“A beleza é a razão de ser da arquitectura e o primeiro serviço a prestar pelo arquitecto”
As palavras são do arquitecto Álvaro Siza, a propósito da nova ala de Serralves, inaugurada recentemente e a qual recebeu o nome do arquitecto, revelando a relação forte entre instituição e arquitecto. Serralves seria Serralves sem Álvaro Siza?
Manuela Sousa Guerreiro
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No início de 2024, a nova ala do Museu de Serralves, a Ala Álvaro Siza abrirá ao público com duas grandes exposições: uma dedicada à colecção de Serralves e outra dedicada à obra de Álvaro Siza. Até lá será possível ao público admirar e vivenciar o edifício tal como ele se apresenta, despido de artefactos.
A nova ala do museu de Serralves adopta o nome de arquitecto português que a projectou, denunciando a relação próxima entre o arquitecto e a instituição. Uma relação de mais de 30 anos já materializada no Museu de Arte Contemporânea de Serralves (1999), na Casa do Cinema Manuel de Oliveira (2019), na Casa dos Jardineiros (em 2021) e na recuperação da Casa de Serralves (em 2021). Ao conjunto de obras junta-se agora a Ala Álvaro Siza, o que faz de Serralves o lugar que reúne o maior número de edifícios da autoria de um dos nomes maiores da arquitectura mundial.
“Em 2015, Álvaro Siza doou a Serralves uma parte importante do seu arquivo que, desde aí, Serralves tem vindo a tratar e divulgar em múltiplas exposições, publicações e conferências, levando a obra de Siza ao conhecimento de um vasto e diversificado público, dentro e fora de Portugal. Esta cumplicidade, preenchida sobretudo de uma enorme ligação afectiva a este espaço e a este projecto cultural em permanente construção, leva a que a Fundação de Serralves, profundamente agradecida por este percurso conjunto, tenha decidido dar a este novo edifício o nome de Ala Álvaro Siza”, lê-se num dos vários suportes que contam a história da nova Ala, divulgados por Serralves e que ajudam a perceber esta ligação.
A preservação das espécies vegetais protegidas obriga o corpo construído a contorcer-se. Poder-se-á dizer que a plantação das árvores desenha a nova ala e contribui à definição dos espaços interiores por paredes, a um tempo ortogonais e cumpridoras dos ângulos a que o exterior se obriga” (Álvaro Siza)
Uma ode à natureza e à beleza
O arquitecto projectou o novo edifício para se integrar “completamente” na natureza, ou não tivesse ele sido implantado numa área do parque classificada. As suas linhas rectas acomodam-se ao terreno, fundindo-se com o espaço e abraçando as espécies vegetais protegidas. A descrição feita pelo próprio arquitecto é, todavia, mais prosaica: “A preservação das espécies vegetais protegidas obriga o corpo construído a contorcer-se. Poder-se-á dizer que a plantação das árvores desenha a nova ala e contribui à definição dos espaços interiores por paredes, a um tempo ortogonais e cumpridoras dos ângulos a que o exterior se obriga”, explicou Álvaro Siza na cerimónia de inauguração do novo edifício.
Uma ponte liga-o ao Museu, acrescentando-lhe área, de exposição do acervo e de reserva. A Ala Álvaro Siza é constituída por três pisos (um piso de arquivos e dois pisos de exposição), e vem acrescentar 44% de área expositiva e 75% da área de reservas.
Construído em tempo recorde, 18 meses, o novo edifício tem uma volumetria enquadrada no arvoredo envolvente e uma cércea inferior à do Museu, estando a este ligado por uma galeria elevada, não obstruindo a via existente entre os dois edifícios.
“De algum modo a convergência encontrada reconciliou-me com a minha existência em ser ainda arquitecto e não dispensar a procura da beleza, plenitude e não ameaça à funcionalidade e à viabilidade como às vezes se ouve dizer. A beleza é a razão de ser da arquitectura e o primeiro serviço a prestar pelo arquitecto”, lembrou o arquitecto.
Um dos elementos mais identificadores do projecto é a sua janela em forma de triângulo invertido, a partir do qual se observa o jardim. “Localizada na fachada do novo edifício, imediatamente oposta à ponte que liga com o actual Museu, observa-se uma janela especial, de formato triangular, como que chamando a atenção para o facto de estarmos a entrar num edifício diferente, permitindo uma vista panorâmica para o jardim”, descreve Álvaro Siza.
De algum modo, a convergência encontrada reconciliou-me com a minha existência em ser ainda arquitecto e não dispensar a procura da beleza, plenitude e não ameaça à funcionalidade e à viabilidade, como às vezes se ouve dizer. A beleza é a razão de ser da arquitectura e o primeiro serviço a prestar pelo arquitecto” (Álvaro Siza)
Um espaço também ele dedicado à Arquitectura
A nova Ala irá abrigar as colecções que fazem parte do acervo de Serralves, que compreende mais de 4.500 obras de arte e arquivos de arquitectura, como os do arquitecto Álvaro Siza, que estarão expostas em permanência, “mas de forma dinâmica”.
“No ano em que o museu abriu ao publico Serralves teve 80 mil visitantes. Este ano devera receber mais de um milhão e cem mil pessoas. O museu merecia mais. Merecia ultrapassar as limitações do seu espaço físico, que condicionavam o seu crescimento e capacidade de difusão artística. Este foi um projecto de grande complexidade também por se inscrever numa área que é monumento nacional e tudo fizemos para garantir a protecção das espécies vegetais classificadas que o rodeiam. Decidimos, no entanto, abrir o novo edifício sem colocarmos nenhuma exposição durante um período inicial para que desta forma o público possa admirar este magnifico projecto de arquitectura na sua plenitude”, Ana Pinho presidente da Fundação Serralves.
Assim, “neste novo edifício serão apresentadas exposições dedicadas à Colecção de Serralves que estará assim exposta em permanência, mas de forma dinâmica, e à Arquitectura, um dos eixos estratégicos da missão de Serralves”.