Sismos: Engenheiros asseguram segurança em edifícios e infraestruturas
Os alertas não são de agora mas a discussão volta a assumir papel de destaque a reboque da tragedia que abalou, na última semana, a Turquia e a Síria: a edificação em Portugal continua a não responder às necessidades de reforço da resistência sísmica, nem ao nível das obras de reabilitação nem de construção nova. Especialistas falam em “irresponsabilidade criminosa” por parte dos decisores políticos

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À data de fecho desta edição, está ainda distante o momento em que serão concluídos os trabalhos de recuperação de sobreviventes e recolha de corpos de quem não resistiu aos efeitos de uma série de sismos e consequentes réplicas que sacudiram a Turquia e a Síria. Na noite de 6 de Fevereiro, ambos os países foram abalados por um potente sismo com 7,8 graus de magnitude, um dos mais fortes registados na região em mais de um século. O abalo ocorreu pelas 4h17 [1h17 em Lisboa] a 33 quilómetros da capital da província de Gaziantep, no sudeste da Turquia. O sismo inicial foi sucedido por vários abalos, entre os quais um outro de magnitude 7,5. As réplicas que atingiram a região horas mais tarde causaram ainda mais devastação, sendo que o número de mortos ultrapassa largamente os 10 mil.
O que [não] está a ser feito
Esta tragédia, cuja dimensão ainda não é possível apurar com rigor, como tantas outras situações, mais ou menos nefastas, tem o condão de colocar na ordem do dia um conjunto de matérias que parecem arredadas da ordem do dia. A propósito da crise sísmica da Turquia, vários têm sido os especialistas a alertar para o que não está a ser feito no reforço estrutural do edificado existente que possa atenuar, de uma forma mais eficaz, os efeitos da deslocação das placas tectónicas em que assenta o território nacional.
Vai acontecer
Havendo certezas, uma delas é de que Lisboa, o Vale do Tejo e possivelmente a região do Algarve vão voltar a sentir um fenómeno semelhante ao que em 1755 destruiu a capital, provocando entre 40 mil a 80 mil mortes no País, 20 mil dos quais em Lisboa. Segundo o simulador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, um novo sismo poderá matar entre 17 mil e 27 mil pessoas, dada a vulnerabilidade de Lisboa, sobretudo ao nível dos edifícios. A grande dúvida é saber quando isso acontecerá. Até lá, há trabalho a fazer como recorda Eduardo Cansado de Carvalho. Para o engenheiro civil, ligado à fundação da Gapres, não sendo possível reduzir a perigosidade de um sismo, é sim possível reduzir a vulnerabilidade do edificado. Em declarações à CNN, Cansado de Carvalho admite que não é possível comparar a situação sismológica e de sismicidade da Turquia com a de, por exemplo, Lisboa, do mesmo modo que não é, todavia, possível comparar a qualidade de construção de Lisboa com a da generalidade do território turco. Contudo, alertou para a necessidade imperiosa de “melhorar a qualidade dos projectos, melhorar a sua fiscalização e melhorar a responsabilização das pessoas que intervêm na construção”.
“Temos de fazer isso o mais rápido possível. Tem de ser feito em relação aos edifícios novos, aos edifícios que estão por construir e aos edifícios que vão ser reabilitados”, disse. Mais caustico, João Appleton chama a atenção para um conjunto de práticas que colocam em causa não apenas a engenharia como os próprios engenheiros. Para o Investigador Coordenador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil e antigo conselheiro do Conselheiro do Conselho Superior de Obras Públicas, “em obras particulares e mesmo em muitas obras públicas não são feitas verificações do projecto”. “Como aquilo que se aceita é um termo de responsabilidade, uma declaração em que o projectista diz que cumpre os regulamentos, parte-se do princípio que quem diz e escreve uma coisa destas, não mente. Mas eu acho que os portugueses não são diferentes dos outros e mentem. Mentem muito”. Para Appleton, “os engenheiros são, desse ponto de vista, muito razoavelmente mentirosos. Assinam termos de responsabilidade e violam de forma metódica os regulamentos existentes, fazem batota, sem que isso tenha consequências. Alguns explicarão isto porque os níveis de honorários atingiram a indigência. É curioso que a soma dos valores dos honorários de todos os projectos para uma determinada obra, por exemplo de um edifício valem muito menos que a comissão que é paga à empresa de mediação que fica responsável pela venda dos edifícios. Isto é impensável”.
