Blokk e a importância da complementaridade de especialidades de engenharia
Luís Macedo e Nuno Gonçalves são engenheiros civis e os fundadores da Blokk, sediada em Braga. Em entrevista ao Construir, Nuno Gonçalves, sócio-gerente da empresa, explicou as vantagens de agregar as diferentes especialidades de ambos em prol de soluções de engenharia transversal aplicadas as áreas de projecto, energias e consultoria. Como surge a Blokk? A… Continue reading Blokk e a importância da complementaridade de especialidades de engenharia
Pedro Cristino
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Luís Macedo e Nuno Gonçalves são engenheiros civis e os fundadores da Blokk, sediada em Braga. Em entrevista ao Construir, Nuno Gonçalves, sócio-gerente da empresa, explicou as vantagens de agregar as diferentes especialidades de ambos em prol de soluções de engenharia transversal aplicadas as áreas de projecto, energias e consultoria.
Como surge a Blokk?
A génese é algo antiga. Nós fomos colegas de curso e tanto eu como o Luís Macedo trabalhámos em gabinetes de projecto e sempre tivemos ambição de criar o nosso próprio gabinete. A Blokk acaba por surgir como uma oportunidade “forçada”. A empresa onde eu trabalhava estava num momento em que necessitava de emagrecer os seus quadros e eu aproveitei essa oportunidade, saí e basicamente disse ao Luís Macedo que estava na altura de termos a nossa própria empresa. Havia uma oportunidade muito grande a nível de energia, que consistia na exploração de uma central térmica e foi um pouco nessa base que avançámos, porque sabíamos que era um projecto grande, ambicioso e de continuidade. É um projecto que não acaba. Além de, na altura, termos feito alguns trabalhos de consultoria nessa altura, a nossa ideia foi sempre ficar com a gestão da central e foi o que veio a acontecer. Fazemos a gestão dessa central desde o arranque e, actualmente, a empresa onde anteriormente trabalhei é nossa cliente. Tanto eu como o Luís Macedo temos bons contactos e aventurámo-nos. Foi numa altura de crise mas uma empresa que nasce neste contexto só pode melhorar.
Agora também se atravessa uma fase de maior optimismo…
Acho que nós crescemos no fundo da crise e não sentimos o afundar da empresa. Temos registado um crescimento acentuado e mais ou menos constante. Desde que comecei a Blokk, o panorama tem sido altamente animador porque conseguimos, lentamente, entrar nos mercados angolano, brasileiro e moçambicano. Estas coisas demoram normalmente algum tempo, mas quando começam a surgir resultados os projectos começam a aparecer.
A Blokk inicia então a sua actividade na área das energias…
Foi aproveitar uma oportunidade que surgiu, porque a nossa ideia sempre foi construir a empresa com base na área em três áreas: projecto, energia e consultoria. Tanto eu como o Macedo sempre prestámos consultoria, ele mais ligado à faculdade – eles têm muito trabalho ligado a peritagens e pontes – e eu mais ligado a escritórios de advogados – em questões mais técnicas que os advogados não dominam, nós damos esse apoio técnico à sua parte jurídica. Mas o nosso “core business” sempre foram os projectos, é isso que gostamos de fazer e é isso onde nos focamos mais. Apesar de ser uma área que está em crise, é essa a nossa actividade principal. Pelo volume de negócios nem é a área principal, mas é a que, se calhar, nos dá mais prazer trabalhar e onde somos melhores. Por outro lado, quando começamos a enveredar por outros caminhos, começa a aprender e a desenvolver outras capacidades. Quando começámos a trabalhar na área da energia, na central térmica, tivemos de adquirir novos conhecimentos porque, sobretudo, é uma área que envolve muita gestão e o nosso curso é algo multifacetado e dá-nos valências para este tipo de trabalhos.
Como vêem a situação no mercado português na área de engenharia civil?
Acho que se notou muito a crise do BES. Chegámos a ter muitos pedidos de projectos, sobretudo a nível de turismo – que tem sido, nos últimos anos, um grande motor da engenharia de construção – que estava a crescer a uma grande velocidade. A crise do BES afectou os financiamentos e acabou por afectar tanto os projectistas, como a própria indústria do turismo. Aí identifico uma pausa no crescimento que estava a ocorrer. Acho que a retoma, que não aconteceu na altura com a crise do BES, vai acontecer agora. Se calhar, agora, os promotores dos empreendimentos voltaram a afinar agulhas e a voltar-se para outros parceiros e os projectos vão avançar. De qualquer forma, acho que está a acontecer uma evolução no crescimento, mas é pequena.
2013 foi o vosso primeiro ano de actividade?
Sim, pode dizer-se que foi o primeiro ano, porque estivemos algum tempo a preparar as coisas. Antes de termos formado a empresa, fizemos uma série de contactos entre 2012 e 2013. Em 2012 começámos a preparar o lançamento da empresa, a nível de contactos e na identificação dessas oportunidades ligadas à energia, e fizemos o referido lançamento em 2013.
