SimpleAxis leva as tecnologias de informação e comunicação para o sector da construção
SimpleAxis tem como objectivo promover a aceleração da implementação dos novos paradigmas associados às TIC nos diversos sectores da construção civil
Pedro Cristino
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A SimpleAxis é uma das provas de que a componente de inovação nas universidades pode traduzir-se em significativas recompensas no mundo empresarial. Nascida no seio da FEUP, esta iniciativa empresarial fundada por investigadores da faculdade já produz frutos que poderão revolucionar a forma de trabalhar dos engenheiros civis, através do desenvolvimento de soluções no campo da tecnologia de informação e comunicação aplicadas ao sector da construção. Através do projecto PRISE, a SimpleAxis consegue criar a plataforma EQLogger e reforçar a importância das tecnologias de informação e comunicação no sector da construção civil em Portugal
“Há um movimento mundial que visa sensibilizar as pessoas para a importância da programação e para a promoção do ensino da programação”, começa por destacar Miguel Castro. Ao Construir, o professor auxiliar e investigador da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) partilha deste ideal e apresenta agora, sob a égide da SimpleAxis, uma iniciativa que sustenta o seu ponto de vista no domínio da engenharia civil.
SimpleAxis
As Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC) têm assumido um papel cada vez mais relevante na sociedade, sendo actualmente uma das prioridades e vector estratégico de investimento para a Comissão Europeia. No entanto, a chegada das TIC ao sector da construção tem decorrido de forma mais lenta em comparação com outros sectores da indústria. Para tal têm contribuído diversos factores, nomeadamente o facto de ser um sector baseado em processos técnicos e meios de promoção e divulgação que apresentam tradicionalmente alguma inércia à adopção de novas tecnologias, sobretudo nas vertentes técnica e comercial. É neste contexto que surge, no seio da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP), uma iniciativa empresarial, a SimpleAxis, fundada por Miguel Castro, Mário Marques e Luís Macedo, que têm como objectivo promover a aceleração da implementação dos novos paradigmas associados às TIC nos diversos sectores da construção civil.
“Inúmeras possibilidades”
Segundo Miguel Castro, são inúmeras as possibilidades e oportunidades associadas à aplicação das TIC no sector da construção. Os benefícios podem ser obtidos a diversos níveis, nomeadamente i) no aumento da eficiência na promoção dos produtos, sobretudo ao nível da internacionalização, ii) em aumentos de produtividade ao nível dos processos e iii) no incremento da competitividade resultante da implementação de processos de optimização baseados em algoritmos avançados.
No entanto, na opinião do docente da FEUP, existem barreiras importantes que terão de ser vencidas, principalmente ao nível da escassez de competências dos profissionais de engenharia civil em termos da manipulação das TICs, mais concretamente ao nível do conhecimento de linguagens de programação. Para Miguel Castro, “os engenheiros formados até início dos anos 90 eram confrontados com a necessidade de desenvolverem as suas próprias ferramentas de cálculo, resultado da escassez no mercado de softwares direcionados para a resolução de problemas de engenharia civil. Esta situação alterou-se de forma profunda em meados dos anos 90, altura em que começam a surgir de forma generalizada programas comerciais para resolução de diversos problemas, como por exemplo o projecto de estruturas de edifícios ou o dimensionamento de redes prediais. Paralelamente, a disponibilidade do software Microsot Excel, que disponibiliza um ambiente de programação integrado, tornou-se um dos centros principais da actividade de cálculo do profissional de engenharia civil, no qual muitos dos problemas matemáticos passaram também a serem resolvidos. Existe uma geração de engenheiros, como é o meu caso, que desde o final dos anos 90, até aos dias de hoje, deixou de sentir a necessidade de programar em ambientes de programação alternativos ao Excel. Todavia, com o aparecimento da Internet 2.0 – “a web interactiva” – em meados da década passada e o conceito recente de cloud computing, o utilizador passa a interagir cada vez mais com um browser que serve de interface para recursos computacionais em termos de processamentos e armazenamento de informação que até há poucos anos não estavam disponíveis. Esta nova realidade, para o fundador da SimpleAxis, abre todo um universo de possibilidades e de criatividade que podem ser muito relevantes em termos do seu impacto no sector da construção mas para o qual os profissionais de engenharia civil e os actuais estudantes não estão adequadamente preparados. De facto, o desenvolvimento de aplicações web pode potenciar fortemente a divulgação e comercialização de produtos e serviços no sector da construção e engenharia civil. No entanto, o desenvolvimento deste tipo de aplicações exige equipas multidisciplinares nas quais um engenheiro civil com as devidas competências pode desempenhar um papel de grande relevo. É este o contexto que motivou Miguel Castro a fundar, na FEUP, o NTIEC – Núcleo de Tecnologias de Informação em Engenharia Civil, um núcleo estudantil que tem como um dos seus principais objectivos a promoção das competências de programação informática entre os jovens estudantes de engenharia civil. Na sequência desta iniciativa começam a surgir os primeiros estudantes a desenvolverem aplicações informáticas para o ambiente web. Para além do interesse académico que estas aplicações possam ter, as novas competências adquiridas pelos jovens estudantes serão, segundo o Miguel Castro, “seguramente um factor diferenciador em termos de saídas profissionais”. Para além disso, esta nova geração de engenheiros terá um papel impulsionador e decisivo na implementação das TIC no sector da construção.
