Edição digital
Assine já
    PUB
    Construção

    “O nosso foco é a contínua especialização no mercado nacional”

    Ao CONSTRUIR, o CEO da Baltor considera que o crescimento da construtora passa por passos “sólidos, elásticos e eficazes”, mais do que uma estratégia que represente dar ‘passos maiores que a perna’. Apostando na sustentabilidade e na versatilidade, os responsáveis da construtora estimam uma facturação, no final do ano, na ordem dos 15 milhões de euros

    Ricardo Batista
    Construção

    “O nosso foco é a contínua especialização no mercado nacional”

    Ao CONSTRUIR, o CEO da Baltor considera que o crescimento da construtora passa por passos “sólidos, elásticos e eficazes”, mais do que uma estratégia que represente dar ‘passos maiores que a perna’. Apostando na sustentabilidade e na versatilidade, os responsáveis da construtora estimam uma facturação, no final do ano, na ordem dos 15 milhões de euros

    Ricardo Batista
    Sobre o autor
    Ricardo Batista
    Artigos relacionados
    Loures investe 22 M€ para novas habitações a custos controlados
    Construção
    A caminho da “Construção & Logística 5.0”
    Engenharia
    Projecto brasileiro ‘Moréias’ quer atrair compradores portugueses
    Imobiliário
    Power to Build avança em Angola
    Construção
    O futuro da habitação é 3D
    Construção
    Perspectivas e desafios da habitação em debate na Universidade de Aveiro
    Imobiliário
    Grupo Everybody Wins aposta num parque fotovoltaico de 110 painéis
    Empresas
    ‘Fertile Futures’ ou uma viagem através de sete territórios da água
    Arquitectura
    Leroy Merlin lança podcast dedicado à sustentabilidade
    Empresas
    CCDR-Norte apresenta Prémio Arquitectura do Douro 2024
    Arquitectura

    Descartando essa hipótese no imediato, o CEO da Baltor não descarta a internacionalização como aposta. Cláudio Costa explica ao CONSTRUIR que estão atentos às dificuldades que resultam do aumento dos preços das matérias-primas, a falta de mão-de-obra e que isso tem obrigado os responsáveis da construtora a reflectir sobre as melhores soluções

    O sector está a atravessar um momento sui generis. Por um lado, existem bastantes projectos a acontecer ao mesmo tempo que sentimos a perspectiva de outros em pipeline, o que vai ao encontro da perspectiva de crescimento anunciada pela AICOOPN e AECOPS , assim como a análise das previsões do Banco de Portugal para 2022. Por outro lado, o sector tem sentido sérias dificuldades relacionadas com o já conhecido problema da anormal e imprevisível subida dos preços das matérias-primas, a dificuldade do regular aprovisionamento/logística das mesmas e o crónico e crescente problema de falta de mão de obra especializada. Tudo isto reflecte, também, uma inevitável e generalizada dificuldade no cumprimento de todo o tipo de prazos. Este cocktail tem-se revelado muito perigoso e, por isso, não são de estranhar as recentes notícias sobre algumas construtoras que têm parado Empreitadas por não conseguir reequilibrar os contratos. Estamos muito atentos a esta fase, temos feito muito brainstorming sobre estas dificuldades, sobre as soluções e, acima de tudo, sobre as oportunidades de melhoria que podem daqui surgir. Consequência agridoce das crises, que sendo mais ou menos severas, destapam sempre as fragilidades do mercado e das empresas -nem sempre da melhor maneira- e para os que logram resistir, constatamos maiores índices internos de resiliência e maior capacidade de inovação e adaptação. Acreditamos que é fundamental o bom controle de custos, a disciplina das ‘contas certas’, a gestão próxima que permite a antecipação de problemas e, acima de tudo, o espírito verticalizado de Missão, de Alerta e Resiliência, sendo este último, cada vez mais, um valor crítico. No nosso caso, a resiliência é, sem dúvida, uma das principais características que nos define, é algo que nos está colado à pele. Espelho disso é o facto de a Baltor surgir e se erguer precisamente durante um período que, segundo muitos economistas, foi o pior período económico desde a Grande Depressão, 2008, e desde então, não parámos de crescer, com solidez.

    Qual é a estratégia da Baltor para crescer? A internacionalização faz parte desse caminho?
    O crescimento organizacional e mesmo o estrutural não nos inquieta. É um processo que acontece com naturalidade embora, por natureza, sejamos sempre muito cautelosos na hora de estudar essa possibilidade. O crescimento da estrutura só acontece quando existe manifesto enquadramento. Definitivamente ‘não damos passos maiores que a perna’. Queremos, acima de tudo, garantir o crescimento e eficiência nas capacidades individuais dos colaboradores e dos processos internos. Queremos ser sólidos, elásticos e eficazes, cumprir os objectivos com distinção e ser por aí reconhecidos. Para isso, entendemos que é importante que a dimensão da empresa seja a correcta pois não queremos que as dores de crescimento sejam um problema regular no quotidiano da gestão. Queremos continuar a ter a capacidade de chegar a todos os vértices da empresa, uma característica das ‘pequenas’ empresas que não queremos perder. Não queremos apenas dizer como se faz, queremos estar presentes no dia-a-dia e mostrar como se faz. A Internacionalização não é actualmente um ponto estratégico para a Baltor. O nosso foco é a continua especialização no mercado nacional pois é aqui que queremos ser incontestavelmente fortes e reconhecidos, mas naturalmente, não fechamos a porta a essa possibilidade, no futuro.
    Olhando para a vossa actividade, multidisciplinar, e considerando o mercado interno, onde identificam as maiores oportunidades e de que modo se estão a posicionar para responder a esses desafios?
    Como já referi, umas das principais características que queremos que continue a definir a Baltor é a sua elasticidade, e isso significa também ter capacidade de se adaptar a Projectos de qualquer natureza. Actualmente, estamos a actuar em vários sectores, de Norte a Sul do País; Obras Publicas (Edificação e Infraestruturas ) e Obras Privadas ( Habitação ( acessível e de luxo ), Hotelaria, Industria, Retalho, Infraestruturas, etc ). Neste momento, para nós, as oportunidades vão surgindo um pouco por todos estes sectores, mas diria que os sectores da Logística e Serviços estão a merecer especial atenção da nossa parte. Para isso, temos reforçado as equipas que actuam neste tipo de Projectos, que são equipas dinâmicas e ágeis. A celeridade é particularmente crucial neste tipo de empreitadas.

    A sustentabilidade é encarada como uma prioridade na Economia, de um modo geral, e a Construção não foge à tónica. Em que medida é que é estratégica para a Baltor e de que forma procuram incorporar este tipo de conceitos na vossa actividade?
    Essa é uma das nossas utopias. A sustentabilidade é e será, cada vez mais, uma obrigação de todos. Estamos muito atentos. Queremos ser muito hábeis, neste jogo de ter ou não ter capacidade de interagir correctamente com o Mundo. Estamos especialmente atentos a projectos onde esta exigência é mais vincada, queremos ir mais além, sair da zona de conforto e evoluir mais ainda, neste dossiê. Temos alguns estudos a decorrer, mas ainda é cedo para falar sobre eles.

     

    A Baltor é responsável pelos trabalhos de desconstrução do emblemático Prédio Coutinho, em Viana do Castelo. Quais são as grandes complexidades desta intervenção e em que medida é que a Baltor foi “forçada” a inovar para responder a esse desafio?
    O Edifício Jardim, é um projecto de características especiais, desafiante e por isso estratégico para nós. A dimensão do edifício e o facto de estar implantado em plena malha urbana, torna só por aqui, um repto e surgem logo uma série de dificuldades e riscos que mereceram toda a atenção e cuidado. Foi, desde o primeiro momento, importante para nós garantir ao máximo a segurança de todas as pessoas afectas à obra bem como de toda a envolvente durante os trabalhos. Acreditamos que conseguimos montar uma estratégia muito acertada, em especial para a actual fase, de demolição estrutural e que procede a fase de desconstrução. É um processo que abdica totalmente da necessidade de manter colaboradores ou equipamentos dentro do edifício- ou mesmo na linha periférica – graças às características muito particulares do equipamento e da plataforma que foi criada para o efeito. A segurança é, sem dúvida, um pilar indiscutível para nós, dono de obra e fiscalização. Na primeira fase do processo, a desconstrução cuidada, manual, de todo o FF&E, foi um procedimento enriquecedor, pela escala, variedade de materiais existentes e prazo. O domínio de estas valorizações é fundamental para muscular este sector e criar a possibilidade de evoluir para novos horizontes, como acontece já em países mais maduros.

    Mesmo atendendo a que cada obra é uma obra, há particularidades desta obra que vos tenham servido de escola que possa ser replicado em outras intervenções?
    Sim, claro. É natural que, no fim, retiremos um ou outro ensinamento. A ideia é essa. Até ao momento, está a ser muito positivo.

    A Baltor é também responsável pela reconversão da Praça de Touros de Viana. Para quem executa os trabalhos, quais são os grandes desafios que identifica nesta obra?
    A “Reabilitação e Reconversão da Praça Viana” é para nós, tecnicamente, um Projecto muito interessante. Sem dúvida, falamos de um Projecto singular, não só pela Arquitectura, mas também pelas instalações técnicas. Este edifício vai servir de Equipamento de apoio a várias modalidades desportivas, mas estará preparado também, para receber outros eventos, ou seja, é um Projecto muito completo em todos os sentidos.
    Já há dados sobre a vossa facturação em 2021? Como avalia esses resultados? O que está a ser preparado para crescerem em facturação e, eventualmente, diversificarem a vossa actividade?
    A facturação em 2021 ronda os 15Milhões de Euros. Prevemos que em 2022, em igual linha de crescimento, o valor seja superior, sendo a distribuição muito similar a 2021, ou seja, um pouco por todas as áreas de actividade, em projectos Públicos e Privados.

    A ‘carteira’ de obras da Baltor
    – Remodelação do Continente de Santa Maria da Feira – SONAE
    – Remodelação e Ampliação da Sarreliber ( Arcos de Valdevez ) – SARRELIBER
    – Praça de Touros de Viana do Castelo – MUNICIPIO DE VIANA DO CASTELO
    – Demolição do Edifício Jardim – VIANAPOLIS
    – Rodrigo da Fonseca 43, Lisboa – MEXTO
    – Priority Alcântara, Lisboa – CLEVEREAL
    – Olival 4 a 6, Lisboa – OLIVAL4
    – Edifício unifamiliar ( Prime ), Belas Clube de Campo – PARTICULAR
    – Edifício unifamiliar ( Prime ), Braga – PARTICULAR
    – Execução Redes Dren. E.E. Aguas Residuais – ÁGUAS DO ALTO MINHO
    – Execução Sistema Abastecimento Águas VNC – Covas – ÁGUAS DO ALTO MINHO
    – Execução Sistema Abastecimento Águas VNC – Candemil – ÁGUAS DO ALTO MINHO
    – Ampliação de Redas de Água e Abastecimento de Águas Residuais Domésticas em Freixieiro de Soutelo – MUNICIPIO DE VIANA DO CASTELO
    – Escola Básica de Vila Praia de Âncora e sede da Academia de Musica Fernandes Fão – MUNICIPIO DE CAMINHA
    – Requalificação da Escola E.B. 2/3 Pintor José de Brito – MUNICIPIO DE VIANA DO CASTELO
    – Edifício Bifamiliar ( Prime ) Gulpilhares – PARTICULAR

    Sobre o autorRicardo Batista

    Ricardo Batista

    Director Editorial
    Mais artigos
    Artigos relacionados
    Loures investe 22 M€ para novas habitações a custos controlados
    Construção
    A caminho da “Construção & Logística 5.0”
    Engenharia
    Projecto brasileiro ‘Moréias’ quer atrair compradores portugueses
    Imobiliário
    Power to Build avança em Angola
    Construção
    O futuro da habitação é 3D
    Construção
    Perspectivas e desafios da habitação em debate na Universidade de Aveiro
    Imobiliário
    Grupo Everybody Wins aposta num parque fotovoltaico de 110 painéis
    Empresas
    ‘Fertile Futures’ ou uma viagem através de sete territórios da água
    Arquitectura
    Leroy Merlin lança podcast dedicado à sustentabilidade
    Empresas
    CCDR-Norte apresenta Prémio Arquitectura do Douro 2024
    Arquitectura
    PUB

    Terra Lodge Hotel

    Arquitectura

    A arquitectura consciente e social [c/galeria de imagens]

    Eloisa Ramos e Moreno Castellano são a dupla de arquitectos que forma o atelier Ramos Castellano. É, sobretudo, em Cabo Verde que desenvolvem o seu trabalho que apelidam de “arquitectura consciente”. Uma consciência que vem do local e das suas gentes, das suas necessidades, mas também do seu conhecimento intrínseco e geracional. De projecto em projecto, testam o potencial transformador da arquitectura no espaço e os seus impactos sociais

    Eloisa Ramos nasceu na ilha de Santo Antão e Moreno Castellano é originário da Sardenha. Portugal e Itália serviram de ponto de encontro, para o trabalho e para a vida, numa fase ainda de formação dos dois arquitectos. Cabo Verde é casa e campo de experimentação da sua arquitectura há década e meia. Uma arquitectura “consciente”, do local e do seu impacto nas pessoas. Porque apesar de estabelecerem a sua base na cidade do Mindelo, em São Vicente, podemos encontrar os seus trabalhos noutras ilhas que compõem o arquipélago.

    O que os levou a estabeleceram-se em Cabo Verde?
    Eloisa Ramos (ER): Foi uma coisa quase natural. Estabelecemo-nos primeiro em Itália, onde chegámos a criar um gabinete e a fazer algumas coisas, mas a vida deu voltas e em 2008, ainda antes da crise [económica], decidimos vir para Cabo Verde. Não houve nenhuma razão extraordinária. Terminámos os projectos que tínhamos em curso e depois embarcamos nessa nova aventura que, para mim, era um bocadinho o regresso a casa, embora o Moreno também já conhecesse. Decidimos voltar.

    Moreno Castellano (MC):
    Aqui em Cabo Verde havia espaço para desenvolver arquitectura, ou seja, aqui podemos de deixar uma marca, de fazer algo concreto, de construir fisicamente. Isso aconteceu construímos um museu, por exemplo, algo que teria sido muito difícil de acontecer na Europa. O que era importante para nós era fazer arquitectura e não onde a arquitectura é feita. Agora estamos a reparar que é muito importante onde a arquitectura é feita para o interesse que vão despertar. O Mindelo [onde o atelier tem a sua base] não é uma cidade muito grande, tem 75 mil habitantes e a ilha [São Vicente] é praticamente uma cidade-ilha mas é muito cosmopolita porque sempre foi uma cidade porto, com pessoas de vários lugares, e isto é muito interessante também para o nosso trabalho porque deu-nos a oportunidade de trabalhar com clientes de muitíssimas nacionalidades e ter uma visão mais ampla, apesar de estarmos nesta latitude mais descentralizada.

