Engenharia

“Sector da fiscalização padece de total ausência de regulamentação”

A estratégia internacional da Cinclus leva a empresa a estar activa em três continentes distintos, de forma permanente. Ao Construir, Miguel Braga da Cruz explica que, desta forma, a empresa […]

Pedro Cristino
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“Sector da fiscalização padece de total ausência de regulamentação”

A estratégia internacional da Cinclus leva a empresa a estar activa em três continentes distintos, de forma permanente. Ao Construir, Miguel Braga da Cruz explica que, desta forma, a empresa […]

Pedro Cristino
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Pedro Cristino
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A estratégia internacional da Cinclus leva a empresa a estar activa em três continentes distintos, de forma permanente. Ao Construir, Miguel Braga da Cruz explica que, desta forma, a empresa portuguesa de engenharia evita expor-se a três ciclos económicos negativos simultaneamente e aproveitar oportunidades nas dinâmicas de contraciclo. Numa perspectiva semelhante, o CEO da Cinclus apela a uma maior cooperação entre economias lusófonas, como garante de mais e melhores oportunidades para todos os envolvidos.

Que balanço faz da actividade da Cinclus relativamente ao ano transacto?

Efectivamente, o balanço que fazemos é positivo, na medida em que 2015 foi um ano que correu melhor do que 2014. O nosso volume de negócios cresceu 18%, os nossos resultados melhoraram muito significativamente. Tivemos, em 2014, resultados que, apesar de pouco negativos, não deixaram de ser negativos e, este ano, fechámos 2015 com resultados francamente positivos. Conseguimos consolidar a nossa actividade tanto a nível nacional como internacional. Crescemos no mercado interno e conseguimos manter, no mercado externo, apesar de toda a crise que se está a instalar a nível global. O mercado onde estamos a apostar mais significativamente é o brasileiro, que cresceu. Nessa perspectiva, foi um ano positivo. No que concerne à actividade comercial no mercado, 2015 não foi um ano assim tão positivo, apesar de ter sido um ano em que se verificaram sinais de retoma, quer na área do turismo, quer na área do imobiliário, que conheceu um dinamismo muito significativo. 2015 foi melhor que o ano anterior em termos do mercado imobiliário e da reabilitação urbana e 2014 já tinha sido o melhor ano desde o início da crise, em 2007. Apesar destes dois aspectos positivos, o ano passado foi o ano em que a actividade comercial foi mais baixa desde que há memória no sector da construção, sendo necessário recuar ao início da década de 2000 para encontrar paralelo em termos de actividade. Isto prende-se fundamentalmente com a redução do investimento público. No ano transacto, as adjudicações de obras públicas reduziram em cerca de 35%, relativamente a 2014 e, tendo presente que isto acontece sucessivamente desde 2011, significa que o nível de contratação pública desceu 57% desde então. Se medíssemos desde o ano em que não tivemos cá a “troika”, esse valor seria significativamente superior. Diria que andaria acima dos 60%. Isto são dados do Barómetro da AICCOPN, referentes a Fevereiro de 2016, portanto estamos a falar de uma contracção de mercado muito significativa. Assim, relativamente ao ano transacto, apesar dos contributos positivos das áreas do turismo, do imobiliário e da reabilitação urbana, os contributos negativos que advieram de outros sectores, nomeadamente a ausência de investimento público, ultrapassam-nos largamente.

Essa queda de investimento público tem sido muito referida pelas principais associações do sector. Merece-lhe preocupação?

Muita preocupação. Por exemplo, 2009 foi um ano em que houve um investimento muito significativo, devido a instruções de Bruxelas, para fazer face a um receio que havia de quebra e de queda dos mercados. O que acontece é que, se não era normal termos os índices de investimento que tivemos no passado, também não é normal termos os índices de investimento que temos actualmente. Tenho assistido a descrições de colegas e de amigos, ligados ao sector da manutenção em vários outros sectores, mas muito em particular no sector dos transportes, e o que está a acontecer é que estão a ser feitas coisas que são arrepiantes.

A que se refere?

Quando se começa a cortar nos investimentos de operação e manutenção, mais cedo ou mais tarde, algo cederá e, portanto, não me espantaria que um dia destes acontecesse um acidente semelhante ao da queda da ponte de Entre os Rios. Basta uma pessoa meter-se no comboio e fazer uma viagem do Porto a Lisboa, que sente a diferença da rodagem das carruagens em cima da linha.

Por outro lado, o Governo anunciou há relativamente pouco tempo investimentos de milhares de milhões no desenvolvimento de infra-estruturas ferroviárias. Como vê essa medida?

De uma forma extremamente positiva e também queria fazer esse contraste. Não obstante estar a sentir-se na economia alguns sinais de melhoria, estes sinais não são suficientes para que a economia retome. É preciso que haja uma inversão na ausência de investimento público e, naturalmente, esse investimento tem de ser decidido e aplicado em circunstâncias que sejam produtivas. Portanto, o investimento que está a ser anunciado pelo Governo – e por Bruxelas, com o Plano Juncker – assenta muito no transporte ferroviário e na articulação das plataformas com vários modos de transporte que, neste momento, ainda estão em falta. Assim, vejo esse anúncio de investimento como extremamente positivo porque, mais cedo ou mais tarde – e, na minha opinião, já começa a ser tarde – o Plano Juncker e a política monetária do Banco Central Europeu (BCE) têm de chegar ao terreno e nós, europeus, estamos a demorar demasiado tempo a resolver os nossos problemas. Estamos muito preocupados com outros problemas e facilmente deixamos de dar atenção a outros aspectos que acabam por ser adiados e, depois, não chegam a ser concretizados. A crise financeira iniciou-se nos Estados Unidos em 2008 mas o país já ultrapassou a crise e já está a crescer novamente, enquanto nós ainda estamos a braços com a crise que aí originou. Entretanto, já houve outras crises – a dos refugiados, a do terrorismo – a somar às que nós ainda vivemos. Portanto, é preciso ser mais pragmático e mais incisivo no tratamento das soluções e, efectivamente, é preciso implementar esses planos, em termos de investimento público que seja reprodutivo. A iniciativa é boa, mas é necessário que chegue ao terreno. Esses planos foram anunciados há mais de seis meses mas ainda pouco ou nada se sente. O programa Portugal 2020 é outro programa que considero muito positivo, mas foi anunciado pelo Governo em Novembro de 2014 e só agora se sentem os efeitos, mais de um ano depois. Assim, tanto no que se refere ao Portugal 2020, como ao Plano Juncker, e ainda o programa que o BCE vai lançar, e que está a começar a ser anunciado por Mario Draghi, no sentido de injectar dinheiro na economia, para evitar que a economia europeia entre em deflação. Não podemos esquecer-nos do exemplo do Japão, que entrou em deflação e levou mais de 20 anos para sair dessa situação.

O Governo tem mostrado que está a tentar impulsionar o sector da reabilitação urbana. É um sector que, dinamizado, poderá ter interesse para a Cinclus?

