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“Mais Habitação” compromete investimentos da Mercan Properties em Portugal

A proposta de lei, nos termos actuais, poderá pôr em causa projectos já anunciados pela Mercan ou em fase de desenvolvimento em zonas de relevante interesse económico e social, como o interior do país e o Algarve, e que ascendem a 481M€, com potencial de criação de 565 novos postos de trabalho directos e 690 indirectos

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“Mais Habitação” compromete investimentos da Mercan Properties em Portugal

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Com 27 projectos no mercado nacional, a Mercan Properties, empresa do Grupo Mercan que há oito anos desenvolve projectos comerciais não residenciais em Portugal, na área do turismo, submeteu um conjunto de propostas no processo de consulta pública do Programa “Mais Habitação”, com o intuito de contribuir “com o que a sua experiência no país já demonstrou sobre o potencial de captação de investimento e desenvolvimento do turismo via Programa ARI”.
O trabalho desenvolvido pela Mercan Properties em Portugal,” exclusivamente no sector do turismo e via programa Autorizações de Residência por Investimento, totaliza 1,1 mil milhões de euros, podendo atingir os 1,4 mil milhões até ao final de 2023”, sublinha a empresa em comunicado. “Os projectos da Mercan Properties captaram o interesse de 2.500 investidores estrangeiros, dos quais mais de 1.200 realizaram investimento no ano de 2022. Números estes que posicionam o Grupo Mercan Properties como responsável pela angariação de 50% do investimento via Programa ARI no mercado comercial não residencial”, garante.
No que diz respeito à criação de emprego, os activos já existentes permitiram criar 550 empregos directos, quer nos hotéis em funcionamento quer nos serviços corporativos da Mercan em Portugal, para além da criação de cerca de 2.300 empregos indirectos, criados durante as fases de construção dos mesmos. Se se mantiver o programa ARI em Portugal, perspectivam-se ainda, no que concerne todos os projectos hoteleiros da Mercan Properties, a criação de cerca de 2.000 empregos directos, mais 3.000 empregos indirectos na fase de construção dos activos.
“A nossa actividade, tal como a de outras empresas no mercado, espelha um lado dos Vistos Gold que acreditamos que muitos dos que estão envolvidos nas críticas ao regime actual possam não conhecer, refiro-me aqui a investidores que reconhecem o potencial de Portugal ao nível da reabilitação urbana e que têm desempenhado um papel muito importante ao nível da evolução do país neste segmento e que, na verdade, de entre vários programas de Autorização de Residência por Investimento, escolhem Portugal devido à segurança, potencial e hospitalidade do país. Desde a criação de emprego à dinamização da economia e comércio local, os benefícios do investimento no mercado não residencial são inegáveis. Estamos convictos de que é possível mantê-los e potenciá-los, ao mesmo tempo que propomos melhorar as regras de forma que possamos, todos, contribuir para a melhoria de Portugal e em particular da habitação no país”, afirma Jordi Vilanova, presidente da Mercan Properties.
Acreditando no potencial positivo deste regime de captação de investimento estrangeiro, a Mercan Properties sugere que o actual programa ARI possa ser repensado e reformulado com o objectivo de o tornar uma ferramenta activa para a promoção e bem-estar do sector da habitação em Portugal.
Nesse sentido, a promotora propõem “a manutenção do programa ARI para investimento em reabilitação urbana na área do turismo, sob a presente forma ou outra a definir, revisitando os valores mínimos de investimento”; “inclusão da obrigatoriedade de contribuições extraordinárias adicionais para, por exemplo, 10% para a habitação social, arrendamento acessível ou outras; e “em caso de clara impossibilidade de manutenção do regime para todo o território nacional, propomos a manutenção do mesmo para as Zonas de Baixa Densidade, que tanto beneficiam deste tipo de programas”.
No mesmo comunicado a Mercan Properties avança que “a proposta de lei, nos termos actuais em que prevê a retroactividade dos seus efeitos a 16 de Fevereiro, poderá pôr em causa projectos já anunciados pela Mercan ou em fase de desenvolvimento em zonas de relevante interesse económico e social, como o interior do país e o Algarve, cujo impacto estimamos em 481 milhões de euros, bem como os seus efeitos laborais e sociais, tais como a criação de emprego, cujo impacto igualmente estimamos na perda de 565 novos postos de trabalho directos e 690 indirectos. Sem esquecer o contributo global de cada novo investidor estrangeiro na economia portuguesa, que ao fim de 5 anos, é de cerca de 6 vezes o valor do seu investimento inicial, tal como a APR veio a público referir”.
O grupo considera de suma importância que o devido tempo seja dedicado a esta reflexão, bem como à implementação das medidas que ficarem decididas, cumprindo o princípio da segurança jurídica que é próprio de um Estado de Direito.

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Autarquia de Mondim de Basto investe 3,1M€ na reconversão de hotel inacabado em habitação

O investimento previsto é de 3,1 milhões de euros, uma verba que, segundo a autarquia, assegura a aquisição e a reabilitação do imóvel conhecido localmente como “Hotel das Rãs”, que foi adquirido pelo município

A Câmara de Mondim de Basto vai reabilitar um edifício inacabado para a construção de 18 fogos destinados a habitação com arrendamento acessível, num investimento de 3,1 milhões de euros, foi anunciado esta quarta-feira.

“Este investimento estratégico, na área da habitação acessível, vem reforçar a oferta de alojamento no concelho, bem como resolver uma situação urbanística que se vinha arrastando há vários anos, em pleno centro da vila de Mondim de Basto, cumprindo o compromisso assumido com todos os mondinenses”, afirmou, citado em comunicado, o presidente do município, Bruno Ferreira.

O investimento previsto é de 3,1 milhões de euros, uma verba que, segundo a autarquia, assegura a aquisição e a reabilitação do imóvel conhecido localmente como “Hotel das Rãs”, que foi adquirido pelo município.

No âmbito deste projeto vão ser construídos 18 fogos destinados a dar resposta a situações habitacionais na modalidade de arrendamento acessível, no âmbito na Estratégia Local de Habitação de Mondim de Basto.

O projeto, de acordo com a câmara, “além de promover a inclusão social e territorial de pessoas e agregados familiares irá resolver, também, um problema estético já antigo”.

