Edição digital
Assine já
    PUB
    Opinião

    Criatividade à deriva

    A criatividade não se força… é qualquer coisa que se aguarda… como abrir uma janela e esperar que ela apareça quando forçada consegue ser destrutiva

    Opinião

    Criatividade à deriva

    A criatividade não se força… é qualquer coisa que se aguarda… como abrir uma janela e esperar que ela apareça quando forçada consegue ser destrutiva

    João Cortes
    Sobre o autor
    João Cortes

    Imaginemos um universo infinito composto por galáxias, sistemas planetários e objectos até à micro escala em levitação agrupados pela gravidade num movimento sem fim

    A viagem nasce da decisão de avançar e vencer a gravidade inicial rumo ao desconhecido para depois deixar-se levar pela infinitude de gravidades numa exploração contínua

    A inquietude e o gosto pela descoberta são a primeira ignição – benditas as almas inquietas

    cada lugar de chegada sempre novo ponto de partida

    o comodismo e o gosto pelo quentinho matam

    O desconhecido mete sempre algum pouco ou nenhum medo

    o medo da derrota é o principal inimigo….

    O (bom) medo tem a virtude de provocar alguma adrenalina

    Adoro as pessoas que têm algum medo no passo para o mergulho….

    a coragem não tem a ver com a ausência do medo

    A capacidade de enfrentar o desconhecido da travessia e a desinformação sobre o local de chegada a sobrevivência no caos e a seguir outro caos é uma boa escola

    Imaginemos agora uma alma mais ou menos cândida mas curiosa interessada atenta com sentido crítico e apenas adormecida… quando dorme

    Esta alma alimenta-se a toda a hora daquilo que toca vê saboreia cheira e ouve só uma alma experimentadora é que consegue ganhar experiência já não sei quem é que dizia que cultura é aquilo que fica depois de se esquecer aquilo que se aprendeu

    Acrescento que experiência é aquilo que fica depois de se esquecer o que se experimentou

    Saber apreciar abre novas janelas

    A criatividade não se força… é qualquer coisa que se aguarda… como abrir uma janela e esperar que ela apareça quando forçada consegue ser destrutiva

    Mas a experiência essa sim deve ser forçada todos os dias a toda a hora com tudo e com toda a gente a experiência é ‘madre’ da criatividade

    A experiência torna-se inócua… desculpem: tóxica! Se não existir sentido crítico, curiosidade, gosto de querer saber e gosto de querer fazer e muito importante: se não forem estimulados os 5 sentidos

    O contágio com a matéria – mediado pelos sentidos e experiências anteriores –  fundamenta a vocação e a formação do arquitecto na medida em que  todo o seu trabalho intelectual futuro terá por missão a elaboração de formulações que visam reconstruir matéria de acordo com uma função um contexto e um objectivo muito concretos. O urbanista apenas trabalha a uma escala maior e quando assim não é – quando o poder de abstração descola do cheiro da matéria – não vai conseguir humanizar a cidade

    Estava a escola Bauhaus certíssima ao basear a formação dos arquitectos na estreita ligação entre as várias artes e ofícios promovendo o contacto e a experiência em primeiro lugar, levando esta estratégia ao extremo do adiar o estudo da História para fases posteriores para não influenciar/condicionar no início a capacidade e a disponibilidade para entender a crueza da matéria

    Esta ‘fome´ de ligação à matéria através das mais diversas formas como sejam o desenho, a escultura e todas as artes e ofícios é um tópico tipicamente mais associado ao estímulo da criatividade no território da arquitectura e das artes mas apenas porque – aqui – existe justificadamente uma expectativa com carácter de exigência sobre a criatividade, mas o poder da criatividade em termos genéricos não deve ser nem é exclusivo das artes…. aplica-se a todas as acções humanas na medida em que no limite é um alargador de horizontes de círculos e de poliedros em que está desenhado o nosso cérebro

    A importância da co-criatividade. Na realidade se a criatividade nasce de uma provocação em que o criador convoca uma infinitude de estímulos externos – a experiência – porque não convocar também para o acto criativo outros além de nós? Não é esta uma fórmula inteligente de aumentar o espectro de estímulos que estão na génese de um acto criativo?

    Um líder que desaproveita esta dádiva tem outros assuntos noutros departamentos por resolver

     

    NOTA: O autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico

    Sobre o autorJoão Cortes

    João Cortes

    Partner do Grupo Openbook
    Mais artigos
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB
    PUB

    Navegue

    Sobre nós

    Grupo Workmedia

    Mantenha-se informado

    ©2021 CONSTRUIR. Todos os direitos reservados.