A “tempestade perfeita” para impactar o crescimento da construção em madeira
Há mais de 20 que a Carmo Wood actua no segmento da construção em madeira, em especial em França. Segundo João Figueiredo, chief operating officer (COO) e administrador da empresa, estão reunidas as condições para o crescimento deste método de construção também em Portugal. Para além dos inúmeros projectos onde já está presente, a empresa preparar uma solução “para o problema da habitação em Portugal”
Manuela Sousa Guerreiro
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O anúncio do envolvimento da Carmo Wood na construção de quatro novas villas do empreendimento West Cliffs, em Óbidos, é o pretexto perfeito para falar com a Carmo Wood, a empresa portuguesa que fez o seu percurso – e crescimento- ligada à madeira. João Figueiredo, chief operating officer (COO) e administrador do grupo, falou ao CONSTRUIR sobre o crescimento da vertente de engenharia da madeira no seio do grupo, onde é desenvolvida há mais de 20 anos, em Portugal, e dos desafios (e preconceitos) que ainda faltam ultrapassar.
Este projecto confirma o interesse da Carmo Wood em avançar, de forma mais assertiva, na construção de habitação em madeira?
A construção em Portugal enfrenta desafios gigantes, como a falta de mão de obra, somada à fraca produtividade no trabalho. A Carmo Wood encara esses problemas como desafios e está empenhada na procura de soluções. Para nós, a solução passa, indiscutivelmente, pela construção em madeira. E porquê a madeira? Primeiro, porque a evolução e inovação dos materiais em madeira alcançaram um ponto em que são tão bons ou melhores do que os tradicionais, e segundo, porque os preços finalmente são competitivos quando comparados com os outros materiais. A construção em madeira permite uma pré-fabricação quase completa de uma obra em fábrica. Isso aumenta a qualidade da execução, a velocidade de montagem e reduz o desperdício.
E foi isso que aconteceu neste projecto?
Neste caso específico, estamos a falar da construção de moradias em 5 meses, prontas a habitar. A Carmo tem estado envolvida em diversos projectos de construção em madeira, e isso faz parte do nosso portfólio de obras. Portanto, para nós, não é uma novidade, mas um reforço no sector da construção. Acreditamos que a construção em madeira é uma solução viável para superar os desafios enfrentados pela indústria da construção em Portugal, proporcionando rapidez, eficiência, sustentabilidade e qualidade. E isto, sendo válido para qualquer sector, é particularmente interessante para o sector do turismo.
Referiu o envolvimento em vários projectos, mas estamos a falar de projectos pontuais aos quais a empresa, devido ao seu know how, deu resposta ou como parte de uma estratégia consertada?
Durante muitos anos, apostámos fortemente na construção de madeira em França. Nestes projectos, muitas vezes actuávamos como subempreiteiros e era algo pouco divulgado, devido ao modelo francês mais restrito em termos de publicidade de obras, em comparação com o modelo nacional.
Estrategicamente, decidimos temporariamente sair do mercado da construção em França quando surgiu a pandemia de COVID-19, devido às dificuldades de viajar. Agora, já voltámos ao mercado e estamos a iniciar obras de vários tipos para começar ainda este ano. O mercado francês é muito mais maduro do que o mercado nacional em termos de construção em madeira, mas a concorrência também é muito maior. Esses factores ajudaram e ajudam a Carmo a crescer num mercado exigente durante muitos anos
O (lento) despertar do mercado para a engenharia da Madeira
E em Portugal como vê o mercado da construção em madeira?
