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    Opinião

    2023, o ano da intranquilidade!

    Um arrefecimento na atividade do setor da construção em 2023, não deverá significar uma recessão, mas sim um crescimento eventualmente mais modesto. Dito isto, reconhecemos, obviamente, que há fatores negativos recentes e mesmo ameaças que continuam a crescer

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    2023, o ano da intranquilidade!

    Um arrefecimento na atividade do setor da construção em 2023, não deverá significar uma recessão, mas sim um crescimento eventualmente mais modesto. Dito isto, reconhecemos, obviamente, que há fatores negativos recentes e mesmo ameaças que continuam a crescer

    Jose de Matos
    Sobre o autor
    Jose de Matos

    Para evitar mal-entendidos, começamos já por afirmar que estamos moderadamente otimistas quanto ao ano que aí vem. Isto quer dizer que, mesmo admitindo, como é opinião generalizada dos analistas, um arrefecimento na atividade do setor da construção em 2023, isso não deverá significar uma recessão, mas sim um crescimento eventualmente mais modesto.

    Dito isto, reconhecemos, obviamente, que há fatores negativos recentes e mesmo ameaças que continuam a crescer e poderão vir a travar o crescimento da construção a prazo.

    Uma delas, prende-se com os custos da construção, que subiram muitíssimo, quer a mão de obra, quer, sobretudo a partir de meados de 2021, os preços dos materiais. O custo da mão de obra deverá continuar a aumentar, até por causa da inflação, mas no caso dos materiais é legítimo esperar uma inversão da tendência que deverá ser notória por volta de meados do ano. Até agora, recordamos, a evolução do preço das casas tem andado muito acima da evolução dos custos, pelo que, mesmo sendo natural que muitos projetos tenham tido que ser repensados, há margem para o mercado absorver a maior parte desses aumentos, contanto que a situação se venha a estabilizar.

    A outra ameaça que teremos que considerar, são os efeitos da inflação e do aumento das taxas de juro no poder de compra e na capacidade de endividamento das famílias, que é suscetível de provocar um arrefecimento temporário, mas substancial, no mercado da manutenção e renovação, para além de poder vir a comprometer os projetos de construção de habitação destinados às famílias de rendimentos médios.

    Todavia, o impacto no sector não deverá ser muito significativo, uma vez que a maior parte dos trabalhos de construção em edifícios que foram realizados nos últimos anos estiveram relacionados com a área do turismo ou foram destinados a segmentos premium da procura, que, como sabemos, continuam muito dinâmicos, sobretudo impulsionados por clientes estrangeiros, que dificilmente serão prejudicados por aumentos de custos e taxas de juro dentro de limites razoáveis.

    Por outro lado, ao contrário do que muitos, talvez devido aos traumas do passado recente, têm vindo a especular, a subida da taxa de juro, desta vez, não vai provocar a falência generalizada das famílias com crédito à habitação, nem a venda de imóveis ao desbarato. Primeiro, porque a percentagem de famílias com créditos recentes e com capital elevado é relativamente reduzida. Depois, porque os bancos foram muito mais prudentes que no ciclo anterior, nomeadamente, assegurando percentagens de financiamento bem inferior.

    E isso é o que é mais importante para a saúde do mercado imobiliário! Porque é a perspetiva de desvalorização dos imóveis que afasta os compradores, os investidores e os financiadores.

    Agora vamos aos fatores positivos.

    É por demais evidente que temos uma situação no mercado imobiliário em que a procura se encontra ainda muito longe de estar satisfeita. Persiste, inclusive, um problema de habitação por resolver, que constitui um desafio e uma oportunidade para o setor. Isto para não falar do que é preciso reabilitar, particularmente em termos de melhorar a eficiência energética dos edifícios.

    Acresce a tudo isto que o imobiliário continua a ser um bom refúgio para a aplicação de capitais em tempos de inflação, a procura externa, seja para investimento, seja para residência, está mais forte que nunca e ainda temos os programas do PRR para a habitação e para as obras públicas a arrancar, o Portugal 2030 e, provavelmente, virão mais incentivos para a melhoria da eficiência energética dos edifícios.

    Apesar da ansiedade que a natureza ameaçadora e volátil do cenário de guerra, crise energética e recessão que o mundo enfrenta, julgamos que há condições objetivas para afastar a ideia de uma crise na construção em Portugal, em 2023.

    As nossas últimas previsões, apresentadas no dia 7 de dezembro, baseadas num modelo econométrico que se mostrou robusto nos seis anos anteriores, embora corrigindo em baixa as que havíamos feito em julho, apontam para isso mesmo, isto é, para um crescimento da atividade da construção de 1,9% relativamente a 2022 (preços constantes de 2017).

    A finalizar, lembro que os números são importantes, mas não são tudo. Temos que impedir que a incerteza dos mercados nos faça perder a noção das mudanças que estão a suceder e que podem alterar as “regras do jogo”: a digitalização e a sustentabilidade (economia circular). A propósito, em 2023, teremos o Novo Regulamento dos produtos da Construção, com o “passaporte digital” dos materiais de construção e muitas outras novidades.

    NOTA: O Autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico

    Sobre o autorJose de Matos

    Jose de Matos

    José de Matos, secretário geral da Associação Portuguesa dos Comerciantes de Materiais de Construção (APCMC)
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