Tem muito interesse, porque a Cinclus actua no sector imobiliário e, em especial, no sector da reabilitação, onde temos, de momento, muito trabalho. Temos vários contratos de reabilitação em Lisboa e também alguns contratos, em menor número e de menor dimensão, no Porto. O sector da reabilitação necessita de ser impulsionado em Portugal pois precisamos desesperadamente dele. Neste momento, verificamos que é um sector muito vibrante em Lisboa. Em Lisboa, o mercado imobiliário, em particular o da reabilitação, está a apresentar um grande dinamismo mas não tem paralelo no resto do país. Verifica-se algum dinamismo no Porto, com projectos em número e dimensão muito menores do que os projectos que existem em Lisboa mas pouco se vê no resto do país. Quem olha para o Centro Histórico de Coimbra, que é espantoso, vê que está completamente deserto. Portanto, é preciso manter, acarinhar e, inclusivamente, impulsionar as políticas que sustentem a reabilitação urbana, nomeadamente políticas de beneficiação fiscal a quem investe nesses sectores, e políticas de atracção do capital estrangeiro. Se, por um lado, 2015 foi o melhor ano desde o início da crise para o sector imobiliário, 80% do investimento e das transacções que se fizeram nesse sector no país, teve origem estrangeira. É exactamente disso que a nossa economia precisa. Temos de recapitalizar o país e as empresas e isso não pode ser feito sem a captação de investimento estrangeiro. Nessa medida, todas as políticas que possam ser tomadas, são bem vindas – a política dos “Vistos Gold”, a política do residente não habitual, as políticas de benefícios fiscais atribuídos a quem faz investimentos dentro das zonas de intervenção prioritária. É fundamental também que sejam complementadas, nomeadamente com políticas de relançamento do arrendamento urbano, e com políticas de incentivo ao estabelecimento de rendas controladas, de habitação com custos controlados, para que consigamos ter cidades equilibradas, com os vários níveis de estratificação social equilibrados, porque não podemos permitir que, de repente, um centro histórico que estava vazio e abandonado se transforme num centro histórico elitista onde só as camadas mais altas conseguem habitar, viver e usufruir. Temos de ter políticas públicas que permitam, de alguma forma, equilibrar os desequilíbrios que a lei do mercado introduz, sendo que eu, com isto, não estou a defender que se limite o funcionamento do mercado. O que estou a defender é que o Estado e as autarquias devem exercer a sua acção de reequilíbrio quando verificam fenómenos de desequilíbrio. Assisti à entrevista do dr. Fernando Medina, na SIC, e concordo inteiramente com ele, quando defende a introdução de políticas de solos e de políticas de arrendamento de custos controlados.

Como se pode caracterizar, actualmente, o sector da fiscalização em Portugal?

O sector padece de um mal que é a total ausência da regulamentação. Qualquer empresas pode exercer actividade neste sector, porque ele está completamente desregulamentado e isso introduz uma ausência de barreiras ao exercício da actividade que coloca uma pressão grande em todos os intervenientes neste mercado. Portanto, o que acontece é que, com a ausência de regulamentação e com um mercado em contracção – com reduzido número de oportunidades -, começamos a assistir a um fenómeno de “dumping” de preços e de canibalização do mercado que, necessariamente, conduzem a desfechos muito negativos, na medida em que as empresas começam a concorrer fundamentalmente pelo preço e isso leva à redução de salários dos profissionais do sector e de índices de desempenho e do nível de satisfação do serviço muito baixos, que acabam por ser reverter contra quem actua no sector. Os clientes, tendo uma má prestação por parte de quem contratam, concluem que não vale a pena contratar uma empresa de fiscalização porque conseguem fazer o mesmo trabalho sem contratar nenhuma empresa. Isto assiste-se fundamentalmente no sector público. No sector privado, quando um cliente contrata um gestor de empreendimentos, uma fiscalização de obra, define bem aquilo que quer e exige de quem contrata. Assistimos a uma maior preocupação no sector privado relativamente às práticas de “dumping” de preços e de preços anormalmente baixos. O mesmo não acontece no sector público, onde assistimos a um agravamento dessas políticas de “dumping” de preços e verificamos que, nos concuros públicos, o único critério de adjudicação é o preço, com uma agravante – cada vez mais são as empresas que praticam os preços anormalmente baixos e são cada vez mais os casos de clientes que aceitam as justificações para a utilização destes preços. Isto está a causar problemas graves no funcionamento do mercado. Felizmente, temos alguns clientes públicos que reconhecem isso e começam a não dar contributos nesse sentido, estabelecendo critérios de avaliação de propostas que não assentem exclusivamente no preço e valores-base para os concursos que sejam justos. O que se verifica, em muitos casos, é que o preço-base estabelecido é, já por si, demasiado baixo e, depois, há tradicionalmente algumas empresas que, independentemente do trabalho, do concurso e do cliente, apresentam um cêntimo acima do preço anormalmente baixo, apenas para não terem de justificar. Quando os clientes apresentam preços baixos estão a dar incentivos para que se pratique uma política de “dumping” de preços. Isso tem de se reflectir nas empresas porque, das duas uma, ou as empresas reduzem os salários que pagam aos profissionais, ou não cumprem com o cliente ou com os profissionais. Ou então assumem prejuízos, uma situação que é insustentável quando mantida com alguma duração. Efectivamente, sou algo crítico deste novo Código de Contratação Pública (CCP)- não que ele seja limitativo, pois é bastante flexível na sua aplicabilidade e, portanto, dá bastante margem de manobra ao cliente para que este organize os concursos como entender – uma vez que não permite uma série de circunstâncias que deviam ser consideradas. Não permite que seja avaliada a experiência curricular dos profissionais ou das empresas, não permite que os clientes levem em consideração o mau desempenho que tenham tido no passado com determinada empresa ou profissional e, portanto, o CCP acaba por ser bastante nocivo. No sector dos serviços de engenharia, já foram experimentados vários modelos e chegou-se à conclusão, já há bastante tempo, de que o modelo que melhor funciona para o mercado é o modelo em que o preço-base determina o valor mínimo e não o máximo, que é o que temos actualmente.

De que regulamentação precisa este mercado tão particular?

A regulamentação associada ao acesso e ao exercício da actividade. Para qualquer pessoa conduzir, tem de tirar a carta de condução e, mesmo assim, não fica habilitada a conduzir qualquer veículo. Na gestão de empreendimentos e fiscalização de obra, qualquer um pode fazer qualquer coisa. Necessitamos de mecanismos que impeçam ou penalizem o exercício do “dumping” de preços.

No contexto internacional também se verificam estes desafios?

Com excepção da América do Norte e do Médio Oriente, verificamos um arrefecimento da actividade em praticamente todas as geografias. Começamos a assistir, no mercado externo, a um aumento das dificuldades na obtenção de trabalho, ao aumento da concorrência e, nesse sentido, sentimos que o desafio aumenta no mercado internacional. Não são as mesmas dificuldades que sentimos em Portugal, pois cada geografia tem os seus próprios obstáculos, mas sentimos um arrefecimento muito grande nas geografias que, tradicionalmente, têm maiores afinidades com Portugal, nomeadamente os Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), e isso está a afectar as empresas portuguesas. Não estamos a ser significativamente afectados por esse abrandamento, fundamentalmente porque temos pouca exposição a Angola e a África, no geral, e a expressão que temos no Brasil ainda é relativamente reduzida. Assim, estando a operar num nicho de mercado, e sendo esse mercado muito grande, acabamos por conseguir obter algumas oportunidades que nos permitem ir fazendo o nosso caminho, independentemente da recessão. Em Angola, não estamos a ser muito afectados pela crise que, infelizmente, se instalou, porque concluímos no país um grande projecto e só depois se abateu a crise – num momento de interregno. Isso fez com que nós, praticamente, não sofrêssemos nada com esta situação. Continuamos a estar presentes neste mercado, em que acreditamos muito – Angola é a segunda maior economia de África Subsaariana e, portanto, tem muitas riquezas e uma grande necessidade de estruturas e, a meu ver, tem um enormíssimo potencial. Há vários problemas internos a resolver, mas também vejo como muito positiva a ajuda que o país pediu ao Fundo Monetário Internacional (FMI) que, fundamentalmente, para além do apoio financeiro que pode dar, vai introduzir algumas regras de funcionamento de mercado e alguma transparência adicional que, seguramente, irão ajudar.

Por outro lado, uma imposição por parte do FMI relativamente à diversificação da economia angolana poderá também significar novas oportunidades…

Defendo que os povos lusófonos deveriam trabalhar melhor em conjunto e deveríamos dar as mãos também a quem fala espanhol porque, quem fala português e espanhol, cobre uma área muito significativa do globo. Se trabalhássemos melhor em conjunto, beneficiaríamos todos muito, uma vez que tiraríamos partido dos diferentes ciclos que afectam todas estas economias diversas. As crises representam oportunidades e esta representa uma grande oportunidade a esse nível. Estamos a abrir-nos ao investimento angolano, Angola deve abrir-se também ao mercado – e essa será, provavelmente, uma das imposições do FMI. As regras de mercado têm de funcionar e, se Angola estiver mais receptiva ao investimento estrangeiro, se tiver menos receio do controlo que o capital estrangeiro pode trazer, pode beneficiar enormissimamente. O investimento estrangeiro ajuda a diversificar a economia e Angola não tem de ter a dependência que tem do petróleo, pois tem um potencial agrícola, mineiro, agro-industrial e turístico enormes, que não estão a ser minimamente explorados porque não estão criadas condições suficientes de abertura, de segurança, de movimento de capitais que potenciem essa circunstância. Há aí um potencial muito grande por atender. Mesmo com o Brasil, a crise devia ser explorada também nesse sentido. Devíamos estreitar os laços com o Brasil, os brasileiros não devem ver-nos como uma ameaça, uma vez que não temos dimensão para ameaçar ninguém, mas podemos beneficiá-los enormemente por toda a experiência que temos em Portugal. Também aí, podemos ajudar a criar algum contraciclo entre geografias. Podíamos ter uma relação como a que o Reino Unido tem com os Estados Unidos.

