Pombal do Cruzeiro “de” Tiago do Vale distinguido nos DNA Paris Design Awards
O juri distinguiu o trabalho feito num lugar de serenidade e de introspeção, de forte ligação com a natureza e connosco próprios. Sem uma função convencional, o espaço -uma fusão de casa na árvore e refúgio contemplativo- é o seu próprio propósito. As suas raízes são modestas, embora inesperadamente pragmáticas, criativas e sofisticadas no seu desenho e soluções: é uma pequena jóia da arquitetura vernacular minhota
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O Espigueiro-Pombal do Cruzeiro, da autoria do arquitecto Tiago do Vale, acaba de ser distinguido nos DNA Paris Design Awards, galardão de arquitectura e design que procura evidenciar o trabalho de referência dos arquitectos e designers de todo o mundo, que com a sua prática profissional “ajudam a melhorar o nosso dia a dia com design funcional, inovador e belo”.
O arquitecto de Braga foi reconhecido na categoria de de Arquitectura Verde, recebendo, em cerimónia a realizar ainda este ano, o galardão que distingue a recuperação deste equipamento agrícola singular.
O juri distinguiu o trabalho feito num lugar de serenidade e de introspeção, de forte ligação com a natureza e connosco próprios. Sem uma função convencional, o espaço -uma fusão de casa na árvore e refúgio contemplativo- é o seu próprio propósito. As suas raízes são modestas, embora inesperadamente pragmáticas, criativas e sofisticadas no seu desenho e soluções: é uma pequena jóia da arquitetura
vernacular minhota.
Construída originalmente no final do século XIX, o seu ponto de partida foram dois espigueiros tradicionais sobre bases graníticas. Uma cobertura comum reuniu-os, debaixo da qual se deu forma a um pombal. Finalmente, o espaço entre ambos os espigueiros usou-se para a secagem de cereais, com dois grandes painéis basculantes controlando a ventilação. Este desenho notável resulta da combinação invulgar mas inteligente de três tipologias vernaculares bastante comuns (espigueiro, pombal, coberto de secagem) que fazem ainda parte do nosso imaginário coletivo. A sua execução, no entanto, não foi isenta de problemas. Construído em madeira de carvalho, a estrutura foi sub-dimensionada para as necessidades da construção e, sem manutenção adequada durante grande parte da sua vida, a madeira rapidamente decaiu: embora mantida em pé por cabos de aço esticados a partir de árvores vizinhas era já irrecuperável.
As peças de madeira apodrecida, mesmo assim, permitiram a documentação integral do desenho e das técnicas construtivas do edifício tal como era até perder o seu uso, abrindo portas para uma reconstrução peça a peça, tal como o Ise Jingu se reconstrói a cada 20 anos no Japão, mas aqui à escala do norte rural português, preservando um interessante documento construído vernacular e, no processo, alimentando e alimentando-se do conhecimento tradicional dos artesãos locais.
No entanto os tempos mudaram: já não há atividade agrícola na propriedade e não se prevê que o Espigueiro-Pombal reconstruído cumpra com as suas funções originais. Não terá, também, nenhum uso específico: o uso será aquele a que o espaço naturalmente se prestar.
Estas circunstâncias implicaram, portanto, não só reconstrução mas também transformação, dando forma ao tema do projeto. O resultado é uma reposição elemento a elemento do Espigueiro-Pombal, com um minucioso redesenho de todos os detalhes de carpintaria e um conjunto muito limitado de intervenções cirúrgicas que permitirão a sua renovada e segura utilização.
Para corrigir a fragilidade estrutural original inseriu-se um número controlado de elementos de travamento diagonais em localizações estratégicas, refletindo soluções encontradas em construções de idade, técnicas construtivas e tipologia similares. Duas novas escadas escamoteáveis encaminham-nos para o interior de ambos os espigueiros e uma escada interior ergue-se até ao espaço do pombal, finalmente tornando esse espaço mágico acessível.
Raulino Silva com o Hotel Canino e Felino, e Júlio Caseiro com as Casas de Campo Quintãs foram também distinguidos.