pleno uso, como percorrer todo o seu ciclo de vida, o Vazio, a Construção, o Edifício, a Ruína. Olhar para a cidade é olhar para cada um destes componentes, estas Matérias do Tempo, que nascem, habitam e morrem connosco. A cidade que recebemos e a cidade que legamos é feita desta diversidade de estados, mas muitas vezes não as vemos, não vemos os vazios, não vemos as ruínas, somos ligeiramente incomodados pelas construções, mas em todos estes momentos a cidade está a ser decidida. A vitalidade e qualidade de cada rua, de cada bairro depende desta coexistência de entidades vivas, todas são importantes, mas naturalmente que uma proporção errada pode destruir uma cidade.

Cristina Mendonça (CM) – A cidade é antes de mais e acima de tudo espaço público. E, numa macro escala, são os edifícios nestes quatro estados de evolução, que a estruturam e desenham. Quisemos, nesta edição, chamar à atenção do quanto a construção ou não construção, impacta na definição da cidade.

Enquanto “entidades vivas” e com diferentes “ciclos de vida”, o que nos podem dizer os edifícios? O que podemos aprender?

Nuno Griff (NG) – A vitalidade urbana é feita da convivência dos diferentes momentos deste fluxo contínuo: Vazio, Construção, Edifício e Ruína. A construção também é tema da cidade e do projecto, é interessante ter a noção da importância da obra e do seu peso no conjunto. Por vezes existe uma tendência de afastamento entre o digital e o analógico, entre “quem desenha” e “quem constrói”, como se não trabalhássemos já todos com o mesmo tipo de ferramentas. Era importante retomar uma visão mais holística deste processo que aliás desperta sempre muita curiosidade a quem está mais próximo. Construir é um acto de arquitetura, com múltiplos intervenientes, públicos, privados, decisores políticos, gestores, investidores, projectistas, especialistas de cada arte da construção.
Depois, também com as ruínas podemos aprender, podemos aprender a questionar. Na verdade, são uma oportunidade e uma chamada de atenção. Quando vemos vazios e ruínas na cidade, por vezes em áreas tão centrais, temos que nos perguntar porquê.
Tem que existir uma grande ineficácia dos sistemas para estes casos se perpetuarem numa altura de enorme escassez, nomeadamente na habitação.
Felizmente existem também exemplos positivos. Neste Open House podemos visitar um interessante processo de reabilitação de uma antiga Villa, a Vila Romão da Silva perto das Amoreiras, que a Câmara Municipal de Lisboa está a recuperar depois de décadas de ruína. É um interessante processo, um case-study em si só porque entre outras coisas consegue manter os moradores no local.

CM – Outro case-study relevante, que também vai estar aberto a visitas, é a intervenção da SRU (Sociedade de Reabilitação Urbana – CM Lisboa) em Entrecampos. Na Av. das Forças Armadas, existe agora uma grande intervenção municipal no âmbito da Habitação de Renda Acessível, constituída por cinco edifícios de habitação, um estacionamento subterrâneo e um jardim. Esta intervenção decorre da grande necessidade de resposta à escassez de habitação acessível sentida na cidade de Lisboa, e, sucede a um estudo profundo sobre tipologias deste tipo, com objectivo de ser implementado em diversas zonas da cidade. Este estudo foi realizado pela equipa da SRU e vários consultores especialistas, com coordenação da arquitecta Susana Rato e arquitectura paisagista de Victor Beiramar Diniz. Este processo acabou por dar origem ao projecto de um edifício piloto, o primeiro edifício deste programa que já está neste momento construído e habitado. Neste local existem ainda outras intervenções em curso de Site Specific, Focus Group, Atelier do Chiado ou Mech consultores.

De que forma vai ser estruturada a visita? Que edifícios integram a visita e que novas sugestões foram apresentadas?

