Governo equaciona quarta travessia sobre o Tejo
O corredor entre Algés e Trafaria parece ser a solução mais consensual para a construção da quarta passagem sobre o Tejo, de forma a contribuir para a cada vez mais […]

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O corredor entre Algés e Trafaria parece ser a solução mais consensual para a construção da quarta passagem sobre o Tejo, de forma a contribuir para a cada vez mais "gasta"Ponte 25 de Abril. A discussão começa a ganhar contornos, numa altura em que ainda falta definir a localização da terceira travessia
Numa altura em que a localização da Terceira Travessia sobre o Tejo está na ordem do dia, esperando-se que até meados do próximo mês de Março seja conhecida a decisão do Governo quanto à sua construção, especialistas olham com cada vez maior atenção para a necessidade de uma quarta travessia rodoviária, e neste particular para a hipótese do corredor Algés – Trafaria, ideia que consta nos estudos desenvolvidos pela Confederação da Indústria Portuguesa (CIP). No final do seminário organizado pela Ordem dos Engenheiros, subordinado precisamente à "Nova Travessia do Tejo", a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, admitiu que independentemente do processo que está neste momento em discussão, e sobre o qual o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) deverá dar o seu parecer até meados de Março, não está inviabilizada a construção de uma outra travessia, considerando que o objectivo é poder haver várias soluções e que essas possam funcionar em complementaridade. A mesma teoria é defendida pelo administrador da Rede Ferroviária de Alta-Velocidade (RAVE), Carlos Fernandes. Para este responsável, a construção de uma nova via rodoviária é quase inevitável, considerando que "mais tarde ou mais cedo, teremos de fazer as duas". Carlos Fernandes explicou a necessidade de construção das duas travessias rodoviárias com o facto de os dois eixos (Algés – Trafaria e Chelas – Barreiro, esta última a opção que a empresa defende para a instalação da terceira travessia) servirem "procuras completamente diferentes". "Um e outro corredor não são alternativos. Em última análise, podem ser exclusivos, mas só se não houver dinheiro para fazer os dois", sublinhou. Quem também entende que faz sentido equacionar uma quarta-travessia é o bastonário da Ordem dos Engenheiros. Para Fernando Santo, "discutir uma quarta travessia faz sentido". "Tudo depende das questões do mercado, a que tempo não sei. Tem a ver com a forma como as pessoas circulam, e tal como aconteceu com as auto-estradas, com a alta-velocidade vai haver uma redução do país no que respeita a tempos de ligação", considera o bastonário, à margem do seminário que reuniu especialistas de diversos quadrantes.
Travessia dependendo do objectivo
O organizador do evento socorre-se da intervenção do presidente da câmara de Lisboa, António Costa, para clarificar o cerne da questão deste processo. Para Fernando Santo, "importa identificar quais as prioridades do projecto, se são as pessoas, se é o comboio, se é o aeroporto". O bastonário sublinha que "essas são questões políticas, mas que se não foram devidamente consideradas e equacionadas, e se a engenharia não conseguir explicar o que está em causa nas propostas apresentadas, quantas pessoas entram em Lisboa, quantas vão para o Aeroporto, se há descongestionamentos de tráfego…se não conseguirmos explicar estes factores, então não estamos a ir no caminho mais correcto". O edil lisboeta, António Costa, sublinha que importa definir as prioridades do projecto, acrescentando no entanto que do ponto de vista do ordenamento territorial e do desenvolvimento da região, a ligação Chelas-Barreiro é a que se apresenta como mais vantajosa. O autarca lembra que qualquer que seja a localização escolhida, "terá forte impacto na qualidade de vida e no tráfego de Lisboa", condição que poderá ser minimizada com um reforço da aposta nos transportes públicos, como o prolongamento da rede de metro, suportado em parte pelas receitas geradas pelas portagens à entrada da cidade. E segundo o relatório da comissão independente que a secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, encarregou para estudar a inclusão da componente rodoviária na travessia Chelas/Barreiro, as receitas de portagem "poderão suportar entre 60 a 90% dos custos totais", orçados em 1.700 milhões de euros. A comissão alerta para o acréscimo de custos, de cerca de 50%, da introdução do modo rodoviário na ponte, ao passo que se se mantivesse exclusivamente ferroviária, o custo total seria de mil milhões de euros, dos quais cerca de 200 milhões de euros relativos aos acessos.
Propostas em cima da mesa
Os fundamentos a encontrar incidem sobre um estudo promovido pela RAVE e um outro elaborado por iniciativa da CIP. Entre avanços e contradições que implicaram o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, e o presidente do LNEC, Matias Ramos, o organismo do estado reiterou, em comunicado, que o Laboratório vai analisar apenas as opções Chelas-Barreiro e Beato-Montijo, excluindo as outras três propostas apresentadas durante o seminário, reiterando que essas eram as propostas que estavam em "cima da mesa" por altura do despacho ministerial. A ordem respeitava a uma "avaliação comparativa das alternativas existentes de travessia ferroviária do Tejo, na Área Metropolitana de Lisboa" e também "responder, de forma objectiva, sobre se existe viabilidade e justificação para associar uma componente rodoviária à travessia ferroviária do Tejo em Lisboa".