Trata-se de um edifício inacabado desde a década de 80 do século passado, localizado no centro da vila sede de concelho.

A intervenção vai ser feita no âmbito de uma candidatura apresentada pelo município ao programa 1.º Direito (Programa de Apoio ao Acesso à Habitação), contratada com o Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU).

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Elad Dror deixa liderança da Fortera; grupo reafirma que acusações e alegações são “infundadas”

Segundo adianta a Fortera em comunicado, a decisão deve permitir “que a empresa possa continuar a sua atividade sem quaisquer interferências do e no processo em curso, que estimamos que termine sem mais acusações”

Elad Dror, CEO do Grupo Fortera, vai resignar ao cargo na liderança da promotora, uma decisão que tem “efeitos imediatos” e que, segundo adianta o Grupo em comunicado, deve permitir “que a empresa possa continuar a sua atividade sem quaisquer interferências do e no processo em curso, que estimamos que termine sem mais acusações”.

O empresário israelita é um dos arguidos da Operação Babel, investigação centrada “na viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanístico em favor de promotores associados a projetos de elevada densidade e magnitude, estando em causa interesses imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas de cariz pecuniário”.

Na Operação Babel, que envolve igualmente o vice-presidente da Câmara de Gaia, Patrocínio Azevedo, e o empresário Paulo Malafaia, ambos em prisão preventiva, estão em causa crimes de recebimento ou oferta indevidos de vantagem, de corrupção activa e passiva, de prevaricação e de abuso de poder, praticados por e sobre funcionário ou titular de cargo político.

O Grupo assegura que “sempre pautou a sua actividade sustentada em valores como a transparência e a integridade, servindo até como modelo para outros seguirem”. No comunicado lê-se ainda que o projeto Skyline e o Centro de Congressos em Vila Nova de Gaia foram iniciados e apoiados pela Câmara Municipal de Gaia, tendo-o declarado como um empreendimento emblemático para a cidade, demonstrando assim o empenho em prestar assistência proporcional ao elevado investimento exigível para a sua execução”, acrescentando a Fortera que o projecto Skyline “deriva de um convite a si endereçado para construir um Centro de Congressos com capacidade para 2.500 pessoas. Em troca, foi concedida à empresa a capacidade de construção e respetivas isenções fiscais, sujeitas à aprovação pela Assembleia Municipal e sujeitas à discussão pública, tal como previsto na lei”.

“Apesar da dificuldade destes últimos dias, o Grupo Fortera quer enfatizar a sua gratidão junto das instituições bancárias, os seus parceiros, os seus clientes e fornecedores, por terem declarado
firmemente o seu apoio e confiança inabaláveis junto da administração da empresa, o que comprova as fortes relações construídas desde a sua fundação”.

O novo CEO da Fortera será conhecido na próxima semana.

Sobre o autorRicardo Batista

Ricardo Batista

Director Editorial
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Zonas escritórios Lisboa (Fonte: JLL)

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Escritórios: ESG e sustentabilidade ‘ditam as regras’ para os próximos anos

Mercado de Lisboa abranda no primeiro trimestre de 2023, mas esta situação não é propriamente uma novidade para quem trabalha no sector, depois de um 2022 com um número recorde de pré-arrendamentos e que terá “inflacionado” os números de take-up. Além disso, não é de descartar, também, que o sentimento de insegurança económica que se vive possa influenciar no tempo de decisão das empresas. O CONSTRUIR foi tentar perceber junto das principais consultoras qual o retrato actual do mercado de escritórios e quais as principais tendências

Cidália Lopes

Tem sido um dos mercados mais dinâmicos dos últimos anos, não só pela elevada rotatividade que verifica, como pelas alterações nas tendências destes espaços, que se acentuaram com a pandemia de covid-19 e à qual os promotores rapidamente souberam responder. Num mercado onde nem sempre é possível adequar a oferta existente às exigências das empresas, a entrada de oferta nova no mercado é fundamental para manter níveis procura

No final do primeiro trimestre de 2023, o mercado de escritórios de Lisboa contabilizou um volume de absorção total de aproximadamente 20 mil metros quadrados (m2), revelando uma descida acentuada de 69% face ao período homólogo do ano 2022. Comparativamente, com a média dos primeiros trimestres dos últimos anos cinco anos, o resultado ficou igualmente 55% abaixo da média cifrada nos 43 mil m2.

Não obstante, o número de operações fechadas observou um aumento de 20% relativamente ao primeiro trimestre de 2022. Contudo, estas forma direccionadas para áreas de menor dimensão, com uma média por operação a rondar os 500 m2, o que se traduz num menor take-up.

Segundo Frederico Leitão de Sousa, head of Corporate Solutions da Savills Portugal, estes resultados “naturais e expectáveis” e que “devem ser analisadas com o devido enquadramento”. “A quebra mais acentuada deve ter em consideração a base comparativa que é bastante elevada, já que 2022 foi o ano dos pré-arrendamentos que inflacionaram ao longo de todos os trimestres o volume de absorção, colocando maior pressão nos números de 2023”, reforça.

Uma opinião partilhada, também, por António Almeida Ribeiro, director de AT&T Offices da CBRE, que destaca, contudo, os actuais “tempos de incerteza” devido ao aumento das taxas de juro e dos custos de energia.

“A crise das tecnológicas e dos bancos nos estados Unidos poderão ter impacto na Europa e nos respectivos desfechos”, refere.

Mariana Rosa, head of Markets Advisors da JLL

Edifícios com pouca iluminação, falta de preocupação com a sustentabilidade e baixo nível de conforto já não são considerados nas novas procuras por escritórios” (Mariana Rosa, head of Markets Advisory da JLL)

 

Já Mariana Rosa, head of Markets Advisory da JLL, recorda que este “desaceleramento” é transversal a várias cidades europeias, tais como Paris, Berlim e Londres e que, “historicamente”, o primeiro trimestre sempre apresentou baixa absorção. “E em anos de incertezas devido às decisões de redução de custos das empresas, já era esperado que houvesse menos actividade do que em anos anteriores”, afirma.

