Habitação social e infra-estruturas com mercado em Marrocos
Quase 150 empresas portuguesas de construção de civil estão presentes em Marrocos,

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Quase 150 empresas portuguesas de construção de civil estão presentes em Marrocos, um país transformado num “grande estaleiro” e que rendeu às “marcas” portuguesas mais de mil milhões de euros em três anos. Esta é uma das conclusões retiradas do ciclo de conferências “Portugal Constrói” organizadas em parceria pela AICEP Portugal Global, pela Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI) e pela FIL/AIP no âmbito da Tektónica e em que a internacionalização surgiu como pano de fundo. Marrocos foi apresentado como um dos mercados com maior potencial para as empresas nacionais e o director do centro de negócios em Marrocos da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, Eduardo Henriques, disse que o investimento público em grandes infra-estruturas, como auto-estradas, portos, aeroportos ou caminhos de ferro ofereceu uma grande oportunidade de negócio aos portugueses. Marrocos, no entender de Eduardo Henriques, apresenta-se como um mercado de oportunidades mas também um mercado difícil.
“O país goza de grande estabilidade política e tem conhecido um importante progresso na modernização de infra-estruturas. É um país que apresenta baixos custos de produção e as empresas beneficiam de condições especiais em termos fiscais”, considera Eduardo Henriques. As perspectivas apontam para que em final de 2010 o PIB marroquino apresente um crescimento de 3,5%, valores bastante consideráveis tendo em conta também o interesse que as empresas nacionais podem ter no país. Eduardo Henriques lembra que já está em andamento uma “alteração de modelo” na área da construção em Marrocos. “O ano de 2009 foi de viragem. Hoje, salvo uma ou outra grande infra-estrutura, como o Porto de Tânger ou o TGV, o investimento marroquino está virado para outras áreas, como a habitação social, habitação de segmento médio, escolas ou recintos desportivos”, explicou Eduardo Henriques.
Novas necessidades
Para o representante do AICEP naquele mercado magrebino, Marrocos está a ser confrontada com um outro tipo de necessidades nos dias que correm e a habitação social, a par das infra-estruturas básicas são hoje um dos fortes componentes do investimento público, a que se junta o sector habitacional de segmento médio ou a energia. Eduardo Henriques entende que as taxas de rentabilidade para projectos de cariz social, como seja o programa habitacional ou mesmo a renovação de escolas é inferior às que se verificam em outro tipo de trabalhos de maior envergadura (como as infra-estruturas rodoviárias ou aeroportuárias), mas ainda assim apresentam valores que podem ser apelativos para as empresas portuguesas. O plano de investimentos previsto para o período 2010-2012 ascende a mais de 11 mil milhões de euros e compreende a extensão da rede de auto-estradas, pelas novas linhas ferroviárias e de TGV, pelas infra-estruturas portuárias (em especial extensão de Tanger Med e novo porto Nador West Med) e aeroportuárias e pelos grandes trabalhos de reabilitação urbana.
Casos de sucesso
O administrador do Grupo Casais, empresa que trabalha em Marrocos há seis anos, António Araújo, admitiu algumas dificuldades no arranque desta aventura africana, sobretudo pela burocracia. “Estamos em Marrocos há seis anos. Tem sido uma entrada progressiva. Não é chegar, ver e vencer. É um mercado apetecido, mas também complicado”, reconhece o administrador. Para António Araújo, a “forte burocracia” foi um dos grandes obstáculos para o Grupo Casais, problema natural de um “mercado menos maduro que o europeu”. “Continua a ser um mercado com um programa de obras públicas grandes e com financiamentos garantidos. Queremos continuar. Depois dos dois primeiros anos mais difíceis, estabilizámos e vamos manter o investimento”, assegurou António Araújo. A Tecnovia investe no mercado marroquino de construção há três anos e gaba-se de uma facturação não consolidada na ordem dos 70 milhões de euros. “Estamos muito satisfeitos e não vamos parar. Temos vindo a crescer e estamos implantados em quase todo o país. Continuamos a trabalhar em auto-estradas, túneis, barragens, portos, pistas de atletismo e recintos desportivos”, sublinhou João Teixeira, administrador da empresa. Com uma população de 32 milhões de consumidores e um grau de abertura ao comércio externo de 50,3% em 2009 (exportações mais importações a dividir pelo Produto Interno Bruto), Marrocos importou 215 milhões de euros em produtos portugueses no ano passado, apesar do efeito negativo da crise económica internacional. As importações deste país magrebino para Portugal ascenderam a 42,8 milhões de euros em 2009, sendo a União Europeia o principal cliente de Marrocos, com a França e a Espanha a destacarem-se, embora a proximidade de Lisboa em relação a Rabat seja “um trunfo” para o estreitamento das relações bilaterais. Nos últimos quatro anos as exportações de Portugal para Marrocos cresceram 31,4%, passando de 164 milhões de euros em 2006 para 215 milhões de euros em 2009, embora representem actualmente uma quota ligeiramente superior a 1% do total das vendas de mercadorias portuguesas colocadas a nível internacional.
Aspectos a ter em conta
Além das potencialidades do mercado marroquino, o AICEP e as empresas de sucesso alertam para algumas particularidades a ter em consideração. Eduardo Henriques, responsável pela delegação do organismo em Marrocos alerta para a necessidade de haver uma sensibilidade maior de quem quer entrar no país para factores como as condições de pagamento e de financiamento. “Não é um país rico, os recursos são limitados e os portugueses têm de ter em consideração que o ritmo é diferente do que estão habituados”. A China e a Turquia são também apontados como países a ter em conta, pelo peso que têm em Marrocos e pelo factor concorrencial que introduzem no mercado. António Araújo alerta ainda para a importância de escolher cuidadosamente o parceiro local apesar da escassez de informação fidedigna disponível. O administrador do Grupo Casais considera que a burocracia é um dos principais problemas na entrada naquele país, lembrando, por exemplo, um sistema bancário pouco funcional que dificulta não só a abertura de contas como o assegurar das necessárias garantias bancárias acordadas com bancos marroquinos. Outra das complexidades prende-se com o regime de propriedade de terrenos. Havendo graves lacunas de planeamento é recorrente haver problemas com os legítimos proprietários de um terreno para, por exemplo, instalar um estaleiro, por simplesmente aparecer inúmeros elementos no processo a reclamar esses direitos. A questão logística é outra das problemáticas apontadas por João Teixeira, administrador da Tecnovia. As complexidades de transporte de equipamentos levou a empresa a investir 30 milhões de euros em equipamentos logísticos para uma facturação de 70 milhões de euros, o que dá bem conta da dimensão do risco.