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    Arquitectura

    Aires Mateus assina futura estação do Metro em Alcântara

    Das quatro novas estações de metro, previstas no plano de expansão da Linha Vermelha, em Lisboa, apenas a de Alcântara será em viaduto e à superfície. A sua construção prevê tornar-se um interface para futuras ligações ao LIOS e à futura estação de comboio do Alvito. Com um investimento total superior a 405 M€, cerca de 304 M€ corresponde a fundos europeus

    Cidália Lopes
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    Aires Mateus assina futura estação do Metro em Alcântara

    Das quatro novas estações de metro, previstas no plano de expansão da Linha Vermelha, em Lisboa, apenas a de Alcântara será em viaduto e à superfície. A sua construção prevê tornar-se um interface para futuras ligações ao LIOS e à futura estação de comboio do Alvito. Com um investimento total superior a 405 M€, cerca de 304 M€ corresponde a fundos europeus

    Cidália Lopes
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    Além de integrar o Plano de Expansão da Linha Vermelha do Metropolitano de Lisboa, numa óptica de reorganização da mobilidade urbana e incrementar as alternativas ao automóvel, a localização escolhida para receber a estrutura à superfície da nova estação vai, também, alterar por completo a forma de aceder àquele local, assim como estabelecer uma nova ligação entre o bairro de Alcântara e o bairro do Alvito que, desde a construção da Ponte 25 de Abril, em 1966, se viram separados geograficamente.

    Neste sentido, passa a existir apenas duas faixas de rodagem, uma no sentido descendente e outra no sentido ascendente apenas para transportes público, sendo que será criado um novo acesso ao bairro do Alvito, no mesmo sentido. O actual acesso pedonal que liga os dois bairros vai ser retirado e essa ligação será feita através de uma plataforma pedonal que passará por baixo da estrutura criada para receber a nova estação e que ficará à cota de superfície.

    O corpo principal da estação – com implantação retangular de 120mx21,19m – apresenta-se alinhado no sentido nascente / poente e que irá permitir a ligação com toda a sua envolvente através da abertura de acessos exteriores.
    O projecto é assinado pelo atelier Aires Mateus e sua construção terá uma duração prevista de 25 meses, cuja obras deverão dar início no final deste ano ou até ao primeiro trimestre de 2024. O investimento total é superior a 405 milhões de euros, dos quais cerca de 304 milhões de euros correspondem a fundos europeus

    Viaduto recupera memória das estações antigas
    O projecto pretende relacionar-se com a envolvente nas suas várias frentes, evocando a espacialidade iconográfica inerente às estações ferroviárias históricas do século XIX e início do século XX. A sua grande escala advém das limitações impostas pelas condicionantes urbanas e viárias, assim como das necessidades funcionais internas da estação. A estação encontra-se parcialmente enterrada, com os três pisos interiores ocultos pelo terreno e por uma grande concha de proteção.

    “Será inevitavelmente um marco urbano excepcional na sua função, mas também na sua forma. No seu interior propõe-se um espaço amplo que recebe o tráfego das carruagens de metro, oferecendo a condição única de uma espacialidade generosa e de grandes dimensões”. A estrutura metálica que compõe os pisos interiores permite uma eventual adaptação e evolução programática futura.

    Para o troço de linha compreendido entre a Estação e o Baluarte do Livramento é proposto um viaduto em treliça com secção de 9,70m x 6,30m e apoiado em quatro conjuntos de pilares. O viaduto proposto cumpre todas as definições técnicas de cotas e de traçados recebidas de projectos mais abrangentes na cidade.

    “Uma vez que passará a fazer parte da paisagem urbana, pretende-se que o viaduto seja o mais transparente possível de forma a não introduzir mais informação e ruído ao contexto urbano. Consequentemente, é desenhado tendo como referência a ligeireza, adaptabilidade e rapidez de construção presente em viadutos históricos”, indica o atelier.

    Ligação à futura LIOS e apeadeiro do Alvito
    A implantação dos seus pilares foi cuidadosamente analisada de maneira a respeitar as diferentes condicionantes impostas: a situação existente, o traçado viário proposto, a possível rotunda de Alcântara, o subsolo – caneiro e via-férrea, e ainda a possibilidade de prolongamento do LIOS.
    O interface desenvolve-se em três níveis: nível do cais ML à cota +15.85m, nível do átrio à cota +10.35m e nível do cais LIOS à cota +5.30m e é composta por um sistema de acessos verticais de ligação cais/átrio. A solução proposta permite que os dois níveis dos cais funcionem de forma independente, garantindo a possibilidade de fechar parcialmente a estação sem comprometer o seu funcionamento.

    No piso 1 – Metro Lisboa – localizam-se os cais laterais de acesso ao veículo, com um comprimento de 116.40m. Os acessos ao cais situam-se nos topos e centro, existindo três escadas mecânicas, uma escada fixa e um elevador em cada cais. Sob o nível das plataformas dos cais ML haverá ainda um sub-cais destinado ao encaminhamento das infraestruturas.

    O piso 0 – Átrio – permite ligar todos os acessos da estação, facilitando o atravessamento entre a encosta do Alvito, as zonas de Alcântara Sul e Alcântara Nascente. É também neste piso que é feita a distribuição dos acessos verticais ao cais do metro e cais do LIOS, através de escadas mecânicas, escadas fixas e dois conjuntos de elevadores. Neste nível estão localizadas as bilheteiras e máquinas de validação de bilhetes e constitui passagem obrigatória para todos os passageiros que pretendam aceder à plataforma do metro.

    Por último, o piso -1 – LIOS – desenvolve-se em cais laterais com comprimento de 45m. Os acessos exteriores situam-se nos extremos e no centro e os acessos verticais para o átrio encontram-se ao centro e são compostos por uma escada mecânica, uma escada fixa e um elevador em cada cais. Uma vez que o LIOS apenas ocupa 45m dos 117m de comprimento do cais da Estação, o topo Poente é ocupado por dois volumes independentes que contêm as áreas técnicas necessárias para o funcionamento do Lios. Todas as áreas técnicas necessárias ao funcionamento do Metro encontram-se enterradas ao nível do cais do metro e do átrio no topo poente da estação. A Norte estão também enterradas as instalações de pessoal ML e pessoal externo, a sala de limpeza e sala de lixo com acesso direto a partir da zona não controlada do átrio.

    Além da ligação ao LIOS, o novo interface vai também ligar ao Apeadeiro do Alvito, como primeira paragem da Fertagus na margem Norte. Esta estrutura foi pensada logo aquando da construção do comboio da Ponte mas nunca chegou a ser utilizada. A mesma será alvo de uma requalificação e construção das devidas infraestruturas para possa servir de ponto de ligação com a nova estação de Alcântara.

    Demolição e valorização do espaço público
    Durante a fase de construção do viaduto e túnel a guarita do Baluarte do Livramento será desmontada e posteriormente será recolocada. Esta medida deve-se à necessidade de garantir a integridade da guarita durante os trabalhos no interior e exterior do Baluarte. A memória dos edifícios que se propõem demolir na Rua da Costa e na Travessa do Livramento é mantida através da reconstrução das suas fachadas simplificadas e com diminuição das suas alturas e da representação no pavimento das paredes existentes.

    Desta forma, “aproveita-se a oportunidade para criar novos espaços públicos encerráveis, através de gradeamento, e de carácter comunitário, cujo programa será definido pela CML nas próximas fases de projecto. Propõe-se ainda a criação de novas ligações pedonais, em colaboração com a CML, entre a cota alta e a cota baixa melhorando a fluidez, o arejamento e a acessibilidade desta área urbana”.

    Consequentemente é desenhado um circuito urbano que interliga a cota superior da Calçada da Tapada, à cota do muro avançado do Baluarte, à cota intermédia da Tv. do Livramento e às cotas mais baixas da e Rua da Costa e Rua Maria Pia. Este projecto constitui uma oportunidade de transformação e requalificação das áreas abrangidas pela estação e viaduto, através do desenho de novos percursos viários e pedonais, da requalificação do Baluarte do Livramento e ainda da criação de zonas verdes e tratadas paisagisticamente.

    Sobre o autorCidália Lopes

    Cidália Lopes

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    “Acreditamos que a madeira faz parte das soluções construtivas do futuro”

    Contabilizam 22 projectos, entre urbanos e turísticos, uns já concluídos, outros em desenvolvimento. Entre finais de 2023 e início de 2024 esperam arrancar com quatro novos projectos em Lisboa e uma obra de infraestrutura, em fase final de licenças. Mas o próximo ano reserva, também, mais desenvolvimentos nos projectos da Comporta. Depois da conclusão das infraestruturas, o projecto avança para novas fases em termos de serviços e habitação e a entrada de branded-residences. Ao CONSTRUIR, José Cardoso Botelho, CEO da Vanguard Properties, fez a actualização da actividade do Grupo e indica algumas novidades

    Cidália Lopes

    Entre Lisboa, Oeiras, Algarve e Comporta, os projectos da Vanguard Properties somam uma área bruta de construção (ABC) de cerca de 1.024 mil m2 acima do solo, num investimento total superior a 1,2 mil milhões de euros. Chegados a este patamar, o Grupo junta a estes números um conjunto significativo de participações em diversas empresas nacionais, estratégia na qual já contabilizam um investimento de cerca de 75 milhões de euros e que visa criar “um verdadeiro cluster no sector da construção” não só para a Comporta, como para outros clientes e mercados. Não obstante o sentimento de incerteza que se gerou com as recentes medidas do Governo, estão a “avaliar o Porto” e “interessa-lhes” a Madeira. Entretanto, em fase de estudo está um “grande” projecto urbano de acordo com novos métodos construtivos.

     

    Terras da Comporta

    Chegados aos 22 projectos, que estratégia antecipam para 2024? 

    Perspectivamos manter a nossa actual estratégia, de promover produtos únicos e serviços de excepção. Em Lisboa, esperamos, iniciar quatro projectos de construção entre finais de 2023 e 2024 que estão, neste momento, na fase final do processo de emissão de licença de construção e uma obra de infraestrutura para posterior construção, da qual também aguardamos licença. Infelizmente, aguardamos há demasiado tempo.

    Vamos agora entrar num processo de reflexão sobre se continuaremos a investir em Portugal. Várias recentes decisões, parecem demonstrar que Portugal está a caminhar para o lado errado, e por isso, surgem dúvidas se queremos estar cá”

    Estarão novos investimentos a surgir brevemente? E em que localizações? 

    Além dos que já referi e que estão em desenvolvimento não detectamos, por ora, novas oportunidades em Lisboa, mas continuamos à procura. Entretanto iremos avançar com um projecto em Oeiras. Trata-se de um terreno de 30 hectares onde vamos ter um projecto com uma arquitectura e construção sustentável.

    Qual o montante de investimento previsto para o próximo ano? 

    Para 2024 contabilizamos um investimento na ordem dos 150 milhões de euros, só em obra. Este montante inclui não só os projectos que esperamos dar início em 2024, mas também em Lisboa, mas também em Oeiras e na Comporta, onde continuamos a desenvolver os nossos três projectos: Muda Reserve, Dunas e Torre.

    A região Norte não vos suscita interesse ou esta é uma localização a ponderar? E as ilhas, nomeadamente a Ilha da Madeira, actualmente muito procurada por estrangeiros também? 

    Estamos a avaliar o Porto e interessa-nos a Madeira. No entanto, vamos agora entrar num processo de reflexão sobre se continuaremos a investir em Portugal. Várias recentes decisões, parecem demonstrar que Portugal está a caminhar para o lado errado, e por isso, surgem dúvidas se queremos estar cá.

    Entre o conjunto de investimentos têm o Riverbank Tejo, aquele cujo segmento mais se aproxima da classe média. Como tem estado a correr esta experiência, tendo em conta o elevado tempo de espera para o seu licenciamento? Pretendem continuar a investir neste segmento? 

    O processo tem sido muito moroso, cerca de quatro anos para licenciar uma infraestrutura. Com as alterações de mercado, nomeadamente, os custos de construção e o aumento das taxas de juro, a que se soma o custo financeiro inerente ao tempo de licenciamento, neste momento, é impossível ali realizar um projecto para a classe média visto que o custo total expectável ultrapassa o valor da venda.

    No entanto, ainda não desistimos de realizar um projecto para a classe média-alta, se conseguirmos encontrar soluções técnicas e de qualidade, equilibradas.

    White Shell

    Embora o residencial seja o vosso core business, que investimentos noutras áreas poderão ter interesse? 

    Eventualmente o turismo e hotelaria. Já temos um primeiro projecto a funcionar no Algarve, o White Shell e na Comporta temos vários loteamentos para desenvolver hotéis e branded-residences. Este é um segmento com grande expansão a nível internacional e ainda pouco conhecidos em Portugal, pelo que consideramos que têm elevado potencial no nosso mercado.

    O futuro da madeira

    Na Comporta, temos vários loteamentos para desenvolver hotéis e branded-residences. Este é um segmento com grande expansão a nível internacional e ainda pouco conhecidos em Portugal, pelo que consideramos que têm elevado potencial no nosso mercado”

    Sobre os projectos Terras da Comporta em que fase se encontram tanto o Torre, como o Dunas? E o que nos pode dizer em relação à comercialização?

    No Dunas terminámos as obras de infraestruturas, inauguramos o Dunas Golf Course no passado dia 5 de Outubro, e vamos agora avançar com as zonas comerciais, administração e vendas, espaço para crianças e os primeiros lotes residenciais. Estamos a negociar a entrada das marcas hoteleiras e de branded-residences.

    No Torre, estamos a cerca de três meses da conclusão das infraestruturas e estamos na fase final da modelação do golfe, previsto abrir no primeiro trimestre de 2025. Esperamos começar as vendas residenciais em 2024.

    Também sobre o Muda Reserve, cujas primeiras casas já começaram a ser construídas, como está neste momento a sua comercialização? 

    Vamos, finalmente, concluir a infraestrutura rodoviária de acesso à aldeia. Estamos a construir as primeiras casas em madeira e a resposta do mercado tem sido muito positiva. Vamos também acelerar a construção da zona comercial, já contratámos as obras de arte do Vhils e estamos a ultimar o projecto da Capela. Muito em breve, lançaremos mais 20 a 30 unidades em venda.