    Que tipo de projectos têm ocupado o vosso gabinete?
    ER: Temos feito um pouco de tudo ao longo destes quase 20 anos de carreira, desde habitação, hotéis, projectos urbanísticos… museus, um já construído e outro ainda em projecto. Inclusive design de interiores, um pouco por necessidade, que aqui não há assim tanta escolha. Mas em contrapartida há mão de obra artesanal especializada, se é que podemos dizer assim. Fruto das necessidades as pessoas desenvolveram o seu engenho e aqui há gente incrível ao nível da carpintaria, marcenaria, etc. Pessoas com muita sabedoria a nível artesanal.

    Qual é o traço comum dos vossos projectos? É esta ligação com os artesões, com o saber local, é a questão da sustentabilidade, porque nos vossos projectos há muito esta preocupação com a reutilização de materiais?
    MC: Há uma ideologia comum de certa maneira. Nós vemos a arquitectura como uma manifestação da vida, então posso dizer que não há um preconceito, ou seja, os projectos nascem das necessidades e muitas vezes tentamos que a arquitectura contribua para a resolução de problemas da sociedade. Por exemplo, temos um projecto na Cruzinha (Santo Antão), de uns investidores alemães, e o que fizemos foi canalizar e distribuir esse investimento para a sociedade local. Agora como se manifesta isso na arquitectura? Nas escolhas e decisões que fazemos. Em vez de usar o material importado, por exemplo, utilizamos o material local, em vez de utilizar técnicas que ocupam poucos trabalhadores, usamos as que precisam de mais mão de obra. Há aqui múltiplos aspectos e nenhum projecto é igual a outro ou tem as mesmas soluções. Portanto, o que tentamos fazer através do projecto é contribuir para o bem-estar e para a felicidade da comunidade onde o projecto está a ser desenvolvido.
    Até hoje, isto sempre funcionou de uma forma quase espontânea, biológica, porque onde escolhemos colocar os projectos, a comunidade floresceu. A instalação do hotel em São Pedro (Aquiles EcoHotel), por exemplo, fez com que a comunidade mudasse. A Mudança veio com a luz eléctrica, com a pavimentação das ruas, os pescadores, que até aí se dedicavam só à pesca tradicional passaram a realizar passeios com os turistas. Mas nada disto foi propositado.

    “Tentamos que a nossa arquitectura vá mais fundo, vá tocar a emoção das pessoas”

    Mas houve uma primeira decisão de investir. Um promotor?
    ER: Inclusive até muita gente dizia que era de loucos porque quem imaginava um hotel mesmo no meio daquela comunidade piscatória? Mas este hotel gerou uma energia muito forte e acabou por agregar valor acrescentado à comunidade, que como o Moreno estava a dizer aconteceram várias coisas boas e a comunidade mudou para melhor

    MC: O objectivo primeiro de um investidor é o proveito, mas é preciso fazê-lo compreender que o seu proveito pode ser maior com algumas mudanças.

    ER: Com respeito à tua pergunta anterior, eu diria que o traço comum na nossa prática é que tentamos sempre fazer uma arquitectura consciente, completamente inserida onde ela está a ser feita. Uma arquitectura que põe o homem no centro, o homem utilizador, o cliente utilizador final, aquele que vai desfrutar do espaço, no centro da atenção
    E o nosso traço comum digamos assim gira a volta disso. Tentamos fazer essa arquitectura consciente, em harmonia com o ambiente onde está inserida e isso tem funcionado, porque as pessoas não vêem esta nova adição como uma coisa estranha. O hotel Aquiles ou o Centro Nacional de Artes, Artesanato e Design, podiam ser algo muito estranho ou criar uma certa apatia, mas foram muito bem aceites. Tentamos que a nossa arquitectura vá mais fundo, vá tocar a emoção das pessoas. Claro que nunca vai satisfazer a todos no mesmo sentido, mas pelo menos tentamos.

    Foi o que fizeram na Cruzinha, em Santo Antão?
    MC: O projecto da Cruzinha está em desenvolvimento há sensivelmente oito anos. Está localizado numa grande extensão de terreno, quase que todo uma encosta da montanha, e começou por ser um projecto imobiliário e depois passou a incluir um hotel. Os investidores são alemães. Mas o que é que acontece quando vem um investidor de fora e
    compra uma grande extensão de terreno, para não criar logo uma fricção com o território, com a população, com o lugar, tem de dar algo em troca daquilo que vai receber. Então criamos terraços na encosta que permitissem o cultivo de produtos, então esta decisão que não é do foro da arquitectura, no fim é muitíssimo arquitectónica.

    ER: Porque Cabo Verde não tem muitas zonas agrícolas não queríamos que o hotel criasse um déficit de recursos. Então pensámos, porque não ser o hotel a produzir e se calhar a criar excedente que pode ser inserido no mercado? Com isto estamos a minimizar essa insatisfação que às vezes vem do ‘turismo explorador’.

    MC: Propusemos um sistema alternativo a este fenómeno e em troca fomos empregando a mão de obra local na construção de hotel, formando artesões em sistemas construtivos locais, utilizando os recursos locais na construção e com isto vemos a comunidade a ganhar força e a sentirem-se valorizados.

    Isso acontece em todos os vossos projectos?
    MC: Num outro projecto em que estamos a trabalhar, optamos quase por não ter soluções pré-concebidas. Tentamos formar uma estrutura e os artesões que participam vão acrescentando algo. Como se um projecto de arquitectura fosse uma música jazz…

    ER: Ainda é algo muito experimental. Existe um projecto que é seguido, mas ao invés de forçar soluções, adaptamos e absorvemos com naturalidade as soluções que vão surgindo.

    “Estamos totalmente convencidos que a Arquitectura é fruto de seres humanos, não é o resultado de posições geográficas”

    Apesar destes vários intervenientes locais, os projectos são só concebidos pela Eloisa e pelo Moreno? Como é que gerem todo o processo?
    ER: No momento da concepção somos só nós, mas depois temos outros intervenientes ao nível da finalização do projecto, apenas. Cada um de nós tem uma personalidade muito vincada, mas há sempre um respeito mútuo. E quando um está a ir por um caminho ou a optar por soluções não tão convenientes, então o outro acrescenta algo, a bem do projecto que neste processo ganha ímpeto de crescimento.

    MC: Ou seja, vimos ambos de lugares geográficos diferentes, mas somos muitíssimo flexíveis e ao longo destes anos a trabalhar não só em Cabo Verde, mas também noutros países, vimos que muitas vezes na arquitectura os problemas surgem onde há uma força a querer obrigar outra força a fazer algo para o qual não está pronto, preparado, um pouco como na vida.
    A arquitectura transmite sensações, umas mais que outras, trabalhamos para que a nossa arquitectura, os nossos projectos, transmitam algo e esse algo não vem só da forma ou dos materiais, mas antes de um conjunto de decisões que vão sendo tomadas ao longo do processo construtivo. As ideias, como os materiais, nunca são preconcebidos, quando nos propusemos a fazer um museu cuja fachada foi feita com tampas de barris, as pessoas olhavam para nós como se fossemos doidos, mas agora vais àquela praça e o edifício em si transmite uma grande alegria, domina a praça. Prova de que o valor da matéria é o valor que as pessoas lhe dão e não o que lhe é intrínseco.

    O facto de estarem numa ilha e de (quase) tudo ser importado e por isso mais caro, torna mais fácil a abertura para a reutilização de materiais no processo construtivo, mesmo os mais inusitados como a utilização de tampas de bidons na construção de uma fachada?
    ER: A necessidade aguça o engenho, não é? Com poucos recursos tivemos de explorar ao máximo a potencialidade de coisas que, de outra forma iriam para o lixo. A nossa arquitectura não é só baseada nisso, mas esta é uma componente importante, temos imenso prazer em tentar contribuir e deixar a nossa pegada ecológica aqui neste planeta. E pelo menos que a nossa arquitectura seja para agregar e não para tirar. Que seja um exemplo também e que os jovens arquitectos vejam isso como, não uma estrada única, mas pelo menos uma estrada que pode ser válida no futuro.

    MC: Nós estamos a trabalhar num contexto que sempre foi marginalizado. E há uma falta de conhecimento, histórica, sobre o que acontece e está a ser construído em África. Então para nós é importante que a Arquitectura ajude a reverter esta tendência. Estamos a tentar mostrar que aqui onde estamos também não temos nada a menos que outros países mais na vanguarda. Estamos totalmente convencidos que a Arquitectura é fruto de seres humanos, não é o resultado de posições geográficas, de latitudes ou longitudes, de educações superiores ou de grandes orçamentos.

    Como é que tem evoluído a Arquitectura em Cabo Verde? Como é que olham para p desenvolvimento por exemplo da Cidade da Praia, em Santiago, ou mesmo do Mindelo onde estão localizados?
    ER: A nível urbanístico não vou falar. Prefiro falar do saber tradicional que havia na construção de antigamente, das casas super frescas que eram de terra batida que eles molhavam todos os dias de manhã, as paredes de pedra, as coberturas de palha, a orientação, os ventos, o sol… isso era tudo levado em consideração quando por exemplo o meu pai fez a nossa casa em Santo Antão. E ele não era arquitecto, nem nada disso, mas utilizou a sabedoria popular. Orientou a casa na melhor posição, estudando o percurso do sol, do vento, da queda da água, das chuvas e das pedras, porque Santo Antão é montanha. Aqui temos também uma encruzilhada de várias influências portuguesas, inglesas, entre outros, com as suas influências no uso na madeira ou de betão. Mas sinto que este conhecimento se vem perdendo no que está a ser construído agora. O progresso é muito betão, o progresso são as janelas enormes de alumínio, mesmo que o edifício esteja orientado a sul.
    Há muita coisa que está a ser perdida e que devia ser valorizada e se calhar estudada mais a fundo que é um pouco o que nós estamos a tentar desenvolver, numa chave mais contemporânea. Mas Cabo Verde é um país novo e não podemos ser duros na crítica, de certa forma este percurso é compreensível quando se está ainda a tentar construir uma identidade.

    Que projectos têm actualmente em mãos?
    ER: Terminamos o projecto, para um cliente privado, de um museu sobre o fenómeno da escravatura na Cidade Velha, património da Unesco. É um projecto bastante interessante, mas sobre o qual não podemos adiantar muito. Estamos a terminar um projecto de uma pequena guest house, apenas com oito quartos, também em Santiago…

    MC: Estamos a trabalhar este projecto ao nível da experimentação. Propusemos a sua criação como parte de um viveiro e os seus ocupantes vivem no meio das plantas. O sistema de rega usa água reciclada. Existe uma orientação que foi estudada para a criação de dinâmicas. Depois temos outros projectos de habitação em curso. Mas existe sempre uma preocupação e consciência com a sustentabilidade. Fomos convidados pelas autoridades da Sardenha, a minha ilha, para fazer propostas para alguns projectos. O objectivo é o de replicar projectos, como os que desenvolvemos em Cabo Verde, que têm impacto e geram valor para as comunidades locais. Porque a Sardenha também tem problemas de desertificação de abandono da população do seu interior e a ideia é estes projectos, que ainda não sabemos quais são, ajudem a reverter essa tendência.

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

    Manuela Sousa Guerreiro

    Mais artigos

    Tomas Suter, senior advisor & partner da Mexto Property Investment

    Imobiliário

    Mexto diversifica estratégia e direcciona investimentos para Sul

    Depois de obra feita no sector da reabilitação, que mantém ainda com alguns projectos em Lisboa, o futuro da Mexto passa agora, também, pelo turismo residencial. Meco, Melides e Monte Gordo são as novas localizações. Projectos já estão incluídos no plano de investimentos avaliado em 240 M€

    CONSTRUIR
    Tomas Suter, senior advisor & partner da Mexto Property Investment

    (NOTA: Entrevista revista após publicação)

    Pensado para o segmento premium, onde o antigo se encontra com o contemporâneo, o empreendimento Rodrigo da Fonseca foi o cenário escolhido para abordar os projectos da Mexto e a sua estratégia de negócio. Ao CONSTRUIR, Tomas Suter, senior advisor & partner da Mexto Property Investment, revelou que, embora mantenham o core business na reabilitação de luxo, 2024 irá marcar uma importante mudança na estratégia da promotora. Com o mercado do turismo residencial em crescimento, a empresa pretende alargar o seu investimento para três grandes projectos a desenvolver neste segmento. A parceria com branded residences é, também, um dos objectivos.

    Antes de começarmos a nossa conversa, gostaria de saber como é que o Thomas veio parar esta área? Como foi o seu percurso até aqui?

    Eu sou suíço e italiano, a minha mãe é italiana, o meu pai é suíço, mas eu nasci e cresci na Suíça, em Zurique, na parte alemã. Fiz lá o meu percurso escolar e estudei Economia também em Zurique. Entretanto, durante os estudos, comecei a trabalhar no sector financeiro, como bancos, asset managers, home managers e aí continuei. Em 2012, tive uma oportunidade, um trabalho muito interessante para um investidor alemão. O negócio assentava em investimentos imobiliários, mas não era promoção, nem construção, mas sim financiamento de projectos imobiliários, com foco na Alemanha, na Suíça e na Áustria.

    Nessa altura, comecei a aprender e a gostar muito deste sector, porque entendo que é algo muito diferente de trabalhar só em números. Trabalhar para um projecto imobiliário, não é só a parte de financiamento, porque depois consegue-se ver o resultado final. Temos o lado visível do nosso trabalho e pensamos que contribuímos um pouco para realizar um projecto.

    Entretanto, a empresa teve um crescimento muito impressionante e foi vendida a uma outra empresa cotada em bolsa, em Frankfurt. Para mim, era o momento certo para sair e aceitar um novo desafio. Em paralelo, já antes de eu sair dessa empresa, tínhamos começado a olhar para o mercado português, porque um dos nossos sócios é de origem portuguesa, então tive sempre essa ligação.

    Ainda na Suíça?

    Sim, na Suíça. Desde 2012 ou 2013 que ele nos tentava convencer a investir em Portugal, mas ainda era muito cedo, porque foi pouco depois da crise. Por isso, só começámos a investir em Portugal em 2017.

    Nessa altura, foi quando começou o boom da reabilitação…

    Exactamente. Começámos com a aquisição do primeiro prédio algures em 2018.