De acordo com o especialista em transportes, José Manuel Viegas, um dos autores do estudo promovido pela CIP, deve ser construída uma ligação exclusivamente rodoviária entre Algés e a Trafaria, uma opção que permite descongestionar a Ponte 25 de Abril e melhorar as ligações das populações residentes em Oeiras, Cascais e Lisboa Poente. Esta travessia, que pode ser construída em ponte ou em túnel, deve ser complementada com outra travessia, esta ferroviária, a construir entre o Beato e o Montijo, disse o especialista, sublinhando que a sua proposta inicial também poderá permitir uma solução rodoviária. José Manuel Viegas justificou esta opção afirmando que a construção da nova travessia no eixo Chelas-Barreiro, defendida pelo Governo, tem maior impacto visual e impõe restrições de manobra e estacionamento de embarcações de grande porte na zona do Mar da Palha. A proposta até agora defendida pelo Governo, cujos estudos foram liderados pela RAVE, implica precisamente uma ponte entre Chelas e o Barreiro, até porque, como referiu o administrador da empresa, Carlos Fernandes, se trata da opção cujos estudos estão melhor fundamentados. "As alternativas que foram apresentadas foram igualmente estudadas, primeiro por nós e depois pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) e os resultados são claros", assegurou. Carlos Fernandes garante que além de permitir "um excelente serviço ao aeroporto", a travessia proposta pelo Governo permite também um tráfego ferroviário sub-urbano para o Barreiro e para o Seixal e melhorar as ligações de mercadorias entre o Norte e o Sul do País, "coisa que Beato-Montijo tem dificuldade em fazer porque não liga à linha do Sul no Barreiro". "Pareceria a todos um erro tremendo não aproveitar essa oportunidade que é a ponte ferroviária poder ser também rodoviária", sublinhou o administrador da RAVE.
Ideias…e pouco mais
Além das propostas da RAVE e da CIP, o seminário serviu ainda para serem conhecidas três outras ideias que não serão equacionadas pelo LNEC. Uma, avançada por Pompeu dos Santos, aponta para a construção de uma nova ponte Chelas-Barreiro, com três modos de transporte (rodovia, ferrovia e TGV). Segundo o seu autor, o viaduto de Chelas seria estação para o TGV e haveria lugar à construção de um túnel por baixo do bairro da Madredeus. Outra sugestão visava a construção de uma travessia rodoviária Algés-Trafaria e outra ferroviária Chelas-Montijo. O autor propõe a construção da estação para o TGV nas Olaias "porque permite chegar mais rapidamente ao centro de Lisboa". A ponte Chelas-Montijo teria uma ligação ao novo aeroporto, em Alcochete. A última previa uma ligação entre Alverca e o Campo de Tiro de Alcochete por túnel. Luís Cabral da Silva, antigo funcionário da CP e da Refer assegura que o túnel, que se prolongaria entre três a 10 quilómetros, justifica-se pela proximidade com a pista de aviação de Alverca. Cabral da Silva indica que a estação do TGV deveria ficar na actual Gare do Oriente.
Algés/Trafaria é "velha" nova ideia
O corredor rodoviário entre Algés e Trafaria não é propriamente uma ideia recente. E curiosamente chegou a ser apresentada em complemento com um outro corredor, entre Chelas e Barreiro. Estávamos em 2005, era António Mexia o ministro das Obras Públicas. Na altura, o governante previa que o descongestionamento rodoviário da ponte 25 de Abril seria feito em túnel ou ponte, no prolongamento da CRIL e com ligação ao IC 32. Já no que respeita a uma travessia ferroviária, essa estaria destinada a ser feita no eixo entre Chelas e Barreiro, seguindo assim as conclusões de um estudo conduzido pelo Conselho Superior das Obras Públicas e Transportes, segundo o qual "não há economias de escala capazes de suportar uma nova travessia simultaneamente rodoviária e ferroviária. Por curiosidade, refira-se que nessa altura, ligação Lisboa-Porto em TGV estava avaliada em 3,8 mil milhões de euros, incluindo a construção de 230 quilómetros de ferrovia de alta velocidade e de uma nova estação de comboios (Leiria). A previsão apontava para cerca de uma hora e meia, com paragens em Leiria, Coimbra e Aveiro.
Viegas polémico
José Manuel Viegas, professor do Instituto Superior Técnico e co-autor do estudo da Confederação da Indústria Portuguesa mostrou-se bastante cáustico em relação à forma como decorreu a apresentação da proposta da RAVE, e considera mesmo que a discussão em torno da localização é um "embuste". "A minha expectativa era que nós pudessemos ser contratados pela RAVE para, em conjunto, irmos à procura da melhor solução. O despacho do senhor ministro, aparentemente, vedou essa possibilidade. Aquilo que vi foi uma demonstração de que eles não querem que se trabalhe para a melhor solução a não ser que se diga, logo à partida, que a melhor solução é a deles". O professor do Instituto Superior Técnico pede contenção e transparência nesta questão, acusando a RAVE de utilizar o seminário para legitimar "o exercício de plebiscitação de uma decisão que já está tomada". As acusações foram prontamente rejeitadas quer pela secretária de Estado dos Transpostes, Ana Paula Vitorino, quer pelo próprio organizador do seminário, Fernando Santo.