Começaram logo com uma carteira de clientes?
Começámos logo com alguns clientes. Essa preparação que houve no início da empresa envolveu mesmo uma parte de antecipação comercial.
Qual o balanço do vosso primeiro ano de actividade?
É um balanço muito encorajador, sobretudo porque conseguimos ter alguns projectos ligados ao segmento de novas indústrias que nos deixaram muito motivados. Basicamente, no mercado dos projectos de engenharia há muitas vertentes. Há uma que está de relativa boa saúde, que é o caso do licenciamento ligado ao turismo e à indústria, e há outro mercado, o mercado mais residencial, que tem um crescimento quase nulo. Nós conseguimos, no início da nossa actividade, angariar muitos clientes empresariais ligados à indústria, com grandes e atractivos projectos, que correspondem a uma facturação interessante, sobretudo numa empresa nova como a nossa.
A reabilitação é uma área dinâmica?
Não é dinâmica ao ponto de conseguir compensar a paragem do mercado de construção nova. As reabilitações que são feitas estão mais ligadas à parte da construção do que de projecto de engenharia. Muitas dessas obras não necessitam de novo licenciamento porque é só uma remodelação muito superficial. Basicamente, envolve mais a área da arquitectura e as especialidades ligadas a isso.
Além de projecto, em que áreas é que a Blokk trabalha?
Na área de engenharia temos um produto muito transversal, porque o Luís Macedo é um grande especialista em estruturas metálicas e estruturas sísmicas e a minha especialidade é mais madeira e betão. Portanto, englobamos quase a totalidade dos projectos de estruturas, que são o projecto-âncora da maior parte dos edifícios. O resto da equipa de engenharia está centrada nas restantes especialidades como eléctrica, térmica ou hidráulica. A nível de engenharia, conseguimos cobrir quase a totalidade dos projectos, se bem que temos de considerar as oportunidades que surgem. Temos trabalhado muito na área de licenciamento industrial – novas indústrias, licenciamento de grandes estruturas metálicas – por uma questão de oportunidade. Ultimamente têm aparecido, curiosamente, muitas estruturas de madeira. Temos trabalhado com um cliente que é a Mima, que concebe casas préfabricadas e agora criou um projecto com o designer Phillipe Stark. É um nicho, um negócio mais pequeno, mas no qual Portugal tem demonstrado ser um player muito activo. São casas de madeira, sobretudo casas sazonais, de férias, que têm grande procura, e nós, com este grande parceiro que é a Mima, estamos também a captar essa parte do mercado. A nível das outras valências, na área de energia, fazemos a certificação energética, mas estamos a tentar entrar pela área mais específica das centrais térmicas, que é uma área em que não existe quase concorrência no mercado e onde acabámos por nos especializar, com a nossa primeira central térmica, e agora, passados dois anos da gestão dessa central, sentimo-nos preparados para abraçar outro projecto, outra central.
A área de centrais térmicas traz um volume de negócio assinalável à empresa?
É um volume de negócios bastante grande. A nível de rentabilidade, é baixo, o que não é mau porque, o nosso interesse quando começamos a explorar uma central térmica é, com o nosso know-how, optimizar o funcionamento dessa central, tirando um rendimento optimizado e, daí, tirar algum lucro da exploração. São contratos anuais, que são renováveis.
Quais foram os principais desafios no arranque da actividade da Blokk?
A primeira dificuldade é a introdução no mercado. Ainda somos jovens e temos poucos anos na área da engenharia e apresentar uma empresa com pessoas tão novas ainda causa alguma desconfiança. Mas ultrapassando essa primeira barreira, tudo se resolve. Há alguma dificuldade de penetração no mercado, que não está propriamente com falta deste tipo empresas.
Está saturado?
Não. Houve um momento de contracção no mercado e grandes empresas, com muitos engenheiros, começaram a diminuir tanto as suas equipas, que acabaram por não conseguir responder a todos os pedidos que tinham. Essa diminuição da capacidade de resposta das grandes empresas deu oportunidade a outras empresas para entrarem no mercado ou para expandirem a sua actividade. Não há uma saturação, mas não há carência, também. O mercado acabou por se equilibrar, até pela saída de profissionais portugueses para outros países. Neste momento, uma empresa como a nossa, quando surge no mercado, tem alguma dificuldade de penetração, porque não há novas empresas de construção a surgir, não há novos gabinetes de arquitectura e, o que há são entidades com alguns anos no mercado, que já trabalham com os seus parceiros.
