Imobiliário com crescimento e atracção de investimento ainda que o futuro seja (mais) incerto
Impulsionado pela procura em todos os segmentos, o sector Imobiliário português perspectiva mais um ano positivo. Afastada que está a “bolha no imobiliário”, é caso para falarmos do “balão imobiliário, que coloca Portugal, e as suas principais cidades, na rota dos investidores internacionais. Contudo, nem a perspectiva é igual para todo o mercado imobiliário, nem a conjuntura económica e política, marcada por uma profunda incerteza, é para grandes euforias e este é um ponto comum na análise das diferentes consultoras

Manuela Sousa Guerreiro
Gaia avança com a requalificação da Praceta 25 de Abril por 1,5M€
CBRE assessora a venda de 180ha de olival
APAL traz a Portugal nomes internacionais da indústria do alumínio
Socicorreia com novo investimento de 32M€ nos Açores
Retail Mind reforça presença no sector do lazer com expansão da Bowling City
Santander recebe 400M€ do BEI para financiar PME e MidCaps e sector agrícola
ADENE assina acordo com maior organização energética da América Latina
Sharp Developers apresenta novo projecto residencial em Vila Nova de Gaia
Fusões e Aquisições movimentam 1,4MM€ até Abril de 2025
PERFISA marca presença na Construmat 2025 com soluções sustentáveis de construção a seco
Nas suas perspectivas para 2023, a CBRE atribui um número ao volume de investimento previsto para 2023: 3 mil milhões de euros. 300 milhões abaixo do valor apurado em 2022. Para o sector, 2022 ficou marcado por uma performance robusta que, apesar da influência da conjuntura, esteve entre os três melhores anos de sempre. Foram transaccionados diversos portfólios, de onde se destaca o CREW, que alavancou de forma significativa o volume de investimento no último trimestre, mas mesmo excluindo esse portfólio o sector ficaria 10% acima de 2021. De realçar que em 2022 o sector imobiliário ao nível europeu registou um decréscimo de 18%.
De entre os vários sectores que se de destacaram em 2022, a Logística surge na linha da frente. A CBRE estima que o investimento neste segmento foi de 700 M€ (para a avaliação da Savills, o valor rondou os 600 M€ ), mas independentemente do grau de precisão o volume transaccionado ambas as consultoras são unanimes ao falar de “revolução” num segmento que até agora tinha estado à margem dos grandes números. Dos cerca de 15 negócios fechados ao longo do ano, cinco eram portfólios. O impacto da pandemia levou os grandes operadores a repensarem as suas estruturas e a conceber armazéns maiores e mais eficientes. A guerra da Ucrânia e a disrupção que esta provocou nas cadeias de produção relembraram a importância dos stocks. Em 2023, é expectável que a dinâmica se mantenha, contrariada “apenas” pela falta de oferta. Apesar da construção de novos e modernos armazéns, a verdade é que o que aparece no mercado é rapidamente tomado e as taxas de disponibilidade para este segmento são as mais reduzidas que alguma vez existiram. Devido à falta de espaço ou de terrenos de grande dimensão necessário a este tipo de activos o investimento está a extravasar para fora das localizações mais tradicionais e Santarém, Grândola, Santo Tirso ou Algarve já não são estranhas para estes operadores.
Outro sector “estrela” de 2022 foi a Hotelaria, muito graças à venda do Crow Portolio, com uma quota de mercado de 37%. Não obstante, o segmento reflecte a performance do sector do Turismo, o qual regista um forte crescimento. Reflexo dessa confiança é a previsão de abertura, em 2023, de 14 novos hotéis em Lisboa e 16 no Porto. Mas não só, “os fundos Golden Visa vieram trazer uma nova dinâmica aos activos turísticos em cidades secundárias, uma tendência que achamos que vai continuar. Mas o investimento não virá só por aqui, serão transaccionados vários hotéis e temos a certeza que alguns dos investidores que compraram portfólios nos últimos anos vão aproveitar a boa performance operacional para fazer uma rotação estratégica dos seus activos”, reflectiu Nuno Nunes, Head of Capital Markets da CBRE na apresentação das tendências do mercado imobiliário.
Escritórios e Habitação seguem em alta
“O sector dos escritórios atingiu um total de 710 M€, um ligeiro decréscimo de 9% em relação a 2021. O ponto alto foi a venda da sede do Novo Banco na Zona Prime CBD à Merlin Properties, por 112M€. Outros activos emblemáticos de escritórios como a antiga sede do Banco Popular e o edifício Liberdade 242, sede da Fidelidade, também foram transaccionados”, resume a Savills.
O ano passado foram colocados 272 mil m2 no mercado, o que representa um valor “histórico” em termos de ocupação no segmento de escritórios, alavancado pelos processos de restruturação. Para 2023, é expectável que os níveis se mantenham acima dos 200 mil m2. Aliás, um dos entraves ao maior crescimento deste segmento está relacionado com o nível de oferta que continua a ser muito inferior à procura, o que se traduz num decréscimo das taxas de disponibilidade e no consequente aumento das rendas, que se prevê venha a situar-se nos 5 a 10%, podendo o metro quadrado atingir os 30€ em Lisboa (em 2022 ficou nos 27€, +8% que em 2021) e os 20€ no Porto. Ao contrário de Lisboa, no Porto tem-se verificado um maior alinhamento entre a oferta nova e a procura, com tendência para a estabilização das rendas.
2023 não será um ano de descida das rendas da habitação. A conjuntura económica poderá levar a uma estabilização do número de casas vendidas – em 2022 foram transaccionadas 170 mil casa – porém o desfasamento entre a oferta e a procura e o aumento dos custos de construção continuarão a sustentar a subida dos preços de venda. Uma das maiores incógnitas em relação ao mercado de habitação em 2023 prende-se com as casas detidas pela classe média, mais exposta à subida dos juros e da inflação.
Aposta nos segmentos alternativos e na questão ESG
2023 será um ano de “maior cautela e pensamento estratégico, influenciado pela evolução da inflação das taxas de juro”, sublinha a Savills. Sendo por isso expectável uma maior diversificação das carteiras, para equilibrar o grau de exposição dos investidores no mercado. Ora, isto pode beneficiar os segmentos ditos “alternativos” como os senior living, health care e sudent housing, os quais registaram, sem surpresas para ambas as consultoras, uma boa performance em 2022. “Em Portugal, existe actualmente uma carência de 55 mil camas em residências para seniores pelo que os maiores operadores de saúde privada têm projectos de expansão ambiciosos nesta área, procurando aumentar a sua cobertura geográfica. Também no campo das residências de estudantes está identificado um gap de cerca de 73 mil camas em Lisboa e 32 mil no Porto, o que representa uma enorme oportunidade de investimento neste sector”, sublinha a CBRE.
A área de agribusiness é um dos segmentos de mercado que está a viver uma revolução com a implementação de novos modelos de cultura. A CBRE acredita que este sector pode representar mais de 10% do investimento em imobiliário de rendimento este ano.
De uma forma transversal, uma das principais tendências para 2023 será uma maior preocupação com as questões ESG e com a descarbonização. “Temos um parque imobiliário que necessita urgentemente de renovação a fim de se alinhar com os objectivos ambientais estabelecidos para 2030. Todo o ecossistema imobiliário está agora reunido para um apelo à acção ambiental, social e de governação. Os activos destacar-se-ão cada vez mais pela qualidade que oferecem para responderem às preocupações das empresas nesta matéria”, sublinha a Savills.