O ano de arranque da Logística
Em 2022, o investimento imobiliário no sector logístico e industrial deverá disparar, impulsionado pela entrada de novos players no mercado e acompanhando o crescimento do sector a nível europeu, assim haja activos para comercializar

Manuela Sousa Guerreiro
As Legislativas esmiuçadas, a Open House e o ‘novo’ Pavilhão de Portugal em destaque no CONSTRUIR 530
Apagão ibérico revela “fragilidades” na Europa
Crescimento de flexspaces deve-se à “rapidez da operacionalidade” e “flexibilidade de prazos”
Habitat Invest lança lote 3 do Almar Beach
Prémio António Almeida Henriques 2025 destaca empresas e autarquias
IP consigna a última empreitada das obras do PRR
Melom e Querido Mudei a Casa Obras com volume de negócios de 6,6 M€ no 1º trimestre
Sete gabinetes portugueses finalistas nos A+Awards 2025
Accor assume gestão do Anantara Vilamoura, o primeiro da marca Fairmont em Portugal
Estão abertas as candidaturas à 21ª edição do Prémio Fernando Távora
O segmento de Indústria e Logística na Europa recebeu, no ano passado, um volume de investimento de 62 mil milhões de euros, um valor 79% acima da média dos últimos cinco anos. De acordo com o estudo da Savills European Logistics Outlook, de Fevereiro, o ano passado terminou com a absorção de 40 milhões de m2 na Europa, um valor sem precedentes que se coloca 40% acima da média da área absorvida nos últimos cinco anos.
Em Portugal, o sector segue a tendência de crescimento, mas esbarra com a falta de activos para comercializar. “Ao contrário do que se verificou em diversos países europeus nos últimos anos, o investimento em activos de logística teve uma reduzida expressão em Portugal, não pela falta de interesse por parte dos investidores, mas principalmente por não existir produto disponível para venda”, refere Michael Costa Gabriel, consultor de Industrial e Logística da CBRE Portugal. Segundo o responsável, “efectivamente, em 2021, o investimento no sector Industrial & Logístico totalizou apenas 65 milhões de euros, ou seja 3% do investimento total em imobiliário comercial em Portugal (no conjunto dos países europeus representou 17% do investimento total)”. Contudo, este especialista não tem dúvidas: “Em termos de volume transaccionais, Portugal parte de uma posição abaixo dos níveis europeus, no entanto, acompanha efectivamente a tendência europeia em termos de crescimento e interesse no segmento, registando já um investimento acelerado em 2022, directamente associado à grande procura de activos logísticos”.
A opinião tende a ser unanime ao sector. “O mercado imobiliário tem vindo a sofrer mudanças bastante positivas, nomeadamente no sector logístico e já em 2021 verificámos um recorde nos valores de ocupação na ordem dos 700 000 m2”, sublinha Sérgio Nunes. O responsável, Head of Industrial, Logistics & Land da Cushman & Wakefield, afirma que “neste momento Portugal está a acompanhar a tendência de crescimento da Europa no sector. Contudo ainda existe um longo caminho pela frente para que possamos acompanhar o investimento dos outros países europeus no segmento logístico”.
O ano de 2022 arrancou da melhor forma para o segmento I&L, com um volume de investimento de aproximadamente 170 milhões de euros. Em apenas três meses mais do que duplicou o valor do investimento total do segmento registado o ano passado. “Encontram-se actualmente em negociação diversos outros activos, incluindo portefólios, e a CBRE estima que no total do ano serão canalizados para esta classe de activos mais de 750 milhões de euros, o que será certamente um valor recorde em Portugal”, avança Michael Costa Gabriel.
Os drivers do crescimento
O crescimento do segmento de I&L em Portugal tem sido impulsionado pelo aumento do comércio do e-commerce, mas também pela necessidade de as empresas aumentarem os seus stocks, de forma a poderem cumprir o normal funcionamento da sua cadeia de distribuição. Uma preocupação especial depois das dificuldades sentidas no transporte e distribuição internacionais nos anos de pandemia. “O e-commerce foi um dos principais drivers que contribui para o crescimento da indústria logística em Portugal, visto que os players necessitaram procurar espaços e armazéns que garantissem a disponibilidade dos seus produtos, no menor tempo possível, aos clientes. Contudo, este crescimento tenderá a ser influenciado, e impactado, pela guerra na Europa, uma vez que este acontecimento veio alterar trocas comerciais, as necessidades das empresas e, sobretudo, suscitar alguma preocupação nos investidores”, justifica Sérgio Nunes.
Nesse sentido, “há uma procura robusta por diversos produtos logísticos, desde naves logísticas a distribution centres. Perspectiva-se a contínua penetração do e-commerce no mercado nacional, aumentando consequentemente o interesse em activos dedicado a este segmento”, refere Michael Costa. “Registamos um maior número de operadores logísticos no panorama nacional, associado à expansão da actividade e reorganização de empresas, que inclui a restruturação de activos. Consequentemente, existe um flee to safety, com a procura de activos modernos que oferecem melhores condições de segurança e conforto aos colaboradores, com impacto na produtividade dos mesmos”, continua o mesmo especialista.
Um mercado alimentado por players internacionais
A Cushman & Wakefield perspectiva um ano com muitas transacções – desde a aquisição de terrenos para desenvolvimento de novos parques logísticos, à compra de armazéns activos com rendimento e de armazéns vazios para serem ocupados nos principais eixos, de Lisboa e Porto. “A par disso, a aposta em novos parques logísticos irá traduzir-se em mais oferta aos ocupantes, bem como um mercado mais estruturado para os players do sector logístico”, sustenta Sérgio Nunes. Para o Head of Industrial, Logistics & Land da consultora os principais “players que têm vindo a investir no mercado logístico nacional são, essencialmente, internacionais, de grande dimensão, com um perfil value-added e, cujo objectivo, consiste em reposicionar e acrescentar valor aos activos, bem como apoiar parceiros locais”.
Para Michael Costa Gabriel a procura e o interesse é partilhada tanto por investidores nacionais como internacionais alimentados, e muito, pela “grande margem de progressão do sector logístico. Para o Consultor de I&L há ainda “muito a fazer em termos de novos e melhores activos logísticos. O sucesso registado por parte destes investidores na colocação e venda de activos traduz-se numa renovada vontade de investir no sector. Há novos players que estão em Portugal para ficar, e que procuram aumentar a sua oferta.
Mas nem tudo é fácil, persiste a escassez de produto disponível uma vez que existe um grande volume em pipeline que não deverá estar concluído antes de 2023. Pelo que a escassez de oferta disponível deverá alimentar a tendência de adaptação dos espaços já existentes. O aumento de custos, quer dos combustíveis, mas também da energia e dos materiais de construção tenderão a impactar o segmento de I&L em Portugal. “Diria que a lentidão burocrática, associada a atrasos nos licenciamentos, representa a maior ameaça à expansão do sector logístico em Portugal. Em paralelo, as indefinições dos custos de construção levam a cuidados acrescidos, que podem limitar o crescimento”, alerta Michael Costa Gabriel.