    Como é que têm sido, então, estes últimos anos? Que balanço fazem deste vosso percurso?

    O balanço é muito positivo. Com muitos desafios, muitos ‘ups and downs’, como é normal. No início não acreditámos, mas muita gente nos avisou que com a burocracia e com o licenciamento ia ser muito complicado. Por um lado, já temos muitos sucessos e com os quais comprovámos que conseguimos fazer coisas rápidas, mas, por outro, temos projectos que estão há cinco anos na Câmara para aprovação.

    Acredito que em Portugal o mercado é muito diferente da Suíça…

    Muito diferente. Eu gosto de dizer que não é que na Suíça se aprove um projecto muito mais rápido ou muito mais facilmente. Não, porque o mercado na Suíça também é um mercado muito controlado, muito pequenino, mas acho que a diferença é que temos uma comunicação mais fácil com as entidades. As entidades estão organizadas de uma maneira mais eficaz e parece que estamos a trabalhar com qualquer outra empresa do sector privado. Mas aqui sentimos o verdadeiro significado de ‘sector público’. Esta é a grande diferença.

    Qual a maior dificuldade?

    Cada câmara tem a sua forma de trabalhar e quando chegámos foi muito complicado. Arrancámos a operação em Portugal quase do zero, com nenhum conhecimento nessa área. A nossa vantagem é que temos um network muito grande e fomos conseguindo o apoio e a informação necessários. Nós queríamos fazer tudo bem, dentro das regras, trabalhámos em conjunto com os arquitectos para cada projecto. E acho que conseguimos fazer um bom trabalho. Tenho muito orgulho do que conseguimos fazer em tão pouco tempo.

    Pelo que tenho verificado, há uma dinâmica muito particular na vossa carteira de empreendimentos. Tanto têm projectos em desenvolvimento, como têm alguns que foram vendidos. É uma estratégia?

    Exactamente. Para um promotor e investidor é sempre um mix dos dois. Quando compramos um activo, é sempre com a perspectiva de o fazer até o final. Mas é normal, é natural que, no decorrer do desenvolvimento de um projecto, possa acontecer essa mudança na estratégia se nos apresentarem uma boa proposta

    Em que situações é que isso pode acontecer?

    Sobretudo prédios que nós comprámos numa determinada altura por um determinado preço e, depois, com as variações de mercado, há uma considerável valorização e aí pode representar uma oportunidade. De qualquer modo, ao vendermos um imóvel com o projecto já aprovado, por exemplo, sentimos que temos ali uma parte também nossa, do nosso trabalho, porque o conceito é nosso.

    Falando de investimento, é possível quantificar quanto já investiram em Portugal?

    Desde o arranque da Mexto contabilizamos um investimento total de cerca de 240 milhões de euros.

    E está dentro da expectativa que vocês tinham planeado?

    Sim. Podia ter sido mais, mas também depois é sempre a questão…digamos, de timing, não é? Precisamos dos fundos e precisamos também das oportunidades.

    Sentem que já perderam algum negócio por causa dessa questão?

    Provavelmente. Sobretudo porque os prazos praticados são sempre muito longos. Perdemos negócios no sentido em que os investidores não conseguiram identificar a atractividade de algumas coisas que nós apresentámos.

    Então, neste momento quantos projetos ou quantos empreendimentos é que vocês têm em desenvolvimento?

    Em construção, neste momento, temos dois, que estamos a acabar: o O’Living e o Mason Eduardo Coelho. Estão ambos numa fase final da construção e esperamos que até ao Verão estejam concluídos. E, entretanto, temos mais seis projectos em fase de licenciamento. Alguns estão muito perto do início da construção, outros ainda vão demorar um pouco mais. E temos dois já concluídos, este onde estamos, o Rodrigo da Fonseca e o Avencas, que foi o primeiro a ficar terminado.

    Em termos de público-alvo, de segmento, a vossa estratégia tem sido mais ou menos a mesma…

    Verdade.  Para nós é muito importante manter sempre o foco no segmento de luxo e de reabilitação, em zonas muito boas dentro da cidade. E isso é algo que vamos continuar a fazer.

    Curiosamente, lançaram-se num projecto completamente diferente, o O’Living, que além de ser construção nova, também é para um tipo de cliente diferente….

    Foi uma aposta diferente de tudo o que já tínhamos feito. E que teve como intenção diversificar um pouco o nosso investimento, colocar no mercado produto para o mercado nacional. Sentimos que também temos essa obrigação.

    Qual o balanço?

    Estamos muito felizes porque no O’living, mais ou menos 90% são compradores nacionais. Famílias portuguesas, pais que compram para filhos. Estamos muito satisfeitos porque no início tivemos algum receio de que pudesse não resultar. Houve um conjunto de factores com que tivemos de lidar, desde logo porque se trata de uma escala completamente diferente. Aqui falamos de 86 apartamentos e na reabilitação estamos a falar entre cinco e 10 apartamentos.

    Temos dois que estamos a acabar a construção e temos mais seis projectos que estão, alguns em já em construção, outros a aguardar licenças.

    Não querendo entrar no detalhe de cada projecto, posso dizer que temos, no geral, três projectos em Lisboa na área da reabilitação.

    E, pela primeira vez, estamos a apostar em projectos de maior dimensão fora da Grande Lisboa. Temos um projecto em desenvolvimento em Melides, é um empreendimento turístico e outro também muito grande no Algarve e outro no Meco, a 30 minutos de Lisboa.

    Estão, então, a explorar outros mercados e outras opções, é isso?

    Sim. Actualmente, já é cada vez mais difícil encontrar boas oportunidades dentro da cidade e as que temos identificado estão a preços muito altos, o que torna difícil tornar esses investimentos rentáveis ou atractivos.

    Houve aquele boom, não é?

    Exacto. Mas agora espero que o mercado se vá ajustar um pouco, porque acho que ainda existem tantos prédios em Lisboa que poderiam resultar em operações interessantes. Só que os preços são proibitivos. Os proprietários perceberam, nos últimos anos, que podiam ganhar muito com este tipo de imóveis em localizações do centro e começaram a subir os preços, achando que podem pedir o que querem.

    Esses novos projectos mais virados para o turismo são completamente diferentes do que fizeram até ao momento. É uma estratégia para o futuro?

    É uma estratégia, embora mantenhamos o nosso ‘fio condutor’ que é a reabilitação. Vamos iniciar brevemente a construção do empreendimento Castilho 3. E, neste âmbito, temos também um na Graça e outros dois mais pequenos na Ajuda. Estes dois últimos fazem parte de um terreno maior que compramos e para onde também prevemos fazer um empreendimento com cerca de 50 apartamentos. Mas esta fase não será para já.  É um daqueles em que estamos há quase cinco anos a aguardar licença.

    Nesse caso o Simplex será positivo?

    Vamos ver. Temos uma grande expectativa. Mas acho que pode ser positivo, pelo menos no que diz respeito ao arranque das obras. Contudo, há ainda muitos pormenores por esclarecer. Tenho falado com alguns promotores que acreditam que, de certa forma, vem melhorar ou, pelo menos, não vem complicar. Há também a questão dos bancos que vão ter de se adaptar a uma nova realidade.

    Pelo menos podem começar os projectos ou podem ir avançando com os projectos. Mesmo com as questões do licenciamento, não conseguindo aquele prazo que eles dão…entre 150 a 180 dias e, em casos em que os projectos ultrapassam os cinco mil metros quadrados são 200 dias, o máximo. Mesmo assim, sabemos que 200 dias é o máximo e, portanto, conseguimos planear. Neste momento, não sabemos se são 200, 300 ou 600…

    Mas com o projecto que têm para Melides pretendem aproveitar as sinergias que agora se criaram com o projecto da Comporta?

    Sim, mas é mais na Serra de Grândola, numa área mais interior, a 20 minutos da praia. São 10 casas, com aproximadamente 500 m2 cada uma e com terrenos entre dois a três hectares. Privacidade total. Neste espaço vamos ter, ainda, um hotel, que vai ser operado por outra empresa, porque não é o nosso core. Neste projecto estamos a trabalhar em parceria com uns sócios que irão ser responsáveis pela componente hoteleira e a Mexto fará a componente residencial.

    E o do Algarve? É um empreendimento maior, não é?

    Sim, o do Algarve é um terreno muito grande, um dos últimos terrenos, mesmo à frente do mar, numa zona privilegiada, entre Monte Gordo e a Praia Verde. A nossa ideia é fazer mais ou menos 150 apartamentos. É uma zona com muito potencial, e que, pela proximidade a Espanha, também queremos que responda às necessidades dos turistas espanhóis que vêm para Portugal.

    Qual é que é o valor de investimento que prevêem, englobando já esses projetos?

    Estes projectos já estão contabilizados no plano de investimentos que falei dos 240 milhões.

    Esses projectos serão para desenvolver ao longo de quanto tempo? Tem uma previsão?

    É difícil dar uma data exacta, mas eu diria durante os próximos quatro a cinco anos. Os licenciamentos todos já estão aprovados, porque já existe um plano pormenor e um PIP aprovado. E agora com o Simplex, teremos que fazer só uma comunicação prévia. No fundo é dar início à obra e ir trabalhando no processo da comercialização.

    Dos projectos que têm em carteira qual será o que vai arrancar primeiro?

    O da Castilho. É um prédio localizado na parte baixa da Rua Castilho, próxima da Rua do Salitre, muito perto da Avenida da Liberdade. Falamos de um prédio de 1940 ou 1950, um prédio de charme, apalaçado, onde vamos fazer uma reconstrução total, como fizemos, por exemplo, na Rodrigo da Fonseca. Vamos manter as fachadas, mas o resto vai ser uma construção nova, mantendo e respeitando muito o passado do edifício, com os tectos trabalhados, com muitos elementos característicos do prédio, e vamos lá fazer seis apartamentos para o segmento premium.

    Em termos de clientes, quem são os principais compradores dos projectos da Mexto?

    Quando começámos a fazer projectos neste segmento, pensámos que os compradores iriam ser quase 100% estrangeiros que estivessem à procura casa em Lisboa, mas temos tido muitos clientes nacionais que, ainda assim, consegue responder a estes produtos de segmento alto.

    Foi uma surpresa que em cada projecto que temos, tenhamos tido sempre procura do mercado nacional e não há um projecto em que não tivéssemos vendido alguma unidade também a portugueses. Mas é verdade que. na maior parte dos casos. são estrangeiros de diferentes nacionalidades, desde americanos, brasileiros, ingleses ou mesmo sul africanos.

    Franceses?

    Curiosamente, até ao momento não temos tido clientes franceses. Eu acho que o cliente francês em Lisboa está mais à procura de um apartamento mesmo com charme antigo. Quer dizer, por exemplo, um Rodrigo da Fonseca para esses clientes já pode ser demasiado moderno. Repare: tivemos um cliente francês que não comprou na Rodrigo da Fonseca, porque como as portadas já não eram as antigas o edifício tinha perdido um pouco o seu charme.

    No seu entender, o que é o cliente estrangeiro, de uma forma geral, procura em Portugal?

    Alguns são surpreendidos, outros vêm por indicação de outras pessoas. O cliente americano está agora a descobrir o Portugal. E depois depende muito dos clientes. Há clientes que querem mesmo só fazer investimentos em zonas boas e que tenham um valor seguro em termos de rentabilidade. No fundo. são clientes que estão à procura de produtos com uma qualidade altíssima, um cliente mais exigente. Não se trata só de vender um produto, mas da atenção que se dá no after-sales.

    Falámos há pouco também na questão que, de certa forma, não vinham a pensar de fazer projectos para um segmento médio. Que outros projectos têm pensados nesta óptica, de um all-living?

    No meu entender, o projecto de Monte Gordo enquadra-se nesse segmento porque tanto é para o cliente estrangeiro –  como ingleses, franceses, e claro, espanhóis-, como ainda, historicamente, é um sítio com muitas famílias portuguesas. Acredito que este é um projecto que tem muito potencial.

    Algum dos vossos produtos poderão também no mercado de arrendamento?

    O da Graça foi uma compra que fizemos em 2019, é um prédio muito pequenino, não tem muito interesse histórico, nem nada, mas a localização é muito boa. São três apartamentos, o T1, o T2 e o T2 duplex. Ainda não sabemos muito bem se isto é um produto mais para a nossa carteira para depois fazer, talvez, arrendamento ou para vender os apartamentos.

    Os valores das rendas não são atractivos ou, por outro lado, será mais fácil comprar do que arrendar. Na Suíça temos um mercado de arrendamento forte, implementado. Isto também acontece porque, por exemplo, na Suíça o sistema bancário é diferente, não se fazem empréstimos com prazos quase infinitos. No máximo são 25 a 30 anos, o que permite ter uma igualdade ao nível dos valores que se pagam, seja em caso de arrendamento, seja em caso de compra. A ideia é que se trata sempre de um activo que não perde valor e que se o cliente não conseguir pagar, facilmente se coloca no mercado novamente. Em Portugal, alguém que compra para arrendar já tem um custo muito elevado de juros. Para ter alguma rentabilidade, a renda tem que se muito mais alta. Na Suíça, com menos equity, consegue-se uma rentabilidade muito mais interessante.

    O que seria necessário para facilitar esse processo?

    A parte legislativa é fundamental.  Se não houver esse empurrão, dificilmente será possível. Mas acho que seria também muito importante a redução do IVA na construção nova, como é na reabilitação. Não estou errado quando digo que entre 40 e 50% do valor é referente ao IVA, um valor que acaba por se repercutir no cliente final.

    Ainda na óptica da reabilitação, por exemplo, o Porto ou outras cidades mais a Norte, são hipóteses?

    Olhamos muitas vezes para oportunidades, por exemplo no Porto. Mas depois, para nós, às vezes é melhor ficar onde nós conhecemos as coisas, onde nós conhecemos muito bem o mercado.

    Porque, por exemplo, se vou comprar um prédio nessa avenida, eu sei que do outro lado é melhor do que deste lado. Conheço as micro-organizações. Eu não conheço bem o Porto. E depois sentimos quase a obrigação para nos associarmos a com alguém lá no Porto, encontrar parceiros que conheçam aquela realidade. E é complicado. Pode ser muito bom, mas é sempre um desafio.

    Não é, portanto, algo que esteja nos vossos horizontes por agora…

    Não.

    Vão entrar no mercado mais turístico. Acreditam que estão aqui a fazer uma mudança no vosso core? É para continuar?