Começaram muito cedo o vosso processo de internacionalização…
Foi um processo que evoluiu muito rapidamente, mais do que o previsto. Conseguimos captar alguns parceiros portugueses que já operam no mercado externo e contratam a Blokk para fazer toda a parte de engenharia. Acabam por ser empresas com alguma dimensão, que concorrem a obras bastante grandes. A última obra que fizemos para o mercado angolano foi um centro de logística gigantesco, com um hotel, um quartel de bombeiros, 56 armazéns, um showroom e um edifício de administração gigante. A nossa política de internacionalização tem sido entrar no mercado externo com parceiros. Não vamos sozinhos, mas sim com parceiros que já estão há algum tempo naqueles países [Brasil, Angola e Moçambique], que conhecem a sua realidade e como decorrem os processos. Com estes parceiros, concorremos a concursos públicos e privados.
Como avaliam a vossa incursão nestes mercados?
O Brasil tem algumas particularidades a nível da criação de barreiras à implementação dos nossos projectos, mas ultimamente, tudo se ultrapassa e, daqui a algum tempo, contamos estar no Brasil com mais pujança. Em Angola e Moçambique já há resultados muito mais concretos. Angola é o maior destino de exportação dos nossos serviços e já temos aí alguns contactos interessantes. É um mercado com muito potencial e tem ainda muito para fazer a nível de infra-estruturas. Há muitos privados a investir em Angola, que é um país que ainda vai precisar de muitos projectos ligados à engenharia, nos próximos 10 ou 20 anos. Moçambique é um mercado ligeiramente diferente, com menos poder económico, é mais gradual, tem de se consolidar. Também aí prevejo algumas oportunidades de negócio, mas é preciso investir algum tempo. Há projectos privados que podem animar muito a engenharia local e as empresas que estão a trabalhar lá. Temos tido solicitações interessantes ligadas ao turismo, mas também noutras áreas, ligadas à indústria e pecuária.
O mercado brasileiro é difícil para a engenharia portuguesa?
O que sinto é que, no Brasil, há uma grande qualificação de engenharia. Enquanto que, nos mercados de Angola e Moçambique há muita carência, no Brasil há gabinetes de engenheiros que sabem fazer quase tudo. É um mercado onde temos de optar mais pela diferenciação de produto. Não há uma necessidade tão grande dos nossos serviços, por isso temos de apresentar um produto melhor, mais diferenciado, mais especializado.
Perante este cenário de internacionalização, como é vista a engenharia portuguesa no mercado externo?
Acho que é muito bem vista. Chegámos a ter contactos com uma empresa norte-americana, para começarmos a fazer os seus projectos. Essa empresa fazia toda a parte de engenharia na Hungria. Um dos administradores dessa empresa é português e conseguiu convencer toda a administração de que em Portugal há muita e boa engenharia e, com a crise, os preços tornaram-se extremamente competitivos. Conseguimos competir com os melhores. Chegámos a falar com alguns responsáveis de departamentos técnicos nos Estados Unidos e eles estavam altamente impressionados porque já trabalhávamos em 3D e em modelos BIM de quatro e cinco dimensões, com normas europeias estandardizadas e completamente adaptadas à realidade e conhecíamos as normas internacionais americanas. Penso que, apesar, de tudo, há um reconhecimento muito grande dos outros países na contratação dos engenheiros portugueses.
Que países observam com particular interesse para desenvolverem actividade?
Os Estados Unidos. Gostávamos muito de entrar no mercado americano e, para tal, é preciso encontrarmos parceiros no país, porque a nossa actividade é de projecto. Não precisámos de estar constantemente no país de destino dos nossos serviços. A dificuldade de penetração é o primeiro entrave e o maior de todos. Mas ainda esperamos que, com os contactos que já fizemos, conseguir entrar nesse mercado, através da nossa especialização em engenharia sísmica. É um mercado maduro mas, apesar disso, é um mercado que paga a preços muito alto os projectos, sobretudo os projectos de valor acrescentado, mais diversificados, e como temos bastante conhecimento em engenharia sísmica – o Luís Macedo é doutorado em Engenharia Sísmica – gostávamos de conseguir. Em Portugal não se aposta muito na área sísmica, mas o mercado norte-americano funciona de uma forma muito diferente. Há regulamentos mais apertados e há, no projecto, uma grande componente de estudo da parte sísmica e nós gostávamos de entrar por aí.
Qual é a estratégia da Blokk para este ano?
Este será um ano de consolidação. O ano passado tivemos um volume de facturação de cerca de 100 mil euros. Começámos há muito pouco tempo, tivemos este resultado e agora temos de consolidar. Seguir-se-á uma aposta muito grande na área da energia, para tentar conseguir a exploração de mais uma central térmica e, depois, continuar a apostar no mercado externos, para tentarmos ganhar projectos de maior dimensão. Também será uma necessidade crescer organicamente. A mão-de-obra é o bem mais precioso de uma empresa e temos a política de só contratarmos um estagiário quando é para ficar. Para já, temos conseguido isso. Preocupamo-nos em encontrar o estagiário certo para determinada função e depois damos uma boa formação. Temos a noção de que queremos profissionais capazes para, quando aparecerem grandes projectos, conseguirmos dar resposta.