Os desafios do mundo árabe para a Saraiva+Associados
Miguel Saraiva explica os contornos do Mundo Árabe e a importância de se conseguir ajustar e reinventar para vingar nestas geografias
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É um dos ateliers nacionais com maior presença internacional, estando actualmente presente em 14 países de 4 continentes com uma equipa multicultural e afirmando-se como uma marca global com a agilidade suficiente para lidar com os desafios de novos mercados. Em 2008, apesar do decair da economia, o gabinete Saraiva + Associados estava consolidado nacionalmente o que permitiu apostar na internacionalização da empresa. “Queríamos entrar em países com recursos naturais que precisavam de know-how e que, simultaneamente tinham necessidade de crescimento em termos infra-estruturais, queríamos sempre que possível, ter uma representação física no local, absorvendo os valores culturais e sociais deste novo espaço. A nossa primeira opção foi a Argélia”, conta à TRAÇO Miguel Saraiva, CEO da Saraiva + Associados.
A primeira obra foi o Quartier El Ryad (2008), um projecto de grande dimensão nas áreas de habitação, comércio e serviços. Um projecto piloto que viria a ser a maior obra privada do Magreb e que era a primeira grande obra internacional da empresa e que viria a desafiar os moldes de habitar o espaço público em Orã. Segundo Miguel Saraiva, através de um núcleo de investigação de arquitectos e urbanistas foram criadas novas ordens de exigência urbana, arquitectónica e socio-cultural, e “compreendemos que a capacidade de nos reinventarmos seria a chave para garantir o sucesso dos nossos projectos”.
“‘A ausência da mulher na sala com convidados é algo que faz parte integrante da nossa cultura. Vocês trazem a mulher à sala, junto dos amigos, da família, de todos os que entram em vossa casa. Se fores jantar a minha casa, nunca vais ver a minha filha, a minha mulher. Vês os meus filhos e os homens que eu convido’. Aceitei a explicação do meu sócio local, não seria inteligente se não o fizesse: a Argélia é um mundo muito diferente de Portugal. Aprendemos. Ajustámos. Ainda hoje é um cliente importante do atelier”.
Foi nesta base que, explica Miguel Saraiva, “conseguimos construir uma relação de confiança e uma base de amizade que ficaram muito para além da execução de um projecto”. Um apoio que, com o passar dos anos, permitiu que a empresa continuasse a crescer na Argélia, e “potenciou a habilidade para desenhar edifícios funcionais, que proporcionassem qualidade de vida adequando cada conceito arquitectónico à evolução e aos desafios dos nossos clientes argelinos”. Hoje, a Argélia é o país onde o processo de internacionalização da empresa está mais avançado e funciona como peça central para todo o Magreb.
“A arquitectura não se exporta”
“Sempre quisemos que a expansão fosse feita de forma equilibrada e consistente, com base numa consolidação da presença internacional e assim o conseguimos fazer”. O resultado são, à data, 14 ateliers instalados em vários mercados estratégicos de entre os quais a Ásia e África, bem como a capacidade de desenvolver um know-how local, proporcionando uma grande vantagem: “um desenho global com foco local”. No Mundo Árabe a Saraiva + Associados temos representações físicas na Argélia e nos Emirados Árabes Unidos no entanto, através de uma forte componente de exportação, têm também vindo a desenvolver trabalhos para mercados como o Qatar, Egipto, Iraque, Qawait, Dakar, Marrocos e Tunísia. Contudo, confidencia Miguel Saraiva, “é difícil para mim ter uma assinatura muito vincada quando desenho em partes diferentes do mundo, ou seja, a cultura local, o clima, a morfologia do território, tudo isso tem uma influência enorme na arquitectura. E a arquitectura não se exporta. Vou ao local, interpreto-o”.
Há cerca de dois anos a empresa deu entrada nos EAU, embora, como explica o CEO da empresa, exista “uma grande dificuldade em entrar nos mercados do Médio Oriente devido à presença de ateliers anglo-saxónicos”. No entanto, não só pelo potencial mercado que representa, mas também pelas economias emergentes que o rodeiam, acabou por ser um passo seguro no percurso da S+A. Recorde-se que, em poucos anos, estes territórios passaram de desconhecidos no meio do deserto às mais opulentes e exuberantes metrópoles do planeta.
“A forma acompanha a função
Em 2015 a empresa venceu o concurso para um projecto residencial localizado na costa norte da Ilha Al Reem, em Abu Dhabi – as Marlin Towers -, com uma área de construção de 70.800m², uma geometria alongada e peculiar com uma simbologia ligada ao mar e os mais elevados padrões de referência e serviços. As suas duas torres têm o mesmo princípio de estrutura funcional e todos os apartamentos beneficiam de amplas varandas que possibilitam uma utilização verdadeiramente vivenciada desse espaço exterior. O grande desafio, diz Miguel Saraiva é a capacidade de interiorizar um programa.“A forma acompanha a função, não faz sentido desenhar um objecto para um espaço que, indiferentemente do seu programa, poderia ser um edifício de escritórios ou um edifício habitacional. Estou a desenhar uma mesquita e não sou muçulmano. É o grande desafio, ter a capacidade de, perante um determinado programa, sentirmo-nos muçulmanos ou católicos, de forma a interiorizar um programa, respeitar os ícones desse programa e desenvolver uma proposta que sirva os propósitos para o qual o cliente nos desafiou. Numa igreja católica, por exemplo, o controle da luz é algo essencial. Na religião muçulmana, no Islão, a luz indirecta não entra na mesquita, o que importa é a acústica, o controle do som, da voz”.
Actualmente, a empresa tem projectos em construção em vários países do Mundo Árabe, contudo, Miguel Saraiva não esconde que com o arrefecimento das economias emergentes, a estratégia de antecipação da S+A os levou a apostar em destinos de investimento mais seguros. “Sabemos que temos de ter capacidade de análise para ver onde nos vamos posicionar e nos últimos anos o Ocidente tornou-se prioritário”, conclui.