“Criar uma casa é brincar com as suas transparências e reflexos…”
A afirmação é de Špela Videčnik, arquitecta do gabinete OFIS Architecture, que desenhou o projecto Casa no Deserto para a Guardian Glass, e perita em ambientes extremos
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A Guardian Glass, especialista no fabrico de vidro, desafiou os eslovenos OFIS a desenhar uma casa eficiente durante todo o ano, perfeitamente enquadrada na sua envolvente, localizada no deserto de Gorafe e que colocasse à prova as potencialidades do vidro. Špela Videčnik, arquitecta do gabinete responsável pelo projecto, explica todo o proceso por detrás do desafio.
Questionada sobre o objectivo principal de um arquitecto quando desenvolve algo tão complexo, Špela Videčnik comenta: “Existem muitas questões. O mais importante é conseguir o melhor desempenho do edifício em condições extremas sem perder a relação entre o seu interior e a beleza da natureza. É importante que se mantenha o contacto entre quem habita a casa e a paisagem em volta. Por outro lado, é necessário ter em conta a resistência ao vento forte e todas as forças verticais e, claro, as características térmicas do edifício que devem funcionar muito bem no clima extremo desta região”.
De acordo com a arquitecta, o desafio colocado pela Guardian Glass, despertou de imediato o interesse da equipa projectista. “No nosso escritório lidamos com projectos difíceis, mas o que mais gostamos é de criar pequenos objectos como este em ambientes extremos. Nos últimos anos construímos três abrigos alpinos em montanhas muito altas, com muita neve e estamos a testar a sua resistência e o bem-estar dos montanhistas que as usam. A casa de vidro no deserto é parte desta pesquisa, mas envolve um contexto, um clima e materiais muito diferentes”.
Desenhar para climas extremos
Especialistas em climas extremos e familiarizados com questões de conforto em ambientes exigentes, Špela Videčnik explica que “Gorafe tem verões muito quentes, quase sem chuva, sol intenso e ventos… e depois no inverno o tempo fica muito frio e até neva. São temperaturas com uma amplitude extrema entre o dia e a noite que também têm de ser consideradas. O edifício precisa de conseguir enfrentar este clima e proteger o interior do sol, ao mesmo tempo que mantém o vidro o mais transparente possível. Conseguimos fazer isto com o apoio dos técnicos da Guardian que definiram diferentes revestimentos no vidro triplo – invisíveis mas com isolamento térmico.Também explorámos aspectos estruturais do vidro – ter paredes de vidro também como elemento estrutural. Não há, neste edifício, colunas de vidro ou madeira. O telhado com todos os elementos pesados dos painéis fotovoltaicos é suportado apenas pelo vidro”.
Sobre a utilização do vidro, a arquitecta explica: “Nos nossos projectos gostamos de pesquisar e testar diferentes tipos de materiais. O vidro é o herói dos nossos projectos e nós gostamos de desafiar os seus limites. Criar uma casa é brincar com as suas transparências e reflexos…
Então, trata-se de testar as suas características térmicas – impedindo o interior de ficar demasiado quente no Verão e mantê-lo aquecido no Inverno. O vidro – a separação transparente entre o interior e o exterior, tem um papel importante na arquitectura. Quando desenhamos a casa de alguém, seja uma casa de família ou um apartamento num bairro, tentamos estabelecer um relação forte entre o apartamento e o meio envolvente. É importante que cada casa tenha um pedaço de espaço exterior. Uma janela grande permite uma ligação ao terraço, à varanda, ao jardim ou simplesmente com o mundo exterior.
Criamos sempre janelas como grandes paredes de vidro, mesmo em projectos com orçamentos baixos, porque acreditamos que é importante que uma casa não tenha fronteiras entre o interior e a natureza, tenha muito sol e luz e que a fronteira seja invisível. É isto que se consegue com vidro de alta qualidade”.
No caso específico do deserto de Gorafe, Špela Videčnik evidencia o “ambiente selvagem maravilhoso”. “Ficamos impressionados com a paisagem rica e diversificada e encontramos arquitectura vernacular muito interessante – caves subterrâneas: foi a forma que as pessoas encontraram de se adaptarem a este clima severo e agora, a Casa do Deserto é o contrário de tudo isto”.
Coordenação é fundamental
Špela Videčnik recorda que, num projecto como este, a coordenação entre os diferentes profissionais envolvidos é fundamental: “Colaboramos intensamente com os nossos engenheiros de sustentabilidade de uma empresa alemã – a Transsolar –, e os nossos engenheiros de estruturas – a AKT II – de Londres, no sentido de explorar o potencial de viver numa casa de vidro num clima extremo.
Também tivemos um bom apoio dos técnicos da Guardian, especialmente Tamás Kovács, que nos deu os cálculos da espessura certa para os apoios estruturais e a selecção dos vários tipos de vidro de alto desempenho para criar a combinação que vai impedir o sol de entrar na casa, mantendo o efeito de vidro extremamente transparente”.
Sobre a maior dificuldade enfrentada neste projecto, Špela Videčnik destaca o facto de quererem uma casa sem pilares. “Havia a cobertura de madeira e o chão de madeira ligados apenas por vidro. Esta ligação entre estes dois materiais tinha de ser estrutural e muito precisa – e isto foi difícil, mas o edifício está feito e acreditamos que funciona bem e, no limite, é disto que se trata”.
Segundo Špela Videčnik, a equipa está muito satisfeita com o resultado, assim como entusiasmada para ver como a casa se vai comportar ao longo das várias estações do ano.