“Como em todos os mercados é necessário tempo, uma grande determinação e capacidade financeira”
Com uma larga experiência nos mercados árabes, os responsáveis do atelier Promontório explicam ao CONSTRUIR as particularidades de actuar naquelas regiões
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Ao CONSTRUIR, Paulo Martins Barata, partner do Promontório, explica a experiência de trabalho nos mercados árabes, as mais valias desses mercados e o potencial que as empresas portuguesas poderão representar ali. Mas alerta para o facto de haver, ainda, ideias pré-concebidas a propósito destes mercados que importa acautelar antecipadamente
De que modo podem as empresas portuguesas ser competitivas naqueles mercados, sabendo nós, de antemão, que cada país é uma realidade própria?
Como em todos os mercados é necessário tempo, uma grande determinação e capacidade financeira. Precisamos também de um Euro mais próximo da paridade ao Dólar porque os mercados árabes são quase todos “dolarizados” pela indexação das moedas regionais ao preço do crude. Esta recente queda do Dólar pós-Trump já nos fez perder em média 15% só no câmbio dos contratos em curso. E está para durar e piorar se o BCE não subir as taxas de juro.
Qual a mais-valia que o Promontório representa nos mercados árabes?
A nossa concorrência é quase toda inglesa e norte-americana e são habitualmente empresas muito grandes, como por exemplo a Atkins ou a CallisonRTKL. O Promontório tem um tipo de agilidade que estas empresas não têm —nem procuram ter—, e que nos permite responder em circunstancias dificílimas à característica idiossincrasia dos clientes árabes. As empresas inglesas, por exemplo, param imediatamente de trabalhar se o prazo de cobrança de uma factura é excedido. Nós, tipicamente, e para o bem ou para o mal, damos o beneficio da dúvida e vamos em frente. Isso tem-nos custado algumas dissabores, mas também a confiança de alguns clientes importantes.
Quais os principais desafios que se colocam às empresas portuguesas?
Diria que existem problemas de escala e dimensão das empresas, de capacidade de gestão, de capacidade financeira, e, talvez a mais difícil de todas, de adaptação das práticas portuguesas aos sistemas anglo-saxonicos. Estes são os mais evidentes no que toca a operar no universo árabe. Para os arquitectos, em particular, é também muito frustrante o facto de muitos projectos nunca chegarem a ser construídos, ainda que pagos. A tal idiossincrasia que leva os clientes a estarem perpetuamente a alterar e a desistir dos projectos, a não terem um business plan ou à frequente falta rigor e objectividade. É preciso saber lidar com isto sem perder a calma. Creio que o maior problema ao lidar com o médio-oriente das empresas ocidentais, e das portuguesas em particular, é o deslumbramento; por acharem que os árabes são muito ricos e são um saco sem fundo. Esquecem-nos por vezes que o PIB de Espanha é o dobro do da Arábia Saudita. Ora o mundo árabe é pobre, muito pobre; tem é a riqueza concentrada num conjunto circunscrito de indivíduos de grande poder. E existem de facto alguns países, nomeadamente os Emiratos, Kuwait, Qatar e Omã que têm esse PIB distribuído por populações relativamente pequenas.
Que importância podem ter as empresas portuguesas nesses mercados?
Será sempre residual pela escala das empresas portuguesas, o que não quer dizer que não seja interessante para os próprios. Para o PROMONTORIO, o Qatar foi o primeiro pais onde verdadeiramente testamos a nossa resposta ao exigente modelo anglo-saxonico e aprendemos a trabalhar numa escala sem precedentes. Serviu também de base regional para actuarmos noutros países árabes, como na Arábia Saudita, onde projectámos uma torre de 70 pisos para a petrolífera Aramco, que atingiu recentemente o pau-de-fileira. Temos pena que nas presentes circunstâncias o Qatar não possa ter esse papel de pivot para a região, mas temos esperança que esta situação política seja temporária.