Uma espécie de “commonwealth” lusófona?

Sim. Uma espécie de “commonwealth” em que todos beneficiem. Naturalmente que, para isto, é necessário existir tradição, transparência e uma série de regras que levam tempo a maturar e, esse, é um dos grandes legados que os britânicos deixaram às suas ex-colónias: um padrão de organização e de funcionamento que acabou por ser adoptado e seguido. Infelizmente, nós não conseguimos concretizar algo semelhante, mas ainda vamos a tempo. Há muito trabalho que tem sido feito nesse domínio, até pela Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).

A presença da Cinclus em Angola permitiu à empresa operar noutras geografias da região?

Não chegámos a fazer isso. Estamos a trabalhar em Angola, para Angola. Neste momento, temos presença em Angola, no Brasil e no Perú. Estamos a olhar para outros mercados, nomeadamente Moçambique, Colômbia e Cabo Verde e não enjeitamos executar projectos noutras geografias, desde que a dimensão o justifique, que é o que está actualmente a acontecer connosco na Roménia. Apesar de a Cinclus já ter 33 anos, é uma PME relativamente à dimensão do mercado global. Iniciámos o nosso processo de internacionalização relativamente tarde, em 2009, o que significa que ainda não nos vemos na situação de utilizar uma geografia para alcançar outras geografias. Pode ser que não estejamos longe dessa situação, na medida em que estamos a redefinir a nossa estratégia para Angola e, portanto, este mercado pode passar a ser uma plataforma para chegar a outros mercados, mas ainda não estamos nesse ponto.

Relativamente ao Brasil, a instabilidade política e as previsões de cenários de crise, preocupam-no?

Naturalmente, preocupam-me, mas não achamos que haja motivo para alarme, tendo presente o poscionamento que temos nesse mercado. No Brasil, iniciámos a actividade com a aposta no sector privado e, portanto, estamos a actuar principalmente ao nível do sector dos centros comerciais e do sector imobiliário, focando-nos fundamentalmente em São Paulo. Como estamos num mercado com uma grande dimensão e concorrência, temos uma quota de mercado muito pequena. Por isso, não consideramos que existam motivos de alarme. Também estamos a fazer o nosso trabalho com uma grande contenção de custos ao nível do investimento que estamos a fazer e, portanto, com uma grande competitividade em termos do nível da relação qualidade-preço dos serviços que apresentamos. Consideramos que não há motivo de alarme mas, naturalmente, estamos apreensivos, porque sente-se claramente a contracção no investimento e a quase total debandada de investimento estrangeiro. Mas o Brasil é uma grande economia, com a capacidade de relançamento que as grandes economias têm. Contrariamente àquilo que está a acontecer neste momento em Portugal, onde, depois de aplicadas as medidas de austeridade, a economia leva muito tempo a recuperar, a economia brasileira, face à sua grande dimensão, tem uma capacidade de reacção igualmente grande. O Brasil já atravessou muitas crises, já teve picos negativos e positivos muito pronunciados, e a sua economia reage muito rapidamente, quer para o bem, quer para o mal. Estou convencido e esperançado que o Brasil vai ultrapassar esta crise com relativa rapidez. Aliás, são muitas as notícias a circular na imprensa, dando nota que este é o momento de investir no Brasil, nomeadamente no imobiliário. A maior aposta que estamos a fazer é no Brasil, sem dúvida.

Continuaremos a fazer a nossa aposta no Brasil e na América Latina, e permanecemos convictos de que África é uma boa alternativa. Temos que esperar por alguma estabilização, pois Angola está a conhecer algum momento de grande instabilidade, Moçambique também atravessa um momento de instabilidade, mas continuamos a acreditar que o continente africano detém grandes oportunidades. Todavia, o continente sul-americano, apesar de um maior nível de concorrência, continua a ter maior maturidade, representando oportunidades mais seguras. Isto não signfica que sejam mercados fáceis. A experiência que estamos a ter no Brasil e no Perú mostra-nos que são dois mercados bastante difíceis e muito diferentes. O balanço que faço do nosso investimento no Brasil é positivo.

E o mercado peruano?

Não lhe sei dizer se não é mais difícil que o brasileiro. É um mercado muito conservador, muito burocrata, com muito menor dimensão e menos oportunidades. Com outras dificuldades face ao Brasil, mas igualmente difícil.

Na sua opinião, como é avaliada a engenharia portuguesa no mercado internacional?

Somos muito conhecidos nos PALOP e em África, mas somos pouco conhecidos lá fora. Quem quiser fazer obras num país dos PALOP, recorre aos portugueses. O que acho é que, na grande maioria dos casos, quem não conhece a engenharia portuguesa, fica agradavelmente surpreendido quando trabalha com portugueses porque a qualidade da nossa engenharia é muito alta. Quando me cruzo com estrangeiros que trabalharam com empresas portuguesas, eles reconhecem a nossa competência e a nossa capacidade de adaptação. O balanço que fazem, normalmente, é bastante positivo. Infelizmente somos pouco conhecidos. Com a entrada da “troika”, a decisão que se tomou foi de deixar cair o sector da construção e a engenharia nacionais e pouco se fez para defender esse sector.

Ao mesmo tempo, parte da opinião pública considera que é um dos sectores responsáveis pela intervenção da “troika” no país…

Na minha opinião, essa é uma ideia infundada e indevida, porque quem criou o sobreendividamento no país não foi o sector da construção, mas sim a banca. Quem beneficiou, quem esteve à frente dos grandes projectos, da preparação e da armação dos grandes projectos de investimento público não foi o sector da construção. O sector da construção participou e incentivou, mas quem liderou os projectos foi o sector bancário que se financiou junto de outros bancos europeus e, portanto, o benefício nem sequer ficou em Portugal. Uma parte grande das construtoras esteve a trocar trabalho por dinheiro, não teve grandes lucros com isso. Quem efectivamente beneficiou foi o sector financeiro que conseguiu passar entre os pingos da chuva, não recaindo sobre ele o ónus de todos os desmandos que se fizeram. Esse ónus recaiu sobre o sector da construção, sem que tal se justifique.

Que sectores podem apresentar impulsos importantes para o sector?

Há outros sectores que estão a dar contributos também muito positivos: o do Turismo, com o aparecimento de inúmeros hotéis novos ou o da agricultura, onde as infra-estruturas de regadio são fundamentais, e deveriam ser intensificadas – veja-se os bons resultados obtidos com o Projecto do Alqueva. Hoje produzem-se bróculos no Alentejo! O sector da indústria, que necessida de ser muito incrementado e que, com o Portugal 2020 está a conhecer uma nova dinâmica, veja-se o “cluster” aeronáutico de Évora, o “cluster” automóvel e o “cluster” das bicicletas de Águeda, pouco conhecido mas com um percurso ímpar.

A que atribui os Prémios PME Excelência que já distinguiram a Cinclus por duas vezes?