    Muda Reserve – Casa da Chaminé

    Partindo da vossa experiência na Comporta no que diz respeito à mudança de paradigma da construção, para quando essa aposta em projetos mais urbanos e de maior dimensão? Este é algo que está nos vossos planos? 

    Sim. Neste âmbito, vamos apresentar, em 2025, um projecto urbano, de grande dimensão, essencialmente residencial, com alguns serviços e componente turística.

    Industrialização do sector

    Só com a industrialização do sector seremos capazes de vencer os desafios da falta de mão-de-obra, trazer mais mulheres para o sector, aumento da velocidade de execução e desenvolver projectos mais sustentáveis”

    Uma das estratégias do Grupo em relação ao investimento que estão a fazer na região da Comporta prende-se com a aquisição de diversas indústrias. Uma solução encontrada para dar uma resposta mais célere à necessária empreitada que envolve os projectos. No fundo, não são apenas promotores, mas também têm um papel importante na indústria da construção. Esta é uma estratégia para manter a longo prazo? Ou apenas durante o tempo de construção das obras? 

    Só com a industrialização do sector seremos capazes de vencer os desafios da falta de mão-de-obra, trazer mais mulheres para o sector, aumento da velocidade de execução e desenvolver projectos mais sustentáveis.

    Para nós estes investimentos visam criar um verdadeiro cluster no sector da construção, numa primeira fase, produzindo em parte para a Comporta – o nosso futuro showroom – mas visando sempre, outros clientes e mercados, nomeadamente, a exportação. Acreditamos que a madeira faz parte das soluções construtivas do futuro.

    Neste sentido, que outras empresas poderão, entretanto, integrar esta vossa estratégia de acção? E em que áreas? 

    Algumas indústrias na área da industrialização de processos, relacionados com AVAC, Ventilação, Electromecânica, Água e Esgotos, bem como determinados materiais de acabamentos.

    Qual o montante já investido nesta estratégia?

    Estamos a aproximar-nos dos 75 milhões de euros já investidos

    Sobre o autorCidália Lopes

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    Alta Velocidade ‘estreia’ PPP em Janeiro

    O primeiro concurso do projecto alta velocidade, em regime de parceria público privada (PPP), será lançado em Janeiro do próximo ano. O lote 1, correspondente ao troço Porto-Aveiro, inclui, para além dos 72 km de extensão da nova via, a construção da nova ponte sobre o rio Douro, a ampliação da estação da Campanhã para nascente e a construção de uma nova estação em Gaia, num investimento estimado de 1.9 M€

    Carlos Fernandes, vice presidente da IP

    Em Janeiro de 2024 será lançada a primeira parceria público-privada (PPP) no âmbito do projecto da Nova Linha de Alta Velocidade que ligará o Porto a Lisboa. A data foi avançada por Carlos Fernandes, vice-presidente do Conselho de Administração da IP, durante uma apresentação do projecto no workshop promovido pela Plataforma Ferroviária Portuguesa (PFP) no final de Setembro. “Temos estado nos últimos 3 anos a actualizar projectos. A primeira fase [que ligará o Porto a Soure] será dividido em dois lotes: Porto-Aveiro e Aveiro-Soure. Para o primeiro Lote temos concluídos os estudos prévios e de impacto ambiental, tendo sido já emitida a Declaração de Impacto Ambiental (DIA) e o processo pode avançar. No que diz respeito ao segundo Lote os estudos prévios estão concluídos, bem como foram submetidos os estudos de impacto ambiental à Agência Portuguesa do Ambiente, esperamos obter a Dia nas próximas semanas, ou seja, até ao início do 4º trimestre”, referiu Carlos Fernandes.

    No que diz respeito ao investimento, o primeiro lote entre Porto e Aveiro tem um investimento estimado em 1900 milhões de euros, sendo o investimento comunitário nesta primeira fase de 730 milhões de euros, mas este ainda não é um valor fechado. “Esperamos incrementar o valor dos fundos comunitários associados a este investimento”, garantiu o vice-presidente da IP. Já o segundo lote, ainda numa fase preliminar de apuramento final do valor, o investimento deverá rondar 1600 milhões de euros.  Em qualquer dos casos, os valores de investimento sobem face ao que foi apresentado há um ano quando o projecto da nova Linha ferroviária de Alta Velocidade Porto – Lisboa, foi dado a conhecer em maior detalhe. Na altura o Governo estimava um investimento de 1650 milhões de euros para o Lote 1 e de 1300 milhões de euros para o Lote entre Aveiro e Soure, com uma comparticipação dos fundos públicos de 500 milhões de euros para cada um dos lotes.

    O regresso das Parcerias Público-Privadas  

    Perante uma plateia constituída quase exclusivamente por empresários do sector Carlos Fernandes justificou o modelo de parceria público-privada (PPP) a seguir nos dois concursos. “O Projecto de Alta Velocidade é um desafio gigantesco e realizar este projecto da forma tradicional significava parti-lo em múltiplas empreitadas, lançar dezenas de concursos… era ingerível e o que fizemos foi extrair a alta velocidade do pacote tradicional de projecto de empreitada, realizar os estudos prévios e lançar dois grandes lotes ao mercado. Qual é a experiência que Portugal tem nisto? As auto-estradas”, relembrou Carlos Fernandes. Desde 1995 Portugal encetou uma autêntica “revolução” no transporte rodoviário tendo, em poucos anos sido investidos mais de 23.4 MM€ na construção de uma rede de 2,378 quilómetros.

    A revolução esperada na Ferrovia, corre mais lenta e por isso a ênfase na “concretização” e a opção por modelo cujas vantagens, e vicissitudes, melhor se conhecem. Como é que as várias fases do projecto se integram neste modelo de concessão PPP: “Fechámos o estudo prévio, obtivemos a DIA e vamos a concurso. Os privados serão responsáveis pela parte final do projecto de execução, pela sua construção e manutenção. O prazo da concessão deverá ser da ordem dos 30 a 35 anos”, referiu Carlos Fernandes.

    Mas nem todos os investimentos previstos no âmbito do projecto de Alta Velocidade entrarão nas PPP, os chamados projectos complementares, onde se incluem a quadruplicação da Linha do Norte entre Alverca e o Carregado, a ampliação da Gare do Oriente, cujo projecto está a ser elaborado pelo arquitecto Santiago Calatrava, bem como a sinalização, telecomunicações, etc., serão submetidos a concurso público internacional pela “via tradicional”, muitos deles no regime de concepção/construção.

    A primeira PPP deverá, assim, ser lançada em Janeiro do próximo ano, uma vez obtida a DIA falta, segundo explicou o vice-presidente da IP, fechar “a documentação do concurso”. Para além da construção dos 72 quilómetros de nova linha entre a estação da Campanhã Porto e Aveiro, fazem parte do concurso a construção da nova travessia sobre o rio Douro, a ampliação da estação da Campanhã para nascente e a criação de uma nova estação, em túnel, em Vila Nova de Gaia, que fará a ligação com as linhas Amarela e Ruby no Metro do Porto. “Estes 72 quilómetros de extensão terão um comprimento de túneis estimado na ordem dos 11 quilómetros, em termos de pontes uma extensão de cerca de 9,5 quilómetros e 2,8 quilómetros, serão em viaduto”, resumiu Carlos Fernandes.

    Já a segunda PPP, entre Aveiro e Soure, deverá ser lançada até ao final do primeiro semestre de 2024.

    Em estudo está já a fase 2, que ligará Soure ao Carregado. “Estamos a realizar os estudos prévios, o estudo ambiental que contamos submeter à aprovação da Agência Portuguesa do Ambiente no final deste ano”, adiantou Carlos Fernandes.

    A revolução esperada na Ferrovia, corre mais lenta e por isso a ênfase na “concretização” e a opção por modelo cujas vantagens, e vicissitudes, melhor se conhecem. Como é que as várias fases do projecto se integram neste modelo de concessão PPP: “Fechámos o estudo prévio, obtivemos a DIA e vamos a concurso. Os privados serão responsáveis pela parte final do projecto de execução, pela sua construção e manutenção. O prazo da concessão deverá ser da ordem dos 30 a 35 anos”

    Aprender com os erros do Ferrovia 2020

    Com intervenções a decorrer nas principais linhas da rede ferroviária nacional, por conta dos atrasos que a Ferrovia 2020 já leva, é preciso aprender com os erros do passado recente. “Quanto tempo demora um empreendimento ferroviário? Desde o momento da decisão até à sua abertura são sete anos, se tudo correr bem. Três anos e meio para o projecto e outro tanto para obra. Se tudo tivesse corrido normalmente acabávamos [o Ferrovia 2020] em 2023”, precisou Carlos Fernandes. “Infelizmente tivemos muitos problemas”, constatou o responsável. A pandemia e a guerra na Ucrânia contribuíram para o atraso, agravando a incapacidade das empresas e do mercado em resolver problemas. Hoje “assistimos a um esforço enorme de construção, para o qual o país não tem capacidade instalada para responder”. “Temos muitas obras a decorrer, a um rendimento que está muito abaixo do que é o ideal, o que agrava a capacidade dos empreiteiros de dar resposta” à demanda actual.

    Na base do problema está o ‘pecado original’, o qual na opinião do vice-presidente reside no facto de na resposta aos concursos, as empresas terem “mergulhado” abaixo do preço base do concurso empreitada, o que, agravado com o aumento generalizado de preços dos materiais de construção, concorreu para a paragem de algumas das mais importantes obras em curso. Caso em que a Linha da Beira Alta é pródiga, mas não é filha única. “O corredor sul é outro exemplo ‘magnífico’, em que os empreiteiros vieram 30% a baixo do preço base e agora queixam-se que estão a perder 30%”.

    Data room com informação e expropriações do lado dos privados

    Fazendo a comparação com o novo programa de investimentos financiado pelo novo quadro comunitário, PNI 2030, Carlos Fernandes adiantou que os projectos “estão a correr bem”, para o que contribuíram novos procedimentos. Desde logo, “antecipámos o lançamento dos projectos. O quadro comunitário anterior iniciou em 2014 e só em 2016 arrancámos com os projectos. Acabámos com a pré-qualificação das empresas, antes, passámos a exigir nos posições chave de cada consórcio projectista experiência demonstrada de ‘X’ anos, comprovada com declarações do dono de obra. A sua ausência é motivo de exclusão”, explicou Carlos Fernandes. O mesmo acontece para os consórcios que se afastem mais do que 15% do valor de médio de preços apresentados. Uma alteração que “trouxe propostas a preços razoáveis”, e que contribui para o bom andamento dos projectos.

    Procedimentos que poderão ser observados nos concursos a lançar em breve no âmbito da Linha de Alta Velocidade, sobre os quais Carlos Fernandes adiantou ainda que será criado um “data room” que irá disponibilizar toda a informação técnica, (traçado, o corredor já aprovado, cartografia, sondagens… etc), provavelmente em Outubro, para que os consórcios possam ir preparando as suas propostas. “A ideia é lançar o [primeiro] concurso em Janeiro e estamos a pensar em 5 ou 6 meses para a apresentação de propostas, isso ainda não está fechado”, mas o acesso a informação permitirá às eventuais empresas interessadas adiantarem o seu trabalho.

    O vice-presidente da IP adiantou ainda que as expropriações previstas no âmbito da concretização da Alta Velocidades serão da responsabilidade dos privados. Algo que “talvez assuste um bocadinho os operadores estrangeiros”, mas que a experiência ganha com a construção das auto-estradas em Portugal, cujo modelo é muito semelhante, trouxe capacidade de gestão às empresas nacionais.  “O valor das expropriações na primeira PPP há-de situar-se entre 80 a 100 milhões de euros, estamos a falar de 4 a 5% do valor da empreitada. Os privados têm uma capacidade de gestão que nós não temos”, assegurou Carlos Fernandes.

    O vice-presidente da Infraestruturas de Portugal, Carlos Fernandes, abriu o encontro com o tema “Investimentos na Ferrovia em Portugal: Desafio do Planeamento Sustentável” do Workshop da Plataforma Ferroviária Portuguesa (PFP) que decorrer no final de Setembro.

    O projecto da Nova Linha da Alta Velocidade Porto-Lisboa tem como objectivos fulcrais o aumento da capacidade e competitividade do sistema ferroviário, o reforço da conectividade territorial alargada a todo o país e a descarbonização do sector dos transportes.

    A criação de nova ligação ferroviária constituirá um impulso muito significativo para o reforço da capacidade e da qualidade da Rede Ferroviária Nacional, promovendo a coesão territorial, ligando as Áreas Metropolitanas do Porto e de Lisboa, promovendo também a sustentabilidade ambiental do sistema integrado dos transportes.

    Será criado um “data room” que irá disponibilizar toda a informação técnica, (traçado, o corredor já aprovado, cartografia, sondagens… etc), provavelmente em Outubro, para que os consórcios possam ir preparando as suas propostas. A ideia é lançar o [primeiro] concurso em Janeiro e estamos a pensar em 5 ou 6 meses para a apresentação de propostas, isso ainda não está fechado”

    1º semestre com “aumento expressivo” de investimento

    No primeiro semestre de 2023, o Grupo IP registou um “aumento expressivo” do volume de investimento realizado nas infraestruturas rodoferroviárias, o qual ascendeu a 227 M€, o que representa um aumento de cerca de 35% face ao período homólogo de 2022. O relatório de contas consolidadas do grupo, referente aos primeiros seis meses do ano, destaca “a execução global dos investimentos incluídos no Programa Ferrovia 2020, que ascenderam a 166,3 milhões de euros no 1º semestre de 2023, mais 26% do que no período homólogo de 2022”. Destacando-se neste capítulo os dois corredores com maior realização no 1º semestre de 2023: o Corredor Internacional Norte, com uma execução de 61 M€ e o Corredor Internacional Sul com uma execução de 57 M€.

    A sul destaque para a nova linha de caminho de ferro entre Évora e Elvas, com um investimento de 47,3 M€ nos primeiros 6 meses do ano. A norte destaque para as intervenções de requalificação e modernização da Linha da Beira alta, com um investimento superior a 60M€.

    Para financiar estes investimentos, a IP recebeu cerca de 101 M€ de fundos comunitários, cerca de mais 30 M€ que em 2022, o que evidencia uma tendência de crescimento na execução de fundos comunitários, em linha com o crescimento na execução do investimento.