Também Bernardo Zammit e Vasconcelos, head of Agency da Worx, considera que o actual cenário era “expectável” dado que a área média em 2022 estava “inflacionada” por transacções de grande dimensão. “Este ano, a área média transaccionada deverá aproximar-se mais à realidade dos últimos anos, que ronda os 1100 m2. Ainda assim, antecipamos uma taxa de absorção superior à média dos últimos cinco anos”, indica.

Oferta para 2023 com mais de 60% de ocupação

Entretanto, o mercado está já a “sentir os efeitos do pipeline de projectos em desenvolvimento”. A maioria dos edifícios concluídos em 2022 (World Trade Center, EXEO, ALLO e DP11), foram arrendados através de negócios de pré-arrendamento. Da mesma forma, “os edifícios que serão finalizados este ano e nos próximos são vistos como soluções para as empresas que procuram escritórios e espera-se que sejam ocupados rapidamente”, indica Mariana Rosa.

Também a Worx antecipa que “praticamente a totalidade” do activos com entrega prevista ainda este ano já têm contratos de pré-arrendamento, o que demonstra “a capacidade do mercado em absorver produtos novos ou totalmente reabilitados”.

Antonio Almeida Ribeiro, director de A&T Offices da CBRE

Quem procurar um edifício novo ou reabilitado continuará com uma enorme limitação de opções, pelo que acreditamos que os pré-arrendamentos poderão ter um peso considerável na absorção total de 2023. Continuaremos indiscutivelmente com uma escassez de oferta de qualidade, os chamados edifícios de escritório grade A” (António Almeida Ribeiro, director de A&T Offices na CBRE)

Uma realidade que, de acordo com a CBRE, vai perpetuar a “escassez de oferta de qualidade”, na medida que “quem procurar um edifício novo ou reabilitado continuará com uma enorme limitação de opções, pelo que acreditamos que os pré-arrendamentos poderão ter um peso considerável na absorção total de 2023”. António Almeida Ribeiro ressalva, ainda, que “toda esta nova oferta está comprometida à excepção de um edifício de quatro mil m2 no CBD1 e de um projecto de 40 mil m2 na zona norte de Lisboa”.

Frederico Leitão de Sousa destaca, ainda, a necessidade de uma aposta numa reabilitação “profunda e pensada”, sobretudo do ponto de vista da sustentabilidade. “No centro da cidade é necessário repensar o existente de forma inteligente, preservar a nossa identidade, mas agora também com um olhar no futuro e nas metas de sustentabilidade que vamos todos, obrigatoriamente, ter de atingir no curto prazo”, acrescenta.

Zona 6 com maior área disponível

As zonas 3 (Nova Zona de Escritórios), que inclui áreas como a Praça de Espanha e a 2ª Circular, e a zona 6 (Corredor Oeste), ao longo da A5 Lisboa / Cascais, com 3794 m2 e 3729 m2, respectivamente, verificaram os volumes de absorção mais altos dos primeiros três meses do trimestre, ao contrário do que se verificou durante o ano de 2022, em que a zona do corredor oeste apresentou menos actividade.

Contudo, uma maior procura nesta zona também pode ser explicado pela necessidade das empresas precisarem responder a políticas internas de redução de custos, devido aos “preços mais competitivos que esta zona apresenta e à disponibilidade de produtos para uso”, indica Mariana Rosa.

Uma tendência que se irá acentuar, considera Bernardo Zammit e Vasconcelos, tendo em conta a “falta de oferta nas zonas mais centrais de Lisboa”, assim como pela esperada “descida da vacancy na Prime CBD e CBD”. “Há que ter em conta que também existe oferta de escritórios novos e de grande qualidade no Corredor Oeste, como, por exemplo, o World Trade Center, que podem, por si, motivar a mudança para instalações mais modernas e sustentáveis”.

Numa analise mais abrangente, Frederico Leitão de Sousa, refere que, ainda que a zona 6 conte com 167 mil m2 disponíveis, “a grande percentagem destes espaços são datados e não cumprem critérios básicos de eficiência”. Neste sentido, a oferta “real”, apta ao cumprimento dos actuais requisitos de ocupação das empresas, “é na verdade menor”. Ainda assim, “os valores de renda mais acessíveis face aos praticados noutras zonas da cidade justificam a elevada dinâmica de take-up”, indica o responsável da Savills.

 

Frederico Leitão Sousa, head of Corporate Solutions da Savills Portugal

Dos 114 mil m2 de novos espaços de escritórios previstos, mais de 60% já está pré-arrendado. “O que evidencia, não só a actual dinâmica do mercado, como a escassez de espaços de qualidade superior” (Frederico Leitão de Sousa, head of Corporate Solutions da Savills Portugal)

Oferta “desajustada”

Qualidade, sustentabilidade, conforto e inovação, assim como espaços amplos são os principais requisitos que estão na base da procura de escritórios actualmente. No entanto, verifica-se, ainda, “uma grande escassez de produtos com essa qualidade no mercado”, afirma Mariana Rosa.

Esta situação tem levado as empresas a fecharem negócios de pré-arrendamento, para garantir tanto a qualidade futuro do edifício, como a sua localização. Talvez por isso, dos 114 mil m2 de novos espaços de escritórios previstos, mais de 60% já está pré-arrendado. “O que evidencia, não só a actual dinâmica do mercado, como a escassez de espaços de qualidade superior”, indica, ainda, Frederico Leitão de Sousa.

Também António Almeida Ribeiro, acredita que a carência de “oferta nova e de qualidade” se irá manter durante ao ano de 2024., “levando a que muitas empresas adiem a sua mudança de escritórios”.

Já Bernardo Zammit e Vasconcelos antecipa que “a crescente preocupação com a sustentabilidade e respectivas certificações terão um papel decisivo nesta matéria pois vão elevar a fasquia da qualidade dos edifícios”.

Um caminho que se fará em dois sentidos. Por um lado, através da “reabilitação de edifícios existentes” no centro da cidade e, por outro, com edifícios totalmente novos, em particular nas zonas 5 (Parque das Nações) e 6 (Corredor Oeste).

