“A industrialização do processo construtivo é realmente uma necessidade e vai ser essencial para garantir uma melhor qualidade das obras”
Na véspera da realização do primeiro congresso promovido pela Associação Portuguesa de Projetistas e Consultores (APPC), o presidente da associação, Jorge Nandin de Carvalho, fala ao CONSTRUIR sobre as expectivas deste encontro que se realizará no Centro Cultural de Belém no próximo dia 21. “Arquitectura e Engenharia: Um sector em mudança acelerada” é o mote do Congresso e procurámos perceber o que esteve por trás da escolha e que mudanças são estas

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O primeiro Congresso da APPC realiza-se no dia 21 de Novembro, no Centro Cultural de Belém, a partir das 09h um encontro presidido pelo antigo ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, e que contará com a participação da ministra da Habitação, Marina Gonçalves, e Inés Ferguson, presidente da European Federation of Engineering Consultancy Associations (EFCA). Em entrevista ao CONSTRUIR, o presidente da APPC, Nandin de Carvalho, antecipa alguns dos pontos fundamentais da discussão e aponta as expectativas para esta iniciativa
Estamos perante o primeiro Congresso promovido pela APPC, uma organização constituída em 1975. Quais são as expectativas para este encontro e, naturalmente, para o formato desta iniciativa?
O evento conta com três temas-chave: ‘A sustentabilidade na construção: oportunidades e desafios’; ‘Impactos das metodologias colaborativas BIM e da industrialização da construção’; e ‘A inovação nos empreendimentos públicos: que mudanças?’
Considerámos que realizar um evento desta dimensão seria um passo importante para criar um espaço próprio de fomento da discussão entre intervenientes interessados e especialistas no assunto, em que será possível falar de forma clara sobre os mais variados assuntos que podem ir desde a escassez de mão de obra qualificada, à prefabricação e até mesmo à legislação, que são variáveis que têm vindo a moldar o sector no contexto nacional.
Temos contado com o interesse crescente de várias pessoas e empresas nossas associadas, mas temos a porta aberta para todas as organizações do sector.
De recordar que esta Direcção se comprometeu a elaborar e aprovar um Plano Estratégico e fazer cumpri-lo. No primeiro ano aprovámos o Plano Estratégico. Este ano estamos a começar a implementar. Já evoluímos na área comunicacional, que foi um dos problemas detectados. Vamos fazer o nosso primeiro congresso no dia 21 de Novembro (consulte o nosso site), estamos a estudar possíveis alterações na infraestrutura e queremos chegar a mais empresas de arquitectura e de tecnologias da construção.
“Arquitectura e Engenharia: Um sector em mudança acelerada” é o mote do Congresso. Que necessidades identificaram para que este fosse o tema a discutir?
Optámos por esse mote com o intuito de aprofundar a discussão sobre os principais desafios enfrentados pelo sector, como a sustentabilidade, a digitalização e a industrialização da construção; nota-se que o nível de preparação das empresas varia consideravelmente, apresentando uma heterogeneidade que está, em parte, relacionada com a área de actuação. As empresas de maior e média dimensão reconhecem que os desafios impostos pela digitalização e sustentabilidade já são uma realidade, sendo essenciais para o próprio desenvolvimento e competitividade empresarial.
Estas organizações reconhecem a inevitabilidade da futura procura pela certificação ESG (Environment, Social e Governance) e compreendem a necessidade de incluir nos seus relatórios anuais descrições das evoluções e contribuições da empresa no âmbito da sustentabilidade e desenvolvimento social. Isso ultrapassa os tradicionais tópicos económico-financeiros, reflectindo uma crescente importância atribuída a questões socioambientais. No entanto, nas empresas de menor dimensão e de natureza familiar, a adopção da digitalização é ajustada de acordo com as exigências específicas do negócio, enquanto a orientação para a sustentabilidade está intimamente ligada à postura do líder em relação a estas questões. A digitalização nessas organizações avança conforme as necessidades operacionais, e a atitude em relação à sustentabilidade é moldada pela perspectiva do líder sobre esses temas.
Neste processo de transformação em curso, na forma como se trabalha e na própria orgânica das empresas, que papel cabe a organizações como a APPC?
A APPC integra a EFCA que é a Federação Europeia das associações de empresas de engenharia dos diferentes países. Dentro desta organização existem fóruns que envolvem as melhores empresas europeias do sector e que se dedicam ao estudo de problemas de mercado, por exemplo as ameaças que enfrenta o sector, as condições de contratação pública no mercado interno europeu e a cooperação externa europeia. Estes temas são transversais na Europa e estarmos presentes nestes fóruns permite-nos estarmos actualizados e transmitir aos nossos associados e clientes as melhores práticas europeias.
Procuramos assim transmitir o que melhor se sabe e discute acerca de novas tecnologias, como a utilização do BIM e da AI, sobre como influencia na nossa forma de conceber e projectar, das alterações climáticas, da sustentabilidade, em geral, e da circularidade dos materiais da construção, em particular; ou ainda, por exemplo, sobre a problemática da industrialização e a necessidade de formas de contratação mais colaborativas. Internamente a nossa actividade é bastante diversificada, mas com maior intervenção no mercado público, por força dos problemas que nos traz o Código dos Contratos Públicos os quais, como lei geral que é o CCP, por vezes trespassam para o sector privado. A discussão dos problemas técnico-comerciais dos nossos associados é debatida quinzenalmente na nossa Direcção, constituída por sete membros oriundos de empresas de diferentes especialidades e áreas geográficas, onde se incluem engenheiros e arquitectos.