    No respeitante aos investimentos rodoviários, destaca-se o investimento associado ao Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que, no primeiro semestre de 2023, ascendeu a 20 M€, tendo sido integralmente financiado pelos fundos associados a este Mecanismo.

    Em termos de resultados, o Grupo IP registou no período em análise um EBITDA de 230 M€ e um resultado líquido de 4 M€. Quando comparado com o período homólogo, verifica-se uma redução no resultado líquido de cerca de 29 M€ que se justifica pela evolução do resultado operacional e do imposto sobre o rendimento do período, que registaram um decréscimo de 24 M€ e 10 M€, respectivamente, conjugada com o desagravamento de 6 M€ verificado no resultado financeiro.

    Destaca-se ainda o aumento dos gastos com a conservação da rede rodoferroviária, que ascenderam a 94 M€, 4% acima do nível registado no primeiro semestre de 2022, mantendo o esforço de incremento das actividades de manutenção, conservação e segurança. No primeiro semestre de 2023 assistiu-se à redução do stock de dívida financeira em 27 M€, fixando-se este agregado no final de Junho de 2023 em 3.988 M€.

    O resultado financeiro manteve a trajectória de desagravamento, fixando-se em -92 M€, reflectindo o nível elevado de imunização da carteira de dívida a conjunturas de subida das taxas de juro do euro como a que se tem verificado desde o primeiro semestre de 2022.

    Por fim, destaca-se a manutenção da política de financiamento prosseguida pelo accionista de reforço dos capitais próprios da IP através de operações de aumento de capital que, no primeiro semestre de 2023, ascenderam a 936 M€, e que se mantém alinhada com o ciclo de forte investimento.

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

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    “Pedra Pura” nasce em Chaves para revolucionar o turismo local

     O “Pedra Pura” está a nascer nas encostas das terras altas que delimitam Chaves. Localizado na Quinta do Castelo, o projecto contempla uma unidade hoteleira de 5 estrelas, com 40 alojamentos, spa, restaurante e bar, espaço de eventos e piscina exterior, que se desenvolvem e tiram partido dos mais de 30 hectares de extensão da propriedade. A abertura está agendada para 2024

    O nome deste novo resort advém das encostas das terras altas que delimitam o concelho e a cidade de Chaves, no extremo norte do país, junto à fronteira com Espanha. O “Pedra Pura” contempla quatro dezenas de unidades de alojamento agrupadas em pequenos blocos. O conceito global de arquitectura, que conta com a assinatura do gabinete local de arquitectura “Esboços e Riscos”, insere estas unidades entre enormes “barrocos”, que integram a decoração de cada unidade de alojamento. O projecto hoteleiro contempla ainda spa, restaurante, bar, espaço de eventos com capacidade de evento para 400 pessoas e piscina exterior. O investimento ronda os 2,7 milhões de euros, dos quais acresce 1,38 milhões de euros financiados pelo Turismo de Portugal.

    O empreendimento, que tem como promotor o luso americano Lino Marçal, está localizado na Quinta do Castelo, propriedade do empresário, e que se estende por mais de 30 hectares. Aliás, a natureza fez mais do que influenciar a arquitectura do espaço, antes, é parte integrante de um conceito que pretende retirar partido de uma relação próxima com a natureza, com a agricultura, vitivinicultura e criação de animais, actividades desenvolvidas no dia a dia da quinta.

    Natureza como inspiração
    “Genuinidade e autenticidade, é o que está subjacente a este projecto que tem a natureza como inspiração. A ideia do projecto nasceu há alguns anos, mas torná-lo uma realidade tem demorado por causa da sua complexidade. Desde logo a escolha da localização de cada um dos blocos que albergam entre 8 a 10 unidades de alojamento, por forma a tirar o melhor partido da natureza. Temos quartos que estão “esculpidos” em torno de pedras, “barrocos”, de mais de uma tonelada”, conta Lino Marçal, o empresário que é natural de Chaves, mas que aos 19 anos partiu rumo aos Estados Unidos da América onde fez vida e fortuna na área da construção civil e arquitectura paisagística.

    Por detrás deste projecto está, no fundo, o gosto pela terra natal e a vontade de a mostrar ao mundo. “Por via da minha actividade de construção que desenvolvo nos EUA lido com muitas personalidades, muitas do mundo financeiro de Wallstreet, e o que eles procuram é o que temos aqui: sossego, natureza e a autenticidade. E é isso que pretendemos oferecer. A boa comida regional, feita com os alimentos que aqui produzimos, oferecendo os vinhos feitos na nossa adega, as ervas aromáticas, os chás, as geleias, os produtos de fumeiro, no fundo privilegiando o conceito ‘farm to table’”, inúmera Lino Marçal.

    A sustentabilidade é outro conceito que está subjacente ao projecto, cuja construção utilizou, “o mais possível” os recursos naturais locais. Como a madeira de pinho utilizada nos pavimentos e revestimentos dos quartos, ou os “barrocos” de xisto e granito deslocados e transformados dentro da própria propriedade para dar corpo ao projecto.

    “Este é um projecto ambicioso que pretendemos inaugurar em 2024. Estamos a terminar os últimos blocos de alojamentos, o restaurante e o espaço de eventos e spa estão já concluídos. Pretendemos ainda iniciar a construção de uma greenhouse, onde pretendemos partilhar com os nossos hóspedes alguns conhecimentos, sob a forma de workshops. O nosso ecossistema está ainda ferido das obras, temos ainda várias equipas no local a terminar, vamos deixá-lo repousar estes meses para no próximo ano começarmos a receber reservas”, acrescenta o empresário que vai dividindo o seu tempo entre a actividade da construção imobiliária nos EUA e os projectos em curso na quinta do Castelo.

    “Sou um entusiasta e tenho uma enorme paixão por este projecto que pretende atrair mais investimento e dar a conhecer a região de Trás-os-Montes, criar postos de trabalho e, no fundo, contribuir para a economia local. Mas acabamos por ficar desiludidos com o pouco entusiasmo que encontramos nas autoridades locais e na burocracia de processos”, enfatiza o empresário.

     

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

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    “Não acredito tanto nessa falta de confiança por parte do mercado”

    Em entrevista ao CONSTRUIR, a secretária de Estado da Habitação fala do percurso de décadas percorrido até chegarmos à crise na habitação como a conhecemos hoje mas aborda, essencialmente, o caminho que importa percorrer para inverter esse cenário

    Ricardo Batista

    Quando fala dos ajustamentos necessários nas políticas de habitação desenhadas pelos municípios, que ajustamentos são esses?
    O levantamento foi feito pelos municípios em 2018. Nessa altura, identificaram um conjunto de necessidades que apontavam para um volume de 26 mil fogos, que são os que estão previstos no 1º Direito e para cumprir até 2026. A partir daí, as autarquias perceberam que, efectivamente, aquelas necessidades, em muitas situações, não eram realistas. Os seus territórios necessitam de uma maior resposta. Fizeram essa identificação e propuseram ao Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) a revisão das suas estratégias sugerindo alterações no sentido de cobrirem um maior número de necessidades. É neste sentido que estamos a trabalhar. Basta perceber que esta necessidade de 26 mil fogos, identificados em 2018, quase que triplicou neste momento. Estamos a falar de 77 mil fogos. Daí lhe dizer que o prazo temporal para a concretização destas políticas não pode ser 2026, tem de ir muito além desse prazo. Temos de pensar em políticas estruturais de médio e longo prazo. Mas temos, igualmente, de traçar medidas conjunturais que respondam de imediato às necessidades que as famílias estão a enfrentar. Isso foi o que foi feito no ‘Mais Habitação’, programa que tem já várias medidas implementadas e que estão já a chegar às famílias.

    Considerando que é necessário construir mais, reabilitar mais e conservar mais, o que tem sido feito para que, na prática, isso se veja no terreno?

    Há imensa obra no terreno. Construção nova, reabilitação. Imensa. Praticamente todos os municípios têm o seu parque municipal a ser reabilitado. Isso, em termos de volume de reabilitação, tem uma dimensão imensa. Há, por exemplo, o parque habitacional do IHRU, que ronda os 14 mil fogos, 12 mil em habitação social e perto de dois mil fogos em arrendamento acessível que está a ser reabilitado. Desde 2020, temos 24 milhões de euros de obra no terreno promovida pelo IHRU, 20 milhões já executados e estamos a trabalhar para lançar novos objectivos até final do ano. Isto espalhado por todo o território. Enquanto que uma cidade tem o seu parque municipal concentrado no seu território, o IHRU tem um parque habitacional disperso por todo o País. Claro que em determinadas zonas há uma maior concentração, noutras há uma maior dispersão. A juntar a isso, temos também os imóveis devolutos do Estado, dos quais já conseguimos identificar 1500 edifícios que são colocados numa bolsa, é avaliada a sua viabilidade e as condições de recuperação e são colocados à disposição ou das autarquias ou do próprio IHRU para que sejam realizadas as intervenções necessárias. É um trabalho longo, demorado, que envolve a Defesa, as Infraestruturas de Portugal…Por exemplo, no Entroncamento, 32 habitações que eram património da IP e que faziam parte de bairros dos ferroviários, vão dar lugar a 42 fogos. Há, por todo o País, imóveis e terrenos que vão dar lugar a centenas de habitações e que estão a ser objecto de obras. Temos, depois, o envolvimento dos privados e estamos a aguardar o enquadramento legal para podermos igualmente contar com as cooperativas. O terceiro sector está também já envolvido e os privados estão igualmente interessados em desenvolver projectos de habitação a custos controlados para colocarem no mercado. O Estado não faz nada sozinho. Não temos empresas de construção. Precisamos, sim, do envolvimento de todas as empresas da fileira da Construção, desde quem fornece os produtos e sistemas construtivos, de quem constrói, dos investidores privados que tenham interessem em vir para este ramo. Envolve toda a gente. Não pode ser só o Estado. O Estado tem o compromisso de investir em habitação pública, criar um parque habitacional que chegue, pelo menos, aos 5%. Actualmente, o panorama é muito baixo, anda nos 2%. Podemos sempre achar que não é necessariamente ambicioso. A verdade é que tivemos décadas em que pouco ou nada se fez. Precisamos de todos, do público, do privado, do cooperativo, do social. Todos.

    As metas da Nova Geração de Políticas de Habitação previam, efectivamente, atingirmos os 5% até 2024. Essa meta, ao dia de hoje, é exequível? Para atingirmos os 5% estamos a falar de qualquer coisa como 170 mil fogos…
    Em termos públicos, construir e reabilitar 170 mil fogos é, de facto, difícil. Mas também lhe digo que, neste momento, o número de famílias apoiadas pelo Estado no conjunto de programas de apoio à habitação, anda na ordem das 300 mil pessoas. Entre o apoio à renda, os jovens apoiados pelo Porta 65, o programa 65+, que vai apoiar famílias monoparentais ou famílias que perderam 20% do seu rendimento, o programa do arrendamento para subarrendamento – em que temos em bolsa perto de 400 fogos -…entre todos estes apoios ultrapassamos seguramente os 5%. Agora: termos, em 2024, 5% de parque público construído, reabilitado e habitável, é difícil. Há, no entanto, uma nota que me parece importante sublinhar a este respeito. A própria capacidade de produção do sector da Construção está condicionada. O sector da Construção foi um dos mais afectados pela crise financeira em que estivemos. Muitas empresas desapareceram, perdemos mais de 500 postos de trabalho. Não podemos negar esta evidência. O Sector sofreu muito com esta crise. As próprias escolas de engenharia civil sofreram com isso e enfrentaram uma quebra significativa de novos alunos nos cursos de Engenharia Civil. Hoje, há uma necessidade enorme de engenheiros civis que não existem no mercado. Tudo isto se reflecte na capacidade de produção do sector. Dito isto, temos de pensar em mudar os nossos modos de construção. Com certeza que teremos de passar dos métodos tradicionais, dos processos tradicionais para outro tipo de processo, muito mais offsite e que tem já expressão na Europa. Em Portugal, estamos ainda muito ligados à construção tradicional. A possibilidade de atingirmos os objectivos que traçámos passa, também, por alterações a este nível.

    O próprio contexto concursal tem, também, de ajudar a esse passo?
    Isso já está previsto. O Código da Contratação já prevê concursos de concepção-construção. Em termos concursais não há grande problema. Lançar um concurso para que uma obra seja executada através de processos construtivos ditos tradicionais ou processos construtivos diferentes não tem qualquer problema. Basta que os cadernos de encargos já estejam adaptados a essas metodologias.

    Mas nesse contexto continua a haver um peso significativo do critério preço. Isso não é, logo à cabeça, um factor dissuasor para que, de raiz, uma obra contemple estes novos processos?
    O Código o que diz é que deve ser atendida a proposta mais vantajosa. Claro que o critério do preço mais baixo é o mais transparente, é o que dá maior segurança a quem está a avaliar as propostas, mas podem ser desenhados critérios de avaliação das propostas, de majoração da avaliação das propostas que incidam sobre determinados aspectos e que favoreçam não o preço mais baixo mas outro tipo de parâmetros que caracterizem a proposta e a tornem mais vantajosa. E tudo isto tem de ser feito de forma transparente e objectiva. Nem sempre é fácil mas tem de ser feito e temos de estar munidos de todos os instrumentos para o fazer.

    O problema não está, também, na própria capacidade de quem avalia as propostas e os projectos? As autarquias, por exemplo, têm competências para isso, mas terão capacidade de resposta?
    Quando comecei a trabalhar, as autarquias, sobretudo as mais pequenas, não tinham quadros técnicos suficientes. Actualmente, os municípios já estão bem equipados em termos de técnicos e têm desenvolvido uma grande experiência ao nível da contratação publica. Além disso, podem sempre recorrer a suporte externo, com consultadoria externa que os apoiem. Não vejo que seja por aí.

