Valorização da matéria-prima e da pedra natural portuguesa será a tendência de futuro do sector
“Atualmente, vivemos uma nova mudança de paradigma relativamente à utilização da pedra, pois já não basta o uso direto de outra tecnologia. O trabalho da pedra foca-se na perspetiva ornamental ou dimensional, na perspetiva da seleção ou da sua conjugação com outros elementos e outros materiais”

Celia Marques
Vice-Presidente Executiva da Associação Portuguesa da Indústria dos Recursos Minerais (Assimagra)
É notório o percurso extraordinário do setor da Pedra Natural português nos últimos anos, principalmente na última década, desde o ponto de vista da inovação nos seus produtos e aplicações ao posicionamento internacional em projetos de alto valor acrescentado. A diversidade e qualidade da pedra portuguesa, o saber-fazer da nossa indústria maioritariamente de base familiar, associados a uma tecnologia altamente avançada e uma forte cultura relacional e comercial dos seus empresários, são parte substancial dos fatores que colocam Portugal no TOP 7 Mundial. Em 2021, tivemos um desempenho record nas exportações com 435 milhões de euros, com uma relevância acrescida no Produto Interno pela baixa incorporação de matéria-prima importada.
Trata-se de uma indústria que tem vindo a evoluir na sua perspetiva sobre como trabalhar a pedra, passando de uma abordagem simplista do processamento, para uma situação em que tudo passa pela customização e personalização do processo. Esta modernização da indústria ocorre graças ao investimento e investigação profunda na lógica daquilo que são as capacidades tecnológicas de trabalhar a pedra.
A tendência de futuro do setor será de valorização da matéria-prima através da transformação e a continuidade na especialização em obras por medida, totalmente personalizadas e para produtos e projetos altamente complexos, e que valorizem cada vez mais a Pedra Natural Portuguesa.
O saber fazer português passou a ter a capacidade de inovar e fazer o que antes não era possível. No entanto, essa primeira fase de investigação trouxe principalmente a tecnologia já existente em outros setores para adequá-la à indústria da pedra. Atualmente, vivemos uma nova mudança de paradigma relativamente à utilização da pedra, pois já não basta o uso direto de outra tecnologia. O trabalho da pedra foca-se na perspetiva ornamental ou dimensional, na perspetiva da seleção ou da sua conjugação com outros elementos e outros materiais, muitas vezes dando-lhe uma utilização técnica diferente, conferindo o seu cariz inovador nos mercados.
O trabalho nos últimos anos em desenvolvimento de produto tem possibilitado demonstrar um conjunto de eficiências, cada vez mais, aplicadas em novas soluções competitivas e novos produtos, valorizando também a pedra pelas suas características físicas e mecânicas e não só como componente decorativa. É o caso da sua utilização em fachadas de edifícios ou em peças de mobiliário “eficientes”.
Contudo, existem muitos desafios a ultrapassar que passam acima de tudo por um trabalho colaborativo em diferentes áreas, envolvendo associações, entidades de ID, empresas, gabinetes de arquitetura e design, entre outros intervenientes no setor, transferindo-se conhecimento e sinergias entre todos, e em diversas áreas, para efetivamente se contribuir para a valorização e posicionamento internacional da pedra natural e desta indústria.
Contudo, os desafios atuais são ainda mais exigentes. Embora a pedra natural possa apresentar um comportamento diferenciado dependendo do local onde é aplicada, e possa competir diretamente com materiais que imitam todos os dias as suas tonalidades e texturas, com resistências controladas durante o processo de fabrico, temos presente no setor o desafio de apostarmos todos os dias em novas formas de comunicar tecnicamente com o prescritor e consumidor final sobre o comportamento da pedra e a sua manutenção, como veículo para gerar confiança na escolha por este material, valorizando o original e a sua indústria.
Os altíssimos custos de contexto decorrentes das crises energética, logística e de mão-de-obra são efetivamente os maiores fatores de bloqueio ao desenvolvimento e à competitividade das empresas deste setor. Como tal, é essencial que da parte da indústria exista o comprometimento de melhorar a sua eficiência energética, caminhando para modelos de negócio inovadores e sustentáveis que permitam minimizar os custos de contexto.
Por outro lado, sendo este um setor que depende do território no acesso às suas matérias-primas, temos o desafio de continuar a evoluir para uma gestão mais eficiente dos recursos e do território, e privilegiar-se o desenvolvimento de produtos que valorizem a pedra natural, capaz de fazer face aos desafios da sustentabilidade.
NOTA: A autora escreve segundo o Novo Acordo Ortográfico