O engenheiro civil lembra os resultados de inquéritos recentes que apontam para a desvalorização do mérito. “Os portugueses, em relação ao mérito, são razoavelmente relutantes. Aliás, olhando para algumas das respostas, percebe-se que engenheiros e arquitectos são vistos como alguém que gosta de complicar as coisas, querem ‘coisas a mais’. ‘Que é isso da segurança sísmica? Haverá mesmo sismos ou isso é uma invenção vossa, dos engenheiros?’”, acrescenta. Nos últimos dias, a propósito da capacidade de resposta em caso de ocorrência de um grande sismo, Mário Lopes, professor do Instituto Superior Técnico e doutorado em Engenharia Sísmica pelo Imperial College, de Londres alertou para o facto de os principais hospitais da região da capital ou mesmo do Sul do País nunca terem recebido obras de reforço sísmico, correndo o sério risco de colapsar.
“Receio que, por várias razões, há um conjunto de edifícios que tenham problemas, mesmo com estruturas de betão, tão graves, por vezes mais graves do que edifícios mais antigos”, relatou Mário Lopes também à CNN, recordando que o projecto do Hospital de Todos os Santos, que devia estar concluído em 2022 mas que tão pouco ainda foi começado, e que seria uma unidade de referência na região de Lisboa (vai substituir quatro velhos edifícios, nomeadamente São José, Santa Marta, Dona Estefânia e Capuchos), não contempla nenhum reforço sísmico. “O Governo não está nada preocupado se o hospital de Todos os Santos vai ou não funcionar depois do sismo para acolher todos os doentes que precisam de ser tratados para não morrer. É uma atitude de uma irresponsabilidade criminosa porque vai morrer gente por causa destas decisões que estão a ser tomadas agora”, assegura Mário Lopes, que adianta que a unidade será construída sem isolamento de base, sistema que garante a sua operacionalidade em caso de sismo.
Hospital da Luz com isolamento base
Os fenómenos sísmicos são eventos naturais que não são susceptíveis de ser controlados nem previstos com rigor. Uma das formas de prevenção é a aplicação de sistemas de protecção sísmica que permite dar às diversas estruturas uma maior capacidade para resistir às acções sísmicas. Um desses sistemas é o isolamento de base, composto por um conjunto de apoios de borracha que são inseridos na base das estruturas. Se em relação a pontes e infraestruturas são vários os casos em que isso está implementado, em relação a grandes edifícios apenas foram projectados e concretizados dois em todo o país: o complexo do Hospital da Luz, em Lisboa e o Laboratório Regional de Veterinária dos Açores, em Angra do Heroísmo. No caso do Hospital da Luz, cujo projecto da engenharia é assinado por Segadães Tavares, a opção pela instalação de um sistema de protecção sísmica deveu-se ao facto de existirem linhas de metropolitano a atravessar o terreno de construção. Como o Hospital iria utilizar aparelhos de alta tecnologia na área de saúde, onde a precisão das medições é muito exigente, estes não poderiam estar sujeitos a quaisquer vibrações estruturais devido à passagem das carruagens do metropolitano no subsolo. Pelo facto de Lisboa ser uma região sismicamente activa e pelo facto de o dono de obra não querer o registo de quaisquer vibrações estruturais no edifício da residência derivadas do exterior, o gabinete projectista avançou com a introdução do sistema de isolamento de blocos elastoméricos de alto amortecimento, os HDRB. Foram instalados 195 apoios no hospital e 120 na residência, prevalecendo um total de 315 aparelhos de apoios.
ISQ integra projecto europeu que estuda resposta a catástrofes naturais
O ISQ vai integrar, juntamente com mais 9 parceiros de cinco países europeus, o projecto OVERWATCH (Integrated holographic management map for safety and crisis events). Coordenado pela empresa italiana ITHACA, este projecto, que conta com um investimento de três milhões de euros nos próximos três anos, irá desenvolver um sistema holográfico integrado para apoio aos operacionais na gestão dos meios de combate a incêndios e inundações, com recurso a inteligência artificial. Para Pedro Matias, presidente do ISQ, “a utilização de algoritmos de aprendizagem automática é da maior relevância no mundo atual. Este novo sistema irá permitir analisar e consolidar dados recebido através da Observação da Terra e por Veículos Aéreos Não-Tripulado, e identificar zonas alvo de catástrofe naturais, por exemplo incêndios florestais e inundações, e até mesmo auxiliar na busca e salvamento. Os algoritmos de inteligência artificial serão, no fundo, utilizados no processamento de dados, permitindo delimitar frentes de incêndio/água, identificar pontos de água, etc., e contribuir para a disponibilização, ao utilizador, de ferramentas de ajuda à decisão. Tudo com o objectivo de fornecer informação relevante e mais detalhada aos decisores no terreno por forma a que a tomada de decisão seja mais rápida, levando a uma gestão mais eficiente dos meios disponíveis. Hugo Silva, investigador do INESC TEC acredita que “o OVERWATCH é um projecto que visa capacitar as equipas de emergência com uma ferramenta avançada de perceção sensorial de elevada resiliência em cenários de catástrofe”.