    “Não havia população para tanta construção”
    Entre 2011 e 2021, foram construídos pouco mais de 110 mil edifícios para habitação enquanto na década anterior se tinha construído cinco vezes mais. Uma quebra significativa explicada, entre outros factores, pela crise…

    E não só. Pela diminuição demográfica, também. Construiu-se em exagero nessas décadas. Todos temos noção disso. Não tínhamos população para encher os edifícios. Se bem se recorda, na época da crise, havia muitos edifícios que não eram vendidos porque simplesmente não havia quem os comprasse. Não tínhamos população para tanta construção. O que provocou grande parte da pressão na habitação não foram propriamente as necessidades demográficas do País mas sim a pressão turística, a pressão da compra de imóveis por estrangeiros e os milhares que temos de população imigrante e a quem temos de dar condições de vida. Se necessitamos deles para trabalhar, temos de lhes dar condições de habitação. Temos de perceber bem as coisas e a estatística ajuda. Construía-se muito, sim, mas chegámos a uma situação complicada de falência de empresas em que os edifícios ficavam sem ninguém que os comprasse. Depois, tivemos uma inversão da população, não pelo facto de termos crescido demograficamente, mas por sermos atractivos em diversos domínios. Isso levou-nos a estas necessidades que temos hoje, a preços especulativos. O mercado de luxo não tem nem nunca teve crise e a classe média não tem capacidade para comprar imóveis de luxo a preços exorbitantes. Todas estas componentes levaram-nos a esta situação. Não nos iludamos. Esta não é uma realidade só nossa. A Europa continua a ser bastante atractiva para se trabalhar, para migrantes, para refugiados e também para outras populações, de outros Continentes. Somos um Continente com boas condições de vida, com grande atractividade para estes fluxos. Todos os Governos estão a trabalhar em medidas e estratégias para fazerem face à crise de habitação.

    Mas considerando que precisamos, de facto, de mais construção, que resposta pode ser dada e que, de certo modo, possa ser também atractiva para os privados?
    Precisamos de respostas para habitação que sejam compatíveis com as nossas famílias. Além do sector cooperativo, o sector privado é essencial e está, igualmente, interessado em construir habitação a custos controlados. Há benefícios para dar às empresas, incentivos fiscais para que as empresas venham para este mercado. E há inúmeras empresas interessadas. Todos podem fazer parte da solução e pode propor-se a fazer construção a custos controlados, certificar essa habitação no IHRU e ter os benefícios que o Estado dá – e que são bastante atractivos – para construírem. É este movimento que tem de se concretizar e que tem de chegar ao mercado. O mercado privado existirá sempre. O arrendamento acessivel é igualmente muito atractivo para os senhorios. Tem de haver por parte do Estado incentivos fiscais para que os senhorios entrem no ‘sistema’. E é fácil fazer as contas. Se eu fosse proprietária, teria todo o interesse em participar em programas como o Arrendar para Subarrendar, uma solução manifestamente segura.

    A Associação dos Promotores Imobiliários tem-se manifestado inúmeras vezes contra as soluções apresentadas e tem sido a voz dessa desconfiança, sublinhando até que os proprietários, que no seu conjunto são responsáveis por 350 mil imóveis em condições para habitar, preferem não os colocar no mercado do arrendamento…
    Confesso que não acredito tanto nessa falta de confiança por parte do mercado. Acho que as pessoas, muitas vezes, não conhecem bem as medidas que foram publicadas e os incentivos que existem. E já falámos de vários, desde o ‘Arrendar para Subarrendar’ ao ‘Arrendamento Acessível’ ou o ‘Porta 65’. Quando as pessoas se informarem bem dos benefícios que vão ter ao aderirem as estes programas, essa desconfiança vai desaparecer. Esses 350 mil fogos devolutos, temos de ver onde é que estão. Uma pessoa que esteja em Lisboa não tem grande interesse em ir para Trás-os-Montes viver. As pessoas querem viver nos sítios onde haja oportunidade de trabalhar. Estamos a tentar responder a essa retórica e acho que tem de haver uma forte comunicação, também da nossa parte, deste tipo de apoios, para que o mercado perca essa insegurança. Estes programas garantem estabilidade. São medidas que vão criar mudança nos comportamentos.

    Discussão enviesada
    Olhando para o histórico desde que foi apresentado o Mais Habitação, não há de facto muitas correntes favoráveis ao que foi apresentado. Têm sido inúmeras as críticas. Estamos a falar de uma insistência ideológica ou um problema de comunicação na forma como foram apresentadas as medidas?

    Essas são as vozes que aparecem na televisão, ou em outros fóruns, mas haverá, com certeza, pessoas que já colocaram o imóvel no mercado de arrendamento. E esses não aparecem a dizer que não são ouvidos. Há que ser ponderado no que dizemos. Relativamente à estratégia ‘Mais Habitação’, comunicada no dia 16 de Fevereiro deste ano, foi objecto de uma consulta pública, de alterações, com uma participação nunca antes vista. Mais de duas mil propostas que chegaram ao Ministério e que nós analisámos e que levou a uma redacção muito diferente da que foi apresentada em Fevereiro. A partir dessa data, enviesou-se muito a discussão, que se focou essencialmente em três pontos: no Alojamento Local, no arrendamento coercivo e nos vistos Gold. A partir daí, ninguém mais se preocupou em evidenciar os aspectos positivos desta política. O diploma, além da consulta pública e das milhares de propostas recebidas, que evidenciam uma participação massiva de todos os sectores, ainda esteve no Parlamento e foi discutida por todos os grupos parlamentares. Há, evidentemente, propostas que agradam mais a uns que a outros. Muito do que foi apresentado inicialmente acabou por sofrer alterações, mas continua-se a querer destruir ou, pelo menos, a não deixar implementar as medidas que foram traçadas e isso parece-me muito pouco positivo. Precisamos de implementar medidas estratégicas que garantam que as pessoas conseguem aceder a habitação de acordo com as suas possibilidades. A casa é a base da nossa vida, é a base para uma criança crescer, estar em pé de igualdade na escola, é ter uma habitação que tenha as condições mínimas de conforto e habitabilidade. O que estamos a construir e reabilitar são habitações de muita qualidade.

    Sobre o autorRicardo Batista

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    “Os municípios estão cientes desta necessidade e estão empenhados em concretizar, no terreno, as suas estratégias locais”

    A secretaria de Estado da Habitação reconhece a árdua tarefa que existe pela frente na resposta à crise da habitação, mas lamenta que muita da discussão tenha disso enviesada desde que foi apresentado o ‘Mais Habitação’. Maria Fernanda Rodrigues garante que muito está a ser feito para dissipar dúvidas e trazer a confiança necessária ao… Continue reading “Os municípios estão cientes desta necessidade e estão empenhados em concretizar, no terreno, as suas estratégias locais”

    Ricardo Batista

    A secretaria de Estado da Habitação reconhece a árdua tarefa que existe pela frente na resposta à crise da habitação, mas lamenta que muita da discussão tenha disso enviesada desde que foi apresentado o ‘Mais Habitação’. Maria Fernanda Rodrigues garante que muito está a ser feito para dissipar dúvidas e trazer a confiança necessária ao envolvimento de todos.

    Estamos perante uma crise de habitação, um problema grave e que, pela emergência de resultados, carece de medidas de fundo. Fica claro que, enquanto sociedade, ficámos durante muitos anos alheados do problema. Há margem das suas responsabilidades governativas, mas enquanto conhecedora de todo este universo, como chegámos a este ponto em que se exigem respostas imediatas à conta de décadas de inacção?
    O problema da habitação e a crise da habitação não são novos. Ao longo das várias décadas que nos antecederam, esta crise foi sendo sentida e foram tentadas várias medidas. Há, inclusive, um antes e um pós-25 de Abril. Logo no período pós-revolução, em 74, houve uma grande preocupação com a carência da habitação e a indignidade que existia com as condições de habitação do País. Foi criada, por ocasião do primeiro Governo provisório, a primeira secretaria de estado da habitação e urbanismo, liderada pelo arquitecto Nuno Portas. Mesmo que não possamos chamar-lhes políticas de habitação, foram, pelo menos, programas que tentaram colmatar as necessidades e as carências que existiam à época. Lembro o Serviço de Apoio Ambulatório Local (SAAL), o Programa de Erradicação de Barracas (PER) – que tinha um objectivo muito específico em Lisboa e Porto – ou outras medidas mais incisivas que envolviam as autarquias por todo o País e que incentivavam a construção de habitação social, sempre com uma vocação para os mais pobres, desfavorecidos, os mais necessitados. Falamos, em grande parte, de medidas focadas na renda apoiada e construção nova. Com a viragem do século, assistimos a um novo paradigma. Até aí, as taxas de reabilitação eram muito marginais se comparadas com a generalidade da Europa. Se olharmos para os números, enquanto a Europa já estava com taxas de reabilitação do edificado em torno dos 16%, em Portugal rondava menos de 10%. Nessa altura, começaram a aparecer programas como o ‘Reabilitar para Arrendar’, o ‘Prohabita’, vários conjuntos de medidas dedicadas à reabilitação do parque público e dos centros históricos. Mas, no meio disto tudo, foi-se consolidando a ideia de que não precisávamos de construir mais parque público de habitação. Os próprios valores das taxas de juro empurravam as pessoas para a compra de casa própria. Desacelerou-se, completamente, a construção e oferta de habitação pública, não apenas para os mais carenciados como também para a classe média. Isso é o que observamos em Países com taxas de habitação pública muito superiores, como é o caso dos Países Baixos, que apresentam uma taxa na ordem dos 42%…nós temos 2% a nível nacional. Lisboa tem 12%, o Porto com 14%…a disparidade é grande. Está claro que falhou uma política continuada de habitação, pensando-se que efectivamente o problema se resolveria apenas com a actividade privada, com o investimento privado, com o mercado privado. O Estado abandonou esses investimentos. Chegados a 2015, o XXI Governo assumiu como prioridade a resolução das questões da habitação. A crise vinha ganhando forma não apenas em Portugal como na Europa. Foi então que surgiu a Nova Geração de Políticas de Habitação. Em 2023, aparece o Programa Nacional da Habitação, onde desenhámos um conjunto de estratégias, assentes na resolução estrutural dos problemas. Para os resolver temos efectivamente de construir mais e reabilitar aquilo que temos. É imperativo.

    Foram, efectivamente, muitos anos de desresponsabilização pública do que estava consagrado na Lei de Bases da Habitação e da própria Constituição…
    Até 2002, o investimento na construção nova era muito considerável. Depois passou-se para a reabilitação. Com a evolução do mercado e com a queda acentuada das taxas de juro, as pessoas foram sendo incentivadas à compra de casa…

    O contexto monetário ajudava a isso…
    Sem dúvida, mas com isso veio também a ideia de que os problemas estavam resolvidos. Com as crises sucessivas a que temos estado sujeitos, percebeu-se que não, e os problemas agudizaram-se. A juntar a isso, Portugal tem a particularidade de ser muito atractivo em termos turísticos e de investimento estrangeiro. Isso é fantástico, é algo que queremos e precisamos. Todavia, esses factores determinaram o crescimento da população, não por via dos nascimentos mas sim pela pressão turística ou de imigrantes que chegam à Europa. E quero, desde logo sublinhar: nestas políticas adoptadas logo em 2018 houve um aspecto muito importante que foi o envolvimento dos 308 municípios no desenho das suas estratégias locais de habitação. O envolvimento das autarquias, o incentivo à tomada de medidas um pouco por todo o País, o envolvimento de todos no reconhecimento efectivo das suas necessidades em termos de habitação, fosse para aqueles que tinham mais necessidade e a que nós designamos de ‘situações indignas de habitação’, foi marcante. Foi um movimento extraordinário e todas foram chamadas a responder. E responderam, manifestando as suas necessidades consoante os levantamentos que fizeram. Claro que podemos sempre dizer que “não é suficiente”, mas as estratégias estão a ser revistas e ajustadas. Mas parece-me tremenda a resposta dada por todos na identificação das suas necessidades.


    Os municípios têm capacidade de resposta? A gentrificação nas cidades não incutiu uma outra pressão adicional às suas capacidades?

    A oferta de habitação é essencial para captar pessoas, para captar jovens, massa critica, mão de obra qualificada. É dramático os municípios terem ofertas para que grandes grupos económicos se estabeleçam e não terem oferta de habitação para poderem fixar, no seu território, habitantes. Isso verifica-se muito nos territórios do Interior, zonas com menor densidade populacional, que têm necessidade de captar pessoas. Os municípios estão cientes desta necessidade e estão empenhados em concretizar, no terreno, as suas estratégias locais para poderem melhorar e aumentar a oferta. Primeiro para responderem aos que estão em situações menos dignas, com habitações em mau estado ou que, simplesmente, não têm habitação. É para esses a resposta do ‘1º Direito’, sobre a qual desenharam as suas estratégias, assentes em construção nova, reabilitação de edificado existente, pela aquisição de património e respectiva requalificação ou mesmo pela aquisição para sub-arrendamento. Não há aqui uma resposta única. Todas estas estratégias têm um objectivo: responder de forma eficaz às necessidades mais específicas que foram sendo identificadas. Há um compromisso grande de todos os municípios para o cumprimento das suas estratégias, para atingirem os objectivos traçados e, em certa medida, ir além dessas metas. Repare: há objectivos traçados para serem cumpridos com o PRR, até 2026, mas esta política de habitação não pára aí. É para continuar. Está traçada e desenhada para continuar após 2026. Não podemos estar limitados por este horizonte temporal.

    Considerando que o PRR tem um horizonte definido e verbas para aplicar com ‘data de validade’, o que é expectável que aconteça depois?
    As estratégias locais de habitação e os acordos que se assinam no seguimento dessas estratégias têm um intervalo temporal para o seu cumprimento de seis anos. Basta fazermos as contas. Se assinar hoje um acordo com um município, terá vigência até 2029. Tem, por isso, de haver um compromisso para além do PRR e que passa, por exemplo, pela criação de linhas de financiamento – e já estão a ser pensadas – para além do PRR. Tudo está a ser desenvolvido. O limite de 2026 não é um limite temporal que ‘acabou ali’. Mesmo as revisões dessas estratégias levam-nos a estabelecer objectivos para além daquilo que foram os números apontados para o PRR. É muito mais que isso.