    Com a carteira que temos actualmente, temos trabalho para os próximos anos. E até aí vamos descobrir, com certeza, outras oportunidades. Nós crescemos muito rápido. Comprámos muita coisa em pouco tempo. Agora estamos mais focados em dar continuidade e avançar para esses projectos. Mas sempre a olhar para as oportunidades que possam surgir.

    Actualmente, há toda aqui uma mística à volta de Portugal, não é? Acredita que isto é algo que vai continuar, que será sustentável, não só do ponto de vista ambiental, mas também económico?

    Eu acho que sim. De qualquer forma, gostamos de ter uma visão mais conservadora. Não podemos sempre pensar que os últimos anos foi agora o indicador para os próximos sempre que vai continuar igual. Não. Porque já atingimos um nível de preços altos. Mas acho que foi importante porque o País precisava mesmo dessa mudança, desse impulso. Mas agora também acho que os compradores estão mais cuidadosos.

    Tem que estabilizar, é isso?

    Exactamente. Acho que vamos entrar numa fase de consolidação e estabilização. Mesmo assim, acho que Portugal vai continuar forte. Acho que tem tudo para continuar a ser o sucesso que teve nos anos passados. É um País muito agradável para se viver. Tem um clima óptimo. Tem a segurança que hoje em dia é muito importante. O que para nós é completamente normal, como andar na rua a que horas for ou andar nos transportes, para quem vive nos EUA, no Brasil ou até em França, como alguns casos que conheço, não é assim.

    Como é que se imaginam daqui a 10 anos, com o portefólio que já alcançaram e com os novos projectos que vão agora desenvolver?

    Continuar a investir em Portugal, mas também ter alguns desses novos projectos que já estivemos a falar, acabados e também como são projectos turísticos, é uma coisa que vai ficar.

    Vão ficar com a gestão desses projectos é isso?

    Talvez uma parte, sim. É isto que gostaria de ter daqui a 10 anos. Falamos de algo diferente da promoção ou da construção, mas também de ter algo com rendimentos diferentes. Criar uma carteira para alugar. Mas continuando a fazer o que sabemos fazer: reabilitação.

    Os números:

    240 M€ – Volume de investimento

    71 mil m2 – Área de Construção

    269 – Apartamentos

    361 – Lugares de estacionamento

    16 – Espaços comerciais

    Sobre o autorCONSTRUIR

    CONSTRUIR

    Mais artigos
    Construção

    MAP vai diversificar áreas de actuação e estuda aquisições

    Prevendo facturar 80 milhões de euros em 2024, o dobro do que foi apurado no último ano, os responsáveis da MAP Engenharia estão atentos às oportunidades do mercado e estudam diversificar a sua actividade para outras áreas. Projectos públicos são uma hipótese e não está descartada a aquisição de empresas em nichos específicos. Diogo Guerra Abecasis, Co-Founder & Managing Director da MAP Engenharia explica, ao CONSTRUIR, que a falta de mão de obra, qualificada ou operacional, pode tornar-se um grave problema

    Ricardo Batista
    tagsMAP

    Ao CONSTRUIR, Diogo Guerra Abecasis, Co-Founder & Managing Director da MAP Engenharia, explica a estratégia de crescimento de uma empresa que tem apostado, nos últimos anos, na certificação dos seus processos. “Creio que o mercado reconhece claramente o valor deste processo porque é um selo de garantia e qualidade”, explica. Com uma carteira de 150M€ assegurada para os próximos dois anos, os responsáveis da MAP esperam duplicar a facturação no final de 2024 face aos 40M€ apurados no final do ano passado.

    Diogo Guerra Abecassis, co-founder & managing director da MAP EngenhariaEstamos no final do primeiro trimestre do ano. Já há dados sobre os resultados de 2023?

    O ano de 2023 foi de fato muito desafiante, por um lado o mercado a sofrer de instabilidade económica com o aumento das taxas de juro e da inflação, mas por outro lado, foi um ano de forte investimento na MAP, reforçamos as nossas equipas, optimizámos os nossos processos e parte deles através de novas certificações, tudo para estarmos preparados para o futuro próximo, que será de forte crescimento e consolidação.

    Quais as variações face a 2022, seja em facturação, resultados líquidos?

    Embora as contas finais de 2023 ainda não estejam formalmente concluídas, esperamos fechar o ano com uma facturação semelhante à de 2022, em torno dos 40 milhões de euros, e com resultados líquidos positivos.

    Como está repartido esse Volume de Negócios? A maior fatia cabe à construção? Reabilitação?

    De facto, verifica-se uma inversão no peso da reabilitação vs construção nova, sendo que em 2023, a construção nova representou mais de 70% do volume de negócios da MAP.

    Quais as estimativas para 2024?

    Estamos a entrar em 2024 com muita confiança e uma enorme expectativa. Será novamente um ano de forte crescimento na MAP, onde prevemos praticamente duplicar o nosso volume de facturação, para 80M€.

    É possível quantificar que investimentos têm em carteira de momento?

    Actualmente, a nossa carteira de projectos contratados para 2024 e 2025 totaliza aproximadamente 150 milhões de euros. Trata-se de projectos bastante diversificados e que abrangem várias áreas, incluindo residencial, turismo, escritórios, retalho, indústria e comércio.

    Existem dois grandes desafios, o primeiro e o mais crucial, é a falta generalizada de mão de obra, quer a mais qualificada, quer a mais operacional, o que pode vir a ser um problema mais grave no futuro com o crescimento do volume de construção, tanto em Obras públicas, como nas Privadas

    Algum projecto que destaquem pela sua natureza, pelo rasgo face à actual oferta, pelas características?

    Tendo em consideração um dos maiores problemas da actualidade, a habitação, podemos destacar a Obra que temos em curso da Cooperativa Vale Formoso, em Marvila, que representa precisamente uma resposta à falta de oferta de habitação para a classe média com a construção de 70 fracções, numa modalidade de investimento colectivo que esteve muito em voga no início dos anos 2000, mas que infelizmente foi desaparecendo. Além das 70 fracções estamos a falar de uma oferta residencial integrada com creche, serviços e espaços verdes. Estamos também a construir a última fase do projecto Gago Coutinho 30 em Lisboa, com 200 quartos de Hotel, e todas as zonas comuns de apoio. No Porto, decorre a bom ritmo a remodelação de um icónico edifício de escritórios no Campo Alegre, com 15.000 m2, que será totalmente renovado e transformado num espaço moderno, sofisticado e sustentável, para escritórios com classificação Green.

    Nessa carteira, que margem existe para responder à falta de oferta para a classe média? Têm projectos que se adequam a esse segmento?

    Creio que o mercado imobiliário tem vindo a procurar dar uma resposta positiva a esta carência de oferta habitacional para a classe média, e isso constata-se claramente nas obras que temos actualmente em curso, com vários empreendimentos residenciais para o segmento médio, de onde podemos destacar, as Villas em Loures (130 fogos), Jardins Altear na Alta de Lisboa (130 fogos) e a Cooperativa Vale Formoso em Marvila, conforme já referido, entre outros Projectos em Lisboa e no Porto para a classe média / alta.

    Duke Residences

    Olhando para a ‘crise na habitação’, que papel podem ter os promotores na sua resolução e que condições seriam necessárias para que essa resposta fosse mais eficaz? E as construtoras, são importantes nesta equação?

    Tendo em consideração a situação actual, naturalmente os promotores têm um papel fundamental, mas cabe ao Estado criar as condições favoráveis para aumentar fortemente esse investimento na habitação, por exemplo através de incentivos fiscais, passando por exemplo o IVA da construção nestes casos para a taxa reduzida a 6%, quer também pela criação de PPP que possam desenvolver projectos em terrenos, ou edifícios devolutos pertencentes às autarquias ou ao governo central. As construtoras são essenciais nesta equação, porque terão de estar preparadas para dar resposta a todas estas solicitações e concretizar no terreno a construção destes projectos Residenciais, e é precisamente para dar esta resposta que a MAP se tem vindo a preparar!

    Que desafios se colocam hoje às construtoras no mercado nacional?

    Na minha opinião, no mercado actual, existem dois grandes desafios, o primeiro e o mais crucial, é a falta generalizada de mão de obra, quer a mais qualificada, quer a mais operacional, o que pode vir a ser um problema mais grave no futuro com o crescimento do volume de construção, tanto em Obras públicas, como nas Privadas. O outro desafio é a instabilidade criada pela inflação dos preços dos materiais e da mão de obra, devido a factores externos que não controlamos. Na MAP, felizmente, temos vindo a ultrapassá-lo sempre de uma forma justa e equilibrada com os nossos clientes e parceiros.

    Em que medida o Simplex que está em desenvolvimento (independentemente de qual for a composição do próximo Governo) pode ser uma resposta eficaz na questão dos licenciamentos?

    O mercado ainda está a assimilar as alterações introduzidas pelo Simplex, que são muitas, e creio que na generalidade são positivas, porque vão certamente acelerar os processos de licenciamento que todos verificávamos que eram excessivamente morosos, mas é provável que tenham de ser feitos alguns ajustes para tornar os processos ainda mais claros e objectivos.

    Há quem defenda, até mesmo do lado das autarquias, que o novo Decreto que procede à reforma e simplificação dos licenciamentos “aumenta o perigo” de voltarem a existir em território nacional várias “obras em esqueleto de betão. Teme que se tenha avançado em demasia na rapidez, ignorando a segurança jurídica?

    Não há modelos perfeitos, mas os vários players que tanto criticaram a mora dos processos de licenciamento, têm de ser responsáveis para desenvolver os projectos de acordo com as normas e legislação em vigor e certamente que irão ultrapassar as dúvidas que se coloquem num trabalho conjunto com as autarquias.

    Não há modelos perfeitos, mas os vários players que tanto criticaram a mora dos processos de licenciamento, têm de ser responsáveis para desenvolver os projectos de acordo com as normas e legislação em vigor

    A MAP conseguiu elevar a certificação da ISO9001 para um sistema de gestão integrado em QSA. O que é que isto quer dizer na prática e, no fundo, que reconhecimento é que o mercado faz deste tipo de aposta das empresas?

    De facto, fechámos em 2023 o processo de tripla certificação da MAP em Segurança e Ambiente, para juntar à Certificação de Qualidade que já detínhamos há uns anos, todas certificadas pela prestigiada Bureau Veritas. Creio que o mercado reconhece claramente o valor deste processo porque é um selo de garantia e qualidade, onde o cliente e todos os stakeholders têm a certeza de como determinados processos são realizados/alcançados. A MAP reflecte a preocupação e comprometimento de toda a empresa com estas áreas de actuação tão importantes, a Qualidade, a Segurança e o Ambiente.

    Sendo reconhecida a escassez de mão de obra no mercado nacional, de que modo têm respondido a este problema?

    É, de facto, o maior desafio para o futuro, por isso temos investido muito em formação, tendo em curso várias parcerias com Escolas Técnicas e Faculdades reconhecidas no mercado, em que acolhemos e formamos novos profissionais, tanto para uma vertente mais de acompanhamento de Obra no terreno (Encarregados), como também engenheiros estagiários para Direcção de Obra. Naturalmente que outro dos caminhos também terá que passar por receber emigrantes, com mais ou menos qualificações, e integrá-los no nosso mercado da construção.

    Vínhamos de um ciclo em que, pelo menos em pipeline, estavam em equação um conjunto significativo de investimentos, fosse na ferrovia, plano rodoviário, Aeroporto, Alta Velocidade. Como olha a MAP para esses planos de investimentos e de que modo se posicionam para fazer parte (ou não) dessa carteira de investimentos públicos?

    Apesar do historial da MAP ser praticamente no sector privado, apostar também no sector público é um dos desafios que temos para o ano de 2024, obviamente com uma selecção criteriosa dos projectos, mas posso confidenciar que estamos já envolvidos em concursos públicos que estão actualmente a decorrer.

    Por onde passa o crescimento da MAP? Como esperam aumentar a carteira de obras?

    A MAP continua com um forte crescimento, sempre de uma forma sustentada, mas acreditamos que 2024 será um ano marcante e transformador na realidade da empresa. Prevemos diversificar o negócio para nichos de mercado mais específicos, como as moradias de luxo e o fitout de espaços interiores, consolidaremos a construtora com grandes projectos, os que estão em curso e novos que aí vêm, e iremos também “atacar” as Obras públicas onde existem boas oportunidades. Muito em breve haverá muitas mais novidades para partilhar sobre o Universo MAP.

    E aquisições de empresas complementares, estão abertos a isso?

    Temos de facto estado bem atentos ao mercado e analisado algumas oportunidades interessantes de investimento, principalmente visando a área da indústria, pré-fabricação e sustentabilidade, podendo num futuro próximo fechar alguma aquisição ou parceria.

    Sobre o autorRicardo Batista

    Ricardo Batista

    Director Editorial
    Mais artigos

    Gustavo Muñoz / Adobe Stock

    Engenharia

    Sobram perguntas sobre o incêndio de Valência

    O que sobra em perguntas falta em respostas sobre as causas do incêndio que destruiu complexo de apartamentos em Valência em finais de Fevereiro. O que potenciou a propagação das chamas? O que estava, de facto, no revestimento do prédio? Ao CONSTRUIR, a Ordem dos Engenheiros clarifica os regulamentos existentes em Portugal

    Ricardo Batista

    Quinta-feira. 22 de Fevereiro. O promissor final de uma tarde de Inverno igual a tantas outras foi, no entanto, abalado por um dos mais graves incidentes registados na cidade de Valência. Em aproximadamente duas horas, o que começou como um foco de incêndio no 7º piso de um bloco de 138 apartamentos, no bairro de Campanar resultaria na destruição por completo do complexo habitacional.

    Dúvidas ainda subsistem
    Não passaram ainda três semanas desde a tragédia que vitimou 10 pessoas e provocou centenas de desalojados e as perguntas sobram mais que as respostas: o que aconteceu naquele bairro valenciano? Com a origem do sinistro ainda por determinar, não tardaram as especulações sobre os motivos pelos quais o fogo se propagou com tamanha intensidade, mesmo considerando que o edifício cumpria com a norma que está vigente desde 2008, o ano da sua construção. Uma das reacções partiu do Colégio Oficial de Arquitectura Técnica de Valência (COAT Valência), que negou o uso de poliuretano como isolante na fachada do edifício incendiado. Este material foi apontado por vários especialistas como a causa da rápida propagação das chamas, que em apenas uma hora consumiram todo o complexo residencial e um edifício adjacente. Inicialmente, apontou-se para a possibilidade de o poliuretano ter sido utilizado como revestimento para isolar a fachada, uma possibilidade rejeitada pelos profissionais de arquitectura técnica. “A nossa documentação sobre o edifício, sobre o certificado final da obra, indica que o isolante desta fachada não é poliuretano, como foi dito, mas sim um isolante mineral de lã de rocha”, destacam para salientar que, portanto, não podem concluir que este seja o motivo da voracidade do fogo. Outra questão são as placas usadas na cobertura da fachada. Nesse caso, o edifício tinha uma cobertura metálica de painéis de alumínio unidos com um compósito para dar espessura ao laminado do revestimento e, ao mesmo tempo, servir de ‘cola’ entre eles. Neste caso, os especialistas não têm dados exactos sobre o material utilizado. Poderia ser poliuretano ou outro tipo de compósito. Actualmente, os mais comuns são as lãs minerais. Mas, sim, os arquitectos técnicos deixam claro que o isolante da fachada em nenhum caso é este material, altamente combustível, de acordo com o processo da obra. Pela mesma lógica alinha a Associação da Indústria de Poliuretano Rígido que assegura que este material não está presente “nem como preenchimento do revestimento exterior nem como isolante da câmara de ar”.