 

Bernardo Zammit e Vasconcelos, head of Agency da Worx

Renovações e melhorias dos activos, dotando-os de infraestruturas mais modernas e eficientes, adequados aos critérios de certificações como a BREEAM ou a LEED” são o caminho para “manterem o seu activo comercialmente mais apelativo, assim como potenciar o upside na renda futura” (Bernardo Zammit e Vasconcelos, head of Agency da Worx)

Oportunidade para melhorar espaços

Com a deslocação das empresas de um espaço para outros, muitos serão os que ficarão vazios. Não obstante ser um processo do ciclo imobiliário normal, a procura existente ará com que estes espaços sejam novamente ocupados. “Há sempre empresas que procuram espaços mais acessíveis financeiramente ou apenas um espaço temporário para o arranque da sua actividade”, afirma Frederico Leitão de Sousa.

Por outro lado, esta dinâmica é, também, uma oportunidade para os proprietários investirem nos seus espaços. “Edifícios com pouca iluminação, falta de preocupação com a sustentabilidade e baixo nível de conforto já não são considerados nas novas procuras por escritórios”, refere Mariana Rosa.

Efectivamente, as actuais exigências dos edifícios assim o ditam. “Renovações e melhorias dos activos, dotando-os de infraestruturas mais modernas e eficientes, adequados aos critérios de certificações como a BREEAM ou a LEED” são o caminho para “manterem o seu activo comercialmente mais apelativo, assim como potenciar o upside na renda futura”, indica Bernardo Zammit e Vasconcelos.

Sobre o autorCidália Lopes

Cidália Lopes

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Porto: Mais 24 fogos reabilitados na Lapa

Os fogos a serem reabilitados estão localizados na União de Freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória e deverão estar concluídos até 2026. No âmbito da Porto Vivo, SRU prevê-se que sejam recuperadas um total de 146 casas em fases distintas

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Até ao final de 2026, mais 24 fogos de diferentes tipologias, distribuídos pela Rua Senhora da Lapa, Travessa da Lapa e Rua da Glória, localizados na União de Freguesias de Cedofeita, Santo Ildefonso, Sé, Miragaia, São Nicolau e Vitória, vão ser reabilitados.

O investimento municipal, através da Porto Vivo, SRU, ronda os três milhões de euros e visa “aumentar o espólio habitacional ao dispor da autarquia, incrementando a oferta de arrendamento acessível do Município do Porto”.

O conjunto de obras encontra-se em empreitadas de fases distintas, com prazos previstos para a conclusão dos trabalhos, que variam entre Setembro de 2024 e Dezembro de 2026.

Até ao momento, foram realizados 21 concursos de arrendamento acessível em que foram colocadas a sorteio 192 habitações. Prevê-se que sejam reabilitadas no total 146 casas: 21 no ano em curso, 17 em 2024, 27 em 2025 e 81 em 2026.

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CAIS 5 cria 6000 m2 de escritório na frente ribeirinha de Lisboa

É o mais recente projecto da frente ribeirinha da capital, junto ao Cais do Sodré. O Cais 5, é um projecto promovido pela Signal Capital Partners, e comercialização exclusiva da CBRE. O projecto de remodelação do edifício tem a assinatura da Contacto Atlântico

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As obras de remodelação totais do edifício já começaram e têm a duração de 12 meses. A CBRE actua ao assessorar o proprietário, a Signal Capital Partners, não só na comercialização em regime de exclusividade, como também na gestão de projecto.

O Cais 5 conta com 6.000m2 de escritórios, distribuídos por sete pisos e mais de 1.100 m2 de áreas exteriores, que incluem um rooftop com vista 360º para o rio Tejo e para a cidade de Lisboa. Além disso, tem ainda disponíveis três pisos de estacionamento privativo com capacidade para 54 carros, 45 motos e 75 bicicletas.

A sua localização coloca-o perto de vários pontos de interesse para as diversas gerações que actualmente se encontram no mercado de trabalho (Geração X, Millennials, Geração Z), tais como o TimeOut Market, diversos spots culturais, jardins e restaurantes tendência.

Conta ainda com excelentes acessos de transportes públicos, nomeadamente ao mais completo hub de transportes públicos de Lisboa – Cais do Sodré – com metropolitano, comboio, eléctrico, barcos e autocarros.

“Este é um projecto que reúne as melhores condições para acolher qualquer empresa que se queira estabelecer numa das zonas mais emblemáticas e trendy de Lisboa. Temos vindo a assistir a um aumento considerável da procura por escritórios na zona ribeirinha, actualmente com enorme escassez de oferta. O Cais 5, inteiramente remodelado, com foco na sustentabilidade e transmitindo os valores de Work, Play and Relax será a solução e resposta à procura latente. Este mandato é da maior importância para a CBRE e reforça o nosso portefólio de edifícios icónicos para comercialização em regime de exclusividade”, explica André Almada, senior director a&t offices da CBRE Portugal, acrescentando ainda que “cada vez mais na mira de empresas dos mais diversos sectores, a zona ribeirinha desperta interesse e posiciona-se como um novo e destacado hub para escritórios em Lisboa, tendo a CBRE recentemente comercializado um total de 40.000m2 nesta localização”, sustenta.

Na construção deste novo espaço foram escolhidos materiais altamente sustentáveis e serão instalados painéis fotovoltaicos. Desta forma, o edifício irá contar com as certificações LEED Gold (Leadership in Energy and Environmental Design) e WELL Gold. Também a sua localização, as ciclovias circundantes e os lugares disponíveis para bicicletas proporcionam as condições ideias ao incentivo de light mobility dos futuros utilizadores.

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4ª edição do Prémio Januário Godinho em fase de candidaturas

Instituído pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, o prémio pretende “promover a salvaguarda e valorização do património edificado”

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Encontra-se a decorrer, até ao dia 12 de Junho, o prazo para entrega de candidaturas à 4ª edição do Prémio Januário Godinho, instituído pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, cuja composição do júri conta com a participação de um arquitecto designado pelo CDRN.

O Prémio, de edição bienal, pretende “promover a salvaguarda e valorização do património edificado” e “valorizar e promover a divulgação do trabalho desenvolvido por projectistas, construtores e promotores”.

Poderão candidatar-se ao Prémio todas as entidades privadas que tenham promovido intervenções de reabilitação de edifício, sendo admitidas as obras concluídas “nos dois anos anteriores ao ano civil de cada edição do Prémio”.

