“Diversificação permite-nos mitigar os efeitos das quebras de actividade”
Em entrevista ao CONSTRUIR, o administrador do Grupo ISQ, José Figueira, destaca que a engenharia portuguesa tem uma capacidade técnica “igual ou superior ao nível do melhor que encontramos no mercado internacional”

Pedro Cristino
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Com mais de 250 serviços especializados e 16 empresas participadas, o Grupo ISQ está capacitado para proporcionar soluções para uma vasta panóplia de sectores económicos, o que tem permitido à empresa manter a sua actividade em níveis, segundo o seu administrador. Em entrevista ao CONSTRUIR, José Figueira revela que o Grupo investe anualmente cerca de 5 milhões de euros em I&D e que as perspectivas para 2017 apontam para um crescimento desta empresa portuguesa
Que balanço faz da actividade do Grupo no último ano?
O Grupo tem mantido a sua actividade a um nível aquém da sua capacidade, mas com indicadores satisfatórios. A diversidade de serviços do ISQ a nível nacional, e a sua dispersão geográfica internacional, permitem manter a actividade do Grupo em níveis que podemos considerar razoáveis. No último ano registámos várias realidades. A nível nacional verificou-se um crescimento de actividade, bem como a nível internacional, nas economias não dependentes do petróleo e gás. Nos países fortemente dependentes do sector petrolífero registámos uma quebra de actividade ao nível das filiais e na exportação de serviços, devido à retracção dos investimentos. Nem tudo é negativo. A redução de actividade permite-nos olhar para o interior da organização e repensá-la de forma mais eficiente, numa perspectiva de melhoria contínua.
O sector da construção foi um dos mais abalados durante a mais recente crise económica. Que impactos sofreu o ISQ como consequência desta situação?
Neste sector de atividade o impacto foi grande. A nossa atividade está, neste momento, praticamente centrada na avaliação de condição de activos, e a inspecção de nova construção caiu praticamente a zero, devido à falta de investimento público e privado no sector.
O facto de o Grupo investir em novos negócios e empresas, diversificando a sua actividade, mitigou os efeitos adversos da conjuntura económica recente? Que soluções encontrou a empresa para contornar a crise?
O ISQ tem mais de 250 serviços especializados e 16 empresas participadas nacionais que oferecem soluções para vários sectores da economia. Esta diversidade tem-nos permitido mitigar os efeitos das quebras de actividade em alguns setores e também a sazonalidade de alguns trabalhos, como é o caso, das paragens de grandes unidades industriais. Igualmente, a aposta contínua na inovação e desenvolvimento, tem sido um factor chave de sucesso na diversificação de actividade e na entrada em alguns nichos de mercado.
A empresa expandiu-se também para o mercado externo, nomeadamente para os Estados Unidos, Espanha, Brasil e Emirados Árabes Unidos. Que oportunidades foram identificadas nestes países, levando o grupo a estabelecer representações? Actualmente, quais os sectores que representam, nos países em causa, mais oportunidades de negócio para o Grupo ISQ?
A internacionalização do ISQ iniciou-se na década de 80 no sector petrolífero. A competência do ISQ na inspeção e controlo de equipamentos industriais foi o “driver” inicial da internacionalização, tendo sido mais tarde a estratégia de internacionalização consolidada em 5 pilares, que consistem na aquisição de empresas locais em mercados com afinidades com Portugal, de empresas locais em importantes mercados no petróleo e gás, na aquisição de empresa locais em mercados geoestrategicamente importantes e que dominem uma determinada região, indústria ou mercado, na participação nos grandes projectos de investigação & desenvolvimento internacionais, nos fundos nacionais, internacionais e contrapartidas financeiras diversas que permitam alavancar o negócio internacional nas diversas áreas de competência do ISQ. Apesar dos constrangimentos no sector do petróleo e gás, este continua a trazer as maiores oportunidades de negócio internacional para o Grupo ISQ. No entanto, projectos como o CERN (European Organization for Nuclear Research) e o ITER (International Thermonuclear Experimental Reactor), que constituem o maior investimento científico da atualidade (estimado em 34 milhões de euros), da ESA (European Space Agency) e do ESO (European Southern Observatory), assumem grande relevância nos negócios internacionais do ISQ.
De que forma consegue o grupo ser competitivo em mercados tão exigentes e com uma concorrência tão forte, e, frequentemente, constituída por empresas de grande dimensão?
O ISQ tem um conjunto alargado de competências, algumas de nicho, que lhe permitem posicionar-se nos mercados internacionais com vantagens competitivas. O investimento em investigação & desenvolvimento para o desenvolvimento de novas soluções, bem como a formação contínua altamente especializada dos nossos quadros técnicos, permitem-nos oferecer soluções técnicas (como o controlo de soldaduras de tanques criogénicos para armazenagem de gás natural liquefeito por “phased array”), consideradas das mais avançadas a nível mundial. Outra área de grande especialização e capacidade técnica é o nosso laboratório de ensaios termodinâmicos em Castelo Branco, onde realizamos ensaios customizados para a indústria aeronáutica e aeroespacial.
Existem outros países para os quais a empresa olha com interesse?
O ISQ está sempre atento a novas oportunidades. Estamos, actualmente, numa fase de consolidação e crescimento das nossas posições internacionais.
Actualmente, qual o peso do mercado da construção na facturação global do grupo?
O mercado da construção representa hoje um peso marginal na facturação global do grupo, bem longe do que representava há uma década.
A componente de I&D reveste-se de particular importância na vossa actividade? De que forma é a mesma impulsionada?
A investigação & desenvolvimento é muito importante para o ISQ – está no nosso ADN. Investimos cerca de 5 milhões de euros por ano nesta área. O conhecimento é fundamental para o domínio técnico de diferentes matérias, e permite-nos desenvolver soluções inovadoras que criam valor para os nossos clientes. Temos uma área de investigação & desenvolvimento transversal ao ISQ, essencial no desenvolvimento de conhecimento em matérias de carácter mais fundamental e de aplicação futura. Participamos em vários projectos nacionais e internacionais, em diferentes sectores de actividade. Paralelamente, temos grupos de investigação & desenvolvimento nas unidades operacionais, que articulam a sua atividade com a investigação & desenvolvimento central, e que também desenvolvem soluções de engenharia em parceria com os nossos clientes, para aplicações específicas.
Que actividade exerce mais frequentemente a empresa na área da engenharia civil?
Nesta área dispomos de um conjunto de serviços dirigidos para a nova construção, reabilitação e diagnóstico. Fazemos inspecção de controlo de qualidade de obras de arte, viadutos, passagens hidráulicas, protecções anticorrosivas e ensaios ultrassónicos de estacas, entre outros. Destacamos as actividades de inspecção na Ponte 25 de Abril que executamos desde 1986 e a inspeção da construção do novo aeroporto (pista e aerogare) do Oecusse na ZEEMS (Zonas Especiais de Economia Social de Mercado de Timor Leste). Dispomos também de um serviço de diagnóstico imobiliário, onde avaliamos o estado de conservação e de serviço do imóvel. Neste âmbito, fazemos o levantamento, análise e avaliação de anomalias construtivas. Apresentamos soluções técnicas de reparação e quantificação de trabalhos, tendo em vista a reabilitação do imóvel.
Como descreveria a capacidade técnica da engenharia portuguesa face à competição internacional?
A engenharia portuguesa tem capacidade técnica igual ou superior ao nível do melhor que encontramos no mercado internacional.
Quais são os objectivos e qual a estratégia do grupo para o próximo exercício? Que previsões fazem para o final do exercício corrente?
Projectamos um final de exercício em linha com as previsões. Não são esperados desvios significativos. Podemos dizer, face à conjuntura atual nacional e internacional, que o exercício de 2016 não correu mal. No próximo exercício pretendemos que o Grupo ISQ cresça. Projecta-se um crescimento a diversos níveis, concretamente a nível orgânico, organizacional, conhecimento e de monitorização e digitalização da atividade. Obviamente que, para concretizar estes objectivos, teremos de crescer em volume de negócios e melhorar alguns dos nossos rácios financeiros.