O exercício da Engenharia e o desafio dos novos Tempos
Estamos, pois, num paradigma de exigência que nunca se tinha deparado a uma classe profissional, como aquela com que se deparam, atualmente, os Engenheiros. Logo, nunca, como agora foi tão importante entender o conceito de engenharia

José Manuel Sousa
Engenheiro civil; vice-presidente da Ordem dos Engenheiros Técnicos, professor adjunto do departamento de Engenharia Civil, do Instituto Superior de Engenharia do Porto
O tema que vos trago é premente e está subjacente a inúmeros raciocínios e reflexões que surgem na maior parte das discussões, acerca da atualidade da intervenção e do papel da engenharia portuguesa, face aos atuais paradigmas do desenvolvimento tecnológico, ambiental, social e económico.
Efetivamente, este tetraedro de conceitos assenta nos princípios do desenvolvimento atual e tem subjacentes os ODS – Objetivos do desenvolvimento Sustentável – promovidos pela Nações Unidas.
Este tema, já amplamente discutido, faz alguns anos, tem suscitado um misto de fascínio, incredibilidade e noção de futurismo. Talvez pela singeleza dos princípios de base e por contrariar o hábito, atualmente instituído, de que tudo o que tem valor tem de ser complexo e só destinado a uma elite restrita de intelectuais, que estão na posse do saber de cada uma das áreas.
Em abono da verdade e pela primeira vez nos últimos anos, estamos a falar da aplicação de conceitos simples, do senso comum, emanados de princípios ancestrais e que dependem da gestão integrada de uma série de conceitos, mais do que de uma descoberta científica, em uma qualquer área específica do conhecimento.
Posto o atrás descrito e a necessidade de conhecimento técnico e científico, subjacente a tornar viável e exequível o que pode parecer extraordinariamente complexo, entroncamos no conhecimento necessário para racionalizar e materializar os conceitos, considerando tudo aquilo que são os princípios enunciados, conjugando formação, experiência e história do trabalho já realizado e a visão rumo ao futuro.
Estes profissionais deverão ser profissionais de formação técnica e científica eclética, baseada nos princípios gerais e aplicados da sua área científica, de forte componente ética e deontológica, mas também de uma visão das necessidades da sociedade e das populações a quem se destina o produto da sua atividade.
Estamos, pois, num paradigma de exigência que nunca se tinha deparado a uma classe profissional, como aquela com que se deparam, atualmente, os Engenheiros.
Logo, nunca, como agora foi tão importante entender o conceito de engenharia.
Entenda-se que Engenharia é a aplicação do conhecimento científico, económico, ambiental, social e prático, com o intuito de planear, projetar, construir, manter e melhorar estruturas, máquinas, equipamentos, sistemas, materiais e processos.
Estes profissionais são quem, preferencialmente, gere processos de criação, aperfeiçoamento e integração, tornando a engenharia como a área de saber que conjuga os vários conhecimentos especializados no sentido de viabilizar as utilities, tendo em conta a sociedade, a técnica, a economia e o meio ambiente.
Temos a noção do gigantesco desafio que sobre estes profissionais recai, hoje mais do que nunca.
Estamos por isso, na OET – Ordem dos Engenheiros Técnicos, empenhados em perceber e contextualizar o que são as necessidades geradas pelas solicitações cima mencionadas e transmiti-las às entidades formadoras de engenheiros em Portugal, por forma a que se possa dar cabal resposta aos desafios da atividade profissional dos futuros engenheiros. Neste contexto entendemos como igualmente importante sensibilizar os atuais profissionais para as novas realidades e desafios, que constituem por outro lado, oportunidades de evolução, realização e sucesso.
Estamos firmemente convictos de que a formação dos engenheiros, em Portugal, foi sempre de uma qualidade, que permite aos atuais profissionais possuírem a formação necessária para que possam responder a novas formas de equacionar velhos problemas e poder, através da experiência e do saber fazer, potenciar a necessária proficiência para fazer face aos desafios supracitados.
Por outro lado, estamos atentos e sensíveis aos novos desafios de outras tantas especialidades geradas pela inovação, novas exigências da sociedade e pela importância crescente de tantas áreas científicas de aplicação destes novos conceitos.
Para a concretização deste desiderato, pensamos ser essencial gerir estas novas áreas como especificas, criando massa critica de evolução e afirmação dos nossos profissionais, tendo sido levados a propor a criação de novos colégios de especialidade, no sentido de, de uma forma dinâmica, moderna e inovadora, podermos contribuir com especialização em áreas de solicitação crescente de atuação.
Estes novos colégios serão os das especialidades de Engenharia de Materiais, Engenharia de Biomedicina e de Biotecnologia, Engenharia Aplicada e da Inovação, Engenharia da Produção e da Qualidade e Engenharia Física e Tecnológica.
Confiamos nos atuais e futuros profissionais de engenharia para que continuem a ser a força da inovação, aumento de valor acrescentado e melhoria da qualidade de vida em Portugal.
NOTA: O autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico
