Opinião: “O Sr. Desenrasca e o amigo Improviso, os maiores inimigos da segurança no trabalho”
“Atrever-me-ia a dizer que a componente comportamental de todos os envolvidos em obra define 60% do desempenho de segurança desse projeto (…)”
O planeamento das atividades, em matéria de segurança, é fundamental para um bom desempenho, e deverá acontecer logo na fase de projeto – sim, neste caso, aplica-se a expressão “a segurança é só papel”, como muitas vezes ouvimos dizer. Afinal, é quando o projeto ainda está a ser delineado no papel que o coordenador de segurança de projeto deverá ser envolvido, conforme previsto no Decreto-lei nº273/2003 de 29 de outubro (diploma legal que estabelece as prescrições mínimas de segurança e saúde no trabalho em estaleiros temporários ou móveis). É assim expetável que o coordenador de segurança identifique, ainda que de forma preliminar, eventuais riscos que possam resultar de soluções arquitetónicas, incompatibilidades entre projetos de especialidades ou dos traçados das especialidades, e que já nesta fase proponha medidas de prevenção ou proteção com vista à mitigação do risco determinado. Estas medidas deverão constar do Plano de Segurança e Saúde.
Passamos então para a obra. Esta é parte que todos aguardam … estão em posição de arranque … dá-se o tiro de partida … e correm todos para a obra … pois, é nesta fase que aparecem os nossos dois amigos que falei no início – O Sr. Desenrasca e o amigo Improviso.
Mais uma vez, antes de se iniciarem os trabalhos, a presença do técnico de segurança é fundamental na fase de preparação. É de extrema importância que o planeamento das atividades seja analisado por toda a equipa de obra, desde o diretor de obra ao técnico de segurança. Nesta fase, é já possível determinar os riscos de nível mais elevado e definir medidas de prevenção e de proteção que permitam, conforme já mencionado antes, reduzir o risco para níveis aceitáveis.
É antes do arranque dos trabalhos que se dá início ao desenvolvimento do plano de segurança e saúde elaborado na fase de projeto.
Mas bem, então uma obra bem planeada significa que a atividade de segurança em obra está terminada? Não, claro que não. Até porque os amigos Improviso e Desenrasca vão continuar por lá até ao último dia dos trabalhos. Atrever-me-ia a dizer que a componente comportamental de todos os envolvidos em obra define 60% do desempenho de segurança desse projeto, ficando os restantes 40% para as soluções de engenharia implementadas com vista a criar condições seguras.
O aspeto comportamental representa o maior desafio para a Segurança no Trabalho. Como todos sabemos, mudar mentalidades e quebrar conceitos predefinidos requer, muitas vezes, verdadeiros trabalhos de evangelização. É natural do comportamento humano procurar sempre a forma mais fácil e mais rápida de desempenhar uma tarefa. Lamentavelmente, na maioria dos casos, essa não será a forma mais segura de o fazer.
Quem nunca fez verdadeiros números circenses para chegar a uma prateleira lá em casa?
Mas este representa também o maior desafio para o técnico de segurança – mais do que colaborar para que não haja acidentes, contribuir para a mudança de comportamentos.
A mudança de comportamentos e consequente melhoria da Cultura de Segurança é o desafio que todos os colaboradores da TÉTRIS têm por máxima, contribuindo para que centenas de trabalhadores de empresas subcontratadas, que prestam serviço diário nas nossas obras, possam regressar a casa da mesma forma como saíram.
A Cultura de Segurança na TÉTRIS tem vindo a crescer de forma notória, sustentável e responsável – com o envolvimento de todos, iremos “desalojar” o Sr. Improviso e o amigo Desenrasca das nossas obras.
NOTA: O autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico