Ricardo Almeida, CEO da Power2Build
Portugal é a entrada da angolana Power2Build na Europa
A startup angolana que se dedica à construção 3D tem sido uma peça fundamental no desenvolvimento da tecnologia da COBOD. Com os primeiros projectos já em curso em Angola a empresa prepara a sua expansão para os países vizinhos, Namíbia e República Democrática do Congo, e para Portugal, onde quer estabelecer uma base que lhe permita dar o salto para outros países europeus como conta ao Construir Ricardo Almeida, CEO da Power2Build
Manuela Sousa Guerreiro
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A start-up angolana Power2Build tem tido, desde 2020, um papel relevante no desenvolvimento da tecnologia de construção 3D criada pela COBOD. Foi responsável pela criação da primeira casa construída com uma impressora 3D em África, testou as primeiras soluções necessárias à impressão com betão e participou no desenvolvimento da nova versão da impressora 3D da COBOD. Em Angola a empresa está já a construir com esta solução os primeiros projectos imobiliários e deverá avançar com acordos para a construção de projectos de habitação social, ao mesmo tempo que prepara a entrada nos vizinhos Namíbia e República Democrática do Congo.
Portugal joga um papel importante na expansão da empresa para a Europa. O facto da COBOD ter entrada no país pela “mão” da Havelar no início deste ano não parece ser um entrave, antes uma possibilidade de se estabelecerem parcerias como afirma ao CONSTRUIR, Ricardo Almeida, CEO da Power2Build
A empresa nasce em 2020. É uma empresa de direito angolano que nasce motivada por que factores?
A Power2Build foi criada em 2020 em Angola para combater o crescente déficit habitacional no país e no continente africano. Utilizamos tecnologia avançada de impressão 3D para tornar a construção mais rápida, acessível e sustentável, com o objectivo de ajudar a melhorar as condições de vida e criar empregos locais.
Estamos a concluir o primeiro condomínio familiar 3D em Angola, sendo que já temos duas casas impressas pela anterior impressora BOD2 e em curso mais quatro, com recurso à nova impressora BOD3. Este é um projecto de referência e de relevante importância para o sector da construção 3D, pois estamos a falar das primeiras casas de dois pisos, com paredes autoportantes no mundo
Qual o montante de investimento realizado até agora? E este foi canalizado para que áreas, para além da aquisição da impressora?
Até agora, a empresa investiu aproximadamente oito milhões de euros. Este valor foi utilizado não só na aquisição da maior impressora 3D do mundo, mas também no desenvolvimento de novas misturas de betão, aquisição de equipamento de apoio, formação, pesquisa e desenvolvimento, parcerias tecnológicas, estaleiro principal e na expansão da equipa para suportar o crescimento planeado. Contando hoje já com duas impressoras 3D.
Qual foi a receptividade do mercado a esta nova solução de construção? Sendo a construção aditiva e 3D nova esta coaduna-se com a legislação existente?
A receptividade tem sido positiva, com expansão para novos mercados como Namíbia e República do Congo. A tecnologia de construção 3D está a ser integrada conforme as regulamentações locais, pois assenta em técnicas e métodos tradicionais. A tecnologia de construção 3D, pelo menos de momento, assenta somente na construção das paredes, sendo restante suportado pela construção tradicional, em que o material utilizado é betão, como outro qualquer tipo de betão. A diferença assenta apenas na forma como este betão é aplicado.
Que projectos tem em carteira a Power2Build?
Neste momento, estamos a concluir o primeiro condomínio familiar 3D em Angola, sendo que já temos duas casas impressas pela anterior impressora BOD2 e em curso mais quatro, com recurso à nova impressora BOD3. Este é um projecto de referência e de relevante importância para o sector da construção 3D, pois estamos a falar das primeiras casas de dois pisos, com paredes autoportantes no mundo. Para Angola estamos em fase final de negociação e contratação de habitação social e projectos de dimensão relevante para o sector privado. Planeamos ainda a expansão para Portugal e outros países europeus, mas já num formato diferente, fazendo habitações para um segmento diferenciado. Como mencionei anteriormente, estamos também em fase final de negociação para iniciar operações na Namíbia e na República Democrática do Congo.
Portugal foi escolhido como porta de entrada para o mercado europeu devido à sua posição estratégica e potencial de mercado. A Power2Build pretende estabelecer um centro de operações em Portugal para facilitar a expansão para outros países europeus, aproveitando a infraestrutura e as oportunidades locais
Desenvolvimento da tecnologia em curso
No início do ano falámos com o responsável da COBOD e ele falou-nos do trabalho e participação da Power2Build no desenvolvimento da nova versão da impressora e na testagem da mistura que é usada pela impressora. Que trabalho têm estado a desenvolver?
A nossa colaboração com a COBOD começa em 2020, quando compramos a primeira impressora, a BOD2, com a capacidade de imprimir estruturas em betão até 174m2 por piso. Foi já nessa altura que percebemos a necessidade de termos uma impressora virada para a impressão de casas em massa, como se de uma linha de produção, ou uma fábrica de casas se tratasse. Foi também em 2020, que começámos a tratar da necessidade da impressão com betão, pois em Angola não havia as argamassas necessárias a impressão 3D, e o nosso foco sempre foi o de construir mais rápido e mais barato.
Entre 2020 e 2021, testámos a mistura e os químicos necessários para a impressão com betão, um trabalho que terminou em Novembro de 2021 com a impressão da primeira casa a nível mundial, 3D impressa em Betão em Angola: a nossa famosa “Casa Amarela”. Temos consistentemente escolhido “o caminho difícil” pois estamos a fazer uma aposta a longo prazo, e com algum orgulho temos pressionado a COBOD para nos arranjar soluções para os nossos desafios, funcionado um pouco como cobaias. Hoje esta colaboração com a COBOD para desenvolver e testar uma nova versão da impressora 3D, culminou com o lançamento mundial da nova impressora em Angola. Esta parceria foi essencial para melhorar a qualidade das construções e reduzir os custos e timings de construção. Mas não queremos ficar por aqui, queremos continuar a trabalhar para o desenvolvimento da tecnologia de construção 3D.
O que vos leva a vir para Portugal e a focar nos mercados europeus?
Portugal foi escolhido como porta de entrada para o mercado europeu devido à sua posição estratégica e potencial de mercado. A Power2Build pretende estabelecer um centro de operações em Portugal para facilitar a expansão para outros países europeus, aproveitando a infraestrutura e as oportunidades locais.
A entrada não é condicionada por já existirem nestes mercados empresas com licença e impressores da COBOD (caso da Havelar)? Ou isso é um factor para a formação de parcerias?
Em nossa opinião é um factor favorável a parcerias, acreditamos haver espaço para todos. Os temas de licenças não se aplicam à operação, mas na questão do fornecimento e manutenção dos equipamentos. O sonho de reduzir o défice habitacional, utilizando a tecnologia de construção 3D, não pode ser concretizado por uma só empresa, nem uma só impressora, acreditamos na criação de um ecossistema saudável e colaborativo.
Esta entrada irá obrigar a que investimentos? E que planos/estratégia têm para a expansão?
Para entrar no mercado europeu, iremos precisar de investir em infraestrutura, construir parcerias locais e ampliar a equipa. A estratégia de expansão envolve consolidar as operações em Portugal e expandir gradualmente para outros países europeus, garantindo uma base sólida de operações e suporte técnico.