O PRISE como laboratório experimental
O projecto de investigação PRISE teve um papel importante no desenvolvimento de competências da equipa de SimpleAxis na aplicação das TIC a problemas de engenharia de alta complexidade, tendo servido como um laboratório experimental onde a flexibilidade e a criatividade foram o mote para a criação de uma plataforma web complexa e altamente avançada. O PRISE foi, nas palavras do docente da FEUP, “um projecto tradicional do ponto de vista científico, financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia” (FCT), desenvolvido na FEUP, que contou com o envolvimento do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e a Associação Portuguesa de Seguradores, bem como do EUCentre, um centro de investigação europeu de referência em engenharia sísmica, com sede em Pavia, Itália. O principal objectivo deste projecto, liderado por Mário Marques, investigador da FEUP, consistiu em estabelecer uma “abordagem robusta” para a estimativa de perdas económicas e humanas, correlacionadas com o dano estrutural do património edificado do país, perante a ocorrência de um sismo. Neste âmbito, o projecto procurou “chegar a indicadores para o risco sísmico em Portugal”. Paralelamente às tarefas deste projecto e à “sua adequada e total interligação com os resultados a produzir”, foi desenvolvida uma plataforma web georreferenciada para simular e avaliar, em tempo real, as perdas incorridas com a ação dos sismos. Esta plataforma, denominada EQLogger, foi desenvolvida em “estreita colaboração” com o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) e com a Autoridade Nacional para a Proteção Civil (ANPC), e recorre aos modelos de exposição, perigosidade e vulnerabilidade desenvolvidos pela equipa do projecto, recorrendo ao motor de cálculo OpenQuake, desenvolvido pela Global Earthquake Model Foundation. Segundo Mário Marques, o EQLogger representa “um importante mecanismo de disseminação e organização da informação” e assenta na utilização da informação dos eventos sísmicos registados na rede sísmica nacional gerida pelo IPMA. Os resultados poderão ser consultados de forma “gráfica e interativa”, em qualquer browser, “facilitando, desta forma o acesso à manipulação da informação. A plataforma EQLogger foi objecto de atribuição de uma menção honrosa num concurso de inovação por parte da Ordem dos Engenheiros – Região Sul – estando neste momento em curso a adaptação da plataforma para outro país localizado no norte de África. Esta plataforma é, para Mário Marques, “um exemplo concreto do contributo relevante que as tecnologias de informação podem dar no desenvolvimento de ferramentas inovadoras no domínio da engenharia civil, conferindo um carácter diferenciador e, como tal, com potencial de projecção internacional dos agentes e empresas envolvidas neste sector”.
Aplicação à indústria. Primeiro caso de sucesso.
Apesar da SimpleAxis ser ainda uma iniciativa muito recente, encontra-se neste momento a concretizar diversos projetos para a indústria sendo de destacar uma plataforma de aplicações web para a Metalogalva – empresa do sector da metalomecânica do Grupo Metalcon – que permite a simplificação e sobretudo a optimização de processos internos assim como uma maior facilidade na gestão de diversas componentes de informação relacionada com os produtos comercializados pela empresa. A SimpleAxis encontra-se também activamente envolvida na preparação e concretização de projectos de inovação e desenvolvimento no contexto das oportunidades de financiamento disponíveis no âmbito do programa Portugal 2020, o qual valoriza e incentiva o investimento no sector das TIC.