Para construir de forma sustentável é imperativo ter como base um modelo de economia circular
A desconstrução de um edifício é um processo que se caracteriza pelo seu desmantelamento cuidadoso, de modo a possibilitar a recuperação de materiais e componentes da construção, promovendo a sua reutilização e reciclagem

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Aline Guerreiro, arquiteta, coordenadora Portal da Construção Sustentável
Fechar o ciclo da construção é assemelhar o setor da construção ao modelo “cradle to cradle”, fazendo uma analogia ao metabolismo biológico presente na natureza, onde o “desperdício” é transformado em “alimento”. Também conhecido como metabolismo técnico, este ciclo sem fim transforma os resíduos reutilizados e reciclados em “nutrientes” (ou seja, em novos materiais ou usos) para novos edifícios.
E se, ao projetarmos um edifício pensarmos desde logo no seu final de vida útil? Sim, porque um dia o edifício vai ter um fim, ou pelos anos de vida, ou pela necessidade de transformação, ou porque se tornou obsoleto…
E se, ao projetarmos um edifício pensarmos desde logo na sua desconstrução?
A desconstrução de um edifício é um processo que se caracteriza pelo seu desmantelamento cuidadoso, de modo a possibilitar a recuperação de materiais e componentes da construção, promovendo a sua reutilização e reciclagem. A necessidade deste conceito surge em virtude do rápido crescimento da demolição de edifícios e da evolução das preocupações ambientais. A desconstrução possibilita novas oportunidades de negócio, uma vez que abre caminho à valorização e reutilização de elementos e materiais de construção que, de outra forma, seriam tratados como resíduos sem qualquer valor, e removidos para locais de depósito, por vezes ilegais. Ora, para que um edifício possa ser desconstruído seletivamente, há que prever, a jusante, o seu projeto de desconstrução, onde serão indicados no projeto de execução a montagem de cada solução construtiva e desmontagem dessa mesma solução, com indicação do potencial de reuso ou de reciclagem de cada um dos materiais e componentes que a compõem. Muitas vezes o que foi ontem um edifício funcional é hoje uma pilha inútil de entulho. E o processo comummente utilizado é este: o edifício é construído e, quando deixa de responder às necessidades, é demolido. O fluxo de materiais é muito simples: os materiais provêm da nova produção de materiais, são colocados nos edifícios e o desperdício – seja construção, renovação ou demolição – entra nos depósitos, muitas vezes ilegais. Esta visão simples e linear do fluxo de materiais está profundamente enraizada na nossa experiência pessoal diária. E é esta visão que devemos mudar, no caso para os edifícios, como profissionais do setor.
A economia circular consiste num modelo económico regenerativo, em que os recursos são geridos de forma a preservar o seu valor e utilidade pelo maior período possível, integrando os produtos em fim de vida em novos processos produtivos. A melhor forma de entender o conceito de economia circular consiste em analisar os sistemas naturais vivos que funcionam perfeitamente pelo facto de cada um dos seus componentes se encaixar no todo. Os produtos são concebidos intencionalmente para se ajustarem aos ciclos dos materiais e, como resultado, os materiais circulam de um modo que mantém o valor acrescentado pelo máximo de tempo possível, tornando os produtos residuais praticamente inexistentes.
Este modelo de Economia Circular aplicada aos projetos de arquitetura, construção e demolição de edifícios já não é uma opção, é uma necessidade emergente, já que o setor da construção é o terceiro maior consumidor de energia, responsável por consumir cerca de 50% de novos recursos e pela geração de mais de 40% de todos os resíduos. Sendo que os RCD têm um potencial de reutilização enorme.
Pensar na arquitetura no âmbito de uma economia circular, é agir preventivamente em relação aos impactes negativos deste setor, atuando o arquiteto como um visionário a montante de todo o processo construtivo com um menor impacte ambiental. Espera-se que um dia a economia circular aplicada a este setor se torne numa atividade comum e indispensável aquando do final de vida útil ou de necessidade de transformação de qualquer edifício.
NOTA: O CONSTRUIR manteve a grafia original do artigo