    Segurança acautelada
    Ao CONSTRUIR, o presidente do Conselho Directivo da Região Sul da Ordem dos Engenheiros explica que chegará o tempo em que serão apuradas responsabilidades em resultado das investigações que ainda decorrem. António Carias e Sousa sublinha, também, que, em Portugal, “a natureza dos materiais empregues na construção encontra-se desde há muito condicionada pela legislação de Segurança Contra Incêndio, no que diz respeito ao seu contributo para a origem e desenvolvimento do incêndio, como estabelecia, por exemplo, o Regulamento de segurança contra incêndios em edifícios para habitação”. Para aquele responsável, “os requisitos são aplicados obrigatoriamente nos elementos processuais para a construção dos edifícios, sendo o Projecto de Segurança Contra Incêndio, que é subscrito por Engenheiro/ Engenheiro Técnico ou Arquitecto, o instrumento que define as condicionantes para cada edifício”. Há, no entender de Carias e Sousa, questões que importa acautelar. Para aquele responsável da Ordem dos Engenheiros, “são objecto de preocupação os materiais empregues nos revestimentos das fachadas, na cobertura, nos pavimentos, paredes e tectos, incluindo mobiliário e passando pelo sombreamento dos edifícios”. “Todas estas condicionantes são fundamentais para a diminuição da contribuição dos materiais empregues na construção do edifício para o desenvolvimento de um potencial incêndio”, acrescenta.

    Convidado a traçar um cenário em torno da realidade portuguesa, Carias e Sousa explica que “tal como para os demais riscos, como o risco sísmico, por exemplo, o risco de incêndio para os edifícios tem vindo a ser debelado, entre outros, pela publicação de instrumentos legais”. “Tal como referido, para os edifícios novos temos um quadro legal instituído pelo que se trata do cumprimento da lei em vigor. Para os edifícios mais antigos, as Medidas de Autoproteção (MAP), mais conhecidas como Planos de Emergência, e que são legalmente exigidas através do RJSCIE, já podem instrumentalizar a avaliação dos edifícios, uma vez que é aplicável quer aos edifícios novos, quer aos edifícios existentes”, salienta o presidente da secção regional Sul da Ordem dos Engenheiros, acrescentando que “detectadas desconformidades legais face aos atuais padrões de segurança, o Técnico que elabora as MAP pode procurar compensar determinada fragilidade do edifício existente com medidas de segurança compensatórias, de modo a diminuir o risco global de incêndio”.

    Sobre o autorRicardo Batista

    Ricardo Batista

    Director Editorial
    Mais artigos
    Engenharia

    Siemens e a digitalização ‘taylor made’ da indústria

    A Siemens promoveu, durante dois dias, um périplo por unidades industriais de diversas áreas do ‘food and beverage’, em Espanha, promovendo assim um conjunto de soluções à medida voltadas para a digitalização e informatização dos processos industriais. Os modelos escolhidos, distintos entre si até mesmo ao nível das dimensões, atestam a versatilidade do portfolio da Siemens no domínio da digitalização do chão de fábrica

    Ricardo Batista

    Por mais que muitas organizações já tenham a noção da importância da recolha e análise de informações, algumas empresas ainda têm dificuldades em entender como realmente aplicar esse conhecimento e assentar a estratégia em dados concretos. “O futuro será sustentável e digital”. Quem o garante é José Ramon Castro, o director geral de Digital Industries da Siemens para Portugal e Espanha que, numa iniciativa que reuniu dezenas de jornalistas em Espanha, recordou a pressão que existe sobre o tecido industrial, muito graças ao preço das matérias e ao preço da energia, abrindo assim portas à importância de encontrar formas de responder aos desafios. “Mais não fosse porque o consumidor está, também ele, mais desperto para a pegada ecológica”, sublinha, assegurando que a “pressão sobre a indústria é cada vez mais evidente e os dados são ferramentas fundamentais para se poder agir”. “Mas não basta obter dados”, acrescenta aquele responsável da Siemens. “É importante dar-lhes expressão, contexto, e encontrar formas de assegurar a melhor tomada de decisão”, conclui José Ramon Castro.

    Produção indoor de lúpulo
    O mote serviu de base para um circuito por várias unidades industriais da área alimentar e de bebidas, repartidas por Madrid, Sevilha e Córdoba, fábricas essas que contam com o apoio estratégico da Siemens.
    Na primeira paragem, ficou claro que a dimensão do negócio pode ser um conceito subjectivo quando falamos de digitalização e automação. Fundada por Ana Sáez, Antonio Rojas, Inés Sagrario e Javier Ramiro, esta start-up está agora numa “missão para salvar as cervejas do Mundo”. Pioneira no vertical farming em Espanha, começaram há 5 anos a trabalhar nos cultivos hidropónicos mais típicos da agricultura em ambiente controlado – alfaces e ervas aromáticas, mas após vários anos de pesquisa em diferentes abordagens, decidiram experimentar algo que nunca havia sido feito. Após realizar diversos testes com cultivos de alto risco climático, a equipa da Ekonoke conseguiu optimizar o cultivo hidropónico do lúpulo em um ambiente 100% controlado, unindo tecnologia e conhecimento científico para proporcionar resiliência climática e sustentabilidade a uma espécie gravemente ameaçada pela emergência climática. O lúpulo, a par do malte e da cevada, é um dos ingredientes chave no fabrico de cerveja. Além de contribuir para o sabor amargo da cerveja é ainda importante para a formação de uma boa espuma e para evitar a deterioração da bebida, evitando a formação de microrganismos devido ao seu poder antisséptico.

    Resumindo, sem lúpulo não há cerveja… pelo menos como a conhecemos. O lúpulo é uma planta trepadeira, que pode chegar aos 15 metros de altura, embora o mais comum seja medir entre quatro e nove metros. Consegue resistir a temperaturas de até 30 graus negativos, mas é a meio do Verão que cresce mais rapidamente: até 50 centímetros por semana. As alterações climáticas estão a colocar em risco o cultivo do lúpulo, considerando que se trata de uma planta com características e exigências especiais. Inés Sagrario, co-fundadora da Ekonoke e CEO da empresa, explica que “necessita de muita luz no Verão, temperaturas amenas e muita água”, sublinhando que as alterações climáticas já levaram, por exemplo a quebras de produção na Alemanha na ordem dos 28%, remontando a dados de 2022 (Alemanha, a par dos Estados Unidos, é responsável por 80% da produção Mundial de lúpulo). E pior: as quebras de qualidade da matéria final rondam os 60%. Tendo estes dados em consideração, a Siemens é parceira da Ekonoke no desenvolvimento de um sistema vertical de cultivo das trepadeiras de lúpulo, recorrendo a sensores ligados às folhas, raízes e caules das plantas trepadeiras que medem vários parâmetros, desde a humidade até aos níveis de CO2, enquanto diferentes comprimentos de onda das luzes LED fazem os armazéns parecerem uma discoteca.

    O cultivo de lúpulo em interiores cumpre este conjunto de requisitos ao combinar a renúncia aos pesticidas, a proximidade das cervejarias e a independência das condições climáticas. Este método de cultivo leva a um consumo de água até 95 por cento menor e ao uso exclusivo de energia renovável. A estratégia concertada com a Siemens também melhora a eficiência: enquanto no exterior é possível uma colheita por ano no campo, no cultivo indoor podem ser alcançadas até quatro colheitas por ano, um salto que, a par da qualidade da matéria-prima, desperta o interesse das cervejeiras um pouco por todo o Mundo. A Estrella Galicia já recorre ao lúpulo produzido pela Ekonoke.

    Coca Cola
    A Coca-Cola Europacific Partners (CCEP) é o maior engarrafador independente Coca-Cola Company. Produz, comercializa e distribui os seus produtos na Europa Ocidental, Austrália, Indonésia e Ilhas do Pacífico. Todo o grupo tem dois milhões de clientes em 29 países diferentes. A Unidade de Negócios Iberia da CCEP, que inclui Espanha, Portugal e Andorra, possui sete fábricas engarrafadoras de refrigerantes e quatro fábricas de água mineral. Em Espanha, a CCEP tem mais de 270.000 clientes, atendendo a mais de 130 milhões de consumidores potenciais. Em 2022, a CCEP gerou vendas de 17,3 milhões de euros, um aumento de 26 por cento em comparação com o ano anterior. No âmbito do clima, a CCEP definiu o objectivo de se tornar uma empresa neutra em carbono até 2040 em toda a sua cadeia de valor na Europa, dez anos antes do objectivo da União Europeia. Para alcançar este objectivo, a CCEP estabeleceu uma trajectória que inclui a redução da sua pegada de carbono em todas as áreas de actividade através do controle do consumo de energia, água, matérias-primas e, claro, a redução de CO2. A Coca Cola Europacific Partners tem aumentado seus investimentos em soluções capazes de monitorar e reduzir os gastos com energia e água. A unidade de Sevilha, que a comitiva visitou, mantém, desde 2019, valores similares de consumo desses dois insumos nos processos de engarrafamento mesmo após a expansão da sua linha.

    “São bons números, porque nós temos uma nova linha de embalagens retornáveis, que consome mais água e electricidade, e pudemos incluir essa nova tecnologia sem consumo extra desses insumos”, diz Belén Barreiro, directora geral da fábrica da CCEP em Sevilha. A fábrica de Sevilha possui, ao todo, 12 linhas de produção para o enchimento de garrafas retornáveis, PET, latas e outras. O software Energy Manager PRO da Siemens foi implementado para monitorizar o consumo de energia na unidade de Sevilha, o que permite monitorar os KPIs relevantes, possibilitando uma análise de mercado completa do local. A gestão da empresa pode, assim, analisar esses dados directamente, assim como monitorizar os consumos de água, energia eléctrica, vapor, gás natural, CO2 e ar comprimido. Em última instância, esses dados vão permitir aos responsáveis da fábrica uma melhor gestão de cada uma das linhas, reorganizando o ciclo de bebidas como a Coca-Cola, Aquarius, Fanta pela linha mais eficiente. O primeiro passo foi modernizar e digitalizar a fábrica de Sevilha, tendo para isso sido instalados 225 pontos de medição na fábrica. Esta tecnologia também está a ser implementada em parte da Alemanha e do Benelux. O objectivo do sistema de gestão de energia é obter dados estratégicos para tomar decisões lucrativas e sustentáveis para a empresa. Para isso, a Siemens oferece serviços ao cliente que incluem um serviço de design abrangente, suporte de ferramentas e análise de dados. O objectivo é fornecer as melhores soluções de digitalização detectando anomalias atempadamente e assim permitir uma gestão eficaz dessas anomalias.

    “Na Coca-Cola Euro Pacific Partners (CCEP) [em Sevilha], a Siemens está a implementar o seu Energy Manager Pro Software que monitoriza os consumos energéticos e de água para alcançar poupanças significativas – aqui em Espanha, convencemos o cliente através de um projecto-piloto, uma prova de conceito, que ao utilizar este software poderia alcançar uma redução do consumo na ordem dos 10%”, contextualiza José Ramón Castro. “Com base nisso, estão a avançar para a aplicação desta tecnologia em mais de 30 instalações na Europa [Portugal incluído]. Bom para Espanha, bom para a Siemens, que nos permite mostrar ao mercado que somos capazes de alcançar esta poupança.”

    Digital é como o azeite
    Começando por uma start-up e passando por uma multinacional, por onde passou ainda o percurso? Passou por Córdoba, também no Sul de Espanha, para se perceber o papel da digitalização numa indústria mais tradicional como a da produção de azeite. A Deoleo, tal como a Coca-Cola tem preocupações ao nível da eficiência energética e consumo de água. Sem grande expressão em Portugal, a Deoleo é actualmente o maior produtor, engarrafador e comercializador internacional de produtos de azeite do Mundo. A empresa comercializa marcas como Bertolli, Carapelli, Carbonell, Koipe e Figaro e emprega mais de 600 pessoas em todo o Mundo. Em 2022, a Deoleo gerou vendas de 827 milhões de euros, aumentando as vendas em 18 por cento em comparação com o ano anterior. Os objetivos de sustentabilidade e fabricação da Deoleo requerem um sistema digital eficiente que forneça uma plataforma centralizada para analisar e comparar as diferentes variáveis ao longo de toda a cadeia de valor.

    Para atender a esse requisito, a Deoleo implementou o software Opcenter do portfólio Siemens Xcelerator. Além disso, o produtor de azeite utiliza o software Siemens Opcenter RD&L (Pesquisa, Desenvolvimento e Laboratório) como plataforma para agilizar, optimizar e alinhar toda a gestão de dados para produtos formulados e permitir uma transição perfeita dos dados e definições do produto ao longo de todo o processo de fabricação, integrando laboratórios de P&D com plantas. A Deoleo tem uma sólida trajetória em melhorias de sustentabilidade. Como resultado de seu compromisso contínuo e da implementação da tecnologia da Siemens, a empresa reduziu suas emissões de dióxido de carbono (CO2) de Escopo 1 e 2 em mais de 2.350 toneladas em 2022 em comparação com o ano anterior. Isso representou uma redução de 66 por cento. A Deoleo continua comprometida em liderar o desenvolvimento sustentável em seu sector, destinando 36 por cento de seus investimentos a iniciativas de sustentabilidade em 2022.