As candidaturas “podem ser efetuadas por iniciativa do proprietário do edifício intervencionado e/ou equipa de projecto, representada pelo coordenador dos projectos, desde que a candidatura seja acompanhada de autorização do proprietário”.

De acordo com a autarquia, o Prémio Januário Godinho tem o valor de sete mil euros, cabendo dois mil euros ao promotor e cinco mil euros à equipa projectista, havendo ainda a possibilidade de atribuição de Menções Honrosas, de carácter não pecuniário.

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Beelt escolhida para reabilitação de edifício em São Bento

O projecto, da autoria Saraiva e Associados, prevê uma intervenção profunda, com a reabilitação integral da estrutura existente, a colocação de uma cobertura nova e a reformulação integral do interior do edifício

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A Beelt, empresa de construção civil especializada em construção e reabilitação, foi escolhida para realizar a reabilitação integral de um edifício em São Bento. Promovido pela Trirhena, o projecto prevê a conversão do actual edifício num empreendimento residencial, localizado entre a Assembleia da República e Santos.

O projecto, da autoria Saraiva e Associados, prevê o desenvolvimento de quatro apartamentos T2, um T1 e uma pequena loja. O edifício irá ser alvo de uma intervenção profunda, que prevê a reabilitação integral da estrutura existente, a colocação de uma cobertura nova e a reformulação integral do interior do edifício.

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Câmara de Ponta Delgada investe 2M€ na reabilitação de escola em Fenais da Luz

O anuncio foi feito pelo presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Pedro Nascimento Cabral, que assegura que “a requalificação desta escola vai permitir avançar com a construção de um edifício novo, com capacidade para um maior número de alunos, oferecendo melhores condições para o desenvolvimento e educação das crianças dos Fenais da Luz”

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A construtora Caetano & Medeiros vai ser responsável pelos trabalhos de ampliação e reabilitação da EB1/JI de Fenais da Luz, um investimento superior a dois milhões de euros que deverá arrancar já este ano.

O anuncio foi feito pelo presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada, Pedro Nascimento Cabral, que assegura que “a requalificação desta escola vai permitir avançar com a construção de um edifício novo, com capacidade para um maior número de alunos, oferecendo melhores condições para o desenvolvimento e educação das crianças dos Fenais da Luz”.

“Ao garantir obras no valor de mais de 2 milhões de euros, estamos a investir no futuro da nossa comunidade e a demonstrar o nosso compromisso com a educação; estou confiante de que essas melhorias terão um impacto duradouro e positivo nas vidas dos nossos jovens e no desenvolvimento do nosso município como um todo”, sublinhou o autarca, recordando ainda que a autarquia “tem destinados 14 milhões de euros para o desenvolvimento de projetos e execução da construção de quatro escolas no concelho e apoio à construção de uma nova residência universitária”.

Em última análise, acrescentou o autarca, “através deste investimento na educação, estamos também a dar seguimento a uma política de coesão social no concelho e a contribuir para a fixação da população nas nossas 24 freguesias”.

Tal como se lê no projeto, a requalificação da escola EB1/JI de Fenais da Luz, cujo prazo de execução ronda aproximadamente um ano e meio, implica a construção de um edifício novo, com capacidade para um número maior de alunos (relativamente à existente), melhores condições de acessibilidade e modernidade. O desenvolvimento do programa funcional num só piso, permitirá que o mesmo se apresente como um conjunto único, de modo a que os alunos possam atravessar todas as áreas programáticas sem constrangimentos físicos e contando com várias ligações possíveis ao espaço exterior.

Já o tratamento dos espaços exteriores da escola EB1/JI de Fenais da Luz foi pensado tendo em consideração a faixa etária e a segurança dos utilizadores. Foram projetadas áreas exteriores com funções distintas que permitiram diversificar as atividade no recreio, desde o campo de jogos, “playground”, horta pedagógica, zonas de estadia e áreas relvadas.

Com capacidade máxima para 144 alunos divididos por 6 salas de aula, o edifício será composto por 4 salas para alunos do 1.º ciclo do ensino básico e 2 salas para alunos do jardim de infância, 2 salas de apoio, sala de professores, gabinete do coordenador, área administrativa, biblioteca/ludoteca e sala polivalente. Todos os espaços de permanência terão iluminação e ventilação natural através de vão praticados nas paredes.

O projeto prevê refeitório com capacidade para 144 utentes que corresponde ao número total de alunos. Das áreas de apoio à cozinha fazem parte os arrumos de limpeza e área exterior coberta para os lixos com recolha seletiva, e com acesso dedicado para esse fim.

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‘Babel’ investiga suspeitas de irregularidades urbanísticas em Gaia e Porto; Fortera assegura que vai cooperar com a justiça

Em causa estão suspeitas de crimes de corrupção na área do urbanismo e centrou-se “na viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanístico em favor de promotores associados a projectos de elevada densidade

Ricardo Batista

A operação policial levada a cabo pela Policia Judiciária esta terça-feira resultou na detenção de sete pessoas, suspeitas da prática de crimes de corrupção e de viciação de procedimentos de contratação pública em setores de actividade específicos, com vista a beneficiar determinados operadores económicos.

Entre os detidos, além do vice-presidente da Câmara de Gaia, que tem o pelouro do urbanismo, está o CEO da promotora Fortera. Ao CONSTRUIR, fonte da administração do grupo confirma que Elan Dror é um dos detidos nesta operação, sublinhando, no entanto, que “não há ainda conhecimento dos contornos que serão necessários esclarecer”. “A empresa tem em curso um investimento relevante na área de Gaia e poderá ser em torno do mesmo que será necessário prestar esclarecimentos. Reafirmamos que iremos colaborar activamente com a investigação”, pode ler-se no comunicado.

O grupo tem em Portugal mais de 20 projetos, distribuídos por Gaia, Espinho, Porto e Braga, que contemplam mil apartamentos, 818 quartos de hotel, num investimento total de 750 milhões de euros e uma área de construção de 235 mil metros quadrados. O nome da Fortera já havia sido associado à “Operação Vortex”, esta mais focalizada em Espinho e relacionada com “projetos imobiliários e respetivo licenciamento, respeitantes a edifícios multifamiliares e unidades hoteleiras, envolvendo interesses urbanísticos de dezenas de milhões de euros, tramitados em benefício de determinados operadores económicos”. Na altura, os responsáveis da promotora negaram qualquer ligação aos decisores municipais da autarquia de Espinho, asesegurando que a Fortera não foi envolvida ou alvo de qualquer busca.