    “Código da Construção estará pronto até ao final da legislatura”

    “Respeitamos a análise do PR. Mas estamos convictos de que vamos atingir os nossos objectivos”

    Sobre o autorRicardo Batista

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    “Respeitamos a análise do PR. Mas estamos convictos de que vamos atingir os nossos objectivos”

    Em entrevista ao CONSTRUIR, a secretária de Estado da Habitação fala do percurso de décadas percorrido até chegarmos à crise na habitação como a conhecemos hoje mas aborda, essencialmente, o caminho que importa percorrer para inverter esse cenário

    Ricardo Batista

    Em entrevista ao CONSTRUIR, a secretária de Estado da Habitação fala do percurso de décadas percorrido até chegarmos à crise na habitação como a conhecemos hoje mas aborda, essencialmente, o caminho que importa percorrer para inverter esse cenário. Maria Fernanda Rodrigues ‘desconfia’ da ‘desconfiança’ dos promotores, apela ao envolvimento de todos na resposta à crise, enaltece o empenho das autarquias na definição das suas estratégias e lamenta que se procure, com insistência, “destruir ou, pelo menos, a não deixar implementar as medidas que foram traçadas”. Sobre o veto da Presidência da República, a governante respeita o entendimento de Marcelo, mas garante perseverança para atingir os objectivos traçados

    Não lhe pedindo, naturalmente, uma resposta directa ao Presidente da República mas pegando nas dúvidas que Marcelo levanta no texto do veto presidencial ao diploma, onde aponta que é um programa inexequível e que não vai garantir respostas com a rapidez necessária, como olha para esta leitura de Belém?
    O Presidente da República tem os instrumentos do veto à sua disposição, faz parte das suas funções. Faz as suas análises e nós respeitamos. Relativamente a este aspecto eu asseguro: trabalhamos todos os dias com muita perseverança e estamos convictos de que vamos atingir os nossos objectivos. Temos equipas, espalhadas pelo País, a trabalhar, seja a nível central, no IHRU, neste ministério, nas autarquias, que estão empenhadas em concretizar esses objectivos. Estou convencida de que tudo será feito, ao nosso alcance, para envolver todos os intervenientes de todos os sectores para respondermos às necessidades da população e para podermos proporcionar às pessoas habitações condignas, confortáveis, sustentáveis e com qualidade, seja quem necessita ou mesmo a classe média. Repare: há muito tempo que não se pensa nas necessidades da classe média porque sempre se pensou que a classe média tinha capacidade de compra. Actualmente, está a braços com inúmeras dificuldades.

    É expectável que, à conta ou não do veto presidencial, venham a ser introduzidas alterações ao programa?
    Há várias medidas que constam do programa que estão já no terreno, desde a questão da simplificação dos licenciamentos aos programas contínuos de apoio ao arrendamento, o Arrendar para Subarrendar, os apoios ao crédito…todos estes apoios já estão implementados. Agora, há outras medidas complementares como a redução da taxa de IRS sobre os arrendamentos, que passa de 28 para 25%, o incentivo aos contratos de longa duração, que consideramos essenciais, que ficarão a aguardar por outra oportunidade.

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    “R2U Technologies | modular system” quer revolucionar a construção em Portugal

    É uma das 53 Agendas Mobilizadoras do PRR e a única directamente relacionada com o sector da Construção. A construtora Domingos da Silva Teixeira, DST, é líder de um consórcio que envolve 30 outras empresas e 18 ENESII, e que pretende canalizar cerca de 215 milhões de euros para o desenvolvimento da construção modular, a realizar em 48 meses

    No início do mês, o Governo apresentou as 50, de um total de 53, Agendas Mobilizadores do PRR para a Inovação Empresarial. Das 53 Agendas Mobilizadoras para a Inovação Empresarial seleccionadas, encontram-se agora contratualizadas 50, 30 Agendas Mobilizadoras e 20 Agendas Verdes, estando três a aguardar conclusão de procedimentos de notificação e negociação. As 53 Agendas Mobilizadoras envolvem um total de investimento de 7,8 mil M€, com incentivo público estimado na ordem dos 2,8 mil M€.

    As Agendas Mobilizadoras, ou Agendas Verdes para a Inovação Empresarial, “visam consolidar e expandir sinergias entre o tecido empresarial e o sistema científico e tecnológico em Portugal, contribuindo para o incremento da competitividade e resiliência da economia portuguesa, com base em I&D, na inovação e na diversificação e especialização da estrutura produtiva”. Estão envolvidas, nestes projectos, 1247 entidades, a maioria, 941, são empresas e, de entre estas, cerca de 60% são pequenas e médias empresas, o que é um número a assinalar dada a composição do tecido empresarial nacional. Cerca 119 entidades do sistema de investigação e inovação estão ligadas às Agendas, bem como 87 associações empresariais e gestoras de clusters, 41 entidades administração pública (CIM, municípios, institutos, direcções-gerais, forças armadas, empresas públicas, centros de turismo regionais, centros hospitalares, escolas profissionais) e 88 outros parceiros.

    Até Julho, encontravam-se com pagamento de adiantamento decidido 36 Agendas, 23 Agendas Mobilizadoras e 13 Agendas Verdes, estando pagos, respectivamente, 239 milhões de euros e 145 milhões de euros a estes projectos.

    A construção do cluster da Construção Modular

    Dos 53 projectos aprovados apenas um está, directamente, associado ao sector da Construção: o Pacto de Inovação “R2U Technologies | modular system”, que tem como líder a construtora Domingos da Silva Teixeira, DST. O projecto resulta da fusão das duas Manifestações de Interesse, apresentadas, numa primeira fase, por empresas do universo do grupo a “R2U Technologies”, pela dst, e “Glass Net”, liderado pela Bysteel, empresa do grupo responsável pela concepção, produção e instalação de estruturas e fachadas metálicas.

    Se numa primeira fase a proposta “R2U Technologues”, tinha um investimento previsto de 177 milhões de euros, que compreendia um investimento do grupo no valor de 74,4 milhões de euros e um incentivo global de 95 milhões de euros,  com a entrada de alguns dos pressupostos defendidos pela “Glass Net”, com a qual o grupo pretendia “capacitar o tecido empresarial português para a concepção, desenvolvimento e fabricação de fachadas de última geração”, o investimento a realizar sobe agora para 215 milhões de euros, a realizar em 48 meses.

    O projecto tem como objectivo estratégico “a alteração profunda do perfil produtivo do sector da construção modular, promovendo a sua evolução de um paradigma produtivo intensivo em mão-de-obra para outro intensivo em conhecimento”. A intensão é “capacitará o tecido empresarial, o tecido académico e os próprios recursos humanos, com os meios, os conhecimentos e as competências-chave para criar, em solo nacional, um cluster para o abastecimento global do sector da construção modular”. Na síntese da proposta apresentada o grupo define como meta o lançamento de 18 novos produtos, processos ou serviços (PPS) “com perfil transaccionável e internacionalizável já no final do projecto”.

    Envolvidos no projecto estão cerca de três dezenas de empresas, entre elas a Amorim Cork Insolation, a Cimpor, Ecosteel e a Conformetal, e 18 entidades não empresariais do sistema de I&I (ENESII) como as universidades do Minho, Nova de Lisboa, Coimbra, Porto, mas também o LNEG.

    O Living lab que Norman Foster está a criar no campus da dst

    A este projecto juntou-se ainda a Fundação Norman Foster, convidada a participar, ainda numa primeira fase, no projecto de pesquisa e criação de um cluster que quer “revolucionar a indústria da construção no país”. A ligação do arquitecto ao projecto foi anunciada ainda na fase de Manifestação de Interesse e irá tomar forma com a criação de um “Living Lab” destinado à investigação e testagem de soluções à escala real.

    A dst justificou a parceria com a necessidade de “promover um pensamento e investigação interdisciplinares, focado na melhoria contínua das soluções e na capacidade de antecipar o futuro, colocando a arquitectura, o design, a tecnologia e as artes ao serviço da sociedade”. Nesta estratégia “a equipa da Fundação Norman Foster, liderada pelo próprio Lord Norman Foster, assumirá a posição de consultor de investigação e líder de design, trabalhando com outras entidades, que desenvolverá o design conceptual dos sistemas de construção e de soluções modulares e de pré-fabricação”, anunciou o grupo na ocasião.

    O Living Lab terá cerca de 4.000m2 e conterá cerca de 100 unidades habitacionais que servirão quatro usos principais: residências de estudantes e seniores, unidades habitacionais, quartos de hotel e hospitais. O complexo assume-se como um laboratório de I&D para soluções de construção modular, um centro de pesquisa à escala real, que promoverá soluções técnicas e tecnológicas como resposta às boas práticas de economia circular e redução da pegada ecológica, libertando as cidades do seu estado de “estaleiro”. pela redução dos trabalhos in-situ e condensação dos prazos da construção, já que se sustenta na transferência de uma percentagem do tempo de construção para o ambiente controlado de fábrica, com benefícios inerentes na minimização dos desperdícios e no aumento do controlo e qualidade do produto.

    “Queremos chamar a atenção do sector e mobilizá-lo no sentido de mudança de paradigma no contexto da construção em Portugal, com a captação de investimento e de parceiros de peso”, defendeu na altura José Teixeira, presidente do dstgroup.

    Quando concluído, o Living Lab assumirá duas funções primordiais: ser uma montra viva das soluções desenvolvidas e dos resultados alcançados e um espaço para ser vivido e habitado pelos trabalhadores deslocados, designadamente refugiados e imigrantes, que o dstgroup tem vindo a integrar nos seus quadros.

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

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    João Moutinho, Business Director & Internationalization do BUILT CoLAB

    Construção

    “É preciso que o sector dê um salto de fé”

    O projecto REV@CONSTRUCTION terminou a 30 de Junho e apontou o caminho para a exigida revolução digital do Sector da construção. O projecto juntou, num consórcio, 20 empresas e entidades do sistema científico e tecnológico nacional, liderado pela construtora Teixeira Duarte e coordenado pelo BUILT CoLAB, em prol da Construção Digital em Portugal. O projecto terminou formalmente, mas as bases para a revolução do sector estão lançadas

    A primeira grande mudança que o REV@CONSTRUCTION provocou na indústria começou ainda antes do projecto avançar: o reconhecimento de o sector, pouco habituado a cooperar entre si, perceber que era necessário unir esforços para responder aos desafios da competitividade e da produtividade do sector. Hoje, mais de três anos volvidos, o projecto que envolveu 20 entidades e perto de uma centena de pessoas, terminou e lançou as bases para que a revolução da digitalização se dissemine pelos empresas do sector. Como? Disponibilizando ao mercado as ferramentas que este necessita para dar resposta às novas exigências, como plataformas vão permitir a interoperabilidade entre dados, ferramentas que vão fomentar a utilização generalizada do BIM e de Gémeos Digitais, entre outros.

    Conversámos com João Moutinho, Business Director & Internationalization do BUILT CoLAB, entidade responsável pela coordenação do projecto, sobre os desafios que se colocam ao sector e aos seus actores. As bases tecnológicas estão lançadas, mas a verdadeira revolução tem de acontecer ao nível da capacitação dos recursos humanos das empresas: “enquanto não tivermos as pessoas capacitadas para reconhecer a diferença, elas não irão perceber o valor das possibilidades que lhes são oferecidas neste momento. E este é o verdadeiro desafio”, alerta João Moutinho.

    Existe um antes e um depois do REV@CONSTRUCTION?

    Claramente! O sector da construção tipicamente não é muito receptivo à inovação e isso contribui para um círculo vicioso. Não havendo o reconhecimento dessa inovação, há cada vez menos vontade de criar inovação. O BUILT CoLAB, um laboratório colaborativo que nasceu quase que em simultâneo com este projecto, foi criado um pouco para contrariar essa tendência. Temos estado a criar ferramentas e a dinamizar projectos que têm como principal objectivo acelerar a inovação no sector. Depois, procurámos ter os argumentos para convencer o sector a utilizar essas ferramentas.

    E o REV@CONSTRUTION é um exemplo disso mesmo. A liderança do projecto é da Teixeira Duarte, mas a coordenação técnica é do BUILT CoLAB. Está no nosso nome, na nossa natureza pôr várias entidades a falarem e a reconhecerem a lacuna que existe tipicamente entre aquilo que é o conhecimento que a academia e a ciência produzem e a sua aplicabilidade. E se em alguns sectores, como a Manufactura ou o Calçado, existe essa ligação, na Construção isso tem sido mais difícil de acontecer.

    E para isso contribuem características como a fragmentação do sector, a multiplicidade de pequenas e médias empresas e aos níveis de qualificação, geralmente baixos, dos seus recursos humanos…

    Exactamente. Existe uma enorme dificuldade em colocar o sector a adoptar tecnologia. Ok, isso já acontece com as maiores empresas, que certamente já têm desafios da adopção de tecnologia, mas como é que fazemos com as empresas que compõem mais de 95% daquilo que é o valor criado na construção e que são micro pequenas e médias empresas? Como é que conseguimos que aquelas empresas com 3,4 ou 10 colaboradores utilizem ferramentas deste género, quando na realidade o grande desafio que eles têm, neste momento, é manter as pessoas, conseguir executar as obras e lidar com tudo aquilo que são as dificuldades de uma indústria que é normalmente competitiva apenas pelo preço?

    E qual é a resposta ou solução a essa questão?

    A resposta à pergunta tem a ver com a qualificação. Por um lado, temos de conseguir qualificar melhor.  Temos de desmistificar a ideia de que a construção é uma alternativa para quem não estuda ou para quem não serve para mais nada. Quem vai para a construção tem de ter vontade de ir para a construção. O sector tem de ser atraente do ponto de vista de carreira, do ponto de vista do tipo de funções que são desempenhadas, porque a construção pode ser um trabalho cada vez menos duro se for industrializada, se for tomada com eficiência. E neste momento é o sector menos eficiente. Tem um fosso de produtividade de 1.7, o que é mau se considerarmos que temos de ser cada vez mais competitivos para sermos cada vez mais sustentáveis. Isto significa que somos 170 % menos eficiente que a média dos outros sectores. É muito significativo.

    Como é que conseguimos que aquelas empresas com 3, 4 ou 10 colaboradores utilizem ferramentas deste género, quando na realidade o grande desafio que eles têm, neste momento, é manter as pessoas, conseguir executar as obras e lidar com tudo aquilo que são as dificuldades de uma indústria que é normalmente competitiva apenas pelo preço?

    A Construção apontou como meta a versão 4.0. Deveríamos apontar um pouco mais atrás?