    *O jornalista viajou a convite da Siemens

    Sobre o autorRicardo Batista

    Ricardo Batista

    Director Editorial
    Mais artigos
    Construção

    ABB constrói nova escola de Saúde de Setúbal

    A obra, desenhada pela VHM, deverá estar concluída no prazo de 18 meses, e vai implicar um investimento de 7,7 milhões de euros. O Instituto Politécnico de Setúbal, enquanto promotor da obra, procura dar resposta à necessidade de consolidação funcional de um polo universitário excepcional do ponto de vista histórico, cultural e de serviço à comunidade

    Ricardo Batista

    A Alexandre Barbosa Borges (ABB) foi a construtora escolhida para a construção da nova Escola Superior de Saúde de Setúbal, um investimento estimado em 7,7 milhões de euros que tem um prazo de execução a rondar os 18 meses.
    O projecto, promovido pelo Instituto Politécnico de Setúbal, é assinado pela VHM e pretende “dar resposta à necessidade de consolidação funcional de um polo universitário excepcional do ponto de vista histórico, cultural e de serviço à comunidade, proporcionando aos seus estudantes as condições necessárias para o seu melhor desempenho académico”.
    Segundo a descrição dos trabalhos, o IPS pretende contribuir, de uma forma ainda mais expressiva, para a “efectiva igualdade de oportunidades no acesso ao ensino superior e à sociedade do conhecimento, respondendo mais eficazmente às necessidades e expectativas dos estudantes, das instituições e da sociedade. Desta forma, o Instituto contribui de forma significativa para o alargamento da base social do ensino superior, a integração social e académica, o sucesso escolar e a transição para o mercado de trabalho de uma população académica cada vez mais diversa”.

    Necessidades específicas
    O projecto apresentado destina-se a uma Escola Superior de Saúde, pertencente ao Instituto Politécnico de Setúbal, com 2 pisos acima da cota de soleira e 1 piso abaixo da cota de soleira. O edifício organiza-se em 3 pisos, que se interconectam de maneira fluida e funcional. Cada piso foi projectado para atender às necessidades especificadas do programa educacional, garantindo uma circulação eficiente e uma distribuição lógica dos espaços. O edifício será localizado num terreno com área aproximada de 11.000 m2, no campus da Escola Superior de
    Educação de Setúbal e do Clube Desportivo IPS, enquanto unidade orgânica do IPS. Esta construção incluirá salas de aulas, laboratórios, biblioteca e área de estudo. Cada espaço foi projectado levando em consideração a sua função específica, garantindo o máximo conforto e uma atmosfera propícia à aprendizagem.
    A Escola Superior de Saúde conta com áreas administrativas e de apoio que facilitam a gestão eficiente da instituição. Esses espaços incluem escritórios, salas de reuniões, secretaria, gabinetes e áreas de descanso.
    Para atender às necessidades especificas da área de saúde, o edifício possui instalações especiais, como salas de simulação, laboratórios, salas de enfermagem, entre outras. Esses espaços foram projectados com equipamentos modernos e tecnologicamente avançados, garantindo a excelência no ensino e na prática profissional.
    O projecto da Escola Superior de Saúde foi concebido levando em consideração princípios de sustentabilidade e eficiência energética. Foram adoptadas soluções de design passivo, como orientação solar adequada, uso de iluminação natural e ventilação cruzada, visando reduzir o consumo de energia e promover o bem-estar de todos. A solução construtiva apresentada pretende garantir a unificação do aspecto visual global, apresentando também a preocupação com as questões de durabilidade, comportamento térmico e acústico, assim como o seu impacto no ambiente. Prevê-se a implementação de um sistema de fachada exterior em betão aparente, o isolamento térmico será feito pelo interior com uma forra interior composta por caixa de ar, isolamento térmico e placa dupla de gesso cartonado. Está previsto o modelo de cobertura plana ajardinada, com a colocação de godo na cobertura relacionada a zona técnica.

    Linhas simples e formas elegantes
    De acordo com os autores do projecto, que agora será materializado pela ABB, o edifício adopta uma linguagem arquitectónica com linhas simples e formas geométricas elegantes. O edifício destaca-se pela sua harmonia com a envolvente. “O uso de materiais modernos e sustentáveis contribui para uma estética sofisticada e duradoura. Verifica-se a integração do envolvente como um elemento ligado ao edifício, que transparece nos acessos ao seu interior”, lê-se na descrição da proposta desenhada pela VHM. “Sendo que, são evidentes frentes simples e acessos fluidos que tornam o edificado num só. Desta forma, os alçados são marcados por um desenho simples e delicado, fortalecidos pelo encontro de curvas e contracurvas que desenham e transformam a arquitectura deste construído com uma identidade própria”, acrescentam. “O alçado principal é mostrado por uma testa que completa num desenho limpo e ao mesmo tempo imponente. Contudo, embora se identifiquem três pisos, a arquitectura do edifício procura valorizar a imagem de um conjunto edificado uniforme, enquadrando-se com a envolvente de forma ter um compromisso homogéneo com o espaço”, conclui a equipa projectista.

    Sobre o autorRicardo Batista

    Ricardo Batista

    Director Editorial
    Mais artigos

    Aniceto Viegas, CEO da Avenue

    Imobiliário

    “A eficiência que conseguimos no Lumnia e no Sandwoods vamos aplicá-la daqui para a frente”

    A aposta em projectos de grande escala permitiu-lhes testar soluções e ser pioneiros em matérias de consumos energéticos e hídricos, tendo alcançado a primeira certificação Aqua + para o seu projecto de habitação Sandwoods. E este é um ponto sem retorno. O mercado já não pode trabalhar de outra forma. A aposta passa por continuar a “testar soluções, medi-las e depois convertê-las” em realidade, com o objectivo de contribuir para a redução efectiva dos consumos dos edifícios

    Cidália Lopes
    Aniceto Viegas, CEO da Avenue

    (fotos: Frameit)

    O caminho da Avenue fez-se através da habitação, em reabilitação ou construção nova. Mas numa área onde é preciso estar atento às necessidades do mercado, a estratégia levou o Grupo para o segmento de escritórios. E logo em grande escala, para “deixar a sua marca”. A aposta resultou e dois novos empreendimentos com escritórios e habitação, também em grande escala, vão arrancar já em 2024, confirmou Aniceto Viegas, CEO da Avenue em entrevista ao CONSTRUIR. Um será em Lisboa, outro no Porto, que marcará, também, a estreia no mercado de escritórios no Norte do País.

    Estamos no Lumnia. Um dos projectos bandeira da Avenue. Em que fase de encontra o complexo de escritórios?

    O edifício integra o Exeo Office Campus, que conta com três edifícios – o Lumnia, onde estamos, o Aura e o Echo, estes dois desenvolvidos em parceria com o BNP Paribas Real Estate.

    O Lumnia é aquilo que chamamos um multitenant para ocupação de vários inquilinos e já está 100% colocado, sendo que alguns escritórios estão ainda em fase de obra de fit-out. Ou seja, neste momento o Exeo não tem um único metro quadrado disponível de escritórios, restando, apenas, disponíveis as duas lojas que integram este complexo.

    Toda a dimensão das áreas e das especificações técnicas permite estar completamente alinhado com o padrão internacional e que ainda existe pouco no mercado. O Lumnia não é diferente de um edifício de escritórios em Paris ou em Londres, ou até Nova Iorque”

    Tendo a Avenue um histórico de habitação e reabilitação, como é que surgiu a ideia do Exeo, que é não só um edifício de escritórios, mas um campus cuja dimensão marca a diferença?

    Nós começámos a estudar este projecto em 2018 e ele arrancou no final de 2019. Na altura estávamos exclusivamente focados na reabilitação no centro da cidade de Lisboa e no Porto e o nosso trabalho é sempre complexo na medida em que tentamos projectar a três anos o que é que vai ser o mercado. Antecipar e tentar procurar onde vai estar a procura daqui a três anos e, naquela altura, em 2018, havia um nível de desocupação de escritórios extremamente baixo. Ou seja, havia uma escassez clara de escritórios no mercado e quase ninguém estava a olhar para esse segmento e ninguém estava a construir escritórios novos em Lisboa.

    Havia inclusive edifícios de escritórios antigos que estavam a ser reconvertidos em habitação… 

    Exactamente. Havia o fenómeno contrário. E nós acreditámos que tínhamos aqui a oportunidade de poder fazer algo nesse segmento e a fazer queríamos fazer algo diferente e para precisávamos de escala. Obviamente que, a escala tem o seu risco, mas também nos permite ter a oportunidade de fazer algo diferente e mais arrojado. E Exeo vai nesse sentido.

    Lumnia

    O que distingue o Exeo de outros edifícios de escritórios?

    É um campus, com uma escala extremamente difícil de encontrar, estamos integrados na zona por excelência para este segmento e queríamos aqui juntar os espaços interiores com os espaços exteriores. O Exeo tem a particularidade de ter quase 15 mil m2 de jardins, uma parte já está concluída e os outros ficarão em breve. E todos eles com uma temática.

    No primeiro edifício, o Aura, temos o Central Garden, um jardim mais formal, para marcar a entrada do campus. Depois, passamos para um jardim rebaixado, que é o que fica entre o Lumnia e o Echo, que é um jardim com uma quota inferior, tem uma ponte pedonal que passa por cima e os colaboradores podem estar na parte de baixo almoçar, para estarem mais descontraídos. E, finalmente, teremos um anfiteatro natural, ao ar livre, propício a apresentações e eventos e que será o último jardim depois do Echo. E estes três jardins ligam os três edifícios e todo o movimento é feito pelo interior e não pelas ruas. Ou seja, permite que os colaboradores e os visitantes do campus passem pela parte central para ter esta vivência do Campus.

    Depois temos toda a dimensão das áreas e das especificações técnicas, é um edifício moderno, completamente alinhado com o padrão internacional e que ainda existe pouco no mercado. O Lumnia não é diferente de um edifício de escritórios em Paris ou em Londres, ou até Nova Iorque. Inclusive este lobby com 12 metros de altura é extremamente difícil de se fazer. Pode ser visto quase como um desperdício de área, mas não é. A escala do edifício destes, de 30 mil m2, permite fazer isto.

    A questão da sustentabilidade é também uma bandeira deste projecto, no sentido de cumprir com os requisitos mais exigentes a nível ambiental. Quais foram, neste caso, os principais desafios com que se depararam?

    O que posso dizer é que num edifício de escritórios o elemento mais difícil de combater é a exposição solar. Como são edifícios naturalmente envidraçados, eles têm uma incidência solar muito grande nas fachadas e têm uma carga térmica muito importante no interior. Ou seja, as exposições solares a Sul optamos por laminas horizontais para tentar quebrar a incidência do sol no interior e a exposição a Poente já vamos para lâminas verticais, também para quebrar a exposição do sol que será mais baixo e com uma incidência mais na lateral e tentar com isso ter conforto.

    Uma fachada a Norte não tem estas questões, mas se for a Nascente também tem de haver um jogo entre as verticais e as horizontais para tentar proteger o espaço. Este é o primeiro trabalho que deve ser feito. Depois a segunda dimensão são os consumos. E aí é necessário olhar para o edifício no seu todo, sejam ao nível dos consumos de energia, seja nos consumos de água.

    Mais do que um desafio, o controlo dos consumos é hoje uma necessidade. Como se trabalhou essa vertente nestes edifícios?

    Em relação aos consumos de energia é algo já mais comum e que se controla melhor e que tem a ver o nível de iluminação, de eficiência dos equipamentos. Ou seja, pensar que equipamentos é que teremos que ter e que sejam suficientemente eficientes para reduzir os consumos. E depois tentar ter produção de energia, essencialmente através da colocação de painéis fotovoltaicos nas coberturas. Neste aspecto, o Lumnia consegue que 10% das necessidades de energia das áreas comuns seja assegurada pela produção dos painéis fotovoltaicos. O que é bastante bom.

    Em termos de certificação, no Lumnia optamos pelo LEED, no qual temos a LEED Gold e por acaso recebemos o certificado há muito pouco tempo o Lumnia conseguiu ter a pontuação mais elevada para um edifício de escritórios Excelent Core em Portugal na certificação LEED Gold. Nós conseguimos atingir um patamar bastante alto.

    Consegue quantificar quanto este edifício consegue poupar em termos energéticos?

    Esse cálculo é mais complexo nos edifícios de escritórios. Por um lado, temos as partes comuns e depois cada utilizador tem a sua responsabilidade. Apesar de ser uma gestão integrada no edifício, cada empresa tem patamares máximos que não pode ultrapassar, mas existe alguma liberdade na forma como gerem esses consumos. Além da questão energética, temos ainda outra dimensão que é a água. Muito pouca gente fala da água.

    O Lumnia também já tem algumas especificidades nesse sentido?

    Sim. Nós somos dos primeiros no mercado de escritórios a olhar para uma certificação que existe em Portugal e que é muito importante que é o Aqua +. Como tínhamos muita escala o que fizemos foi criar um depósito de água enterrado no subsolo, por isso não há evaporação, que recolhe as águas pluviais e este deposito tem 800 metros cúbicos, ou seja, estamos a falar de 800 mil litros de água que acumulamos e que pode ser utilizada principalmente na rega.

    Neste caso conseguimos medir com mais precisão, mas quase 50% das necessidades de rega dos espaços verdes são assegurados por este depósito. Isto é o que é possível fazer quando temos um edifício com esta escala e dimensão.

    O Sandwoods é o primeiro projecto com a certificação Aqua + classe hídrica A. E o que fizemos foi construir um depósito de água de 150 m3 para regas dos espaços exteriores. Em termos de consumos, medimos uma poupança por ano e por moradia de 700 m3 (700 mil litros). Se multiplicarmos isto por 45 moradias, estamos a falar de 32 milhões de litros que conseguimos poupar”

    Sobre a importância dos consumos da água e sobre a certificação Aqua+ fizeram, igualmente, um grande investimento no empreendimento residencial Sandwoods, em Cascais…

    Efectivamente, o Sandwoods, em Cascais, é o nosso benchmark, aquele projecto em que quisemos levar estas questões do consumo hídrico mais longe. São 40 moradias e mais 5 fracções onde levamos este exercício quase ao limite. Pensamos: O que é que podemos fazer de máximo em termos de sustentabilidade num projecto de habitação?

    No fundo a testar soluções…

    Exactamente. Testar soluções, medi-las e depois convertê-las. No Sandwoods a aposta foi nas dimensões da energia e do consumo de água e, também, na dimensão do bem-estar, que neste caso conseguimos com os cerca de 90 mil m2 de terreno em que construímos em cerca de 20 mil m2 e os 70 mil remanescentes são áreas verdes já existente, com pinhal.

