É inquestionável que se trata de um dos símbolos máximos da cidade e o cuidado na sua preservação não deixa grandes dúvidas sobre a delicadeza e a pertinência da intervenção. A realidade é que aproximadamente dois anos após o inicio dos trabalhos, o Castelo de Leiria
voltou a abrir as suas portas aos visitantes e à cidade que, em 1300, viu D. Dinis doar a Isabel, Rainha Santa, este importante património.
A coordenação dos trabalhos esteve a cargo dos arquitectos Nuno Santos Pinheiro e Vasco Santos Pinheiro que, em mãos, tiveram o arranjo dos espaços exteriores do recinto do Castelo, a recuperação da Casa do Guarda, a recuperação das Cisternas Medievais, assim como a
recuperação e a cobertura da Igreja da Nossa Senhora da Pena. Da equipa fazem igualmente parte o arquitecto paisagista João Junqueira e as empresas PMP Consultores e CORE Projects nas áreas de engenharia.
Actualização histórica
Apontado como um dos ilustres exemplares da arquitectura militar medieval da região e do país, tendo desempenhado um papel de relevo, a par de outros castelos vizinhos, na defesa de Coimbra e ofensivas afonsinas de conquista de territórios mouros a sul da linha do Mondego, o Castelo de Leiria chegou a receber, em 2019, perto de 100 mil visitantes. A pandemia acabaria por baixar consideravelmente os números e tornou evidente a importância de ‘actualizar’ este importante património, adaptando-o a usos mais actuais de forma a promover a captação de público, a valorização do património arquitectónico, arqueológico e paisagístico, adaptando a situação actual a uma utilização mais fácil e mais informada do visitante, promovendo a descoberta e a sua permanência no castelo.
Protecção cuidada do património
Nos dados revelados à Traço pela Santos Pinheiro Arquitectos Associados, pode perceber-se que a premissa da actuação das equipas envolvidas assenta sobre a importância da protecção, conservação, recuperação e revitalização dos valores arqueológicos, históricos, arquitectónicos, estéticos e urbanísticos do Castelo de Leiria. Na descrição dos trabalhos, a equipa liderada por Nuno Pinheiro e Vasco Santos Pinheiro assegura que “foram respeitados os princípios vigentes em conservação do património, nomeadamente a utilização de materiais reversíveis e compatíveis, e o recurso a técnicas diferenciadas para a identificação da intervenção”. “Para
além de criar um ambiente que transporta o visitante e utilizador para a beleza de um castelo de origem medieval, procurou-se dar resposta às comodidades exigidas na actualidade, oferecendo não apenas conforto e qualidade, mas tornando o castelo mais acessível e
inclusivo, para fruição de todos”.
Igreja da Pena coberta
Uma das intervenções mais relevantes deste conjunto de trabalhos passou pela recuperação, restauro e construção de uma cobertura para o edifício da igreja de Nossa Senhora da Pena, “possibilitando dotar o espaço de novas funcionalidades de carácter cultural”. De acordo com a descrição dos trabalhos, a intervenção partiu desde logo de um edificado com sinais evidentes
de degradação, “causado não apenas pela acção do tempo, como pela do próprio Homem”. “Intervir nesta estrutura patrimonial, face ao seu actual estado de conservação constituiu uma obrigação natural e necessária face ao imperativo de garantir a travagem do processo de
degradação”, pode ler-se na descrição da intervenção, onde a equipa de arquitectos acrescenta que foi pretensão do município, enquanto promotor da obra, dotar o edifício de novas condições, proporcionadas por uma nova cobertura, que permitissem assegurar a utilização
continuada do espaço, ao longo do ano, contrariando a sazonalidade a que, até então, se encontrava sujeito, conseguindo, também com isso, diversificar a sua utilização e vocacionar o espaço para actividades diversas de carácter cultural, devidamente adequadas à dignidade e história do monumento. Em rigor, é a primeira vez que, exceptuando os registos históricos, a Igreja da Pena é vista com a cobertura completa, numa estrutura que tem a particularidade de privilegiar, entre outras funcionalidades, a entrada de luz natural pela acção de clarabóias.
Casa do Guarda e arranjos exteriores
Além da intervenção na Igreja da Pena, deste conjunto de trabalhos coordenado pelos arquitectos Nuno e Vasco Santos Pinheiro faz igualmente parte a recuperação da Casa do Guarda. Na descrição da proposta, os arquitectos da Santos Pinheiro Arquitectos Associados
explicam que a intervenção, além da recuperação geral do edifício, teve como principal finalidade dotar o espaço do castelo de uma estrutura para o acolhimento dos visitantes centralizando uma recepção, um posto de atendimento e bilheteira, instalações sanitárias
públicas, loja, apoio administrativo e uma cafetaria e zona de estar. “A proposta desenvolvida considerou a reabilitação do edifício existente e a sua ampliação sobre um pátio existente onde, inicialmente teria existido outro edifício”, pode ler-se na descrição dos trabalhos. Neste conjunto de contractos estabelecido com o município consta ainda o projecto de recuperação das Cisternas Medievais que teve como finalidade a “conservação e consolidação da estrutura existente e a possibilidade de tornar o seu espaço acessível sem uma utilização específica. No âmbito da intervenção no Castelo, este espaço reabilitado passou a considerar-se como lugar
simbólico e espaço interpretativo”. Relevante foi também a intervenção ao nível dos espaços exteriores do recinto do Castelo, uma intervenção que visou, sobretudo, a valorização do património arquitectónico, arqueológico e paisagístico, adaptando a situação actual a uma utilização mais fácil e mais informada do visitante, promovendo a descoberta e a sua permanência no castelo. “A metodologia de intervenção pautou-se pela salvaguarda das estruturas existentes com valor patrimonial e cultural e pela introdução de novos elementos
que contribuíssem para a sua valorização permitindo a utilização plena dos espaços”, asseguram os arquitectos, para quem “a introdução de novos elementos, ao nível dos pavimentos, protecções, mobiliário, sinalética, iluminação, entre outros, foi feita com materiais
idênticos aos existentes ou que permitissem uma integração adequada, sem nunca se imporem”. Os responsáveis pelos diversos projectos acreditam que há um efeito ‘matriz’ nesta intervenção, desde logo porque pode ser encarada como “um modelo de intervenção em
estruturas patrimoniais semelhantes, na medida em que, por um lado foram respeitados os valores artísticos, históricos e culturais do monumento seguindo metodologias de intervenção apropriadas e validadas pela comunidade científica e de acordo com os princípios
estabelecidos pelas Cartas Patrimoniais e convenções internacionais”. “Por outro, com a conclusão da obra, verificou-se que a intervenção atingiu os principais objectivos estabelecidos, tendo contribuído positivamente para o desenvolvimento da Cidade e do
Concelho, demonstrando dessa forma a sua relevância sócio-económica para a cidade e população em geral”, asseguram, acrescentando que “a intervenção permitiu comprovar a possibilidade de intervir num monumento nacional recorrendo a tecnologias e materiais
contemporâneos preservando a autenticidade e identidade do lugar”