Traço do Mob em blog
Pedro Cristino Como e quando surgiu o atelier? TMS – O atelier surgiu formalmente em 2005. Contudo, resulta de um trabalho continuado ao longo de quatro anos entre os quatro sócios que fundaram a empresa. Entretanto, dois dos sócios optaram por fazer outras coisas e fiquei só eu e a Andreia Salavessa como sócios e… Continue reading Traço do Mob em blog
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Pedro Cristino
Como e quando surgiu o atelier?
TMS – O atelier surgiu formalmente em 2005. Contudo, resulta de um trabalho continuado ao longo de quatro anos entre os quatro sócios que fundaram a empresa. Entretanto, dois dos sócios optaram por fazer outras coisas e fiquei só eu e a Andreia Salavessa como sócios e mais três colaboradores permanentes. Tentamos também associar-nos a outras áreas do saber.
Vocês são uma equipa de arquitectos relativamente jovem, aparentemente os arquitectos jovens portugueses já começam a ganhar uma certa notoriedade…
TMS – Estivemos numa conferência em que se levantou a questão do porquê de serem sempre os jovens arquitectos a ganharem os concursos públicos. Uma das razões é demográfica, ou seja, a maioria dos arquitectos são jovens. Julgo que 80% terá menos de 40 anos.
Porque optaram por ter a vossa página de internet em formato de blog?
TMS – O blog permite-nos uma divulgação muito maior e mais rápida do atelier – colocamos lá comunicados de imprensa que são rapidamente acedidos por outros sites internacionais, sobre concursos que ganhamos, por exemplo – e, por outro lado também nos permite fazer outra coisa que também é muito importante para nós e que consiste em divulgar outros jovens ateliers que vão surgindo. É importante para nós na medida em que também somos jovens e temos tudo a ganhar que outros arquitectos também se comecem a distinguir para se começar a perceber que os jovens arquitectos também têm qualidade e que é importante não se menosprezar.
Quando elabora um projecto, quais aqueles aspectos em que se foca mais?
TMS – Em primeiro lugar, preocupo-me em não ter uma linguagem tipificada, ou seja, se houver uma raiz comum, partirá não só de uma metodologia como também de uma abordagem do programa. Tentamos, numa primeira fase, perceber o programa de uma forma muito clara. Por isso insistimos muito em ter reuniões com os nossos clientes para tentar perceber, de facto, o que se quer.
O site italiano New Italian Blood colocou-os na lista dos dez melhores arquitectos portugueses com menos de 40 anos. O que significa isto para vocês?
TMS – Para já, percebemos que temos maior capacidade de difusão lá fora do que aqui no país, porque cá dentro a divulgação dos ateliers de arquitectura está muito associada à crítica de arquitectura, o que é algo estranhíssimo. Esta crítica distingue e promove um conjunto de ateliers, normalmente os que já estão implantados no terreno, enquanto que lá fora, é feito um diagnóstico, através de revistas, por exemplo, como está a prática profissional dos países europeus.
Para além do concurso para o tribunal em Paris, pretendem continuar o vosso processo de internacionalização?
TMS – Para além desse concurso, estávamos também a participar, em paralelo, no concurso referente à biblioteca de Estocolmo. Demos assim um passo grande num contexto que vamos seguir a partir do próximo ano. Neste momento temos um conjunto de parcerias e contactos dos quais podem surgir resultados. Fizemos uma parceria com a Massimiliano Fuksas para participar no concurso para o Centro de Congressos do Algarve que não deu em nada. Estamos também em negociação com um outro atelier no âmbito de criarmos períodos de formação de pessoas que estão aqui no atelier. Gostamos de proporcionar este tipo de formação aos nossos colaboradores. Todos nós já trabalhámos ou estudámos fora de Portugal, o que nos permitiu criar uma rede de contactos e temos também, lá fora, gente que pretende trabalhar connosco.
Como vê a arquitectura que é feita em Portugal?
TMS – Penso que está a melhorar. Julgo que a maioria da encomenda já é feita a arquitectos. Contudo, o arquitecto vê-se, muitas vezes, completamente amputado no que toca à sua capacidade de intervenção na obra. Por isso recusamo-nos a fazer um projecto sem acompanhar a obra. Isso dá-nos uma base concorrencial difícil. O problema é que, no caso do urbanismo, quem decide é muito desqualificado porque normalmente é gente dos aparelhos partidários e escolhe somente quem conhece para executar os projectos. No caso dos concursos de obras, por exemplo, os promotores estão cada vez mais interessados em fazê-los por prévia qualificação ou convites porque preferem seleccionar mediante a equipa projectista e não a qualidade objectiva do projecto. Por outro lado, a arquitectura neste país ainda é mal paga. É difícil manter estruturas empresariais como a nossa, que pagam a todos os seus funcionários, com segurança social. Os jovens arquitectos hoje trabalham em sub-condições, com um regime precário. Isto cria não só o problema da precaridade das pessoas, como também da concorrência desleal.
Mas acha que a arquitectura portuguesa possui qualidade?
TMS – Internacionalmente existe uma idolatração da arquitectura portuguesa, de personagens como o Carrilho, o Siza ou o Souto Moura e tudo o que vem da nossa arquitectura. Os arquitectos portugueses que trabalham lá fora também são muito bem vistos. Por exemplo, eu lembro-me de que, há uns tempos, nos OMA, do Rem Koolhaas, existiam mais arquitectos portugueses do que holandeses no atelier de Roterdão.
E, na sua opinião, qual é a imagem que os portugueses têm do arquitecto?
TMS – Há uma falta de noção, por parte das pessoas, de que o arquitecto pode resolver os seus problemas. Para o senso comum, o arquitecto cria problemas, não os resolve e a culpa é de todos os agentes. Nós, em primeiro lugar, não queremos fazer só arquitectura para as pessoas que podem pagar e queremos ir para o terreno, para os bairros mais problemáticos, pondo o nosso know-how e a nossa técnica ao serviço das pessoas. É necessário haver uma promoção pública que não existe.
Em relação à revogação do decreto 73/73, acha que vai melhorar o estado da arquitectura nacional?
TMS – Acho que existe uma deformação técnica na leitura do decreto, na medida em que, na primeira versão do regulamento dizia que todos os espaços exteriores teriam de ter, como coordenador de projecto, um paisagista, algo que, aplicado às praças urbanas não faz sentido. Por outro lado, defendo a questão da responsabilização do arquitecto e a existência de um código técnico de edificação que pudesse congregar toda a legislação periférica que existe, espalhada por todos os lados. No caso da responsabilização, defendo que tem de haver uma garantia que o técnico estará relacionado com o dono de obra durante alguns anos, para ver se está tudo a correr bem. Isso faz com que, o técnico, ao assinar um projecto, tenha de o acompanhar até ao fim. Assim, passarão a ser só os arquitectos a assinar as telas finais, que hoje também podem ser assinadas pelo dono de obra e terá de haver a obrigatoriedade da existência de um projecto de execução. n