Temos dois Grupos de Trabalho actualmente operacionais, um dedicado à elaboração de Estudos e Projectos e outro à Gestão de Empreendimentos e Fiscalização de Obras. Como resultado de tudo isto procuramos intervir junto dos clientes públicos, do IMPIC e da sociedade em geral no sentido de defender os nossos interesses e prestigiar a nossa actividade, pois embora seja dela que emanem os primeiros passos, por isso os mais críticos, de uma construção, é muitas vezes maltratada.
A APPC zela pela melhoria do ambiente de negócios para as empresas do sector que representa, nos diferentes aspectos presentes na actividade e gestão das empresas.
Sem necessariamente antecipar o que será apresentado, Inés Ferguson, a sua congénere europeia, virá dissertar sobre “as tendências futuras de consultoria de engenharia”. Que tendências são estas? Que caminho têm / devem as empresas portuguesas percorrer para acompanhar estas tendências?
Realmente não me queria antecipar muito, mas este mundo em mudança acelerada, com a inteligência artificial aí em força, combinada com computação quântica, irá revolucionar o modo como trabalhamos. As empresas portuguesas terão de se adaptar a este novo paradigma e ter capacidades dinâmicas que permitam adquirir uma vantagem competitiva.
Isto obriga a desenvolver essas capacidades para fomentar as mudanças culturais nas áreas de marketing, investigação e desenvolvimento e inovação organizacional o que implica um dispêndio de recursos financeiros, por natureza sempre escassos, e recursos humanos especializados, que como se sabe também escasseiam, particularmente em Portugal, onde os salários são muito baixos e os melhores talentos escolhem países mais desenvolvidos. Por estarmos nesta área de negócio as nossas empresas são das primeiras a sentir esta disrupção. Por isso mesmo precisamos que o Estado dê um exemplo de exigência e comece a escolher os seus Projetistas e consultores, pela qualidade, capacidade de inovação e de utilização de tecnologias avançadas e não como até aqui, pelo mais baixo preço.
Há, hoje em dia, fortes indicadores sobre a necessidade de se repensar, com mais rigor, sobre a industrialização do processo construtivo. O que é expectável que aconteça nos próximos anos na fileira da construção, na forma como se projecta, na forma como se lançam concursos ou se avalia propostas?
A industrialização do processo construtivo é realmente uma necessidade e vai ser essencial para garantir uma melhor qualidade das obras e maior sustentabilidade. Embora seja um modelo já existente há muito, na verdade os passos dados pela indústria da construção no sentido da qualidade têm sido muito ténues e julgo que, com a evolução digital e a necessidade absoluta de diminuirmos a pegada carbónica da construção, responsável por 45% da pegada total do planeta, será desta que a industrialização definitivamente avançará.
Isto vai implicar para nós, Projectistas, grandes alterações na forma de projectar, pois tendencialmente assistir-se-á a que sejam os industriais da construção a adaptar o projecto aos seus produtos. Se no mercado privado podemos, de acordo com o Dono da Obra ou Promotor, incorporar marcas industriais no nosso projecto de execução – que a partir de agora não serão apenas marcas de materiais, mas sim de blocos/componentes/sistemas integrados da construção (por exemplo casas de banho) – no mercado público isso não é possível. Para ultrapassar este problema há três hipóteses: enveredar pela via da concepção/construção que o nosso CCP já admite, de forma temporária; aceitar variantes ao projecto de execução, o que tem sido raro ou lançar obras públicas com base em anteprojectos, que posteriormente serão completados em projecto de execução com os sistemas industriais que o construtor considerar. As duas primeiras hipóteses, podem ter algumas vantagens, mas envolvem dispêndios de energia inúteis, obrigam no primeiro caso a que os concorrentes façam vários estudos e propostas para a mesma obra e no segundo caso, que o projectista despenda energias a elaborar um projecto de execução que posteriormente será alterado pelo industrial ou que, na fase de concurso, haja vários concorrentes a apresentar variantes diferentes.
Por isso penso que aos poucos e poucos vamos ter que adoptar a terceira hipótese- lançar obras públicas tendo por base anteprojectos- o que actualmente não é permitido pelo CCP- o que nos levará a um sistema similar ao Franco-Belga, com alterações também ao nível do controlo das obras. Se isto acontecer haverá uma revolução completa no sistema de contratação pública.
Olhando para a realidade nacional, por onde passa o futuro de projectistas e consultores?
A evolução vertiginosa da inteligência artificial vai tornar-nos aos poucos adaptadores, revisores e correctores de projectos por ela pré-realizados ou pré-definidos. Estes projectos vão seguir já modelos potentes de sustentabilidade durante todo o ciclo de vida do objecto construído e tender cada vez mais para a aplicação da circularidade. O nosso papel será seleccionar esses projectos à medida do nosso cliente e deveremos adaptá-los à funcionalidade desejada e às condições locais. À primeira vista o nosso trabalho poderá diminuir, mas por isso mesmo faremos mais no mesmo tempo, tornaremos muito mais eficiente o parque construído e se tudo isto resultar num aumento de qualidade e rigor dos projectos, também vamos melhorar o controlo das obras, as derrapagens, enfim, contribuiremos sempre para um Mundo mais sustentável.
A inscrição para este encontro pode ser feita através deste Formulário de Inscrição (google.com)