Na verdade, a aposta da Carmo Wood na construção em madeira, em Portugal, não é nova. Temos já diversos projetos concluídos e podemos sublinhar algumas das obras emblemáticas a nível nacional, tais como: a 7 boxes houses, que é uma referência arquitectónica; o primeiro edifício em altura em CLT, o Redbridge School, em Lisboa; a requalificação do Mercado do Bolhão, no que diz respeito à estrutura de madeira; muitas das casas típicas da Comporta; as quintas da Pacheca e do Perú. Além disso, existem outras obras que compõem um portefólio muito rico, desde pontes e edifícios, a museus, casas e restaurantes. Contudo, podemos dizer que esta passou a ser uma área estratégica na qual estamos a apostar muito, uma aposta que vem no seguimento de um despertar do mercado nacional para a engenharia de madeira, estando a Carmo Wood em vantagem uma vez que pode agora aplicar todos os conhecimentos que adquirimos em França ao longo de 20 anos.
Como surgiu o envolvimento no West Cliffs?
No passado, tivemos a oportunidade de construir um clubhouse exactamente no empreendimento West Cliffs, onde agora estamos a construir as casas. O cliente é bastante conhecedor do mundo das madeiras e das diversas soluções disponíveis no mercado.
Devido à nossa experiência e conhecimento nessa área, fomos prontamente identificados como um parceiro-chave para o projecto.
Em que consiste, e como se caracteriza, esta solução de construção pré-fabricada desenvolvida pela Carmo Wood?
A construção em madeira pode ser caracterizada em três formas: parede simples macho fêmea, timber-frame e construção em CLT. A parede simples macho fêmea é um método utilizado há cerca de 60 anos, em que as tábuas de madeira são encaixadas umas nas outras para formar as paredes. Este modelo pode ser utilizado, mas em condições técnicas que não são aplicadas em Portugal. As poucas imitações que fazem em Portugal, na nossa opinião, denigrem a imagem do que é realmente a construção em madeira.
O timber-frame, por sua vez, consiste numa estrutura de madeira composta por vigas e pilares, que são pré-fabricados e montados no local da construção. Essa técnica permite uma montagem rápida e eficiente, proporcionando um processo construtivo mais ágil.
A construção em CLT (Cross Laminated Timber) é um sistema em que painéis de madeira maciça são fabricados a partir de camadas de tábuas de madeira coladas entre si, formando uma estrutura altamente resistente e duradoura.
No caso das villas West Cliffs, trata-se de um modelo timber-frame produzido numa das nossas fábricas em Oliveira de Frades, que permitiu transportar uma vivenda de 140 m2 em dois camiões. Esse modelo é extremamente rápido e permite a construção em tempo recorde. Este sistema permite acoplar outros tipos de materiais como capoto, azulejo e pedras à edificação.
E a utilização desta solução em projectos diferentes é uma possibilidade?
Estamos a trabalhar em parceria com outros promotores na construção de hotéis, aldeamentos turísticos, complexos habitacionais, escolas, museus e muito mais.
A madeira tornou-se o centro da construção e da engenharia actualmente. Gosto de dizer que estamos a viver a tempestade perfeita. Porquê? Porque os arquitectos adoram a madeira, os promotores reconhecem o seu valor e os clientes finais, bem informados, procuram soluções construtivas em madeira.
Mas o que ainda falta para um uso mais regular desta construção em Portugal?
Empresas capazes de calcular com precisão as estruturas e com conhecimento sólido na construção em madeira. Existe uma grande lacuna nas universidades em relação ao ensino da construção em madeira. Para os engenheiros civis, este é um mundo novo. E como em qualquer coisa nova, podem ocorrer erros. Estamos entusiasmados por fazer parte deste movimento crescente na construção em madeira em Portugal e em oferecer soluções de qualidade aos nossos clientes. Brevemente vamos lançar um projecto que promete ajudar a resolver o problema da classe média em Portugal: falta de habitação de qualidade a valores competitivos. Fiquem atentos!
Carmo Wood
Facturação 2022 – 97,5M€
Previsão para 2023 – 130 M€
Principais áreas:
Construção em madeira; Estruturas agricultura; Mobiliário; Segurança; Produtos equestres; Exploração florestal; Produtos logísticos; Postes para linhas de telecomunicação e electricidade
Principais países de exportação:
Portugal; França; Espanha; Itália; Alemanha; Reino Unido; Chile; Senegal