A operação que decorreu esta terça-feira envolveu buscas nas câmaras de Gaia e do Porto e na Metro do Porto. Em causa estão suspeitas de crimes de corrupção na área do urbanismo e centrou-se “na viciação de normas e instrução de processos de licenciamento urbanístico em favor de promotores associados a projectos de elevada densidade e magnitude, estando em causa interesses imobiliários na ordem dos 300 milhões de euros, mediante a oferta e aceitação de contrapartidas de cariz pecuniário”.

Segundo o comunicado da Policia Judiciária, encontram-se igualmente indiciadas práticas dirigidas ao beneficio de particulares no setor do recrutamento de recursos humanos e prestação de serviços, por parte do executivo municipal visado, bem como a existência de fenómenos corruptivos ao nível dos funcionários de outros serviços nos quais os referidos promotores imobiliários possuíam interesses económicos.

Nesta fase, foram já constituídos 12 arguidos. Entre os detidos está Patrocínio Azevedo, o vice-presidente da Câmara Muncipal de Gaia, com o pelouro do urbanismo. Além do autarca, foram detidos dois funcionários da Câmara Municipal do Porto e um jurista.

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Ricardo Batista

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Arquitectura

“Vive-se hoje um novo paradigma da Arquitectura”

A sustentabilidade, a transição energética e a digitalização estão a mudar o paradigma da profissão. Quem o afirma é a arquitecta Marlene Roque, perita e formadora responsável na Ordem dos Arquitectos pelas áreas térmica e acústica. Apaixonada pela arquitectura bioclimática, não tem receio de apontar o dedo à classe para os muitos erros que continuamos a ver no edificado português. “Os muitos anos e as muitas horas de formação que já leccionei fazem-me crer, sem querer ofender ninguém, que há muitos arquitectos que se focaram no exercício do objecto, da estética e se foram despindo das outras áreas que compunham a ideia do arquitecto, do mestre arquitecto renascentista, que dominava tudo”, afirma

A sustentabilidade é cada vez mais um factor decisivo e a regulamentação que a exige está aí. Como é que estas alterações, que agora são obrigatórias, muda a Arquitectura?
Eu costumo dizer aos meus alunos que temos o privilégio de viver a mudança do paradigma do acto da profissão. Eu equiparo estas mudanças às mudanças que vivemos há uns 40 anos quando se abandonou o desenho feito em estirador, à mão, e passámos a usar o ‘rato’ e o computador para o fazer.
Estão a acontecer muitas coisas em paralelo. Desde logo, estamos em plena transição energética e isso espelha-se na nossa profissão, o que faz todo o sentido. Nós [arquitectos] somos os decisores, se construímos uma casa com um determinado sistema construtivo, com mais ou menor maior menor pegada carbónica, a emitir mais ou menos CO2, a decisão é nossa. Se a construção é pobre energeticamente, esta é, primeiramente, uma decisão do arquitecto. O que eu penso é que em Portugal nós não temos esta tradição, até pedagógica, de pensar o edifício como uma máquina que consome energia.

Este é, então, um problema de base, de formação?
Temos uma formação muito trabalhada pelos arquitectos da ‘velha-guarda’ de trabalhar o objecto como uma peça estética que se vai esculpir e polir. Mas a Arquitectura não é só arte. A Arquitectura é técnica e tecnologia. Este é o paradigma que temos de mudar. Temos que inverter este processo, que não tem que ser propriamente uma inversão, mas é repensar o edifício com esta matéria-prima, em vez de ser só a estética. Porque cada vez mais o conceito que o edifício é apenas um abrigo está a mudar. Já não é o abrigo do homem primitivo queremos que esse abrigo tenha Wi-Fi, conforto, queremos comer e que as refeições sejam feitas rapidamente… o nosso estilo de vida, as nossas necessidades vão além do conforto térmico, queremos tecnologia. E tudo isto obriga a um maior gasto de energia… e por enquanto continuamos muito dependentes da energia fóssil.

Como é que a arquitectura bioclimática pode fazer a diferença?
Quando o arquitecto que projecta o edifício dá mais importância a outras premissas, que não ao sol, ao vento, à humidade… Quando constrói e projecta da mesma forma seja para Faro ou para Bragança, seja para o Alasca ou para a Suécia, só por sorte é que o resultado é bom. Nos meus 16 anos como consultora e projectista em eficiência energética concluo que hoje a forma como se constrói, não é bem o resultado da globalização, mas queremos imitar o que se faz bem pelo resto da Europa e do mundo e esquecemo-nos do clima.
Tenho uma espécie de bíblia, e que é de facto a minha bíblia quando ensino e quando formo arquitectos, que é de um autor italiano que se chama “Projectar para o clima”, isso é a arquitectura bioclimática e isso é o que a União Europeia nos está a dizer, a todos os arquitectos, que temos que fazer obrigatoriamente.

O que é que se exige hoje ao Arquitecto?
O Arquitecto tem de ser um maestro de uma orquestra. Pode não saber tocar os instrumentos todos, mas tem de pôr aquilo a funcionar. Os muitos anos e as muitas horas de formação que já leccionei fazem-me crer, sem querer ofender ninguém, que há muitos arquitectos que se focaram no exercício do objecto, da estética e se foram despindo das outras áreas que compunham a ideia do arquitecto, do mestre arquitecto renascentista, que dominava tudo. Com a especialização foram abandonando essas componentes mais técnicas, até certo ponto tudo bem mas não ao ponto de não conseguirem espelhar a informação que lhes é fornecida pelos consultores e especialistas nos seus projectos. E isso os arquitectos não fazem.