    Sandwoods

    Olhando para a dimensão da energia, para o consumo energético, o Sandwoods tem toda A+, não há uma única fracção que não tenha uma certificação A+ e quando estamos a falar do A+ é quase no limite máximo do que é possível fazer. Para ter uma ideia em termos de emissões, uma moradia terá uma emissão de 100kls de CO2 por ano, comparado com uma fracção de habitação reabilitada no centro da cidade de Lisboa que tenha uma certificação B, o que já não é mau na reabilitação, estamos a falar de uma emissão de CO2 de 1100 kls, ou seja, conseguimos 10x menos. Aqui é que percebemos até onde é que se conseguiu levar o exercício ao extremo.

    No que diz respeito à certificação Aqua +, sendo este o primeiro projecto de escala com a certificação Aqua + classe hídrica A, o Sandwoods tem um depósito de água de 150 m3 para regas dos espaços exteriores, embora tenhamos ali uma floresta já bastante consolidada com necessidades relativamente baixas de água, mas pelo menos assegurar o máximo possível através da recuperação das águas pluviais. Em termos de consumos, medimos uma poupança por ano e por moradia de 700m3 (700 mil litros). Se multiplicarmos isto por 45 moradias estamos a falar de 32 milhões de litros que conseguimos poupar.

    Mesmo que ocorra algum desvio mediante a utilização que cada pessoa fizer da sua casas as variações serão muito pequenas, isto porque nós temos equipamentos de baixo consumo.

    Além do Exeo, que outros projectos vamos ter ainda este ano e qual o pipeline futuro?

    Além da conclusão do Exeo, vamos, ainda, concluir mais dois projectos de habitação – o Villa Infante e o Bonjardim, no Porto (28 mil m2 no centro da cidade). Já o Sandwoods termina a construção no final do próximo ano.

    Prevemos desenvolver 1300 fogos e 97 mil m2 de escritórios. Ou seja, para arrancar já no próximo ano, temos os dois edifícios de escritórios, um em Lisboa e outro no Porto. Estes serão no centro das cidades. de grande escala e estamos a falar de projectos mistos – residencial e escritórios. Só estes dois empreendimentos correspondem a 800 fogos e a 27 mil m2 de escritórios.

    No caso da habitação ainda não conseguimos dar números muito precisos porque ainda estamos numa fase de licenciamento, mas será para construção nova, também, Lisboa e Porto e iremos manter-nos no segmento alto.

    Qual o volume de negócios que alcançaram em 2023?

    Estes números variam porque pode haver a entrega repentina de muitos projectos num ano e noutro estarmos mais em produção, mas em termos médios andamos sempre uma bitola de cerca de 100 milhões de euros de vendas por ano.

    O 5º Porto, que foi finalizado há cerca de um ano, está 98% vendido, o Bonjardim está com cerca de 90% da sua colocação ao nivel da habitação, o Villa Infante está com uma taxa de 55% e o Sandwoods está com 100%.

    E todos os novos projectos vão igualmente apresentar uma grande preocupação com a sustentabilidade e a eficiência?

    Sim, claro. Aliás acho que o mercado já nem consegue abstrair-se dessa questão. A sustentabilidade tem que fazer parte de qualquer projecto imobiliário hoje em dia, independentemente do segmento onde nos situemos. É sempre possível fazer algo para melhorar a eficiência dos edifícios e as soluções que já existem no mercado permitem que estas sejam implementadas em qualquer segmento de mercado. O que é importante é tentarmos fazer experiências e aprender com essas experiências. E implementar essas soluções logo na fase de projecto.

    Dentro destes dois ex-libris, o Lumnia e o Sandwoods, o que foi importante, é que testámos muito bem as soluções a implementar, sabemos que o que representa verdadeiramente uma poupança de consumos, para depois extrair esta experiência e aplicá-la daqui para a frente em projectos de maior escala. São ensinamentos que tentamos sempre aperfeiçoar e que é continuo. Não podemos ficar por aqui.

     

    Pelo que percebi o projectos de escritórios que preveem para o Porto será o primeiro do Grupo nesta cidade. Como olham para as diferenças deste segmento no que diz respeito a Lisboa e Porto?

    É curioso que hoje verifica-se que já não há assim tanta diferença neste mercado nestas duas cidades. E acho que se deve ao grande trabalho que o Porto tem feito e há que dizê-lo, tem sido um trabalho político, em que se procurou perceber o que é que as empresas precisam e trabalhar nesse sentido. A cidade do Porto passou de um mercado onde se transaccionava cerca de 20 a 25 mil m2 por ano para os 60 a 80 mil m2 de take up por ano, ganhando um verdadeiro lugar neste segmento.

     

    E no que diz respeito às novas tendências em termos construtivos?

    Obviamente que temos estado muito atentos. Sabemos que será uma tendência, até para reduzir custos e para termos uma menor incidência da mão de obra, que é uma das dificuldades do sector. Ao nível da pré-fabricação, começamos a ter elementos cada vez mais standardizados, como casas de banho ou cozinhas e carpintarias a ser construídas off-site. Isso interessa-nos e para os nossos próximos projectos estamos a ponderar efectivamente essa alternativa. Contudo, sabemos que para já, ainda não há capacidade de resposta em termos produção. Está a começar e o mercado vai nesse sentido.

    Sobre o autorCidália Lopes

    Cidália Lopes

    Jornalista
    Mais artigos
    Construção

    Universidade de Lisboa investe 9,5M€ na nova Faculdade de Letras

    A Universidade de Lisboa está já a promover o concurso público com vista à execução dos trabalhos de construção da nova Faculdade de Letras. O programa contempla a substituição do edifício correspondente ao ‘Pavilhão Novo’ por um edifício novo que reúna as condições necessárias à respectiva utilização. O novo Edifício da Faculdade de Letras deverá ser entendido como a primeira fase de um conjunto de edifícios que possam vir a ser construídos na área de intervenção

    Ricardo Batista

    Está em marcha o concurso público para a execução dos trabalhos de construção do novo edifício da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, um investimento estimado em 9,5 milhões de euros para uma obra que deverá estar concluída dentro de ano e meio.
    O projecto, concebido por uma equipa da Faculdade de Arquitectura da universidade, vai ao encontro das pretensões manifestadas pelos responsáveis da instituição, que reclamam que “há muito tempo que precisávamos de mais espaço. Tínhamos um edifício pré-fabricado construído nos anos 70 que teria apenas uma utilidade provisória e, por isso, já estava a rebentar pelas costuras, muito degradado. Precisávamos de espaço para mais salas de aulas e, sobretudo, para gabinetes de professores”.

    Novo edifício
    De acordo com a descrição deste programa, “a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, fundada em 1911, é uma instituição do ensino superior que se dedica ao ensino, no campo das humanidades, e que surgiu na continuidade do Curso Superior de Letras de Lisboa, fundado em 1859 por D. Pedro V. A Faculdade de Letras está actualmente direccionada para um conjunto de 3854 alunos, distribuídos por 3 ciclos de ensino, e conta, na prossecução dos seus objectivos, com 237 professores doutorados, 23 dos quais são catedráticos”. As instalações da Faculdade de Letras da ULisboa, integradas no Campus Universitário da Cidade Universitária de Lisboa, incluem o Edifício Original, da autoria de Porfírio Pardal Monteiro, concluído em 1959 (que integra o conjunto monumental constituído pela Reitoria/Aula Magna e pelas Faculdade de Letras e de Direito), o conjunto formado pela Biblioteca e edifício de Anfiteatros (Corpos A e B), inaugurado em 2000 e o Pavilhão Novo, construído em 1975”. A área de intervenção é de 10.832,50 m2, (sendo a área ocupada por toda a Faculdade de Letras de 49.684,09m2) onde deverá ser previsto um futuro edifício para expansão da FLUL. A área de implantação agora proposta para o “Novo Edifício da Faculdade de Letras da Ulisboa” é de 2.286,80 m2 e o futuro edifício disporá de um polígono de implantação com 1.439,00m2. “O objectivo da presente intervenção é pois o da substituição do edifício correspondente ao ‘Pavilhão Novo’ por um edifício novo que reúna as condições necessárias à respectiva utilização. O novo Edifício da Faculdade de Letras deverá ser entendido como a primeira fase de um conjunto de edifícios que possam vir a ser construídos na área de intervenção, não devendo, portanto, inviabilizar outras possíveis intervenções”, reforçam os responsáveis da Universidade. De modo a responder a estas necessidades, “foi considerado que o Novo Edifício disporá de uma área útil total de 3.887,54 m2 e uma área bruta de 4.468,00m2. Considerou-se ainda que os Arranjos Exteriores envolventes do Edifício, que deverão estabelecer a ligação com a envolvente e corresponderão a uma área com cerca de 4.294,00 m2”.

    Soluções mais naturais
    “A crescente consciencialização de questões relacionadas com a sustentabilidade ambiental (tão presente nos discursos actuais) cria oportunidade para iniciativas que promovem soluções mais naturais e que vão ao encontro de estratégias que garantem uma relação custo /benefício adequada aos objectivos a que nos propomos: conforto ambiental passivo, eficiência energética num quadro de economia de recursos”, pode ler-se na descrição do programa de arquitectura, onde os autores do projecto acrescentam que “não pretendemos que o edifício seja apenas inovador e confortável, mas sim um espaço onde, estudantes, professores e funcionários, são convidados a partilhar valores de convívio, discussão de ideias”. É nesse sentido que os espaços exteriores complementam e enquadram as áreas interiores projectadas, assegurando que o local e a sua envolvente foi considerado como protagonista da solução projectada traduzida numa linguagem que vai ao encontro de conceitos expressos em valores essenciais e que permitem realçar a relação entre a vida académica e o ambiente que a rodeia. “A solução ideal poderá estar no equilíbrio, complexo e difícil exercício, entre a conjugação de factores económicos – optimização de custos – que garantam quer sustentabilidade, quer conforto ambiental preferencialmente passivo, eficiência energética e linguagem arquitectónica contemporânea. O novo edifício, pertencente à “Faculdade de Letras” (FL) – será implantado no mesmo local do edifício a demolir, mantendo-se uma cota de soleira ligeiramente acima da actual, isto é 88.92 (actualmente é 88.46)”, lê-se no documento.

    Sobre o autorRicardo Batista

    Ricardo Batista

    Director Editorial
    Mais artigos

    O Investimento na unidade de Bragança é o mais avultado, na ordem dos 7,3M€

    Construção

    Politécnico de Bragança investe 17,9M€ em três residências para estudantes

    O concurso está repartido em três lotes, nomeadamente o lote de Bragança (ao qual está destinada uma verba na ordem dos 7,3 milhões de euros), de Mirandela (5,1 milhões de euros) e Chaves (que deve implicar um investimento na ordem dos 5,5 milhões de euros)

    Ricardo Batista

    Está formalmente lançado o concurso público com vista à execução dos trabalhos de construção de três residências estudantis da responsabilidade do Instituto Politécnico de Bragança, um investimento estimado em 17,9 milhões de euros.

    O concurso está repartido em três lotes, nomeadamente o lote de Bragança (ao qual está destinada uma verba na ordem dos 7,3 milhões de euros), de Mirandela (5,1 milhões de euros) e Chaves (que deve implicar um investimento na ordem dos 5,5 milhões de euros). Os responsáveis pela instituição de ensino explicam que os potenciais interessados poderão manifestar intenção de apresentar propostas para cada um dos lotes ou propostas que envolvam mais do que uma obra.

    Os três projectos de arquitectura são assinados pela equipa da VHM e têm, também eles, prazos distintos de execução. No caso da intervenção em Bragança, é esperada que a obra esteja concluída num prazo de 506 dias, ao passo que no caso de Mirandela e Chaves, os prazos estimados são de 447 dias.
    Supressão de necessidades

    Na descrição dos trabalhos, a equipa projectista explica que com este conjunto de trabalhos o Instituto Politécnico de Bragança pretende “suprir uma necessidade sentida há muito de disponibilizar uma maior oferta de alojamento para os seus estudantes em condições de preço e conforto compatíveis com as suas capacidades económico-financeiras, permitindo-lhes concentrar o foco e a atenção para o desempenho académico”.

    Através deste investimento, acrescentam os responsáveis pelo gabinete liderado por Victor Hugo, o Instituto irá “contribuir de uma forma ainda mais expressiva para a efectiva igualdade de oportunidades no acesso ao ensino superior e à sociedade do conhecimento, respondendo mais eficazmente às necessidades e expectativas dos estudantes, das instituições e da sociedade e contribuindo de forma significativa para o alargamento da base social do ensino superior, a integração social e académica, o sucesso escolar e a transição para o mercado de trabalho de uma população académica cada vez mais diversa”.

    Bragança
    No caso da infraestrutura de Bragança, a nova residência permitirá disponibilizar 200 novas camas. O projecto, sendo orientado pelos princípios da sustentabilidade (ambiental, social e económica), fortalecerá o compromisso do IPB para o desenvolvimento sustentável, em todas as suas dimensões, alinhado com os objectivos da Agenda 2030. Nesse sentido o projecto opta pelo uso de soluções pré-fabricadas, como é o caso das fachadas e das instalações sanitárias dos quartos. O uso destas soluções torna a obra mais sustentável, barata e eficiente, definindo o processo e etapas de construção, permitindo uma obra realizada num prazo mais curto, a redução de mão de obra e manutenção, bem como o desperdício de materiais.

    Mirandela
    O edifício proposto permitirá disponibilizar 120 novas camas aos estudantes deslocados na cidade e também aos visitantes do IPB. Este aumento no número de camas será uma mais-valia, num momento em que os estudantes apresentam cada vez mais dificuldade em encontrar alojamento a preço acessível e com condições de habitabilidade. O edifício desenvolve-se por três pisos, com as comunicações verticais entre os pisos localizadas de forma a garantir uma circulação fluída, bem como as distâncias necessárias para uma correcta evacuação em caso de emergência. O acesso principal ao edifício situa-se no piso 0 com um acesso pedonal á cota da via pública, através de uma zona de entrada e de espera, que por sua vez faz a ligação com os restantes espaços. Existe ainda um acesso secundário que poderá servir mais directamente o pessoal administrativo, funcionários da residência e também pessoas com mobilidade reduzida.

    Chaves
    O edifício de Chaves terá localização num terreno destinado ao “Campus da Água”, da “Escola Superior de Hotelaria e Bem-Estar”, unidade orgânica do Instituto Politécnico de Bragança (IPB). Nas imediações do terreno apresenta-se uma paisagem natural de grande interesse, sendo uma zona de serviços ligadas à educação e formação profissional e ao comércio. A construção da nova residência de estudantes permitirá disponibilizar 120 novas camas aos estudantes e visitantes do IPB.

