Depois de Madjer, os negócios
Longe vão os tempos em que a Argélia representava apenas a pátria-mãe de Rabat Madjer, o avançado do “calcanhar de ouro” que deu ao Futebol Clube do Porto o seu primeiro título europeu,

Yasmeen Lari, vence o Prémio Carreira Trienal de Lisboa Millennium bcp
França, Brasil e Suíça lideram procura estrangeira por imóveis no 1º trimestre de 2025
Quatro cenários para o BRT da A5
‘Sousa Martins 17’ reforça aposta no residencial da JM Investimentos Imobiliários
Cegid debate futuro da construção e da logística em evento sobre digitalização e IA
Schneider Electric e Start Campus estabelecem alicerces para a infraestrutura de IA e Cloud em Portugal
De Veneza a Milão: Dois eventos, uma visão transformadora
Libertas conclui urbanização Benfica Stadium; Investimento ronda os 100 M€
Monte da Bica investe 1,5M€ para criar um hotel, dois lagares e uma sala de provas
Remax lança nova app para “optimizar” procura de casa
Longe vão os tempos em que a Argélia representava apenas a pátria-mãe de Rabat Madjer, o avançado do “calcanhar de ouro” que deu ao Futebol Clube do Porto o seu primeiro título europeu, decorria o ano de 1987. Hoje a Argélia é sobretudo um parceiro interessante, um mercado em que as oportunidades são vastas e que respondem também ao que são as necessidades das empresas. Até 2012 vão nascer duas novas “cidades” ao redor da capital, fruto do interesse de grandes grupos privados com ligações ao petróleo e que esperam que dinamize o desenvolvimento em torno de Argel. Unidades hoteleiras, escritórios e espaços comerciais são alguns dos investimentos contemplados (superiores a 500 milhões de euros) que surgem como complemento ao plano de previsto para aquele país nos próximos anos e que ascende a 111,3 mil milhões de euros até 2014.
Crescimento do PIB
O Produto Interno Bruto argelino registou um crescimento de 2,3% em 1999 para 6,1% em 2009, suportado em grande medida pelo investimento público com tendência para crescer. O país está apostado em desenvolver em grande escala um programa de melhoria de infra-estruturas, atender às necessidades do povo argelino e sobretudo apoiar a sustentabilidade do crescimento da economia do país. Daí que em resultado do plano de investimentos esteja prevista a criação de três milhões de empregos e a construção de dois milhões de habitações. A Saúde, a Educação e os Serviços Públicos também serão apoiados por este ambicioso plano de crescimento.
Novas infra-estruturas
Com este ritmo de crescimento, a grande aposta vai para o desenvolvimento da rede de infra-estruturas e trabalhos de manutenção das vias existentes que vão não só melhorar as ligações aos centros urbanos como facilitar o acesso às zonas portuárias do país. Mohamed Mahieddine, director de planeamento do Ministério das Obras Públicas da Argélia sublinhou em Lisboa, por ocasião do Portugal Constrói, conferência integrada na Tektónica e que permitiu a apresentação com maior detalhe de mercados externos que podem ser interessantes para as empresas portuguesas da fileira da construção, garantiu que até 2014 serão construídos três mil quilómetros de auto-estradas, 38 mil quilómetros de estradas, 1000 obras de arte, desenvolvidos 62 projectos marítimos e 26 trabalhos aeroportuários. O plano de investimentos estende-se até 2025 e o Governo argelino está apostado em promover a sustentabilidade nos projectos que venham a ser desenvolvidos. Para Rui Cordovil, responsável pelo escritório do AICEP na Argélia, “para o apoio ao desenvolvimento económico do país, importa destacar dentro dos sectores cobertos por este pacote, a agricultura e o desenvolvimento rural, sublinhando que serão “atribuídas verbas para a modernização do serviço público, nomeadamente a Justiça, as Finanças e a modernização das colectividades locais e a Segurança Nacional. Por último, para o mesmo quinquénio também foi previsto o lançamento de um programa de desenvolvimento das capacidades argelinas em novas tecnologias de informação e de comunicação”. Para este vector, muito contribui também as fragilidades do tecido industrial.