PAG – O Open House é um programa muito completo com imensa variedade na sua forma e conteúdo. Será possível fazer as tradicionais visitas a espaços, como também estão disponíveis visitas pela cidade acompanhadas por especialistas. Em 2023, no programa paralelo temos quatro percursos Urbanos e um novo passeio sonoro, pela frase da Anabela Mota Ribeiro, e os já tradicionais programas Júnior e eventos Plus, proporcionados por alguns dos espaços que abrem portas. É, ainda, de frisar que, tal como nas edições mais recentes, este é um evento inclusivo que permite visitas sensoriais adaptadas a pessoas cegas ou com baixa visão ou com deficiência cognitiva. Teremos ainda uma visita com intérprete de Língua Gestual Portuguesa. Basta consultar o mapa.
A única dificuldade que os visitantes vão encontrar, é escolher neste fim de semana tão intenso as suas preferências. Nós aconselhamos a fazer antecipadamente um guia personalizado. No site openhouselisboa.com existe a funcionalidade de seleccionar favoritos que pode partilhar entre amigos e o seio familiar.

De que forma o percurso e influências do atelier foram determinantes para a escolha do tema deste ano?

NG – Foram efectivamente. No início do processo penso que não nos apercebemos disso mas com o decorrer do tempo e os múltiplos contactos e a partilha com toda a gente envolvida, é agora mais claro que sim. Diria que existem dois momentos muitíssimo distintos mas complementares. Um primeiro momento que é resultado do dia a dia prático do escritório na sua vertente do desenho, EMBAIXADA, cada vez mais atormentado pelo tempo que as coisas demoram, pela forma como a regulamentação é concebida e aplicada e pela morosidade dos sistemas. Ver o tempo a dilatar, com todo o desperdício de recursos e oportunidades que isso implica. A facilidade com que se bloqueia, a dificuldade de dialogar em prol dos objectivos comuns da cidade. A passagem do tempo ser muito visível e tornar-se um forte constrangimento nos projectos tornou o Tempo um tema.
Um segundo momento, próprio da própria ideia da investigação que fazemos, o UNLEASH, que olha para as coisas de fora do projecto. Temos uma concepção do corpo de trabalho como um triângulo que liga em circuito, o Projecto a Construção e o Edifício em Uso, a ideia de que o trabalho do arquitecto se cumpre nesta tríade e precisa de enormes qualidades nestes três sistemas interligados. Estando desde logo habituados a olhar e reflectir sobre os edifícios num antes e num depois, acho que foi muito natural querer partilhar isso.

CM – Uma das vertentes de estudo do atelier é a inter-relação entre espaço público e privado, espaço interior e exterior e gradações entre espaços que, no mesmo âmbito, têm características e dinâmicas distintas. Interessa-nos questionar desenhos de cidade em que esta linha ténue é contaminada nas diferentes direcções.

Além da componente do edificado, de que forma o conceito apresentado se relaciona com os espaços públicos e o rio?

PAG – Na verdade, é nossa ambição que o centro desta edição seja a Lisboa em si mesma. Esta estratégia de olhar para as suas diferentes componentes serve para sermos ambiciosos a desejar cidades possíveis construídas sobre esta, serve para imaginar desenvolvimentos possíveis a partir desta base, sem revolução, com visão e optimismo.
Não existe maior sustentabilidade do que a renovação cíclica do uso que damos à arquitectura que habitamos colectivamente ao longo de séculos. Esta generosa cadeia de gerações transforma, repara e amplia, acrescentando aos lugares novas camadas de tempo e materiais. Bairro a bairro, rua a rua, cada parte contribui para um corpo em constante mutação a que chamamos cidade.