Aquilo que nos distingue é, efectivamente, a nossa capacidade de organização e de garantir um nível de serviço com uma relação qualidade-preço que consideramos excelente. Esse é o maior desafio que temos pela frente. Independentemente da geografia onde desempenhamos o trabalho, independentemente da equipa que está a fazer o trabalho, independentemente do tipo de trabalho que esteja em causa – porque actuamos ao nível de qualquer tipo de edifício, de qualquer tipo de infra-estruturas de transporte e de meio ambiente – procuramos conseguir ter o mesmo nível de serviço e de desempenho. Isso só se consegue com procedimentos e rotinas de trabalho, com abordagens sistematizadas e com uma preparação e uma organização que levamos para os nossos projectos. É com grande satisfação que verificamos que, em Portugal, temos fidelizado praticamente todos os clientes com quem trabalhamos, fundamentalmente ao nível do sector privado, onde isso é difícil de fazer. O mesmo tem-se passado também no mercado externo. No final dos projectos, os clientes reconhecem que acrescentámos valor e que repetiriam a nossa contratação. Isso enche-nos de satisfação, especialmente se tivermos em conta que somos uma PME que está a fazer um enorme esforço no sentido de se adequar às novas condições de mercado em Portugal, ao mesmo tempo que investimos e fazemos o nosso percurso internacional.

Qual será a estratégia da empresa para 2016?

Este ano, prevemos que o nosso volume de negócios cresça, no mínimo, 10%, com um incremento de 20% na actividade internacional. Isto significa que cresceremos, lá fora, mais do que em Portugal, onde cresceremos menos de 10%. Mas é muito difícil fazer previsões nos dias que correm, porque as regras mudam com extrema rapidez, basta que ocorra um episódio anómalo. Isso dificulta as previsões, mas a estratégia que seguimos vai manter-se porque, em 2011, quando se abateu sobre o nosso país, e sobre o nosso sector da construção, esta crise, tomámos uma decisão que seguiremos rigorosamente e que se refere a estarmos permanentemente em três continentes diferentes, como forma de mitigar os ciclos e contraciclos que as várias economias têm, evitando estar em três ciclos negativos simultaneamente. Queremos continuar a ser um “player” de extrema relevânica em Portugal, e estamos a fazer o nosso percurso. Este ano já crescemos superámos o volume de negócios relativamente ao ano passado. Queremos estar na América Latina e estamos no Brasil e no Perú, onde o nosso volume de negócios está a crescer. Queremos estar em África e, neste momento, estamos a redefinir a estratégia e a fazer um compasso de espera para a poeira assentar, na medida em que as geografias onde estávamos, passam por alguns momentos conturbados. Estamos em Angola e temos tudo preparado para entrar em Moçambique, mas entendemos que ainda não é o momento. Estamos a preparar esse mercado à distância, mas estamos presentes através de um parceiro, e estamos preparados para abordar projectos de grande dimensão em qualquer geografia, desde que faça sentido. Mantemos a estratégia traçada, de apostar em África e na América Latina, continuamos a seguir a estratégia nos países onde já estamos presentes e, acima de tudo, mantemos a estratégia de rápida ajuda e adaptação às necessidades de mercado, no sentido de rapidamente virar a agulha se assim for necessário.

Que perspectiva para o futuro?

As perspectivas para o futuro são cada vez mais incertas. Essa é a tendência que se vem intensificando ao longo do tempo. O grau de previsibilidade tem-se reduzido, o que agudiza a necessidade de maior e mais rápida adaptabilidade. Mas, por outro lado, esse problema afecta todos e as medidas que estão a ser implementadas através do Portugal 2020, do Plano Juncker e de outros programas em preparação, com vista ao relançamento da economia global, permitirão abrir novas perspectivas.

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“Estamos totalmente comprometidos com a transição para uma economia de baixo carbono”

Ao CONSTRUIR, o CCO da Cimpor, Ignácio Gómez, explica as transformações que estão a ser adoptadas numa das empresas europeias de referência na indústria cimenteira

Ricardo Batista

Para o Chief Comercial Officer (CCO) da CIMPOR, a previsibilidade é fundamental para as empresas, pelo que a instabilidade governativa não pode ser encarada como positiva. Ainda assim, Ignácio Goméz explica ao CONSTRUIR a estratégia da empresa para uma operação mais sustentável e que passa por um investimento estimado em 1,4 mil milhões de euros, a aplicar na modernização das fábricas do grupo e na eficiência das operações

A CIMPOR acaba de assinalar 130 anos. Muito se conhece a propósito do passado da empresa em Portugal. E o futuro? Por onde passa o futuro?
O futuro da CIMPOR está alicerçado em três grandes pilares: inovação, sustentabilidade e transformação digital. No próximo ano, a CIMPOR celebra 50 anos de existência, enquanto o seu Centro de Produção de Alhandra assinalou recentemente 130 anos, sendo a fábrica de cimento mais antiga do mundo a operar continuamente no mesmo local. Com tantos anos de história, a empresa continua a dar passos decisivos para consolidar a sua liderança no sector cimenteiro, com investimentos em tecnologia e modernização. A rede privada 5G Standalone instalada nas nossas fábricas permite uma digitalização das operações, tornando os processos mais ágeis e eficientes. Ao mesmo tempo, apostamos em soluções inovadoras para aumentar a competitividade e optimizar a utilização dos recursos.

A CIMPOR está também a modernizar as suas fábricas de Alhandra, Souselas e Loulé com projectos que envolvem um investimento total de 360 milhões de euros em tecnologias de eficiência operacional e energética para responder aos desafios do sector. A CIMPOR, portanto, projecta o futuro com a mesma visão de sempre: inovar para crescer, com um forte compromisso com a criação de valor para as comunidades e para o mercado.

A CIMPOR prevê investir 1,4 mil milhões de euros em Portugal até 2030. Quais vão ser as prioridades deste investimento e, no plano prático, como é que o mercado vai percepcionar os resultados desse investimento?
O nosso investimento de 1,4 mil milhões de euros em Portugal até 2030, que já está em curso desde a aquisição da CIMPOR por parte da TCC Group Holdings em Março do ano passado, espelha o compromisso da CIMPOR com a inovação e o reforço da sua competitividade no sector. A grande prioridade deste investimento é a modernização das infraestruturas e a implementação de novas tecnologias, garantindo operações mais eficientes e preparadas para o futuro. Parte significativa desse montante será alocada à modernização das infraestruturas, ao desenvolvimento de novas tecnologias e à introdução de novos produtos que não só atendem aos requisitos ambientais mais exigentes, mas também asseguram a nossa competitividade no mercado global.
Além disso, a aposta na digitalização e na automação permitirá ganhos significativos de eficiência e tornará as operações mais ágeis e competitivas. A modernização das fábricas, a implementação de novas soluções tecnológicas e o reforço da capacidade produtiva vão traduzir-se numa oferta mais diferenciada e numa resposta mais eficaz às necessidades dos clientes.
O mercado vai perceber os resultados desse investimento através de uma maior eficiência na produção, de produtos mais inovadores e da capacidade da CIMPOR em antecipar tendências e responder aos desafios da indústria, garantindo a sua posição de referência no sector cimenteiro.

Disse, em Dezembro último, que “o investimento é grande e se o Governo não está no mesmo ritmo, teremos um problema no futuro”. A instabilidade que se tem vivido em Portugal, do ponto de vista político, pode comportar riscos para a iniciativa privada? Em que medida?
A instabilidade política nunca é positiva para a iniciativa privada, pois significa que processos ficam parados e que decisões estratégicas podem sofrer atrasos. Para empresas como a CIMPOR, que fazem investimentos de grande escala e longo prazo, a previsibilidade é fundamental. Sempre que há incerteza no panorama político, existe o risco de desaceleração nos projectos e nos investimentos planeados. É importante que, independentemente do contexto político, os processos administrativos e regulatórios continuem a avançar a um ritmo que permita às empresas concretizar os seus planos sem entraves desnecessários.

Muito se discute em torno da sustentabilidade e da pegada carbónica na indústria da Construção de um modo transversal. De que modo está a CIMPOR a responder aos desafios que existem pela frente neste domínio e o que está a ser feito para ir ao encontro do que se espera que seja a neutralidade carbónica?
A abordagem da CIMPOR, no que diz respeito à sustentabilidade e à redução da pegada carbónica, é clara e proactiva, especialmente porque reconhecemos o impacto que a nossa indústria tem nas emissões de CO2. Estamos totalmente comprometidos com a transição para uma economia de baixo carbono e a net zero, um objectivo que nos orienta e que estabelece o horizonte de 2050.
No presente, temos em curso um plano estratégico de descarbonização que envolve várias iniciativas e investimentos. Estas incluem, por exemplo, a substituição de combustíveis fósseis por alternativas mais ecológicas, ou o investimento em infraestruturas de energias renováveis, como as UPACs (Unidades de Produção para Autoconsumo) que já estão operacionais. Estamos também a trabalhar em tecnologias de recuperação de calor residual que visam converter o calor gerado no processo de produção de clínquer em energia eléctrica.