Divida externa liquidada
O rigor com que a maior economia do Magreb é conduzida permitiu a liquidação da dívida externa em cinco anos e obriga a que muitas das empresas estrangeiras tenham necessidade de produzir os seus materiais no país, ao invés de recorrer às importações. O sector dos Transportes (conclusão de grandes obras em curso e construção de outras, como a modernização da rede ferroviária), das Obras Públicas (conclusão dos projectos em curso, como a auto-estrada Este-Oeste e realização de outros como a construção e reabilitação de mais de 15.000 km de estradas) juntam-se assim aos projectos hidráulicos, barragens ou transferências de água que vão beneficiar o desenvolvimento do plano agrícola. As características do mercado (pouca sofisticação, dificuldade de acesso à informação, importância do contacto pessoal directo e alguma inexperiência de negócio internacional dos operadores argelinos) aconselham, sempre que economicamente justificável, uma presença directa (que poderá ir de um escritório de representação, à criação de uma empresa de direito local, ou até à tomada de participações em empresas públicas em fase de privatização). O Estado Argelino está também empenhado em desenvolver a cultura de parcerias entre parceiros privados argelinos e portugueses também porque Portugal tem uma expressão reduzida nas importações argelinas. Segundo Rui Cordovil, “há excelentes relações entre Portugal e Argélia, há uma grande abertura a parcerias mas a verdade é que no plano empresarial a Argélia não conhece Portugal nem Portugal conhece a Argélia”, acrescentando que “o clima é muito favorável à inversão desta tendência”. Segundo a AICEP, Portugal é apontado como exemplo de desenvolvimento num curto período de tempo, e dispõe, actualmente, de um quadro adequado de Acordos bilaterais no domínio económico. Enfrentam contudo, os entraves naturais de um mercado emergente (burocracia, mudanças legislativas numerosas, sistema financeiro ineficiente, etc.), mas queixam-se sobretudo de desvantagens comparativas em relação a concorrentes directos de outros países, nomeadamente: ausência de determinados apoios do Estado português – programas de ajuda e cooperação –, estabelecimento de linhas de crédito, etc., bem como a inexistência de uma linha aérea regular entre Portugal e a Argélia (Argel é a 3ª capital mais próxima de Lisboa), entrave que deixará de existir pois a TAP a partir de 1 de Junho do corrente ano iniciará um programa de três voos semanais entre Lisboa e Argel.
Principais dificuldades
Mas não são só as oportunidades que devem nortear as empresas nacionais. Tal como o Construir tem apresentado nas últimas edições em relação às oportunidades existentes em outros mercados magrebinos, também o mercado argelino tem algumas particularidades que importa respeitar. Rui Cordovil, o responsável pelo alerta para os crescentes índices de concorrência existentes na Argélia e que envolvem não só países europeus como essencialmente da Turquia e da China. Aquele responsável alerta também para a existência de alguns obstáculos práticos ao investimento estrangeiro, principalmente um sector bancário pouco modernizado e uma enorme teia burocrática, composta por leis e regulamentos destinados ao comércio e ao investimento que dificultam o acesso ao mercado, bem como as recentes medidas de carácter restritivo que afectam as actividades das empresas participadas por capital estrangeiro. O desalfandegamento de materiais é outro dos problemas a ter em consideração. Nos últimos anos foi encetado um conjunto de alterações regulamentares e que implicam vários organismos, sem que no entanto a articulação seja a melhor. De acordo com a AICEP, a legislação é confusa e pouco transparente e tem claras consequências ao nível das importações (atrasos no desalfandegamento das mercadorias, aumento dos custos nas transacções comerciais, incerteza quanto aos procedimentos em vigor, dúvidas quanto à documentação a apresentar e quanto às respectivas entidades competentes emissoras, etc.).
Construção em expansão
O sector da construção começou a expandir-se desde o fim de 2003, com a implementação do primeiro plano de desenvolvimento. A Argélia sofre de uma severa falta de habitações, particularmente nas zonas urbanas, cuja oferta de casas para arrendamento, não consegue satisfazer a procura. Consequentemente, a Argélia tem uma das mais elevadas taxas de ocupação por habitação. Saliente-se, que no balanço final do Plano de Desenvolvimento 2004-2009 onde se previa a construção de um milhão de habitações, tudo indica terem sido concluídas 800.000. O Governo, desde 2001, tem trabalhado na atracção de compradores para as suas 12 fábricas de cimento, mas, como impõe como condição manter pelo menos 51% do capital das mesmas, só uma pequena parte deste património foi cedido a empresas estrangeiras, entre as quais se encontra o Grupo Lafarge com três unidades de produção.
Tendo em consideração o enorme volume de obras realizadas na Argélia, o cimento é um produto muito sensível onde o Governo pretende manter uma posição dominante à semelhança do que efectua no sector dos hidrocarbonetos.