E isso é culpa da formação… ou da falta dela?
Acho que em Portugal foi-se adquirindo esta ideia de que “isso é para o engenheiro pensar” e eu vejo este desinteresse dos alunos por tudo o que é esta componente mais técnica. Porquê? Porque eles vêm, de alguma maneira, já formatados para a ideia de que o objecto, o conceito, a ideia, isso é que é fazer arquitectura, mas isso já não chega e eles ainda não o estão a perceber. Acaba por ser um choque quando começam a actividade profissional num atelier e depois percebem que estão um pouco despidos de informação e acabam por fazer formações na Ordem dos Arquitectos ou noutros locais para se poderem munir dessas ferramentas.
Mas a legislação é clara é preciso saber projectar edifícios eficientes e os atelieres que o não souberem fazê-lo correm o risco de deixar de ser competitivos.

É isso que nos diz o Decreto-Lei 101-D, de 2020, que entrou em vigor em Julho último?

Esta legislação responsabiliza o arquitecto e os engenheiros autores de projecto das especialidades onde há recurso de energia a cumprirem os requisitos de eficiência energética, logo no início do processo de licenciamento camarário. isto um perito qualificado quando faz a avaliação do desempenho energético do edifício e não obtém uma classificação de que o edifício é bastante eficiente e se não demonstra que produz, pelo menos, 50% das necessidades de energia do edifício, então não há licenciamento camarário e em minha opinião muito bem.
Até aceito que aos arquitectos não queiram aprofundar estas questões, mas então têm de respeitar muito bem o seu consultor nesta área e espelhar os seus inputs nos projectos.

O impacto da digitalização
O que é que efectivamente muda na forma de pensar um projecto quando estamos a projectar para o clima?

Quando fazemos um primeiro esquisso e temos uma parcela de terreno e podemos implantá-lo A primeiro coisa a fazer é olhar ao sol e ao vento naquele local. Portanto é conhecer os dados climáticos do local e tem de se conhecer a humidade relativa do ar, que não é igual em Sintra ou em Beja ou, por exemplo, em Montalegre. Temos a influência das montanhas, dos rios, do mar, até a situação de vale ou uma altitude mais elevada, portanto o tema da humidade e que gera as patologias de que as pessoas depois se queixam, deriva de um desconhecimento, da falta de um olhar para esses parâmetros climáticos. Um exemplo máximo disto é casa Jacobs, projectada pelo arquitecto Frank Lloyd Wright há 100 anos.
Hoje pedem-nos para fazer isto, mas primeiro o arquitecto tem de conhecer bem os dados climáticos do local, tem que começar a desenhar as paredes, as coberturas, os pavimentos, aquilo que nós chamamos os sistemas opacos de acordo com a necessidade do local. Ou seja, se estou no Algarve o meu problema é o Verão, mas se estiver em Bragança o meu problema é o Inverno. E o que é que eu quero dizer com isto é olhar às temperaturas, é olhar a orientação dos ventos e aos níveis de humidade e, com esses dados, eu decido então a espessura do isolamento, que tipo de isolamento, se o coloco pelo interior ou exterior, se coloco preenchendo as duas camadas de um material que pode ser tijolo, betão, pedra, a posição do isolamento, em toda esta envolvente. E isto dá trabalho porque o arquitecto tem que conhecer física das construções, tem que conhecer os materiais e a sua performance.

As empresas de materiais de construção têm apresentado novidades nesse sentido e estão mais conscientes para as novas exigências…
Porque estão sob pressão de ter de produzir produto neutro em carbono. A indústria está a adaptar-se. Porque paralelamente temos os grandes consumidores – hospitais, centros comerciais, edifício de escritórios e outros – a apostarem na bandeira da certificação da sustentabilidade, seja por via do sistema americano LEED (Leadership in Energy & Environmental Design), ou pelo britânico BREEAM (Building Research Establishment).
Ainda neste contexto de mudança da indústria há um outro factor que irá acelerar a mudança que é o BIM e a legislação que está a ser preparada para tornar a sua utilização obrigatória.

Como é que o BIM e a digitalização da construção influenciam este processo?
O projecto de lei está em cima da mesa, em discussão, e prevê a obrigação de todo sistema que gera construção, desde arquitectos e engenheiros, ao empreiteiro, até ao gestor do edifício, ter de trabalhar com a ferramenta BIM. Em conjunto a digitalização e a transição energética estão, de facto, a mudar e muito o acto da profissão.

“É errada a noção que o NZEB é mais caro”
Como é que a Arquitectura Bioclimática se tornou central no trabalho que desenvolve?

Não foi ao acaso porque eu sou muito consciente do que faço, mas não foi planeado. Quando terminei o meu curso de arquitectura terminei com mérito e achei que não valia esse mérito muito honestamente.
Tive a vantagem de ter vivido em diferentes países por conta das opções profissionais dos meus pais o que me permitiu ir comparando. Tenho uma história gira que conta aos meus alunos. Quando era pequena dizia que gostava muito de vir a Portugal em Agosto porque vinha à praia, mas que a casa dos meus avós era fria no Inverno o que eu detestava. Os meus avós viviam em Óbidos e no Verão não entendia porque é que a minha avó tinha sempre a casa às escuras. A minha avó tinha um conhecimento que todas as nossas avós tinham daquilo que é viver os edifícios da arquitectura popular. Ela percebia que se fechasse as portadas na hora de maior calor, a casa era fresca, quando atirava um balde de água para o chão de baldosa de barro era para arrefecer e nós dormíamos a sesta e o chão não estava tão quente. Hoje valorizo isto. Tínhamos hábitos de utilização da casa que fomos perdendo e depois é o fruto da evolução da arquitectura. As paredes deixaram de ser estruturais e já podemos abrir mais vidro. O vidro é caro, então optamos por vidros menos eficientes e hoje temos um problema que as casas aquecem demais no Verão e depois temos que as arrefecer. Eu senti, terminada a licenciatura, que a arquitectura tinha de facto um papel a dizer, mas faltava-me perceber mais. Não conseguia desenhar, detalhar, sem saber o porquê das coisas então a minha opção foi trabalhar para uma construtora e fui trabalhar para a Mota Engil e posso dizer que chorei todos os dias do primeiro mês de trabalho.