    Se calhar fomos um bocadinho ambiciosos. Mas é preciso dar a perceber os benefícios desta digitalização e, por isso, temos de ir à boleia, digamos assim, e aproveitar a designação do 4.0 para se perceber este esforço da digitalização, que é da sensorização, da adopção, da ciência de dados, da utilização da inteligência artificial. É um pouco para colarmos a designação que existe para outras indústrias, a esta indústria que ainda não estará no patamar 3.0. Aliás, se calhar outras também não estarão mas beneficiam da mesma designação, do mesmo marketing, para passar a mesma ideia. Nós não queremos passar pelas etapas que os outros já passaram. Vamos querer dar um salto maior. O que me leva à sua questão que acabei por não responder: “de que forma é que as micro pequenas e médias empresas podem beneficiar disto?” Diria que vão ter de passar a ter pessoas mais qualificadas e vai ter de haver aqui um salto de fé, um salto de confiança, para que haja uma melhoria de eficiência. A digitalização e a sustentabilidade são os drivers para a competitividade.  Mas estas coisas não podem ser impostas. É preciso que as empresas reconheçam a necessidade e que, a curto prazo, se criem alternativas de capacitação. E nós já estamos a trabalhar em projectos que vão criar essas alternativas.

     O REV@CONSTRUCTION deu origem também alguns desses instrumentos que vão ajudar a convencer as empresas a dar esse “salto de fé”?

    Isso é o que é verdadeiramente diferenciador neste projecto. Para conseguir ajudar estas empresas, será sem dúvida importante disponibilizar ferramentas que, até agora, eram muito difíceis de obter sem ter de realizar um grande investimento. O REV@CONSTRUCTION desenvolveu um conjunto de produtos, processos e/ou serviços (os chamados PPS), alguns dos quais vão ser colocados à disposição do mercado livremente, outros vão ser comercializados pelas empresas ou disponibilizados de alguma forma, com um modelo de licenciamento pelas empresas, mas todos, sem excepção, vão estar ao dispor do sector.

    O sector tem de ser atraente do ponto de vista de carreira, do ponto de vista do tipo de funções que são desempenhadas. A construção pode ser um trabalho cada vez menos duro se for industrializada, se for tomada com eficiência. E, neste momento, é o sector menos eficiente. Tem um gap de produtividade de 1.7, o que é mau se considerarmos que temos de ser cada vez mais competitivos para sermos cada vez mais sustentáveis. Isto significa que somos 170 % menos eficiente que a média dos outros sectores

    Os instrumentos do REV@CONSTRUCTION

    Como vai ser feita essa transposição?

    A forma como estas ferramentas irão ser disponibilizadas depende de caso para caso, sendo que a maioria das ferramentas terão como objectivo serem de uso, talvez não totalmente gratuito, mas na grande maioria quase gratuito, embora não possamos responder pelos 20 parceiros que estão associados. Neste momento, o projecto já terminou, estamos numa fase de reporte do ponto de vista formal, mas as ferramentas já foram desenvolvidas e têm estádios de maturidade muito elevadas. Convém, no entanto,  salientar que estas ferramentas ainda não vão estar na prateleira daqui a 1 hora ou daqui a 2 ou 3 meses. Poderá demorar algum tempo até serem produtos suficientemente robustos para serem colocados no mercado. Mas o primeiro passo foi dado e isso é verdadeiramente importante.

    Estamos a falar de que tipo de produtos e serviços?

    Resumidamente, eu diria que podemos agregá-los em duas dimensões de produtos. Por um lado, plataformas que vão, de alguma forma, suportar dados e interoperabilidade entre dados, quer sejam dados relacionados com BIM quer sejam dados relacionados com tudo aquilo que é sensorização ou outras fontes de dados e que, em conjunto, produzem valor. Estamos a falar de plataformas de agregação de dados, estamos a falar de sugestões muito concretas relativamente à forma como se pode passar a ter a adopção do BIM generalizada em Portugal, estamos a falar de ferramentas que têm e que suportam processos associados à construção de digitalização.

    Numa segunda dimensão, temos ferramentas de digital twins, os chamados gémeos digitais. Estes gémeos digitais, muitas vezes suportados em BIM, permitem-nos simular vários tipos de cenários: cenários associados à própria gestão de obra, que é fundamental e que é aquela aplicação mais fácil e mais conhecida, mas também cenários associados a outras fases do ciclo de construção, nomeadamente neste caso à manutenção do edifício construído. E este é um aspecto muito importante.

    Existe ainda um outro conjunto de ferramentas que também foram desenvolvidas e que estão associadas a processos, por exemplo uma ferramenta que permite digitalizar o processo de pavimentação das estradas, uma actividade até agora muito analógica e o que fizemos foi desenvolver um conjunto de ferramentas que digitaliza o processo e que o torna imensamente mais eficiente.

    De que forma?

    Passamos a ter um processo controlado de uma forma digital: sabemos a todo o momento onde estão as máquinas, conseguimos prever a saída do material betuminoso e controlamos a sua chegada à frente de obra, que é um processo crítico. Conseguimos monitorizar a temperatura de aplicação da mistura betuminosa para efeitos de garantia de qualidade, mas também são identificadas, através de ciência de dados, as patologias de pavimento que no futuro possam estar associadas a essa localização. Estamos a falar de gerir todo o processo de uma forma única, através de uma plataforma única, e que é partilhada pelos vários stakeholder. Desde o trabalhador que está na frente de obra com o seu tablet a trabalhar, até ao trabalhador da central que tem de libertar camiões. Este foi, diria, um casamento muito interessante que aconteceu entre a academia (habituada a laboratórios e que teve de ir à obra) e as empresas, pouco habituadas a terem esta intervenção. E foi possível perceber a vontade que estes trabalhadores que estão na frente de obra têm de ter ferramentas que lhes permitem estar mais confiantes e serem mais eficientes.

    A obrigatoriedade do BIM

    A breve trecho teremos a obrigatoriedade da adopção do BIM. Vê esta medida como parte do esforço e do trabalho que têm estado a promover e como uma forma de se acelerar a digitalização do sector?

    Frequentemente discutimos se esta obrigatoriedade deve vir bottom up ou top down. Ou seja: devem ser as empresas a reconhecerem a sua necessidade ou se estas têm de ser impostas? O ideal seria uma abordagem híbrida mas que, não existindo, terá de ser top down e temos o exemplo de outros países que já foram mais bem-sucedidos nessa acção, nomeadamente o Reino Unido, que está uns anos à frente nesta matéria.  Assim, vão ser empreendidos esforços, em que nós colaboramos, para tornar esta metodologia obrigatória ainda que de uma forma faseada. A proposta de lei está a ser revista e tudo aponta para que até 2030 haja efectivamente uma adopção generalizada do BIM, a começar pelos grandes projectos públicos.

    Associado a isso existe ainda a questão da normalização. Como está este processo?

    Já existem várias normas BIM traduzidas para português. O BUILT CoLAB teve um papel fundamental neste trabalho. É um processo complicado porque é moroso, mas neste momento a grande limitação não está nas normas, eu diria que a grande limitação está no que falámos anteriormente, da necessidade da sua adopção por parte das empresas. As normas existem, o facto de não estarem traduzidas colocam aqui alguns desafios de interoperabilidade, mas as normas principais já estão traduzidas. A interoperabilidade que é garantida, de certa forma, pela estandardização vai ser fundamental para garantir que este esforço é bem rentabilizado. Eu diria que aquilo que são os principais usos e aquilo que são as principais características no BIM já estão traduzidos. Ainda que o esforço de estandardização e de criação de normas e a sua tradução é sempre um trabalho em curso, à medida que os usos de BIM também se tornem cada vez mais sofisticados.  Neste momento fala-se de uso BIM até à 8ª e 9ª dimensão, quando na realidade ainda lutamos para usar as dimensões mais básicas. Esse é que é o verdadeiro desafio o de adopção e democratização do uso do BIM e a democratização passa pela disponibilização dessas ferramentas. Faz ideia de quanto custa uma licença anual de um software de modelação mais usado no BIM? Cerca de 3500 Euros/ano, por posto de trabalho. Isto na escala da Construção pode parecer pouco, mas à escala das micro e pequenas ou mesmo das médias empresas que têm 20 a 30 utilizadores, faz mossa.

    Com a adopção generalizada do BIM teremos melhores projectos e estes serão mais caros?

    Confunde-se a dificuldade da adopção BIM com a qualidade do projecto. Um projecto em BIM não é um projecto diferente de outro projecto, é só um projecto apresentado e formalizado de uma forma diferente.  O problema é que, até agora a duas dimensões, os projectos tinham pouco detalhe. As especialidades eram colocadas em cima de desenhos bidimensionais em que os elementos eram apontados, por exemplo, o interruptor fica na parede x, a conduta passa mais ou menos aqui e os cabos de electricidade passam na parede y.  Ninguém dizia exactamente onde é que passavam, nem se preocupavam com pormenores de implementação, ou a que cota é que estavam localizados exactamente. Com o uso do BIM, isso deixa de acontecer porque as coisas têm de ser colocadas no sítio certo, não se podem colocar as coisas no ar simplesmente, e isso obriga a um projecto melhor, um projecto em que todos os envolvidos pensaram em tudo. Não se deixam as coisas na Memória Descritiva para ser interpretadas depois na fase de obra e esse projecto não é mais caro por ser em BIM, é mais caro por ser mais pormenorizado.

    Vão ser empreendidos esforços, em que nós colaboramos, para tornar esta metodologia obrigatória ainda que de uma forma faseada. A proposta de lei está a ser revista e tudo aponta para que até 2030 haja efectivamente uma adopção generalizada do BIM, a começar pelos grandes projectos públicos

    E isso é um entrave à adopção do BIM? De que forma?

    A meu ver o verdadeiro entrave à adopção do BIM não é só a formação ou o conhecimento que é preciso ter para criar em BIM, tem a ver precisamente com a necessidade de pensar em tudo e esse a necessidade de pensar em tudo, depois, irá gerar uma economia na obra porque vai haver menos desperdício, menos enganos e mais eficiência. E isto é um bocadinho assustador, porque neste momento existe até quem viva dessa ineficiência e depois vemos os custos dos projectos a derraparem. Com o BIM a probabilidade de isso acontecer é muitíssimo mais baixa porque as coisas foram muito mais bem pensadas e porque têm uma correspondência quase em tempo real com as coisas. Imagine, por exemplo, que o projecto BIM na sua componente de orçamentação está ligado à base de dados de custos, em vez de haver uma surpresa no final, o projectista pode, em tempo real, avaliar o custo da obra e o seu impacto e escolher a melhor altura para a executar. Sem me querer alongar naquilo que é a tecnicalidade do uso do BIM, é muito fácil perceber que essa adopção tem vários desafios de ordem política, mas também tem traz desafios do ponto de vista social, da mentalidade e de percebermos que só através da eficiência é que nós vamos para a competitividade e que esta competitividade não pode estar associada só ao preço, antes à qualidade e à eficiência. Falamos muito de escala e do facto das nossas empresas terem de se juntar para ter escala e aproveitar as oportunidades que existem no mercado internacional e isso só vai acontecer se “falarem a mesma língua”, cá está a necessidade de interoperabilidade, da estandardização e a necessidade de ser eficiente.

    Voltamos ao REV@CONSTRUCTION, este é um projecto que vai acelerar esta mudança?

    Não podemos prever o futuro, mas identificámos que um dos principais problemas era a ausência de ferramentas. E foi nisso que o REV@CONSTRUCTION se centrou. Agora, um dos principais drivers para a inovação, e que o Governo vai incentivar, será a descarbonização. E muitas vezes descarbonizar vem pela eficiência, redução do desperdício e promoção da circularidade. Se olharmos os fundos do PRR e a forma como estão a ser gastos e se prevêem gastar, percebemos que a descarbonização será uma grande oportunidade para as empresas apostarem em inovação. Agora, grande parte deste esforço vai ter de vir das próprias empresas e da mudança de mentalidade que tem de acontecer. Não é difícil pensar em retorno de investimento destas soluções, ele acontece muito rapidamente. Há muitos estudos que mostram um tempo para a retorno do investimento na ordem de meses para muitas das tecnologias que estamos aqui a falar. Porque actualmente o gasto e o desperdício são tão grandes que qualquer benefício de produtividade paga a solução. Contudo, é muito difícil para a maioria destas 95% das empresas que referiu dar esse salto de fé.  E voltamos ao início da nossa conversa. Enquanto não tivermos as pessoas capacitadas para reconhecer a diferença, elas não irão perceber o valor daquilo que são as possibilidades que lhe são oferecidas neste momento. E este é o verdadeiro desafio.

    A meu ver, o verdadeiro entrave à adopção do BIM não é só a formação ou o conhecimento que é preciso ter para criar em BIM. Tem a ver precisamente com a necessidade de pensar em tudo e essa necessidade de pensar em tudo, depois, irá gerar uma economia na obra porque vai haver menos desperdício, menos enganos e mais eficiência. E isto é um bocadinho assustador porque, neste momento, existe até quem viva dessa ineficiência

    O BUILT CoLAB nasceu quase em simultâneo com o REV@CONSTRUCTION, irá continuar o seu percurso? O que têm em carteira?

    O BUILT CoLAB só tocou na ponta do iceberg.  Nascemos da iniciativa da Agência Nacional de Inovação para suprir esta necessidade, mesmo antes de sabermos que íamos ser parceiros deste projecto. A ideia de um laboratório colaborativo ou de um centro de investigação para a construção digital surgiu antes e o mecanismo que o financiou tem uma missão que vai além deste projecto.  Temos dois drivers: a digitalização e a sustentabilidade e percebemos neste momento que a sustentabilidade é o maior driver que existe para a digitalização. Porque muito rapidamente vamos passar à fase do “pau”, que acreditamos irá ser muito dolorosa para a maioria do sector da construção, que é um sector com muitas emissões principalmente se falamos na construção tradicional. E grande parte do desafio nos próximos anos será canalizado para a criação de ferramentas obrigam à transformação digital, mas que têm como principal driver a sustentabilidade. Mesmo em termos de orçamento o REV@CONSTRUCTION representa uma fatia muito pequena daquilo que foi o nosso desenvolvimento nos últimos três anos.  O nosso grande projecto foi o de desenvolver outras ferramentas e outras iniciativas, como o plano nacional da circularidade para a construção ou o desenvolvimento de ferramentas transversais que nem sequer estavam no VER e que foram disponibilizadas à indústria. O BUILT CoLAB vai continuar a ser o BUILT CoLAB.

