“Defendemos sempre as heranças históricas dos espaços que reabilitamos”
No fundo, a maior dificuldade com que nos deparamos é a desvalorização por parte das pessoas em geral do papel do arquitecto
Ana Rita Sevilha
Ordem lança livro sobre os “50 anos de arquitectura no Portugal Democrático”
INE e LNEC debatem desafios da habitação em Portugal
Focus Group desenha novo parque de estacionamento de Entrecampos
Imobiliário português com desempenho estável no 1º trimestre do ano
Empresas preocupadas com a escassez de mão-de-obra qualificada
Edifício Báltico com 14 mil m2 para arrendamento no Parque das Nações
Rendas das casas em Lisboa estabilizam após dois trimestre de descida
Lisboa recebe primeiro congresso internacional da Exp Realty
Savills coloca CTT no Benavente Logistic Park
Élou com mais 130 apartamentos em comercialização
Margarida e Inês, dão corpo ao Atelier Menta, um gabinete que pretende refrescar os espaços e as ideias. Com uma carteira de projectos muito focada na reabilitação, é na criação de alojamento local que têm desenvolvido algum do seu trabalho e dizem-se fascinadas por espaços pequenos e pelo desafio de encontrar soluções práticas que respondam aos pressupostos do programa. Ao CONSTRUIR, falaram sobre a profissão e os projectos que desenvolvem.
Como nasceu o Atelier Menta?
Margarida Martins: O atelier menta nasceu em Maio de 2016, mas eu e a Inês já trabalhávamos juntas há algum tempo. Começámos por fazer alguns trabalhos pontuais para amigos, que por sua vez mostraram aos seus amigos e a certa altura já recebíamos telefonemas de pessoas que nem conhecíamos! Com isto, sentimos a necessidade de materializar este nosso projecto e dar-lhe uma identidade.
A Menta é um sabor que nos refresca. É isso que procuram fazer com os espaços?
Sem dúvida! Acho que somos criativas e queríamos que o nosso nome transmitisse isso também. No fundo, viemos refrescar um pouco esta ideia que a maioria das pessoas têm dos ateliers de arquitectura: sem cor, muito presos a pressupostos académicos e quase impessoais. Somos consistentes nos nossos projectos e o nosso nome não poderia ser excepção.
Actuam em várias áreas, mas a aposta recai um pouco na reabilitação dirigida a alojamentos turísticos. Foi fruto do acaso ou de certa forma sentem-se mais inclinadas para este tipo de programa?
Na verdade, foi um acaso. Recebemos o contacto de uma empresa de short renting, pois os seus clientes precisavam de ajuda. Assim que agarrámos os projectos ficámos completamente apaixonadas por espaços pequenos! O desafio de encontrar soluções práticas que respondessem aos pressupostos do programa foram muito interessantes e estimulantes para nós. Contudo, o que nos deu a maior satisfação foi trabalhar as heranças históricas que felizmente conseguimos manter e recuperar. Somos muito ligadas à cidade e, para nós, é muito importante que não se desvirtuem os espaços, daí gostarmos muito deste tipo de programa.
Qual é o tipo de cliente que mais vos procura? Investidores nacionais ou internacionais?
Temos muitos clientes nacionais que herdaram ou compraram edifícios/apartamentos no centro de Lisboa que nos procuram. Contudo, também temos clientes franceses, angolanos e chineses que pretendem investir em Portugal.
Quais os grandes desafios e dificuldades com que se têm vindo a deparar no exercício da vossa profissão?
A maior dificuldade está na ideia que as pessoas (no geral) têm dos arquitectos. Parece-nos que não existiu uma adaptação por parte do arquitecto às necessidades reais dos clientes actuais. Vivemos num mundo em constante mudança e é muito importante sabermos adaptar-nos ao momento em que vivemos. Temos de provar com bons trabalhos que o nosso papel como criativas e técnicas é fundamental para bons resultados e, principalmente, para a não descaracterização das cidades. No fundo, a maior dificuldade com que nos deparamos é a desvalorização por parte das pessoas em geral do papel do arquitecto. É isto que tentamos mudar todos os dias com projectos diferentes e muito focados no cliente.
Que análise fazem ao mercado e à dinâmica da reabilitação em Lisboa, nomeadamente à luz do boom que se tem assistido de alojamentos turísticos, atirando muitas vezes os habitantes para as periferias?
Para nós, para além do imenso trabalho que a reabilitação nos tem trazido, pensamos que este boom foi muito importante para os centros históricos. É um tema bastante controverso, contudo no atelier partilhamos da opinião de que está a ser muito positivo para as cidades. A maior parte dos edifícios estavam completamente devolutos, esquecidos pelos proprietários e muitos colocavam a segurança pública em risco. Como atelier de arquitectura, defendemos sempre as heranças históricas dos espaços que reabilitamos e ficamos agradecidas quando um cliente decide reabilitar o seu, contribuindo para a manutenção da cidade. Relativamente aos habitantes destes edifícios, a maioria já estão desabitados e os que ainda têm inquilinos acabam por beneficiar das obras de conservação. Nunca assistimos a um despejo para dar lugar a um alojamento para turistas. Até porque, um apartamento para turistas terá, à partida, condições para arrendamento de longa duração.
Que conselho dariam a quem está agora a começar?
O melhor conselho que podemos dar aos nossos colegas é fazer sempre o seu melhor, com dedicação, trabalho e muita força de vontade!
Como veem o futuro da arquitectura em Portugal?
Pensamos que nos próximos anos o trabalho do arquitecto passará muito pela reabilitação.
Em que projectos estão actualmente a trabalhar?
Neste momento estamos a trabalhar numa remodelação em Odivelas, um edifício para reabilitação total na zona da Graça para alojamento local e em breve vamos reabilitar uma vila no centro da Figueira da Foz.