Edifício Náutico dá nova vida à entrada da vila de Cascais (com vídeo)
O antigo esqueleto à entrada da vila de Cascais, conhecido como Hotel Nau, mas que nunca chegou a ser concluído, ganhou uma nova vida pela mão do arquitecto Tiago Rebelo de Andrade, do Subvert Studio
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O antigo esqueleto à entrada da vila de Cascais, conhecido como Hotel Nau, mas que nunca chegou a ser concluído, ganhou uma nova vida pela mão do arquitecto Tiago Rebelo de Andrade, do Subvert Studio. Com promoção da Reabilita, surge assim o Edifício Náutico, “uma homenagem às tradições do mar e das tradições portuguesas” e que cria “uma nova figura à entrada à entrada de Cascais, um discurso com a vila, transformando a herança deste quarteirão e arredores e privilegia a qualidade do espaço público”.
O edifício Náutico, na sua implantação, liberta-se dos limites do lote e edifícios confinantes. Os afastamentos ao limite do lote desenham uma posição de domínio em relação ao resto do quarteirão e permitem uma abertura do piso térreo e pensar no edifício como cidade, “ao desenhar uma praça, melhorar a acessibilidade e permitir uma dinâmica a quem passa”, destaca o arquitecto.
O edifício e a sua linguagem ditam a nova identidade do quarteirão, respeitando os edifícios confinantes, recorrendo ao vidro, à madeira, à cerâmica e à chapa metálica. O piso térreo é uma praça ponteada com pórticos que resultam de uma reinterpretação das arcadas que marcam a urbe cascalense. O movimento expresso nas linhas destes pórticos, semelhante ao ondular do mar, ganha uma vida diferente consoante a hora e a iluminação ao longo do dia, permitindo que esta praça tenha múltiplas facetas. A materialidade deste piso é o vidro que expressa a vivência no piso térreo, permitindo a extensão do olhar. A implantação possibilita ao visitante diluir-se no espaço público, estar num edifício, mas não “fechado nele”. “Esta sensação que procuramos no piso térreo privilegia a envolvente como referência: estar “dentro” e ver a Estação Ferroviária ou o largo da Estação, saber que a Sul está o mar, a sudoeste a Cidadela”, explica.
O Edifício Náutico desenha um pátio interior entre as lojas, que permite criar o acesso às fracções de habitação. Neste pátio desenhamos uns canteiros que ponteiam as entradas para a habitação e criam um efeito introspectivo. Na verdade, como o lote já não apresenta qualquer área permeável, propomos a criação deste material vegetal que privilegia a qualidade da vivência neste quarteirão – seja no comércio, serviço, habitação ou como transeunte. Estes jardins serão tratados com plantas autóctones.
A distribuição dos 28 apartamentos nas torres segue um exercício modular e racional que tem em conta o programa pedido pelo cliente e as medidas das torres no lote.
A estratégia foi desenhar um núcleo central com zonas comuns, e à volta desse núcleo criar um anel de infraestruturas onde se encaixam as instalações sanitárias e cozinhas. Esta opção permite libertar a faixa próxima da fachada das torres e os seus cantos para espaços como sala e quartos. As persianas em módulos cerâmicos permitem o sombreamento do interior das habitações e ritmo da fachada garantindo uma aparência mutante ao edifício que, conforme o uso que os habitantes lhe derem (abertas, fechadas ou semiabertas), cria suaves efeitos ópticos de transparência e opacidade que também se alteram consoante o ponto de observação e as alterações da luz ao longo do dia.
Uma fachada que ‘chama’ pelo mar
A fachada do edifício é composta por 29104 “Cobogós” em cerâmica distribuídos por 856 painéis pivotantes em moldura de alumínio com quatro metros de altura por 50 cm de largura. Estas peças desenhadas pelo próprio gabinete de arquitectura e cujo desafio foi aceite pela empresa portuguesa Moldes Ceramics, que trabalhou em todo o processo até à fabricação dos quase 30 mil modelos que depois foram colocados nas molduras de alumínio pela empresa Moninhas Aluminios.
Situando-se em linha com o mar, o edifício está muito ligado à sua localização junto ao mar, transformando a linguagem náutica numa linguagem arquitectónica, que se reflecte nas formas, materiais e cores.
A escolha da cor também não foi por acaso. Sendo o azul uma cor que se relaciona directamente com o mar e valoriza a ligação cultural do edifício a Cascais, terra de reis e pescadores, a nobreza do espaço onde se insere, e a valorizar o legado histórico-cultural envolvente.
Além disso, o azul tem uma importância histórica para a cerâmica portuguesa, que foi introduzida em Portugal no fim do século XVII, por influência da azulejaria holandesa e da porcelana chinesa de importação. Além disso, foi a partir deste momento que a produção portuguesa aumentou exponencialmente e apareceram grandes mestres da azulejaria nacional, como António de Oliveira Bernardes e Manuel dos Santos. Mais tarde, no século XIX e com a ida da família real portuguesa para o Brasil, houve um desenvolvimento da cerâmica neste país e uma enorme tendência para a utilização do azulejo no revestimento total das fachadas dos edifícios. Este material permitia que os interiores fossem mais frescos e era impermeável às fortes chuvas tropicais.
Os migrantes, de volta a Portugal, trouxeram a estima pelos edifícios revestidos completamente a azulejos, adaptando os recursos industriais à sua produção. O uso da cerâmica nos edifícios é assim marcante para a arquitectura portuguesa, principalmente no período romântico. Desta forma, “esta cor permitiu, criar pinturas dinâmicas, com formas em movimento e evidenciou o valor do traço”.