    Em que projectos estão envolvidos?

    Estamos envolvidos na criação de um European Digital Inovation Hub, um projecto que irá arrancar nos próximos meses e que vai ser muito positivo para o sector porque vai permitir que estas pequenas empresas experimentem tecnologia com uma taxa de financiamento muito elevado.  portanto é um esquema de cascate funding em que a Comissão Europeia e o estado português, através do PRR, irão financiar uma parte deste investimento.

    Temos uma agenda mobilizadora em torno da pedra natural e da indústria extractiva e da utilização da pedra natural na construção, através de um projecto inovador no centro do país de criação de um centro de capacitação BIM com recurso a metodologias pouco comuns, mas não posso adiantar mais do que isto, dizer que é uma forma muito original de lidar com os desafios do mundo real e de lidar com coisas engraçadas relacionadas com capacitação imersiva.

    Depois temos outros projectos relacionados com descarbonização que estão neste momento a ser contratualizados com empresas de construção e com outras associações do sector visando desenhar roteiros para a descarbonização que é uma coisa também muito importante

    Temos vários projectos de investigação a decorrer a pedido de empresas, que estamos a desenvolver internamente e que têm como objectivo criar produtos e serviços que depois serão comercializados por essas empresas, enfim o grande desafio agora é conciliar tudo isto numa lógica de recursos humanos finitos…

    Os Produtos, Processos e Serviços do REV@Constrution

    O projecto REV@CONSTRUCTION divide-se em quatro Produtos, Processos e/ou Serviços (PPS). O PPS 1 preocupa-se com os aspectos a montante do processo de digitalização, com os processos normativos, que tem a ver com a criação de plataformas digitais que são uteis para empresas que querem fazer modelação digital. Neste contexto foram desenvolvidas, entre outros instrumentos, a plataforma Digi4Construction e a aplicação BIM4Bridges.

    Os PPS 2 e 3, estão focados nos gémeos digitais que são, no fundo, coração dos objectivos do projecto na área da digitalização. Enquanto o PPS 2 trata dos processos antes da fase do edifício construído, abrangendo a “promoção da digitalização dos processos e actividades de negócio da construção desde a fase de concepção e projecto, até à conclusão e entrega da obra”, o PPS 3 está relacionado com a fase de utilização, a fase de operação do edifício. Funcionará como um “acelerador” do processo de digitalização para os diferentes stakeholders, com particular foco nos donos de obra e nas empresas de facility management

    O 4º PPS tem a ver com outro tipo de obra, nomeadamente a pavimentação e obras de arte. Tendo sido implementados dois Living Labs (demonstradores) que vão concretizar o trabalho desenvolvido nos PPS’s 1, 2 e 3, para validar os sistemas e aplicações desenvolvidos. “Um deles será o BIM4Bridges, no qual se irá efectuar uma demonstração das potencialidades do BIM quando aplicado em obras de arte – para o contexto será realizada a modelação por laser can e fotogrametria de uma obra de arte/infraestrutura já existente. O outro dedicado à digitalização da informação relativa aos pavimentos rodoviários, para validar as aplicações PAV 4.0 (que irá instrumentar e registar informação durante a fase de construção do pavimento) e PAV 4.0 LC (que irá instrumentar e registar informação durante a fase de utilização do pavimento para avaliação da evolução do seu desempenho ao longo do ciclo de vida)”.

    Um último PPS, o 5º, está relacionado com a comunicação e disseminação da informação ao sector.

    Indústria reunida para discutir “a revolução do sector”

     Os resultados do projecto foram apresentados numa conferência final que juntou vários representantes da indústria, como a Teixeira Duarte, a Mota-Engil ou o Grupo Casai.

    A Conferência “A Revolução da Construção Digital em Portugal” que assinalou o final do REV@CONSTRUCTION, o projecto mobilizador para a revolução digital da construção, o primeiro do sector AEC e que juntou um consórcio de 20 empresas e entidades do sistema científico e tecnológico nacional, liderado pela Teixeira Duarte.

    Sílvia Garcia da ANI, no seu discurso de abertura, salientou desde logo a importância que o Programa Mobilizador tem na internacionalização das empresas, com enfoque no sector AEC, e como a criação de novos Produtos, Processos e Serviços (PPS) ajuda a colmatar as lacunas sentidas em termos de competitividade face a outros sectores. Os principais objectivos do projecto são a melhoria da competitividade e o crescimento sustentável do sector da Construção, assim como um alinhamento estratégico com o sector a nível europeu.

    Francisco Reis (BIMMS), João Vaz da Silva (3Maps), João Moutinho (BUILT CoLAB), Joel Oliveira (Universidade do Minho) e Noel Leitão (Teixeira Duarte) foram os principais porta-vozes das equipas de trabalho e mostraram o desenvolvimento de ferramentas que permitem uniformizar e sistematizar as regras para a digitalização na construção, assim como a criação de aplicações que promovem a digitalização dos processos construtivos. O projecto contribuiu para a implementação do conceito de “Digital Twin” – Gémeo Digital, em diversas operações de construção e manutenção de edifícios e infraestruturas, recorrendo a investigação em áreas digitais como realidade aumentada, sensorização, digitalização 3d, ciência de dados, machine learning ou IoT.

    A metodologia BIM foi um dos vários tópicos de discussão no painel de debate moderado por João Moutinho (BUILT CoLAB), que juntou Francisco Reis, da BIMMS, Laura Caldeira, do LNEC, Luís Gomes, da Mota Engil, Rita Moura, da Teixeira Duarte, e Sérgio Laranjeira, do Grupo Casais.

    Discutiu-se também o papel que o Estado tem na implementação de medidas que agilizem o processo de digitalização de forma transversal, sobretudo na obrigatoriedade de submissão de projectos em BIM para sua aprovação.

    Coube a Manuel Maria Teixeira Duarte, presidente do Conselho de Administração da Teixeira Duarte, fechar o encontro  tendo sublinhado que “este projecto mobilizador tem o poder de influenciar toda a cadeia de valor da construção e democratizar o acesso às metodologias digitais numa escala nunca vista no nosso sector”.

     Os parceiros

    Teixeira Duarte (entidade líder); INESC TEC; BIMMS; Grupo Casais; UMinho; LNEC; Infraestruturas de Portugal; Engexpor; Instituto Português da Qualidade; Instituto Superior Técnico; UPorto; A400; Mota-Engil; 3Maps; Instituto Superior de Engenharia de Lisboa; BUILT CoLAB; ACPMR – Cluster Mineral Resources; Instituto da Construção; COBA; AdF.

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    “A arquitectura de um País é tão boa quanto melhor for a sua identidade histórica”

    O arquitecto Frederico Valsassina recebeu a TRAÇO no seu atelier, na Graça, para uma conversa informal, sem rumo predefinido, impelida pela vontade e curiosidade em torno dos vários projectos de reabilitação que lhe passam pelas mãos. E são muitos, já que cerca de 80% do trabalho do atelier são intervenções deste tipo, destinadas a variados usos, de diferentes dimensões e de épocas distintas. E, por vezes, tudo isto num só projecto. Por entre as palavras e as estórias que conta, constatámos o enorme respeito pela história da cidade, o profundo sentido de família e o prazer que a prática da arquitectura lhe dá

    Há 20 anos que cerca de 80% dos projectos que entram no atelier de Frederico Valsassina são projectos de reabilitação. Com eles, aprendeu a amar a história da cidade e, acima de tudo, a fazê-la respeitar nos inúmeros projectos que já lhe passaram pelas mãos. Mas esta é apenas uma parte, ainda que bastante significativa, do seu trabalho. Outra das suas paixões são as Casas, projectos à primeira vista menos complexos, mas que lhe exigem uma relação mais íntima.

    O que tem neste momento o seu atelier em mãos, em especial no domínio da reabilitação?
    Estamos a transformar o antigo quarteirão da Caixa Geral de Depósitos, no Rua do Ouro, que será convertido num hotel, de cinco estrelas, para o Grupo Sana. Estamos também a trabalhar para este grupo hoteleiro, na reconversão do Convento da Graça. Dentro de dias, vai começar a reconstrução do Palacete de Alves Machado, antiga sede da Fundação Oriente, que foi reconhecido como monumento de interesse nacional, e que inclui também os seus jardins. Estamos a terminar a Casa do Lavra, que será um prolongamento do Torel Palace. Estamos também a acabar o Palácio de Mendonça, na Marquês de Fronteira, onde será a sede mundial do Ismaili Imamat e que terá como complemento o Palacete Leitão, cujo concurso para os novos escritórios também foi ganho por nós.

    Está também a trabalhar no quarteirão do Cais do Sodré, que será transformado num hotel…
    E que tem uma história engraçada, porque aquele quarteirão, no princípio do século, era um hotel, onde o Eça de Queirós escreveu ‘Os Maias’ e cuja acção decorre também naquele hotel.

    E isso inspirou-o?
    Não sei. É um projecto com alguma dimensão, carregado de história e, além disso, implicou um trabalho de análise muito criterioso. O edifício sofreu, desde a sua origem até aos dias de hoje, imensas alterações, tanto a nível de fachadas como dos seus usos. Houve um trabalho de marcar as épocas que o edifício viveu. Não se trata só de o colocar como ele era originalmente. A sua história foi também marcada por um incêndio e, ultimamente, era uma babilónia de usos, escritórios, habitação, comércio…enfim, uma confusão. Foi um projecto realmente difícil desse ponto de vista.
    Depois, temos a reabilitação da fábrica Napolitana. Fizemos a reabilitação de um lagar do século passado, no Algarve, e a sua reconversão em turismo de habitação. Vamos entrar em obra no quarteirão da Fontes Pereira de Melo. São três edifícios, também para o Grupo Sana.

    A necessidade de respeitar a arquitectura existente

    Isto é um leque de projectos de diferentes épocas, com programas distintos. O que é comum para o arquitecto que os reabilita?
    Um ponto comum é o respeito integral pela arquitectura existente. É o fundamental. Um projecto é quanto melhor, quanto não se perceber onde está a nossa intervenção. Claro que há edifícios destes muito degradados. Estamos a fazer a reabilitação do Palácio do Conde Barão do Alvito, para um grupo holandês, que tem uma história incrível. Nos anos 90, entrei no concurso jovens arquitectos que a companhia de seguros Lusitânia lançou para escolher a sua sede e o local onde iria albergar a sua colecção de arte. Foi lançado um concurso para dois palácios em que num deles ficaria a sede. Um era este do Conde Barão do Alvito e o outro o Palácio Porto Covo, na Lapa. Acabaram por escolher o segundo. Mais de 30 anos depois, voltei a trabalhar nele e de palácio tinha muito pouco. O antigo proprietário teve imensas dificuldades em aprovar os projectos e o edifício foi-se degradando. Quando começámos o nosso trabalho no palácio, este não era mais que uma ruína. Isto para lhe dizer que estes edifícios têm um tempo para serem reabilitados.

    O que demorou neste caso? Presumo que não estiveram 30 anos à espera de licenciamento…
    Especulação imobiliária. Há muitas pessoas que estão no mercado não para fazer coisas, mas para especular. E esta décalage entre um espaço e outro é terrível.

    Observando o percurso e a história destes edifícios o que é o arquitecto preserva?
    Acho fundamental preservar a identidade e preservar conceptualmente o edifício como foi desenhado na sua origem. Depois, uma criteriosa escolha dos materiais que se identifiquem com a época, mas também que mantenham a contemporaneidade da sua renovação.

    Acresce só depois o programa?
    Acho que sim, e isso depende muito do arquitecto. Hoje, os licenciamentos são sempre normalmente difíceis porque, para além do programa de arquitectura, há também um estudo dos bens arquitectónicos e um estudo de conservação e restauro. Nós, aqui, temos a mania de começar com as sondagens arqueológicas muito cedo, que é para elas não virem a condicionar a obra.

    A escolha da reabilitação

    E, nesse percurso, quem trabalha consigo é esta equipa que aqui está?
    São cerca de 25 pessoas, muitas delas já estão habituadíssimas. Há 20 anos que cerca de 80% dos nossos projectos são reabilitação.

    Isso é uma escolha sua?
    Por acaso não. Gosto, mas é o mercado que define estas coisas. E ainda bem porque Lisboa está a ficar uma cidade impecável. Estamos aqui em Alfama e, há uns anos, olhava e via os telhados todos a cair. Depois, houve uma altura em que só havia gruas e agora vejo tudo isto restaurado. E isso é bom porque eu acho que a arquitectura de um país é tão boa quanto melhor for a sua identidade histórica.

    Faz uma crítica positiva àquilo que vem sendo feito em Lisboa, de uma forma em geral?
    Como tudo. Há coisas que são bem feitas e há coisas que são mal feitas mas, no global, acho que o trabalho que tem sido feito tem sido positivo. Há uma coisa que me preocupa, e que já nos aconteceu, que é o roubo do património arquitectónico do nosso País. Quando começamos a intervencionar um edifício, fazemos os relatórios prévios, os levantamentos e depois começam as sondagens arqueológicas. A partir do momento em que estas começam e a obra está aberta há, insistentemente, roubos de pedras, azulejos… é uma brutalidade, há um mercado paralelo inacreditável e é uma coisa que é difícil de parar mesmo fazendo queixas à policia.
    O interessante disto [reabilitação] é que nós adaptamos estes edifícios a usos completamente díspares do que o foram na sua origem e isto é um desafio acrescido, o de pensar como é que o edifício vai viver com outros usos.