Outra grande aposta da CIMPOR é a produção de materiais com menor pegada de carbono, como as argilas calcinadas, que podem substituir parcialmente o clínquer. Além disso, estamos a investir na inovação e no desenvolvimento de novos produtos que atendam às exigências ambientais do mercado, como o cimento de baixo carbono, e estamos a trabalhar em estreita colaboração com as autoridades e as comunidades locais para garantir que todos os processos de descarbonização sejam implementados de forma eficaz e inclusiva.

A CIMPOR compromete-se a alcançar emissões líquidas zero de gases com efeito de estufa ao longo de toda a cadeia de valor até 2050. Como vai ser feito este percurso até à meta traçada?
A CIMPOR tem um compromisso firme de alcançar a net zero até 2050, e este objectivo, que foi validado pela Science Based Targets initiative (SBTi), será alcançado através de uma combinação de iniciativas estratégicas, investimentos em tecnologias inovadoras e colaboração estreita com toda a nossa cadeia de fornecimento.
A descarbonização da produção é uma das nossas prioridades, com investimentos na substituição de combustíveis fósseis por alternativas mais sustentáveis e na eficiência energética das nossas fábricas. Também estamos a desenvolver produtos de menor pegada carbónica, como os cimentos com materiais alternativos, garantindo soluções mais sustentáveis para o sector da construção, sem comprometer a performance dos nossos materiais.

A transição energética será outro factor essencial, com um aumento significativo da incorporação de energia renovável e de combustíveis alternativos, reduzindo as nossas emissões ao longo da próxima década. Ao longo do percurso, também estamos a trabalhar de forma activa com os nossos fornecedores e parceiros para garantir que toda a nossa cadeia de valor contribua para a meta estipulada. A colaboração com os nossos clientes também será um pilar importante, com o desenvolvimento de soluções de construção sustentáveis que permitam a redução das emissões ao longo do ciclo de vida dos edifícios.

Anunciaram, recentemente, uma parceria com a FIZIX, empresa especializada em soluções que combinam sensores inteligentes e software baseado em inteligência artificial, para a adopção de um sistema de monitorização apoiado em IA que possibilitará detectar falhas nas instalações de produção de cimento antes que estas ocorram. Que necessidades identificaram para avançar com esta parceria? Na prática o que vai ser feito?
A parceria com a FIZIX surge como parte da nossa estratégia contínua de inovação e melhoria das nossas operações. A necessidade que identificámos para avançar com esta colaboração está directamente relacionada com o nosso compromisso em aumentar a eficiência operacional, reduzir o risco de falhas inesperadas nas nossas instalações e, consequentemente, optimizar a produção de cimento de forma mais eficiente.

As nossas fábricas estão sujeitas a uma complexa rede de processos e equipamentos que, se não monitorizados de forma contínua e eficaz, podem levar a interrupções ou falhas que impactam a produção. Sabemos que a manutenção preventiva e a detecção precoce de falhas são cruciais para garantir a continuidade da produção e a redução de custos operacionais. Foi neste contexto que identificámos a FIZIX como um parceiro estratégico, dada a sua expertise em soluções baseadas em inteligência artificial (IA) e sensores inteligentes.
Na prática, o que vamos fazer é implementar um sistema de monitorização avançado que utiliza sensores inteligentes para monitorizar em tempo real o desempenho das nossas instalações e equipamentos. Este sistema, alimentado por IA, será capaz de analisar grandes volumes de dados de forma eficiente, identificar padrões e, o mais importante, prever falhas antes que estas ocorram. Em vez de depender apenas da manutenção reactiva, que é mais custosa e disruptiva, passamos a contar com uma abordagem proactiva, que permite antecipar problemas e agir antes que afectem a produção.

Com esta parceria, vamos equipar as nossas instalações com sensores que irão medir variáveis críticas, como temperatura, pressão e vibração dos equipamentos, e enviar esses dados para uma plataforma centralizada. A inteligência artificial será responsável por analisar esses dados em tempo real, identificando potenciais falhas e notificando os responsáveis antes que estas se tornem um problema sério. Isso não só vai aumentar a confiabilidade dos nossos processos, mas também contribuirá para uma gestão mais eficiente da manutenção, permitindo que as equipas operacionais tomem decisões informadas com base em dados em tempo real.

Este sistema não se limita apenas à detecção de falhas, mas também permitirá uma optimização contínua dos processos. Ao perceber melhor o comportamento dos equipamentos, podemos identificar áreas de melhoria e ajustar os parâmetros operacionais para aumentar a eficiência e reduzir o desperdício.
Além disso, a integração de IA na nossa operação permitirá que a CIMPOR se mantenha na vanguarda da transformação digital na indústria cimenteira, alinhando-se com as melhores práticas de Indústria 4.0, onde a automação, a análise de dados e a inteligência artificial desempenham um papel central.

Uma empresa marcadamente cimenteira, como olha para a industrialização dos processos construtivos e para a “desejada” evolução dos processos de fabrico mais tradicionais?
A CIMPOR olha para a industrialização dos processos construtivos com grande interesse e atenção, pois acreditamos que esta tendência representa uma oportunidade significativa para o sector da construção e para a indústria cimenteira como um todo. A industrialização, nomeadamente a utilização de tecnologias avançadas e a automação, pode trazer uma série de benefícios, como a melhoria da eficiência, redução dos custos de produção e, acima de tudo, a garantia de maior qualidade e previsibilidade nos projectos de construção.
No entanto, para a CIMPOR, a industrialização não é apenas uma tendência passageira, mas uma realidade que já está a moldar o futuro da construção. A utilização de métodos mais modernos de fabrico, como a impressão 3D, o pré-fabricado e a construção modular, está a ser cada vez mais adoptada no sector da construção e irá, sem dúvida, transformar a forma como as obras são realizadas, criando novas exigências para os materiais e soluções que oferecemos. O cimento, como matéria-prima central na construção, precisa de acompanhar esta evolução, com produtos inovadores e mais adaptados aos novos métodos de construção.

A “desejada” evolução dos processos de fabrico mais tradicionais não significa que vamos abandonar a produção de cimento convencional, mas sim que devemos integrar novas tecnologias e processos mais eficientes, como os que estamos a implementar no âmbito da digitalização e da descarbonização. Este processo de evolução passa, por exemplo, pela melhoria das técnicas de produção, pela optimização da utilização de recursos e pela aposta na inovação, como já estamos a fazer.
Além disso, os avanços nos processos construtivos industriais exigem uma estreita colaboração entre a indústria do cimento e o sector da construção, pois as soluções mais inovadoras precisam de ser pensadas e adaptadas em conjunto. A CIMPOR, com a sua longa experiência e presença no mercado, tem um papel fundamental em fornecer produtos e soluções mais adaptáveis às necessidades da indústria da construção no futuro.

Do ponto de vista da industrialização, o cimento continuará a ser a base para as grandes obras de infraestrutura, mas com o avanço das novas tecnologias, estamos a trabalhar para que o cimento também seja mais eficiente e mais bem adaptado às exigências dos métodos de construção mais modernos. O nosso compromisso com a inovação vai ao encontro dessa necessidade de adaptação dos processos construtivos, tornando-os mais industriais e mais eficientes.
Olhamos para a industrialização dos processos construtivos não como uma ameaça, mas como uma evolução natural do sector, na qual a CIMPOR está activamente envolvida, com o objectivo de estar alinhada com as novas necessidades da indústria da construção.

