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    Opinião

    Residências, uma nova forma de habitar

    “Este processo quase industrial, é novo em Portugal, mas muito maduro no norte da Europa e nos Estados Unidos. (…) onde a criação de metodologias de intervenção e leva-nos a explorar conceitos de construção inovadores, como o off site ou a construção modular, que germinam, naturalmente neste novo universo e nestas novas tipologias”

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    Residências, uma nova forma de habitar

    “Este processo quase industrial, é novo em Portugal, mas muito maduro no norte da Europa e nos Estados Unidos. (…) onde a criação de metodologias de intervenção e leva-nos a explorar conceitos de construção inovadores, como o off site ou a construção modular, que germinam, naturalmente neste novo universo e nestas novas tipologias”

    Sobre o autor
    Pedro Silva Lopes

    Esta forma de habitar, uma bissetriz entre a casa e o hotel tem começado a ganhar espaço no nosso país nos últimos anos. Esta expansão, fruto da evolução e maturação do mercado imobiliário e que se deve também ao aumento da população estudantil expatriada, tem-se tornado num dos terrenos mais férteis para a exploração de conceitos inovadores, quer do ponto de vista construtivo, quer do ponto de vista social.

    À escassez e aumento do preço das tipologias de habitação que durante vários anos dominaram o universo de alojamento estudantil – os quartos ou apartamentos partilhados – soma-se um novo grau de exigência. Os estudantes internacionais, que hoje perfazem cerca de 15% da população universitária, importaram um novo olhar sobre esta visão tradicional de alojamento, valorizando espaços que sirvam para mais do que dormir, que ofereçam um sentimento de comunidade e de pertença, potenciadores da experiência e vivência do aluno.

    Este processo quase industrial, é novo em Portugal, mas muito maduro no norte da Europa e nos Estados Unidos, onde as residências públicas e privadas são a norma e a habitação dos estudantes faz parte do planeamento espacial da universidade. Em Portugal, estes equipamentos vão surgindo essencialmente dentro do espaço urbano, em comunhão com os restantes usos da cidade e fazendo parte da malha desta, por vezes incorporando uma série de valências adjacentes que podem e devem ser partilhadas pela população local. O objetivo não é isolar os estudantes do bairro ou cidade que habitam, mas sim criar uma pequena comunidade que simultaneamente os protege e integra, num processo estratégico de integração e partilha desta nova forma de habitar com os usos tradicionais.

    Esta partilha pode até tornar-se elemento de atração urbana, funcionando como elemento diferenciador do desenho urbano e não como afterthought.

    Como arquiteto, este novo exercício de projetar revela-se um desafio singular, não só pelo contexto urbano, a que nos referimos, mas também pela complexidade de transformação de um produto habitável que integra vários pressupostos e intervenientes:

    Numa primeira fase, o investidor financeiro, que procura um produto de rentabilidade garantida na sua exploração e valorização do ativo; em seguida, surge o operador, muitas vezes estrangeiro e experimentado em várias operações congéneres, com cadernos de encargos precisos e detalhados; paralelamente, a Câmara Municipal, que tem interesse em aproveitar estas operações como agregadoras dos centros urbanos e, ao mesmo tempo, catalisadoras de resolução de alguns temas urbanísticos da cidade. Estes, em virtude da necessidade de implementação de planos de pormenor, unidades de execução e loteamentos, importantíssimos na clarificação do planeamento e do espaço público, podem introduzir níveis de complexidade urbanística que adicionam ao parâmetro do tempo níveis de stress assinaláveis; e, por último, a obra, e o peso inegável do aumento do preço de construção que vem influenciar o desenho, e é uma variável fundamental da equação da rentabilidade do ativo e do to go or not to go da operação. Esta variável veio incorporar a necessidade de monotorização constante do processo, alinhando vontades e otimizando soluções, sem nunca perder de vista a Arquitetura e o património construído que deverá deixar o seu testemunho e ser alvo de escrutínio publico.

    Este processo diplomático de “assinatura de tratado” entre os diferentes intervenientes tem a grande virtude de colocar a trabalhar em equipa todas estas diferentes vontades. Este é um processo que nos realiza enquanto arquitetos e que também nos obriga pensar out of the box e a fazer o exercício de repensar a forma de construir.

    Todo este processo ancora a criação de metodologias de intervenção e leva-nos a explorar conceitos de construção inovadores, como o off site ou a construção modular, que germinam, naturalmente neste novo universo e nestas novas tipologias. Este processo de repensar o ato de construir e pôr isso a montante de projetar é um comboio em andamento que terá poucas paragens. As residências de estudantes, para além de terem a virtude de tocar em todos estes pontos e de influenciarem a vida quotidiana das pessoas, são verdadeiros laboratórios de experiências e conceitos, de novas metodologias construtivas e de projeto… e são, como tal, muito bem-vindas!

    NOTA: O autor escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico

    Sobre o autorPedro Silva Lopes

    Pedro Silva Lopes

    Arquitecto, atelier Fragmentos
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