    Sobre o autorRicardo Batista

    Ricardo Batista

    Director Editorial
    Mais artigos
    Arquitectura

    “O CCB foi fundamental na construção da nossa identidade”

    A “Cidade aberta” preconizada pelos arquitectos Vittorio Gregotti e Manuel Salgado há 30 anos, vai ser finalmente concluída. Falamos do Centro Cultural de Belém, hoje Monumento Classificado, e cujo projecto moldou e ainda hoje exerce influência sob a arquitectura do atelier Risco, fundado por Manuel Salgado. Falámos com Tomás Salgado, arquitecto e coordenar geral do atelier português, sobre o projecto e o impacto do legado de Gregotti na definição do que é o Risco

    30 anos volvidos sobre a inauguração do equipamento cultural que é hoje Monumento Classificado, apenas três módulos foram efectivamente construídos: o Centro de Congressos e Reuniões, Centro de Espectáculos e Centro de Exposições. Faltam dois, os módulos 4 e 5, que vão dar origem a duas unidades hoteleiras (um hotel com 161 quartos e um aparthotel com 126 unidades), com comércio e serviços. Um programa em linha com o que foi preconizado pela dupla de arquitectos que concebeu o projecto original, Vittorio Gregotti e Manuel Salgado. Mas há ainda muito para desenvolver como conta ao CONSTRUIR o arquitecto Tomás Salgado.

    30 anos depois a conclusão do Centro Cultural de Belém poderá estar para breve. Será desta?

    Esperamos que sim! Estamos com muita esperança de que o processo se desenvolva, mas o mesmo já teve muitos avanços e recuos e enquanto não houver um vencedor do concurso de subcessão dos direitos de superfície lançado pela Fundação Centro Cultural de Belém (FCCB) não temos a certeza de nada. Eu não estava aqui [no atelier] em 1988 nem em 1992, mas desde 1995 até hoje já acompanhei muitos desenvolvimentos deste processo com diferentes administrações da FCCB e com muitos programas funcionais.

    Este processo tem se estendido no tempo com muitas alterações…

    Fizemos um caderno aqui há uns tempos com as várias propostas e resultou num trabalho bastante interessante. Houve uma fase em que o programa para os módulos 4 e 5 era totalmente dedicado a actividades culturais. Inclua uma biblioteca dedicada às artes do espectáculo, residências para artistas, etc. Mais tarde, com António Mega Ferreira [2006/2012] o programa mudou novamente e pensou-se num terceiro auditório para o CCB. Um auditório de dimensão intermédia entre o grande e o pequeno auditório. Depois, mais à frente, com o professor António Lamas [2012-2016] voltou-se ao programa hoteleiro. Ou seja, houve, ao longo destas décadas, uma série de diferentes opções por parte das diferentes administrações do CCB. Mas a determinada altura tudo aquilo esbarrou em questões administrativas sobre a titularidade dos terrenos que não estavam resolvidas. Só, de facto, com esta última administração [presidida por Elísio Summavielle] estas questões ficaram resolvidas de uma vez por todas e houve uma concretização do programa que vinha de trás, do professor Lamas, que era um programa fundamentalmente de hotelaria. E só agora estão reunidas as condições, até políticas, para este processo avançar em definitivo.

     

    Mas quando foi concebido o programa original para os módulos 4 e 5 era voltado para a hotelaria? 

    Sim, sim. Aliás, em 1988 o programa de concurso já previa que estes últimos módulos fossem dedicados a hotelaria e ao comércio. É interessante que agora, passados 30 e tal anos e muitos programas diferentes, se tenha completado o círculo, tendo-se voltado ao início. A volumetria é um bocadinho diferentes daquela que estava prevista na nossa proposta inicial, em 1988, mas o programa é fundamentalmente o mesmo.

    Quais são as diferenças entre o programa original e este novo traçado?

    Em termos de traçado, quando se olha para a maqueta ou para os desenhos de 1988, os módulos 4 e 5 tinham uma frente virada para a Avenida da Índia, um muro baixinho que fazia de sucalcamento, como acontece nos módulos 1, 2, 3 e que suportam os jardins hoje existentes nestes módulos. Nos módulos 4 e 5, esse muro, na proposta original, era contínuo, muito comprido, com um terraço ajardinado. Por imposição da Câmara Municipal de Lisboa (CML) esse muro teve de ser interrompido por duas vezes, para não haver uma frente com comprimento superior a 100 metros, e isso introduz ali um fraccionamento que não existia na proposta original. Por outro lado, o corpo construído que está em cima dessa plataforma e que, na proposta de 1988, era um corpo baixinho e muito comprido, agora é um corpo partido em três e um pouco mais alto, que vai buscar umas cotas e uns alinhamentos do modulo 3 do CCB, resultando num corpo mais gordo e mais alto, que permite acomodar mais área de construção. Vamos ser claros: esta intervenção, neste momento, também tem o objectivo de ajudar a financiar a FCCB, pretendendo-se com este concurso que está em curso maximizar a renda anual que o subcessionários irá pagar à FCCB e para isso era preciso criar condições para se tornar um negócio interessante, do ponto de vista do investidor.  Esta concepção financeira da operação não era tão clara em 1988.

     

    Mas do ponto de vista do projecto essa alteração faz sentido?

    Acho que do ponto de vista volumétrico não há nada de chocante, não sabemos se vai ser uma unidade ou se vai ser uma, partida em duas. Isso agora vai depender daquilo que os investidores pretenderem.

    DCIM100MEDIADJI_0104.JPG

    À espera da proposta vencedora

    Quanto do projecto destes módulos está feito e quanto é que vai depender da proposta que vier a vencer o concurso?

    Aquilo que existe neste momento para os módulos 4 e 5 é um Pedido de Informação Prévia (PIP) e um estudo preliminar que foi apresentado à CML, que foi aprovado e que fixa as volumetrias dos módulos 4 e 5, as alturas, os alinhamentos, as profundidades de empena, a posição dos estacionamentos. Isso está fixo. Agora, é preciso haver um vencedor deste concurso que irá herdar o contrato com a Gregotti Associati International e o Risco e, a partir desse momento, iremos começar a trabalhar para adaptar da melhor forma possível o que está determinado neste estudo preliminar àquilo que são as necessidades e os objectivos de negócio do vencedor do concurso. Sabendo que há limites, especificados no PIP, há muita coisa para desenvolver e isso irá permitir fazer “um fato à medida” de quem venha a operar e a explorar aquele empreendimento.

    Olhando de forma crítica para o projecto do CCB neste momento. O projecto continua a fazer sentido? 

    Absolutamente! O CCB tem exactamente essa virtude que é ser quase inquestionável na sociedade portuguesa. Aliás, é curioso que se olhar para os jornais da época e se ler tudo aquilo que se escreveu na altura e as críticas que recebeu…que o projecto era “um atentado” … “que ia destruir a Praça do Império”, “que era uma coisa inconcebível” … e tudo o que se escreveu de negativo. Hoje, há poucos edifícios que se tenham integrado de uma forma tão clara como o CCB. Neste momento serão poucas as pessoas que passam por ali e sintam que aquilo é um corpo estranho. Acho que para a maior parte das visitantes o CCB esteve sempre ali. E isso é o maior elogio que se pode fazer ao projecto. Os módulos 4 e 5 têm a mesma natureza, foram desenhados da mesma forma, pelas mesmas pessoas, pelas mesmas cabeças. Aliás, a sua ausência é uma falha já que estes são fundamentais para garantir a transição entre a Praça do Império e o Bairro do Bom Sucesso que, até hoje, permanece por fazer pelo facto destes módulos nunca terem sido construídos.

     

    O que se sucede agora em termos de calendarização?

    O concurso tem uma série de procedimentos com prazos legais. Eu tenho ideia de que este processo não vai estar concluído em menos de um ano. Nós iremos trabalhar com quem ganhar.

     

    Um projecto que moldou o atelier  

    Este projecto foi determinante para aquilo que é hoje o Atelier?

    Sem dúvida. O Risco, em 1988, quando o meu pai [Manuel Salgado] foi convidado pelo professor Vittorio Gregotti para fazer o concurso, era uma estrutura muito pequena e fazia mais projectos de urbanismo do que projectos de arquitectura, embora tivesse já alguns projectos desenvolvidos. O CCB foi o grande salto do Risco. Estes foram anos de formação extremamente importantes para o meu pai e para o próprio Gabinete.

    Como se dá esta ligação do professor Gregotti ao arquitecto Manuel Salgado?

    Eles conheceram-se depois do 25 de Abril em algum momento.  Depois, tiveram muitos anos sem se ver e em 1988 o professor Gregotti convidou o meu pai a participar neste concurso e seguiram-se anos de uma formação que foi extremamente importante para ele. Foram ensinamentos, uma maneira de ver o território e de fazer a arquitectura que depois passou para uma geração mais nova dentro do Risco, no qual eu me incluo, e na qual se incluem também o Nuno Lourenço, o Jorge Estriga e o Carlos Cruz. Fomos todos, de alguma forma, beber desta fonte de sabedoria que era o professor Gregotti. Muito do que fazemos hoje, em certa medida, é influenciado por esses anos.

     

    E a preferência pela definição de traçados urbanos, pela geometria e a forma e por projectos públicos?

    Olhamos para os desafios na lógica da cidade. Ou seja, por mais encaixado numa zona consolidada que esteja o projecto, procuramos sempre perceber o contexto envolvente, perceber como é que a cidade, como é que o território envolvente, funcionam. Seja ele mais construído ou menos construída, há sempre essa procura de perceber o lugar e de como o edifício em projecto pode ajudar à sua composição. Esta forma de ler os edifícios do ponto de vista da cidade é transversal a tudo o que fazemos e isso é, claramente, um dos ensinamentos do professor Gregotti. E depois há um outro exercício que é o de olhar para topografia, quer seja a existente quer seja a que vai resultar da nossa intervenção, que também é claramente um dos legados do professor. E o CCB nisso é muito evidente. A forma como se criaram aquelas plataformas, a forma como estas se relacionam para fora, a vista que proporcionam em direcção ao rio, mas também a forma como foram construídos os jardins elevados. Tudo isso está relacionado com esta maneira de ver.

    Há um outro tema que é muito comum aos nossos projectos e que, de certa forma, pode encontrar raízes no CCB, que é o rigor do desenho, a procura de uma geometria forte, ter regras de desenho que ajudam a estruturar o projecto é uma coisa que é muito evidente no CCB e que também está muito presente nos projectos que desenvolvemos. O CCB foi fundamental na construção da nossa identidade.

    Quando o concurso foi apresentado foi referido o impacto do projecto na reabilitação desta zona da cidade. É assim?

    Actualmente existe uma quantidade de visitantes na zona de Belém que percorre o passeio da Avenida da Índia para ir desde o Mosteiro dos Jerónimos até à Torre de Belém. Um dos objectivos do projecto inicial é que esse percurso fosse feito pelo CCB, iniciando por baixo do módulo 1, passando à frente das bilheteiras do módulo 3, subindo as escadas em direcção à praça do museu, depois passando por baixo de um arco que há no fim da praça e, por ali fora, atravessando depois o Bairro do Bom Sucesso. O que acontece hoje é que a praça do museu, onde se acede ao MAC CCB, está tamponada, tem uma tenda e ninguém faz esse percurso. A construção destas peças finais do projecto vai viabilizar esse percurso e dar uma nova vida não tanto para o interior dos módulos 1, 2 ou 3, mas para o espaço a poente do CCB, que hoje em dia é um descampado vedado e que vai passar a ter ruas, lojas, cafés, esplanadas e ser um acesso a tudo o que se prolonga a seguir ao CCB. Toda essa zona tem vindo a ser requalificada e com esta abertura vai ganhar uma dinâmica extraordinária.

     

    Este para si é um projecto especial?

    São todos especiais, mas este, em particular, permite honrar a memória do professor Gregotti, que era uma pessoa por quem todos tínhamos uma enorme admiração e que infelizmente já cá não está. Tem essa componente mais sentimental, se quiser. Agora, também vai ser especial porque vai envolver pessoas, como o meu pai, que ainda cá está e de boa saúde, embora já não faça parte da estrutura e do dia-a-dia do atelier há 15 anos. É natural que se este trabalho de facto acontecer, como esperamos que aconteça, que ele venha a estar envolvido porque, ele sim, teve uma participação no projecto muito profunda e vai ser um momento muito importante para ele voltar a trabalhar neste projecto.

     

    O Risco tem em mãos outros trabalhos. O que estão neste momento a desenvolver?

    As coisas mudaram um pouco porque a natureza dos projectos tem sido um pouco diferente daquela que tínhamos no passado. Em termos de projectos de maior dimensão estamos a finalizar um projecto de habitação e escritórios para um promotor privado. Um projecto para a zona do Lumiar, Alameda das Linhas de Torres, que irá criar 450 fogos de habitação e dos edifícios de escritórios. Tem uma escala bastante importante, embora seja um projecto em que não fomos responsáveis pelo desenho urbano porque o nosso cliente, quando adquiriu a propriedade, já existia um projecto de loteamento aprovado. Portanto, estamos a projectar os edifícios previamente concebidos em termos volumétricos pelo autor do projecto de loteamento, Não é a mesma coisa que começar a folha em branco. Estamos a finalizar um projecto muito interessante que já dura há muitos anos que é o Convento do Beato.

    Esse é um projecto com várias fases

    Sim, fizemos o centro de eventos e estamos a concluir a obra da primeira fase residencial, depois vai seguir-se uma segunda fase residencial e a Igreja. É um projecto também bastante importante para o atelier. Estamos a desenvolver a Academia de Futebol do Futebol Clube do Porto, na Maia, para as camadas jovens do FCP.

     

    Que, segundo o FCP está quase pronto…

    É um projecto bastante interessante que está a caminho mais ainda tem ali algum trabalho para fazer. Depois há já alguns anos que temos vindo a desenvolver um trabalho muito interessante com o grupo Luz Saúde, que vai variando entre os hospitais do grupo e as clínicas, variando entre projectos de média e grande dimensão. E temos mais alguns desafios pela frente que o grupo ainda não tornou público, mas é um trabalho interessante porque acaba por ter uma logica sequencial, até nas soluções que se levam de uns para os outros e que se vão melhorando. Também em execução está a fase 3 da Cidade do Futebol para a Federação Portuguesa de Futebol e que engloba um pavilhão de futsal, as instalações definitivas do canal 11, e as instalações da Portugal Futebol School. Ganhamos o concurso para o HUB do Mar (Lisboa) e estamos à espera do visto do Tribunal de Contas para arrancar em força.

     

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

    Manuela Sousa Guerreiro

    Mais artigos
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB

    Navegue

    Sobre nós

    Grupo Workmedia

    Mantenha-se informado

    ©2021 CONSTRUIR. Todos os direitos reservados.