Sobre o autorRicardo Batista

Ricardo Batista

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Comissão Europeia dá luz verde ao estatuto de “cliente electrointensivo”

A medida dirige-se a indústrias com elevado consumo energético, que irão beneficiar de uma redução dos encargos com os Custos de Interesse Económico Geral (CIEG). O regime, cujo orçamento estimado ascende a 612 milhões de euros, deverá apoiar 319 empresas e vigorará até 22 de Abril de 2035

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A Comissão Europeia aprovou o estatuto do “cliente electrointensivo”, uma iniciativa do Governo que visa responder às necessidades específicas das indústrias de elevado consumo energético, promovendo a redução dos custos da electricidade para sectores estratégicos da economia nacional, tais como cerâmicas, vidro, metalomecânica e têxteis.

O apoio ao regime português contará com um financiamento de 612 milhões de euros destinado a reduzir as taxas de imposto sobre a electricidade cobradas às empresas com utilização intensiva de energia. O regime visa reduzir o risco de estas empresas com utilização intensiva de energia deslocalizarem as suas actividades para países terceiros que têm políticas climáticas menos ambiciosas.

A medida “permite que Portugal apoie as empresas particularmente expostas ao comércio internacional cujas actividades dependem largamente da electricidade. O regime mantém os incentivos para uma descarbonização eficaz da economia portuguesa, limitando ao mínimo as distorções da concorrência. Reforça igualmente a competitividade das empresas que beneficiam de apoio, em consonância com os objectivos do Pacto da Indústria Limpa”, explica Teresa Ribera, vice-presidente executiva da Comissão responsável pela Transição Limpa, Justa e Competitiva

Portugal introduziu vários impostos para financiar as suas políticas energética e ambiental, entre os quais os impostos que financiam a produção de electricidade a partir de fontes de energia renováveis, o apoio a medidas de eficiência energética, e as tarifas sociais e a promoção da produção de electricidade em regiões isoladas.

O regime de auxílios estatais visa reduzir as taxas de imposto cobradas às empresas com utilização intensiva de energia, a fim de reduzir o risco de estas deslocalizarem as suas actividades para países terceiros com políticas climáticas menos ambiciosas. O regime, cujo orçamento estimado ascende a 612 milhões de euros, vigorará até 22 de Abril de 2035.

“Com a aprovação por parte da Comissão Europeia, o Governo está em condições de emitir a portaria que regulamenta o Estatuto do Cliente Electrointensivo, permitindo que, após a sua publicação, as empresas elegíveis beneficiem de uma redução parcial dos encargos com os Custos de Interesse Económico Geral (CIEG). As reduções podem atingir um limite máximo de 75% ou, em determinados casos, 85%, caso as instalações demonstrem que pelo menos 50% do seu consumo de electricidade provém de fontes renováveis e que pelo menos 10% desse consumo seja assegurado por um contrato de longo prazo ou 5% seja proveniente de autoconsumo renovável”, refere nota do Governo. O número estimado de consumidores elegíveis é de 319 empresas, com um apoio anual previsto de, pelo menos, 60 milhões de euros através da isenção parcial dos CIEG.

Para serem elegíveis, as empresas devem cumprir determinados critérios, tais como o consumo mínimo anual de energia eléctrica de 1 GW; o consumo anual nos períodos horários de vazio normal e supervazio igual ou superior a 40% e ter um grau de electrointensidade anual igual ou superior a 1 kWh/€ de valor acrescentado bruto.

“O reconhecimento do Estatuto do Cliente Electrointensivo por parte da Comissão Europeia é um forte impulsionador do crescimento da economia portuguesa. A aposta na redução dos custos da energia para sectores estratégicos, em particular na indústria, representa um reforço na competitividade nacional e mais um passo no caminho da necessária transição energética”, sublinha na mesma nota o ministro da Economia, Pedro Reis.

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Comunidade Intermunicipal de Aveiro prepara obra de defesa do Baixo Vouga

Após um concurso sem sucesso, a empreitada foi adjudicada por cerca de 24,3 milhões de euros, com um prazo de execução de 24 meses

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O Conselho Intermunicipal da Região de Aveiro decidiu iniciar os preparativos técnicos e financeiros para a construção do Sistema de Defesa Primário do Baixo Vouga, saudando a decisão do Governo que assegura o financiamento, foi esta quinta-feira anunciado.

Após um concurso sem sucesso, a empreitada foi adjudicada por cerca de 24,3 milhões de euros, com um prazo de execução de 24 meses.

“A Comunidade Intermunicipal da Região de Aveiro (CIRA) e o empreiteiro iniciarão agora os preparativos técnicos e financeiros para dar início à obra”, informa em comunicado.

No comunicado, saído da reunião de quarta-feira daquele órgão da Comunidade Intermunicipal (CIRA), é saudada a decisão do Governo de assegurar a componente nacional do financiamento e reiterado o compromisso na concretização das obras.

Desde 2016, a CIRA tem liderado um conjunto de três projetos, totalizando cerca de 45 milhões de euros, destinados a preservar o ecossistema do Baixo Vouga Lagunar.

Para além do Sistema de Defesa Primário, cujo financiamento foi agora assegurado, estão em curso as obras de construção da ponte-açude do Rio Novo do Príncipe e a reabilitação da margem esquerda.

O Sistema de Defesa Primário, que teve um troço construído entre 1995 e 1999, que não teve seguimento, foi retomado pela CIRA, que concluiu o plano em 2020 e obteve a Declaração de Impacte Ambiental em fevereiro de 2023.

A Resolução do Conselho de Ministros publicada na segunda-feira desbloqueou o financiamento necessário, que será assegurado por fundos europeus em 14,6 milhões de euros entre 2025 e 2026, e na componente nacional pelo Fundo Ambiental, com 10,4 milhões de euros entre 2027 e 2028.

A obra a realizar abrangerá os municípios de Aveiro, Albergaria-a-Velha e Estarreja, e incluirá a construção de diques, estruturas hidráulicas, sistemas de drenagem, uma estrutura verde e caminhos rurais. O objetivo é proteger o potencial agrícola e o ecossistema do Baixo Vouga Lagunar.

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Antigo Tribunal da Maia dá lugar a empreendimento de luxo

Hélder Gonçalves, CEO da Bluesteel Investimentos, revela que “está em causa um investimento de 10 milhões de euros entre a aquisição dos dois imóveis e a reconstrução”

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As antigas instalações do núcleo da Maia do Tribunal Judicial da Comarca do Porto, que estavam devolutas há vários anos, vão ser transformadas no empreendimento Domus Maia Center. Hélder Gonçalves, CEO da Bluesteel Investimentos, revela que “está em causa um investimento de 10 milhões de euros entre a aquisição dos dois imóveis e a reconstrução”.

O arranque das obras está previsto para o mês de Maio, com um prazo de execução de 18 meses, pelo que o Domus Maia Center deverá estar pronto a habitar em finais de 2026.

O projecto imobiliário, localizado em frente à Câmara Municipal da Maia, será promovido e construído pela Bluesteel Investimentos, uma empresa do ramo da construção com sede em Vila Nova de Famalicão, que adquiriu as instalações do antigo tribunal maiato a um fundo de investimento. O empreendimento irá ocupar dois edifícios, sendo um reabilitado e outro totalmente reconstruído.

Ocupando uma área de cerca de mil metros quadrados (m2), o Domus Maia Center será composto por um total de 32 apartamentos, espaços de estacionamento e dois espaços comerciais no rés-do-chão. Serão 24 apartamentos de tipologia T2, com área de 100 metros quadrados (m2), seis apartamentos de tipologia T1, com área de 70 metros quadrados (m2) e duas “penthouses” de tipologia T4 com 270 metros quadrados (m2) cada. Os dois espaços comerciais destinam-se a uma loja de rua com 750 metros quadrados (m2) e outra com 100 metros quadrados (m2).

Este é o primeiro grande investimento que a promotora tem fora do concelho de Vila Nova de Famalicão. Fundada em 2010 para actuar no mercado imobiliário como empresa especializada em construção para a indústria, tendo sido responsável pela reabilitação da fábrica dos pneus Camac, em Santo Tirso.

Nos últimos três anos, a Bluesteel Investimentos triplicou a sua facturação, tendo passado “de três milhões de euros em 2022 para 15 milhões de euros em 2024”, segundo dados revelados por Hélder Gonçalves. “O nosso objetivo estratégico é estabilizar a facturação anual neste patamar”, aponta o CEO da empresa de Vila Nova de Famalicão.