Quando é que nasceu o seu atelier? E há algum projecto que a tenha marcado mais?
Tenho formalmente empresa desde 2010, mas desde 2003 que faço projectos. Hoje somos quatro arquitectas e em breve irá entra uma outra. É difícil escolher um projecto porque todos tiveram os seus desafios. Este último que foi apresentado há poucas semanas, localizado em Sintra foi bastante desafiante. O lote era muito pequenino, que tinha tudo para correr mal: orientado a norte, com edifício sul a fazer sombra localizado em Sintra com a particularidade de ficar localizado numa freguesia muito húmida e ventosa e, no entanto, conseguimos fazer. O Cliente também não tinha muito dinheiro e isso quebra desde logo um mito, não é preciso ter muito dinheiro para construir NZEB. O custo maior está nos equipamentos e não nos materiais. O estudo que apresentámos mostramos isso, mas podia a presentar o mesmo estudo em todos os projectos. Em média o investimento acrescido para torná-lo eficiente não representa mais que 10%, sendo que, e esta é a parte mais interessante, é amortizado ao fim de três a quatro anos, porque depois não tenho que gastar energia para repor os níveis de conforto. Passados esses três anos de amortização estamos a poupar dinheiro, não estamos a gastar dinheiro para manter estes níveis. Eu posso provar isto fazendo as contas de uma forma muito aberta e transparente. Isto é real e as pessoas sentem isto depois de viver nas suas casas e esse é o melhor feedback

Isso quebra um mito de que é caro ser eficiente, ser NZEB
E o mais interessante é que não se aplica apenas à construção nova, também o podemos fazer para os edifícios existentes. Temos em curso um projecto de umas ruínas em Óbidos e estamos a transformá-las numa casa que será altamente eficiente. As ruínas já lá estão implantadas no terreno, mas há formas de nós pensarmos o edifício para ir buscar o Sol para o proteger do vento, mesmo os edifícios existentes. Para isso acontecer é preciso fazer um estudo, o que acontece é que as pessoas saltam essa etapa e “auto medicam-se”, o que pode correr bastante mal. Se tomarmos em conta que o ciclo de vida de um edifício que pode ser bastante longo e durante esse tempo todo vai se estar a pagar energia basta fazer umas contas para se perceber que vamos estar a gastar muito mais do que se fizermos este esforço inicial. Há quem prefira investir em equipamentos ao invés da arquitectura passiva, o que é tão errado porque depois investem no equipamento e, o resto da vida, na energia para alimentar esse equipamento.

Lá fora, como é que se vive esta revolução?
Estamos a par do que está a acontecer em Itália onde o custo da electricidade e do gás triplicou. A pressão é grande, em especial no norte de Itália onde as temperaturas no Inverno são baixas. Os arquitectos estão a sentir esta pressão impressão para de facto pensar de uma forma diferente, à semelhança do que se passa na Europa do Norte. Espanha estão um pouquinho mais frente que nós, a França está noutro campeonato e na Alemanha já estão a exigir os 70% de produção de energia. Também é preciso ver que há muito mais financiamento e muito mais apoio a incentivar a sustentabilidade e a eficiência energética. Esse apoio existe em Portugal, mas é pouco e chego a muito poucos. Também por culpa dos arquitectos que fazem mal, e não informam os seus clientes ou potenciais clientes. É preciso tocar na ferida, os arquitectos não estão a fazer este papel, que eu até acho que é de cidadania. O arquitecto tem um código ético e deontológico e não devem esconder essa informação e deve usar o conhecimento para promover o conceito NZEB junto dos clientes, mas só o pode fazer se o souber e, portanto, o que eu acho é que ainda não sabe o suficiente.

Essa é uma crítica forte.
Que estou à vontade para a fazer. No trabalho de formação que tenho feito na Ordem, tenho esta noção, mas não critico por criticar. Partilho tudo o que tenho e gostaria muito que houvesse uma mudança porque quando isto acontecer vamos sentir o impacto. E aí vamos deixar de ter este discurso de pobreza energética em Portugal que a mim pessoalmente já me cansa ouvir. É preciso olhar para o copo meio cheio, fazer mais formação e queiramo-nos comparar aos alemães e não estar sempre a vender a imagem de “coitadinhos”. A desculpa do dinheiro não é desculpa porque eu consigo provar que o acréscimo no custo da obra é insignificante, face a um retorno que é rápido.

Portugal tem uma história da arquitectura popular que é bastante sábia. Perdemos alguns dos ensinamentos do passado?
A arquitectura popular portuguesa é super sábia. Quando no Alentejo se caiam as paredes de branco, quando decidimos fazer terraços planos para captar as águas e reutilizá-las, quando se construía paredes de taipa com a espessura certa que, por saber popular se foi aprimorando, não por uma questão de resistência estrutural mas para que o calor não entrasse, com vão pequeninos, protegidos, hábitos como o que a minha avó tinha em Óbidos. Quando na Guarda construíamos em pedra, com a pedra local, construíamos sustentável e construíamos eficiente. É curioso e ao mesmo tempo estranho, não é? Hoje nós importamos e pedimos que uma transportadora faça quilómetros para trazer o material. Ao não usamos o material local a sustentabilidade é zero que estamos a gastar combustível e estamos a gastar recursos para transportar o material para o qual depois não há know-how. Depois com a globalização imitamos o que se faz em Amesterdão ou em Nova Iorque e imitamos mal porque não ajustamos ao clima. Foram publicados dois livros sobre Arquitectura Popular Portuguesa, que acho que todos os arquitectos deveriam conhecer. Esta arquitectura popular era ajustada às necessidades e à capacidade financeira, mas era feita de uma forma muito sustentável, com a matéria local por isso é que em Óbidos se construía com calcário, na Guarda com o granito e no Alentejo com a taipa. Dominava-se a técnica e o material e a espessura das paredes resultava daquilo que se necessitava ali no Inverno e no Verão. Quando hoje construímos de uma maneira indiferenciada para o clima e para os materiais locais é difícil fazer arquitectura passiva, bioclimática, eficiente … não é passiva porque é às custas de equipamentos, não é bioclimática porque não olhamos para o clima e não é passiva porque não é eficiente pois não conseguimos a temperatura de conforto de uma forma natural e económica. Era muito importante voltarmos aos princípios porque em Portugal já se fez bem e perdemos…

Sobre o autorManuela Sousa Guerreiro

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