Opinião: Digitalização e economia circular nas prioridades da normalização europeia
Muitas serão as proposta legislativas, seja a nível europeu seja a nível nacional, que irão ser implementadas e que irão afetar a vida das empresas
CONSTRUIR
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Francisco Barroca
Diretor Geral da
CERTIF – Associação para a Certificação
Dois assuntos que estão na ordem do dia e na preocupação de gestores e poder político são a digitalização da economia e a economia circular. A digitalização da economia, onde se insere a Indústria 4.0, vem merecendo a atenção quer da Comissão Europeia quer dos vários Estados-membros, entre os quais Portugal que, como inclusive referimos em artigo anterior, criou uma Iniciativa específica.
A Iniciativa Indústria 4.0 contempla quatro grupos de trabalho que pretendem englobar as empresas que contribuem mais para as exportações, não incluindo, nesta fase, o sector da construção.
A economia circular é outro tema que tem sido abordado em vários fóruns e que terá o seu impacto em muitos setores, sendo de destacar, entre outros, o metalomecânico, o elétrico e o da construção.
A mudança duma economia linear para uma economia circula,r mantendo o valor dos produtos e materiais e reduzindo a produção de resíduos, faz parte de um vasto pacote que a Comissão Europeia aprovou já no final do ano passado e que vai influenciar políticas nacionais neste campo.
Muitas serão as proposta legislativas, seja a nível europeu seja a nível nacional, que irão ser implementadas e que irão afetar a vida das empresas. Várias Associações têm alertado para a dificuldade que muitas PME vão sentir com investimentos necessários e para os quais não dispõem dos meios financeiros adequados. Este facto pode causar situações que dificultem ainda mais a concorrência entre grandes empresas e PME.
Obviamente a economia circular trará, para além dos benefícios ambientais, muitos ganhos diretos em termos económicos, com o aproveitamento de resíduos, mas em muitos casos isso obrigará a investimentos iniciais que muitos não conseguirão suportar.
No que se refere ao setor da construção, e segundo dados da Comissão Europeia, os resíduos em obras de construção e demolição representam, por ano, no espaço da UE, 500 milhões de toneladas, ou seja uma tonelada por habitante. Nestes resíduos há muitos materiais com valor económico que poderiam ser reaproveitados e não o são.
A Comissão vai, por isso, desenvolver um conjunto de medidas com vista a assegurar a recuperação desses materiais e recursos e elaborar orientações para as demolições para facilitar e promover a reciclagem.
Amesterdão está a desenvolver programas com vista à transição do linear para o circular, integrando nestes programas o setor da construção, esperando a criação de 50 mil postos de trabalho e um crescimento de 3% na produtividade. De referir que Amesterdão tem como objetivo alcançar em 2020 a meta de reciclagem de 65% dos resíduos urbanos, quando essa meta, a nível europeu, está fixada para dez anos mais tarde.
O contributo da normalização
A normalização, tantas vezes atacada por não acompanhar com a rapidez suficiente a inovação e os avanços tecnológicos, tem sido, ao longo dos tempos, e particularmente na indústria, um suporte essencial ao seu desenvolvimento, permitindo transferência de saber fazer e abrindo novos mercados.
Os temas da economia digital e da economia circular fazem parte das estratégias para a normalização europeia. Nesta última, e à semelhança da prática que vem sendo seguida, espera-se que as normas sejam utilizadas para apoio e complemento à regulamentação em áreas como as dos resíduos, tratamento de águas residuais, etiquetagem ambiental ou ciclo de vida.
No que se refere ao digital a normalização tem feito, igualmente, grandes avanços, e temas como a cibersegurança, o tratamento de dados, a interoperabilidade entre “as coisas” serão objeto de muitas normas a elaborar a curto prazo.
Acompanhar a normalização é de uma importância estratégica. Sabemos que não é fácil a uma PME fazê-lo, mas é importante que, seja através das Associações setoriais, seja através de outras organizações representativas, o façam, na medida em que a normalização é uma forma de antecipar tendências, de conhecer antes as alterações tecnológicas, de troca de conhecimento e de influenciar as decisões.
A título de exemplo, e para mostrar a importância que é dada à normalização, podemos referir que, ao nível da ISO os países com maior número de secretariados de Comités Técnicos e Sub-Comités são, por esta ordem, Alemanha, EUA, Japão, França, Reino Unido e China. Se considerarmos igualmente os Grupos de Trabalho, mantêm-se os seis países, mas agora com os EUA liderando.
Na IEC a Itália sobrepõe-se à China no sexto lugar, mantendo-se a Alemanha na primeira posição, o que se justifica por uma maior tradição na Europa em termos de normalização e certificação na área elétrica.
A presença da China é cada vez mais relevante, sendo de realçar o facto de assegurar a presidência da ISO e uma vice-presidência da IEC, que é presidida pelo Japão.
Nota: O CONSTRUIR manteve a grafia original do artigo