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Greenvolt vende parque eólico na Polónia por 174,4 M€

A transação é referente à venda de um parque eólico de 83,2 MW localizado em Pelplin, região centro-norte da Polónia, à Enea Nowa Energia, totalmente operacional composto por 16 turbinas, cada uma com uma capacidade de 5,2 MW

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A Greenvolt Power, promotora de projectos de energia eólica, fotovoltaica e baterias de grande escala, parte do Grupo Greenvolt, finalizou a venda do parque eólico de Pelplin. O comprador, Enea Nowa Energia, faz parte do Grupo Enea, um dos maiores fornecedores de electricidade da Polónia, que opera em toda a cadeia de abastecimento, desde a geração de energia até à sua distribuição. A transação foi avaliada em 174,4 milhões de euros.

Localizado no município de Pelplin, no centro-norte da Polónia, o projecto obteve todas as licenças necessárias e está totalmente operacional, sendo composto por 16 turbinas Siemens Gamesa SG145 de 5,2 MW cada, com uma capacidade total instalada de 83,2 MW.

“O parque eólico de Pelplin é uma demonstração clara da nossa capacidade de executar e entregar ativos de grande escala que são atrativos e valorizados pelo mercado. A sua aquisição pela Enea Nowa Energia confirma isso mesmo e está alinhada com a nossa estratégia de vender uma parte significativa dos nossos activos nas fases RtB (Ready to Build) ou COD (Commercial Operation Date), dependendo do potencial de retorno”, afirmou João Manso Neto, CEO do Grupo Greenvolt.

A construção do parque eólico de Pelplin iniciou em Junho de 2023, tendo sido concluída dentro do prazo inicialmente previsto, em Dezembro de 2024, e está equipado com turbinas Siemens Gamesa SG145 com capacidade de 5,2 MW, uma das tecnologias mais avançadas disponíveis no mercado e reconhecidas pela sua eficiência e alto desempenho em projectos de grandes dimensões.

“O projecto Pelplin prova a nossa capacidade de implementação e reforça ainda mais a nossa posição de liderança no mercado polaco e europeu. Pelplin é um exemplo bem demonstrativo de um investimento que concebemos desde o início, assegurando a sua máxima eficiência e gerando um importante retorno para o Grupo” acrescentou Radek Nowak, CEO da Greenvolt Power.

No segmento de projectos de grande escala, o Grupo Greenvolt tem um portfólio de 10,9 GW em 17 países, prosseguindo uma estratégia de rotação de activos através da alienação de 70–80% dos mesmos nas fases RtB ou COD.

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Hipoges implementa tecnologias para reduzir consumo de energia nos seus imóveis

Num mercado onde os imóveis “verdes” estão em ascensão, a Hipoges aposta na modernização de sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado, bem como a instalação de painéis solares e outras fontes de energia renovável nos seus activos imobiliários

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Com o objectivo de “aumentar” a sustentabilidade e a “cotação ESG” dos imóveis sob a sua gestão, a Hipoges, tem implementado um conjunto de políticas, nomeadamente, a implementação de tecnologias avançadas e melhorias estruturais que auxiliem na redução do consumo de energia.

Num mercado onde os imóveis “verdes” estão em ascensão, impulsionado por políticas governamentais favoráveis, incentivos fiscais e uma crescente consciencialização sobre a importância da sustentabilidade, a Hipoges aposta na modernização de sistemas de aquecimento, ventilação e ar condicionado, bem como a instalação de painéis solares e outras fontes de energia renovável nos seus activos imobiliários.

A adopção de critérios que fomentem e desenvolvam a melhoria da sustentabilidade dos imóveis torna-os mais atractivos para investidores, que são cada vez mais conscientes das questões ambientais e sociais. O foco na eficiência energética e certificações verdes responde a esta crescente procura, que está alinhada com as tendências do mercado imobiliário na Europa.

Para este efeito, a Hipoges avançou com análise de peritagem energética em mais de 2500 activos e conta actualmente com mais de 10% de imóveis em carteira com classificação energética abrangida pelo Sistema de Certificação Energética dos Edifícios (SCE) gerido pela ADENE (Agência para a Energia) com certificados superiores a B-, ou seja, B, A e A+. Destes, 25% são imóveis residenciais e os restantes 75% estão inseridos no sector de comércio e serviços.

“Sabemos que investir em imóveis mais eficientes pode envolver poupanças significativas, que se reflectem tanto no custo operacional do imóvel quanto no impacto ambiental, alinhando-se assim com as crescentes preocupações com a natureza e a sustentabilidade”, explica José Diogo Jesus. Mas nem sempre é possível encontrar esses imóveis verdes disponíveis no mercado. “Apesar da preocupação dos nossos consumidores, muitos têm optado também por investir e melhorar os imóveis convencionais”, afirma José Diogo Jesus, responsável pela área de Property Real Estate.

Além do aumento na procura, também se registou um crescimento na conversão de imóveis verdes. Com esta dinâmica de mercado, a Hipoges tenta acompanhar a mudança de mercado, consolidando o compromisso da empresa em continuar a investir em activos sustentáveis.

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IP Leiria avança com investimento de 3,7M€ em residências para estudantes

Investimento de 3,7 milhões de euros na renovação e construção de residências aumenta oferta de camas nas Caldas da Rainha. Em 2026, a cidade passará a ter três residências de estudantes, num total de 289 camas

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O Instituto Politécnico de Leiria (IPLeiria) assinou esta semana a consignação da empreitada de renovação da Residência Mestre António Duarte, nas Caldas da Rainha, e a obra de construção da nova residência de estudantes naquela cidade, num investimento de 3,7 milhões de euros, financiados pelo Plano Nacional de Alojamento no Ensino Superior (PNAES), via Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Com a concretização destas duas empreitadas, que se juntam à obra de reabilitação da Residência Rafael Bordalo Pinheiro, cuja inauguração está prevista para breve, Caldas da Rainha passará a ter, em 2026, um total de 289 camas para os estudantes.
A obra de renovação da Residência Mestre António Duarte visa a recuperação integral do edifício, com vista à melhoria do conforto e à promoção da eficiência energética, assim como uma readaptação de espaços e uma optimização do seu funcionamento. O edifício contemplará um total de 56 quartos, dois destinados a utilizadores com mobilidade condicionada, num total de 104 camas. A obra tem uma duração de 150 dias, estando a reabertura prevista para o início do próximo ano lectivo.

No que se refere à construção da residência ‘Nova Caldas’, a ser edificada num terreno adjacente à Residência Mestre António Duarte, a mesma oferecerá 68 novas camas, contemplando, além do alojamento, zonas de refeição, áreas de estudo e de convívio, lavandaria, espaços de apoio ao funcionamento da residência, entre outros.

O projecto da nova residência, prevista ficar concluída no final de Março de 2026, teve em consideração princípios de sustentabilidade e eficiência energética, tendo sido adoptadas soluções de design passivo, como orientação solar adequada, uso de iluminação natural e ventilação cruzada, visando reduzir o consumo de energia e promover o bem-estar de todos.

“Esta obra proporcionará um aumento significativo do número de camas disponíveis na cidade de Caldas da Rainha, que anualmente recebe entre 1.500 e 1.700 estudantes da nossa Escola Superior de Artes e Design”, afirmou o presidente do Politécnico de Leiria, recordando que a instituição teve nove candidaturas aprovadas no âmbito do PNAES, para renovação, reabilitação e construção de residências de estudantes, contemplando 13 edifícios, localizados em quatro cidades (Leiria, Caldas da Rainha, Peniche e Pombal).

“Foi em Caldas da Rainha que iniciámos a primeira obra, referente à reabilitação da Residência de Estudantes Rafael Bordalo Pinheiro, apresentando uma capacidade para 117 camas. A reabilitação desta residência, iniciada em 2024, já se encontra concluída, estando a sua reabertura prevista para breve. Desta forma, e com as empreitadas que estamos agora a adjudicar, a cidade passará a ter disponíveis três residências de estudantes, somando um total de 289 camas”, mencionou Carlos Rabadão.

