A sublime integração com a Natureza [c/galeria de imagens]
Vencedor do concurso de arquitectura Concreta Under 40, o projecto do atelier Inês Brandão Arquitectura representa um elogio à natureza envolvente do montado alentejano e à sua arquitectura tradicional
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O projecto da autoria do atelier da arquitecta Inês Brandão tem como pano de fundo a paisagem alentejana, inserido numa propriedade com 70 hectares, onde os carvalhos, as azinheiras, os sobreiros e as giestas povoam os diversos montes e criam uma paisagem idílica. Um projecto que privilegia o contacto com a natureza e que buscou na arquitectura tradicional alentejana um segundo foco de inspiração.
“Os clientes não sabiam ao certo o que é que queriam, para além de que queriam uma casa onde se usufruíssem ao máximo desta qualidade de vida de campo. Esse foi o nosso ponto de partida: privilegiar e, simultaneamente, explorar ao máximo a natureza envolvente”, conta Inês Brandão. Uma tarefa facilitada, ou não, pelo facto deste terreno estar isento de construções pré-existentes o que permitiu a escolha do lugar certo para este projecto, no alto de uma colina, com vista privilegiada para a lagoa e colinas circundantes.
A sua forma, em cruz, surge da adaptação da construção ao local e às suas preexistências naturais, contornando as árvores à sua volta, sem cortar nenhuma. A arquitecta recorre à imagem de uma bailarina para justificar a escolha da forma da construção, moldada, em torno das árvores. Desta forma, “permitiu-se que cada um dos seus quatros braços fosse inteiramente rodeado pela paisagem envolvente que penetra no interior de cada espaço, criando a ilusão de uma construção de escala mais reduzida”, descreve.
Os 400 m2 de casa estão, assim, repartidos, comungando com a natureza sem a ela se sobrepor, enquanto a alusão à arquitectura típica alentejana ganha relevo. “A nível formal uma das imagens de referência que tínhamos era a típica casa branca, com grandes chaminés, mas de dimensão mais pequena. Esta forma em cruz permite-nos uma ilusão quanto à real dimensão do projecto”, conta Inês Brandão.
Quase que escondida pela natureza, chega-se à Casa por um caminho que serpenteia o terreno desde a entrada da propriedade, situada a um nível mais baixo, “permitindo a quem aqui chega absorver a envolvente da região, não revelando de imediato toda a paisagem e a casa”, o que reforça a imagem de um refúgio/oásis.
O refúgio
O hall de entrada é o ponto de intersecção dos dois eixos que definem a organização espacial da casa, e a partir do qual se acede aos restantes espaços. “No volume adjacente à entrada, encontramos o espaço de refeições e a sala de estar, que se abre generosamente para a extensa vista sobre o montado de sobro. No final deste braço está o escritório, um espaço mais intimista separado do resto por um alpendre, e com uma relação mais “serena” com a paisagem.
No volume perpendicular ao anterior, a cozinha surge, a um nível inferior, com uma relação mais próxima com a piscina, que dela se avista, conferindo a este espaço um carácter lúdico e convivial. Uma vez que consideramos que a casa e a paisagem se fundem num único elemento, foi fundamental pensar o desenho paisagístico de forma coerente, escolhendo plantas adaptadas ao clima, com pouca manutenção e resistentes à seca, com o objectivo de criar ambientes de cada área (..)”, descreve.
Por fim, no lado oposto da cozinha, desenvolve-se, a um nível superior, o volume dos quartos, acessível através de uma escada, que se prolonga até ao corredor que dá acesso aos quartos e que é pontuado por um conjunto de aberturas que permitem a iluminação natural do espaço, mas que mantêm a privacidade desta área. Cada quarto tem uma relação independente com a paisagem, usufruindo de uma vista mais controlada, dada a topografia que os acolhe. Lavanda e outras pequenas espécies formam a fronteira junto aos alpendres dos quartos, reforçando a tranquilidade inerente a estes espaços.
Ao longo de toda a Casa foram criados alpendres, antecâmeras que funcionam como espaços de transição entre interior e exterior e que delimitam os diferentes espaços. “Esses espaços podem ser ocultados por persianas de aço corten perfuradas, uma reinterpretação do “muxarabi” – elemento da arquitectura vernacular árabe, que controla passivamente a temperatura dentro da casa, pois permite a ventilação constante desses espaços”.
Da varanda ao interior, as vigas de madeira e a materialidade do piso reforçam a continuidade espacial. O betão afagado foi o material escolhido para o pavimento de toda a casa, pela sua simplicidade e robustez. Em toda a casa, o armazenamento foi embutido nas paredes e escondido através de portas com núcleo de palha. Este sistema permite que os espaços interiores dos armários sejam permanentemente ventilados.
Ficha Técnica
Nome do Projecto: Casa no Crato
Ano de conclusão do projecto: 2021
Área bruta construída: 394m2
Localização do projecto: Crato, Alentejo, Portugal
Programa: Habitação Unifamiliar
Arquiteto Líder: Inês Brandão
Equipa de projecto: Ana Filipa Santos, Olivier Bousquet
Escritório de Engenharia: Equação PTV
Paisagismo: Inês Brandão Arquitectura
Empreiteiro Geral: Jorge Félix dos Santos
Director de Obra: Rui Chorinca
Serralharia: Proençafer – Indústria De Serralharia
Carpintaria: Carpintaria Alagoense
Equipa de jardinagem: Tiago Dias e João Mário Dias