    Algumas destas reabilitações o surpreendeu?
    A fábrica da Napolitana surpreendeu-me imenso pela qualidade original de construção que tem a assinatura da empresa francesa Vieillard & Touzet. É uma construção metálica, com as fachadas forradas a tijolo maciço e tem umas condições estruturais fantásticas. Isso surpreendeu-me imenso. É um requinte de construção, dos pormenores muito idênticos aos edifícios industriais que vemos em Londres ou em Paris.
    Outros projectos que surpreenderam, sobretudo pela sua riqueza de ornamentos, foram o Alves Machado, o Alto Meirim e a Casa do Lavra. Trabalhei com o historiador José Sarmento de Matos, um historiador de Lisboa fantástico, e tenho trabalhado muito com o Galvão Telles. Eles levam-nos a entender o porquê desta riqueza. Eram pessoas que tinham muito dinheiro, proveniente das roças de cacau de São Tomé e Príncipe, com recurso a trabalho quase escravo, e a maneira de eles se apresentarem à sociedade era convidarem o melhor que havia de artistas e arquitectos. Por isso são casas com uma riqueza ímpar.

    Enquanto arquitecto o que é que lhe dá mais gozo fazer: reabilitação ou construção nova, e estou a recordar-me do projecto da Herdade do Freixo, por exemplo?

    Quando são desafios novos divirto-me imenso. Foi o caso também do hospital Cuf Tejo, que era uma área que eu não dominava muito. Tinha feito algumas coisas, mas não daquela dimensão e estudei aquilo a fundo. Um dos grandes atractivos da profissão do arquitecto é que aparecem desafios que são uma oportunidade para estudar assuntos novos, o que me diverte imenso. Foi um programa muito interessante e partiu de um concurso. Às vezes gosto de entrar em concursos, mas já não entro em muitos. Já desenhei outras adegas. Por exemplo, estou a fazer uma outra para o Grupo Libertas, ali no distrito de Setúbal, com o mesmo princípio que a do Freixo, mas não tão enterrada. Outra coisa é que nestes projectos o arquitecto volta à obra, que é onde se decidem muitos dos imprevistos que vão surgindo.
    A luz é uma coisa que me interessa na arquitectura, e na reabilitação surgem-me edifícios muito bem implantados, com um grande respeito pela luminosidade, o que é uma coisa muito interessante.

    Falou há pouco que participa pouco em concursos, o que o leva então a entrar?
    O que me leva a participar é uma pessoa perceber como é que o atelier está a funcionar. Um atelier, para poder entrar num concurso, tem de ter alguma dimensão de trabalho, que é para uns poderem estar a ganhar dinheiro, enquanto outros estão a fazer concursos. Não entro em muitos porque felizmente consigo ter algum trabalho. Tenho o atelier sempre a produzir e não vou parar para um concurso. Só o faço quando o programa me é extraordinariamente apetecível, como foi o caso da Herdade do Freixo. O local era fantástico, apesar de eu achar que é o arquitecto é que faz o sítio e não o contrário, mas era um sítio lindíssimo fiquei logo apaixonado … e eu gosto de vinho (risos).

    Pelo oposto…
    Há outros concursos que não me despertam o mínimo interesse. O facto de a maior parte dos concursos não serem pagos é um abuso. Os jovens arquitectos muitas vezes não podem entrar porque não podem suportar os custos. Uma pessoa escolhe o arquitecto porque gosta da maneira dele trabalhar, porque gosta da sua arquitectura, tem boas referências… mas há outras pessoas que estão indecisas e eu percebo perfeitamente que façam um concurso. Eu gosto imenso de fazer casas. Havia uma pessoa que queria fazer uma casa e não sabia muito bem o que é que queria e convidou cinco arquitectos, pagando-lhes um estudo prévio. Acho lindamente. Na arquitectura, uma pessoa é sempre um eterno insatisfeito, nunca está contente com o trabalho que tem e está sempre aflito a ver se vai ter mais trabalho. Muitos promotores e investidores acham que podem tirar partido da incerteza que é o meio da arquitectura nacional para fazer concursos. Mas só pedem, não oferecem nada. Como costumo dizer “já dei para esse peditório”.

    A paixão pela intimidade

    Gosta de fazer casas?
    Gosto imenso. É uma situação completamente distinta de termos uma encomenda de um fundo, que é uma coisa muito impessoal. Com uma casa é exactamente o contrário. Há uma relação muito íntima com as pessoas, conhecemos a sua maneira de viver, a maneira de estar, como é que se organizam familiarmente, existe uma relação directa e isso é muito interessante. Quanto melhor uma pessoa conhece, melhor projecta.

    Cresceu no meio da arquitectura, os seus filhos crescem no meio da arquitectura, têm hipóteses de fugir a este desígnio?
    Tenho duas filhas e só uma é arquitecta, a Marta. Ela trabalha comigo e tem revolucionado um bocado o atelier com uma maneira de pensar diferente. Na minha família, somos para aí uns 20 e tal arquitectos. O meu avô [Raul Tojal] foi um arquitecto muito importante do modernismo português, eu vivi na Praia das Maçãs, no Bairro dos Arquitectos. Acho que nunca tive dúvidas que era o que queria ser, nunca andei a navegar por outras áreas…

    A Marta seguiu as suas pisadas. Sentiu-lhe esse gosto cedo?
    Acho que é um gosto muito parecido com o meu e eu aconselho-me com ela já há muito tempo. Pergunto se ela gosta, se não gosta, o que é que acha. Ela tem muito jeito para interiores. Quando vejo que o cliente se adapta muito à maneira de viver dela, ela depois é que segue o projecto. Fizemos uma reabilitação de uma casa fantástica, na Rua Garcia da Horta, um palacete antigo, (dizem agora que foi vendido em Lisboa com m2 mais caro), e depois o cliente encomendou-me os interiores todos e foi a Marta que seguiu na obra. Fizemos agora uma recuperação, também de outra casa muito gira, a Quinta Velha, em Sintra, na rampa da Pena e também fizemos os interiores. Quando eu vejo que os clientes querem muito de nós, é a Marta que segue o projecto, porque tem muito bom gosto e há clientes que gostam que o projecto seja todo feito pelo atelier, inclusive o mobiliário.

    Desenhar o mobiliário é algo que faz amiúde?
    Só para projectos nossos. Há clientes, neste tipo de projectos, que nos pedem um apoio directo, que se sentem bem quando o arquitecto se apresenta nas reuniões de obra e que acompanhe e que seja um confidente e isso faz sentido. Às vezes, sinto-me frustrado quando desenho uma casa e depois o interior é feito pelo interior designer. Vou lá ver e depois digo para mim “não foi nada disto que eu pensei” e isso já me aconteceu variadíssimas vezes. Também acontece o oposto. Fizémos uma casa na Rua do Salitre, uma casa engraçada, lixada de se fazer porque era um edifício pequenino, com cinco pisos. Imagine desenvolver uma casa em cinco andares mas muito acolhedora. Foi a Marta que levou esse processo até ao fim. Eu tenho confiança nela e ela desenvolve estes projectos de tal forma que essas casas podiam ser a minha casa. É muito reconfortante entrar numa casa e parecer que é a minha casa. Sinto-me bem. Repare nesta história: desenhei uma casa para uns clientes que não gostam que fale em nomes. Esse terá sido um dos primeiros projectos que fiz com a Marta. A dada altura, o proprietário pediu-nos para fazermos também a decoração dos interiores. No final, fizeram uma festa de inauguração da casa. Às páginas tantas, durante a festa, dei pelos proprietários estarem sentados na sala, a um canto, como se fossem eles os estranhos. Parecia que aquela era a minha casa. Eles depois viveram e gostaram imenso da casa mas, ao princípio, era-lhes estranha porque não a viveram desde o projecto. Quando fazemos os interiores é para pessoas que querem gozar a casa connosco.

    Não há esse envolvimento na reabilitação?
    Fizemos agora uma obra de reabilitação, no Porto, no Largo de São Domingues, na Rua das Flores, um hotel de 20 quartos, que resultou na reconversão de seis edifícios, porque estes são edifícios do século XV e XVI muito estreitos. Foi um projecto complicado, mas que correu bem. O interior foi todo decorado por uns arquitectos holandeses e o resultado não tem nada a ver com o que era viver no Porto e eu digo que o hotel está muito giro mas podia ser em Nova Iorque ou em Washington.

    Fazer reabilitação no Porto e em Lisboa é diferente?
    O Porto teve muito melhores artífices, mas não é tão monumental como Lisboa. É completamente diferente. Em Lisboa, há muito mais história e muito mais épocas num único projecto. Aqui à volta do atelier, na reabilitação que fizémos, descobrimos uma Lisboa pré-histórica, romana, muçulmana, idade média, descobrimentos, renascimento, pombalina… Foram descobertos extractos da cidade e o que devemos fazer é a arquitectura mais inócua, mais simples possível, porque isto está carregado de história. O nosso pavilhão fazia parte do Convento de São Vicente, no tempo dos espanhóis, no século XVI. Depois deu-se o terramoto e a cidade transformou-se

    O seu atelier só podia ter esta localização [Graça]?
    Estou aqui há 25 anos. Eu fiquei com o atelier do meu avô, em casa dele. Vivi lá quando me casei e, depois, usei esse atelier. Cresci e passei para a Avenida de Roma. Tive, depois, uma casa na João XXI que era muito grande, mas aquilo sabia-me a pouco. Este espaço era de um amigo, o Gustavo Brito, que é o dono do Paris:Sete, onde ele tinha o stock off. Um dia, já não sei porquê, vim cá. Ele já não estava interessado no espaço e acabei eu por ficar com ele.

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

    Manuela Sousa Guerreiro

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    Engenharia

    Casais e Surforma vão construir paredes inteligentes de aquecimento

    A solução foi concebida pela The Warming Surfaces Company e será desenvolvida em conjunto por esta empresa finlandesa e pelas portuguesas Casais e Surforma. “Halia” promete revolucionar o aquecimento, da mesma forma como o led revolucionou a iluminação. Os primeiros produtos serão comercializados já em Janeiro de 2024

    The Warming Surfaces Company é uma empresa finlandesa pioneira em tecnologia de aquecimento digital que concebeu Hália, uma tecnologia de superfícies de aquecimento digital ultrafinas que pretende ser uma resposta às crescentes necessidades de soluções de aquecimento mais eficientes em termos de energia, com utilização de menos materiais intensivos. A pressão tem vindo acentuar-se ou não fosse o caso de 63% da energia consumida pelos lares na União Europeia ser usada para aquecer os espaços habitacionais. Estima-se que 35 milhões de edifícios na UE precisam ser reformados até 2030 para serem mais eficientes em termos energéticos.

    “As metas governamentais de eficiência energética em todo o mundo estão a acelerar a transição do sector de construção para um futuro com emissões zero. Existem histórias de sucesso anteriores em economia de energia e material, como a proibição da UE de iluminação ineficiente, que nos primeiros dez anos trouxe economias de até 1.330 € para famílias europeias individuais. Estas decisões recentes abordam o consumo de energia onde as emissões e os custos são mais elevados, nomeadamente o aquecimento. Hoje, os lares europeus consomem mais de 40 vezes mais energia no aquecimento de espaços do que na sua iluminação”, refere Jani-Mikael Kuusisto, CEO e co-fundador da The Warming Surfaces Company. O que a empresa fez foi pegar “no ‘manual’ de iluminação LED para oferecer mais eficiência energética e facilidade de controlo do aquecimento”, compara o responsável. A solução de aquecimento digital concebida pela empresa finlandesa “torna possível aquecer superfícies e móveis internos de forma rápida e fácil, da mesma forma como hoje controlamos a iluminação”, explica.

    Os elementos de aquecimento na tecnologia de superfície de aquecimento digital Halia têm menos de 0,1 milímetros de espessura, o que torna possível integrá-los dentro de materiais de construção, como pisos laminados, portas e paredes, e até mesmo em móveis e têxteis de interior. Estas superfícies de aquecimento passam, assim, a fornecer uma solução para reduzir o consumo de forma significativa, ao mesmo tempo que fornece uma melhor economia de espaço e abre novas possibilidades para o para design de interiores. “Halia abre inúmeras possibilidades para projectar elementos de aquecimento criativos para espaços de convivência e trabalho”, considera a empresa. Já que “o calor radiante é produzido com baixa voltagem e em tempo real quando e onde necessário, e na intensidade desejada de acordo com as necessidades individuais. Esta abordagem de “calor quando e onde necessário” para o aquecimento reduz o consumo de energia e melhora a saúde e o conforto dos habitantes do edifício”.

    Da teoria à realidade com investimento português
    A solução/conceito ganhou recentemente um prémio Inovação naquela que é uma das maiores feiras mundiais de produção de mobiliário e design de interiores, a Interzum, que decorreu em Colónia, Alemanha, e onde também foi apresenta a parceria com a construtora Casais e com a Surforma, do grupo Sonae, que vão desenvolver a utilização desta tecnologia.
    A aplicação da tecnologia nos laminados produzidos pela Surforma, será depois usado na “construção” da parede pelo Grupo Casais, sendo que uma das suas principais características será a pré-fabricação, padronizada, de componentes individuais como painéis de tecto, painéis de fachada, pilares e estruturas. Módulos que, numa fase posterior, serão montados no local da obra. “Usámos o laminado decorativo com a tecnologia Hália e definimos uma composição de parede interior que consegue radiar calor com base em energias renováveis e com uma redução significativa do consumo de electricidade. Usando esta tecnologia em conjunto com o nosso know-how de sistemas construtivos industrializados queremos trabalhar no sentido de levar a todos aquecimento eficiente e de baixo consumo reduzindo a pobreza energética”, explica Cristina Maia, gestora de E-commerce da Casais.

    A mesma responsável sublinha ainda que “a sustentabilidade e a digitalização estão no centro de todos os principais desenvolvimentos do grupo Casais. Edifícios e materiais de construção saudáveis significam pessoas saudáveis. Em linha com estes objectivos, vemos uma vasta gama de utilizações para as superfícies de aquecimento digital Halia. A sua forma, leve e fina, presta-se à utilização em edifícios modelares, elementos interiores não estacionários, bem como a locais de renovação complexos”.

    O primeiro protótipo funcional já existe e o consórcio está a trabalhar em ensaios de industrialização e validação sendo que “o Go to market” é apontado para Janeiro de 2024. Por sua vez, para a produtora de laminados portuguesa do grupo Sonae “a combinação de aquecimento nos nossos produtos é um recurso de valor agregado. Estamos entusiasmados por ver as primeiras reacções dos clientes ao nosso melhor HPL equipado com a tecnologia de aquecimento digital Halia”, refere Miguel Nogueira, director geral da Surforma.

    Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

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