No total, os nove projectos de iniciativa directa do Politécnico de Leiria, de renovação e construção de residências de estudantes, representam um investimento acima de 25 milhões de euros financiados pelo PRR, contemplando a necessidade de um reforço adicional de receitas do Politécnico de Leiria, na ordem dos seis milhões de euros, face aos actuais preços de mercado.

A instituição é ainda copromotora de mais três residências, numa colaboração estabelecida com os municípios da Batalha e Torres Vedras, cujas residências já se encontram em funcionamento, tendo também sido recentemente adjudicada a construção de uma outra residência, na Marinha Grande.

“Desta forma, após a conclusão de todas as obras, serão disponibilizadas 1.373 camas, o que significa que estamos praticamente a duplicar a oferta de camas para os nossos estudantes. Falamos de mais 670 camas que as disponíveis actualmente, sendo que nestes valores estamos a considerar igualmente o Hotel Escola de Peniche, do Instituto Politécnico de Leiria (50 camas), assim como os Apartamentos João 21 (com 12 camas), disponibilizados no âmbito da parceria estabelecida com o município de Leiria”, referiu o presidente do IPLeiria.

Politécnico de Leiria é a instituição de ensino superior com mais projetos de residências em curso
A directora da Agência Nacional Erasmus+ Educação e Formação afirmou, durante a cerimónia de consignação das obras nas Caldas da Rainha, que o Politécnico de Leiria é a instituição de ensino superior em Portugal com mais projectos em curso de renovação e construção de residências de estudantes, no âmbito do Plano Nacional de Alojamento no Ensino Superior, integrado no PRR.

“Só temos de dar os parabéns ao Politécnico de Leiria pela ambição e visão e pela forma como tem conduzido este processo. É, neste momento, a instituição de ensino superior com um maior número de projectos em curso, e isso dá imenso trabalho”, salientou Cristina Perdigão.

Para Cristina Perdigão, “há muito mais numa residência de estudantes do que o simples alojamento. É algo que modifica verdadeiramente a vida e o percurso académico de um estudante. Poder partilhar um espaço digno e confortável com os colegas de diferentes unidades orgânicas, de diferentes cursos e de diferentes origens, é muito enriquecedor no percurso do estudante”.

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InovaDigital apresenta tecnologia para transformação digital das empresas de mediação

A nova plataforma X-IMO pretende marcar uma “viragem significativa” na forma como a tecnologia pode apoiar e liderar a transformação do sector. Através do módulo de ‘Market Data’ pode-se identificar oportunidades, analisar a evolução do mercado e reajustar o valor das carteiras de imóveis

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Cada vez mais as agências de mediação imobiliária são confrontadas com um ambiente onde a complexidade tecnológica cresceu mais depressa do que a sua capacidade de adaptação, sendo que o verdadeiro desafio está agora em recuperar o controlo da operação, da informação e da estratégia comercial.

É nesta medida que o novo X-IMO, plataforma portuguesa de gestão imobiliária, desenvolvido pela InovaDigital, surge como uma ferramenta de apoio à decisão, com funcionalidades que permitem estruturar e utilizar a informação de forma proactiva, marcando, desta forma, uma “viragem significativa” na forma como a tecnologia pode apoiar e liderar a transformação do sector, considera Filipe Marques, executive manager da InovaDigital.

O software da X-IMO apresenta-se, assim, como um parceiro “estratégico” para a “nova geração de empresas imobiliárias”. Empresas que “ao tomar decisões com base em dados, valorizam a autonomia operacional e procuram soluções tecnológicas sustentáveis e alinhadas com a realidade portuguesa”, indica.

“A transformação digital do sector imobiliário já não se resume à presença online ou à adopção de um CRM. Mais do que adoptar tecnologia, trata-se de usar os meios digitais para devolver clareza, autonomia e visão estratégica ao negócio. E é exatamente aqui que soluções desenvolvidas com conhecimento do terreno ganham destaque”, acrescenta.

O software da X-IMO tem integrado um novo módulo de ‘Market Data’ que permite identificar oportunidades, analisar a evolução do mercado e reajustar o valor das carteiras de imóveis de forma linear, algo que tem impacto directo na rentabilidade das operações.

Em paralelo, a implementação transversal da Inteligência Artificial (IA) em várias operações, desde a organização automática de informação à geração de conteúdos, representa um salto qualitativo na automação do trabalho e na redução do esforço administrativo.

Tudo isto integra-se num roadmap de desenvolvimento contínuo, com novas funcionalidades a serem lançadas regularmente pela InovaDigital, sempre com o objectivo de concretizar a digitalização absoluta da atividade imobiliária e, acima de tudo, devolver o controlo e a autonomia às empresas de mediação.

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Intermarché investe 5 milhões de euros em nova loja em Leiria

O novo supermercado do Grupo Mosqueteiros, em Monte Redondo, abre a 24 de Abril, tem uma área de 1.300 m2 e vai permitir a criação de 50 novos postos de trabalho

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O Intermarché, insígnia do Grupo Mosqueteiros, inaugura uma nova loja em Monte Redondo, concelho de Leiria. O novo supermercado, com uma área total de 1.300 m²,representa um investimento de 5 milhões de euros, vai permitir a criação de 50 novos postos de trabalho, reforçando a presença da insígnia na região e a sua aposta no desenvolvimento da economia local.

“A abertura do Intermarché de Monte Redondo é mais um passo na nossa missão de estarmos cada vez mais próximos dos consumidores. É com grande orgulho que inauguramos esta loja, que representa não só um investimento significativo na região, mas também a criação de emprego local e o reforço da nossa aposta numa oferta de qualidade e conveniência”, afirma Raúl e Fátima Rodrigues, responsáveis do Intermarché de Monte Redondo.

Em Portugal há mais de 30 anos, o Intermarché conseguiu consolidar a sua experiência no mercado retalhista, contando hoje com 269 pontos de venda, espalhados por mais de 180 concelhos, nos 18 distritos do país.

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Mercado de escritórios encerra 1.º trimestre sob pressão em Lisboa e Porto

Falta de oferta de qualidade e investidores mais cautelosos devido à instabilidade geopolítica, influenciaram o mercado de escritórios em Portugal . O mais  recente Office Flashpoint da JLL mostra uma ocupação de 16.000 m2 em Lisboa e 2.400 m2no Porto

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A JLL divulgou o Office Flashpoint de Março, onde revela que o mercado de escritórios encerrou o 1.º trimestre de 2025 com uma ocupação residual de 16.000 m2 em Lisboa e 2.400 m2 no Porto. O desempenho trimestral em qualquer das regiões fica consideravelmente abaixo do período homólogo, quando foram absorvidos 73.700 m2 e 17.600 m2, respectivamente.

Sofia Tavares, Head of Leasing Advisory da JLL, explica que “os baixos níveis de actividade registados no mercado este ano têm dois fundamentos essenciais. Por um lado, as empresas internacionais, que são actualmente uma fonte forte de procura em Portugal, estão mais resistentes a tomar novas decisões de investimento para as suas instalações devido à instabilidade geopolítica. Por outro lado, internamente, o mercado sofre actualmente de falta de oferta de edifícios novos e de qualidade. Não havendo espaços disponíveis adequados aos requisitos das empresas, especialmente áreas de maior dimensão, realizam-se menos operações”.

Nos primeiros três meses de 2025, a ocupação de escritórios em Lisboa somou 33 negócios, com uma área média de apenas 490 m2. Destas operações, somente quatro envolveram áreas superiores a 1.000 m2, duas das quais realizadas no mês de Marco, perfazendo 2.800 m2. Dos 16.000 m2 tomados no 1º trimestre, 30% situam-se no Corredor Oeste e 25% no CBD, enquanto do lado da procura, foram as empresas de TMT’s & Utilities as mais dinâmicas, com 33% do take-up, embora se evidenciem ainda as empresas de Outros Serviços, que geraram 23% da absorção.

O mercado do Porto foi palco de 10 operações no acumulado do 1º trimestre, traduzindo uma área média por transacção de 280 m2. Neste período, 48% da ocupação ocorreu na Zona Empresarial do Porto e outros 39% no CBD – Boavista. Entre a procura, as empresas de Serviços Financeiros foram as mais activas, com 46% da absorção.

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