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Fórum Itecons: A emergência de ser melhor fazendo diferente

Projectos, produtos ou procedimentos. Os próximos programas de financiamento comunitário tornam claro o afunilamento em relação ao tipo de apoios que serão distribuídos e, invariavelmente, passam pela inovação. O Itecons juntou especialistas, em Coimbra, que analisaram os desafios emergentes que a Construção, como um todo, tem pela frente. O CONSTRUIR foi parceiro desta iniciativa

Ricardo Batista

Alguém, a seu tempo, terá dito que “não podemos fazer as mesmas coisas e esperar obter resultados diferentes”. Numa altura em que parece evidente a importância de trilhar novos caminhos na forma como se projecta, como se constrói, como de produz e como se planeia, importa analisar em que ponto estamos para se perceber que caminhos seguir. Salta à vista, desde logo, uma evidência: há, hoje, mecanismos de apoio a esta mudança, restando saber se os agentes estão despertos para esta necessidade. Ou, em última instância, se na prática há retorno evidente desta aposta em novos paradigmas. Para discutir esta temática– e outras análogas – o Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade (Itecons) reuniu, em Coimbra, um conjunto de especialistas que apresentaram um espectro alargado de perspectivas em torno dos desafios emergentes que a Construção, enquanto fileira, tem pela frente.

Jorge Brandão, vogal da Comissão Directiva do Programa Operacional Regional do Centro (CCDRC) assume, desde logo, que os próximos quadros comunitários de apoios estão fortemente orientados para apoiar e fomentar a inovação, num espectro alargado. Falando, mais concretamente, sobre a região que está sob a sua tutela, Jorge Brandão salienta que “os desafios para a economia da região Centro são enormes, bastando remeter o foco, desde logo, para o domínio da habitação, cuja discussão está na ordem do dia”. Para o vogal da CCDRC, “a falta de casas é, logo à partida, um forte constrangimento ao desenvolvimento económico da região, mais não seja porque é um entrave à fixação de massa crítica que possa representar uma verdadeira mais-valia para o crescimento das empresas aqui localizadas”. “As cidades e as regiões precisam que trabalhemos na refuncionalização dos seus centros históricos”, acrescenta Jorge Brandão, que recorda que o PT2030, por exemplo, está fortemente vocacionado para o financiamento de projectos inovadores. Aquele responsável acrescenta, igualmente, que a dimensão estrutural do programa assenta não apenas na inovação empresarial como também ao nível de projectos, produtos ou procedimentos, “ou seja, na forma como actuamos”.

O primeiro concurso da inovação produtiva nas PME, no âmbito do Portugal 2030, deverá abrir ainda no mês de Abril, destinando-se a responder às mais de 900 intenções com um potencial de investimento na ordem dos 2000 milhões de euros apresentadas no pré-registo de candidaturas. O concurso terá quatro fases de candidatura até ao final deste ano e vai mobilizar 400 milhões de euros, financiados com fundos europeus pelo Programa de Inovação e Transição Digital e pelos Programas Regionais do Norte, Centro, Lisboa, Alentejo e Algarve. Este primeiro programa destina-se a projectos inovadores suportados em novos produtos ou novos processos e conta com uma dotação que representa um acréscimo de 25% face ao último concurso da Inovação Produtiva do Portugal 2020. São inúmeras as empresas afectas ao Sector da Construção sedeadas na região Centro. Considerando essa evidência, Jorge Brandão recordou o percurso que tem sido seguido ao nível da aplicação de fundos europeus, nomeadamente o apoio à criação de conhecimento científico e tecnológico, “conhecimento relevante para a actividade económica e investigação aplicada”. No entender do vogal da CCDRC, “espera-se uma mudança do perfil da economia regional, cujo futuro passará por um perfil mais inteligente e coeso”. A neutralidade carbónica e a transição digital e climática estão igualmente entre as prioridades.

Recursos disponíveis
A intervenção de Jorge Brandão vai ao encontro dos pressupostos estabelecidos pela própria organização, nomeadamente no que respeita aos recursos à disposição das empresas para que possam reforçar as suas operações (também) em torno da inovação. Ao CONSTRUIR, a coordenadora Executiva da Unidade de Avaliação Técnica do Itecons admite que “um dos problemas que a indústria vai encontrando prende-se com a necessidade de fazer investimentos, por vezes avultados, para conseguir inovar”. Andreia Gil recorda que “estando em fase de publicação os primeiros Avisos do Portugal 2030 e consequentemente do Centro 2030” foi importante para a organização deste evento promover a reflexão sobre os recursos à disposição da indústria. “No Itecons, já estivemos envolvidos em inúmeros projectos com a Indústria, e acabamos por ter a percepção que a falta de projectos financiados retrai a indústria no que diz respeito a novos desenvolvimentos”, acrescenta Andreia Gil, que abordou, na sua apresentação, a preparação da versão final do Regulamento de Produtos da Construção. Para a coordenadora Executiva da Unidade de Avaliação Técnica do Itecons, é expectável que esta regulamentação possa provocar “um grande impacto no sector dada a complexidade do seu conteúdo”. Se, por um lado, estes diplomas vão representar uma “maior harmonização de regras no contexto dos vários estados membros, por exemplo, ao nível de algumas das características essenciais dos materiais e produtos – como a resistência ao fogo – a introdução desta regulamentação vai igualmente mitigar os efeitos da fragmentação de um mercado único”. Importa, por isso, que as empresas estejam atentas ao potencial desta nova realidade e aos desafios a que importa dar resposta. Segundo Andreia Gil, com a introdução de uma nova regulamentação, “é importante que os fabricantes de produtos se preparem para as alterações que aí vêm”. Para a responsável do Itecons, “a proposta de Regulamento pretende contribuir para a digitalização do sector da construção, prevendo a disponibilização da documentação associada à marcação CE dos produtos na base de dados que a Comissão deverá criar”, factor que vai representar um conjunto adicional de responsabilidades às empresas fabricantes. Disso deu conta José de Matos por ocasião da sua intervenção.

Exigência aumenta
O secretário-geral da Associação Portuguesa de Comerciantes de Materiais de Construção (APCMC) assegura que “as exigências que resultam da maior expressão da digitalização do sector são cada vez maiores, seja no acesso ou no uso da informação, exigência que igualmente aumenta para quem a usa”. José de Matos sublinha, igualmente, que há um evidente caminho a percorrer na comunicação entre os agentes do Sector. Para o responsável da APCMC, essa comunicação deve ser mais ágil e valorizar a interoperacionalidade, conceitos que estão longe de estar consolidados. “Em Portugal, a digitalização dos processos ainda não está tão implementada se compararmos com a realidade europeia”, aponta José de Matos, que defende a necessidade de ser mais eficiente e eficaz nos processos fiscais, logísticos ou na partilha de informação comercial que se quer, igualmente, mais técnica”. “Esta digitalização requer informação mais adequada e actual e, por conseguinte, uma clara evolução na forma como é encarada a própria digitalização”, acrescenta.

O secretário-geral da APCMC vai, inclusivamente, mais longe, ao apontar que os “fabricantes não estão preparados para comunicar de uma forma mais detalhada as suas soluções”. José de Matos, que tem sido o rosto visível da APCMC Datacheck, plataforma desenvolvida pela associação onde, de forma gratuita, todos os fabricantes podem partilhar com os seus clientes o acesso a toda a informação sobre os respectivos produtos, permitindo que esta chegue também aos construtores, projectistas e clientes finais. No fundo, uma ferramenta que responde aos desafios da digitalização. Que são muitos. José de Matos acentua a tónica em torno da necessidade de se fazer a transição de um modelo tradicional de construção em obra, para um modelo mais industrial e moderno com recurso à pré-fabricação e à construção modular, com uso mais intensivo das novas tecnologias da informação a todos os níveis, desde a produção, logística, projecto e gestão da obra. Isto é, temos que digitalizar a construção, ou de forma mais compreensiva, os diversos processos que são assegurados pelos diferentes agentes da fileira”.

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